A gigante espanhola Ferrovial considera o realinhamento dos preços de ativos em infraestrutura como um novo atrativo no programa brasileiro de concessões. O grupo tem interesse nos próximos leilões de aeroportos e de rodovias, está inseguro com o panorama político e ainda não tomou nenhuma decisão concreta sobre participar dos certames.
“Se os leilões forem acontecer mesmo neste ano, vamos estudar, mas nada chegou à minha mesa ainda”, disse ao Valor o presidente do conselho de administração da multinacional, Rafael del Pino, no lobby do hotel onde está hospedado para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Minutos antes ele fora apresentado a um empresário americano como o “rei da construção” na Espanha. Não é para menos: a Ferrovial, além de uma das maiores empreiteiras do país, controla o aeroporto de Heathrow (Londres) e explora rodovias pedagiadas em nove países. O faturamento da empresa supera € 8 bilhões anuais e ela tem 69 mil empregados mundo afora.
Del Pino avalia que a crise provocou uma espécie de choque de realidade nos preços de ativos. Não é tanto pela desvalorização do real que os projetos se tornaram mais interessantes, segundo ele, já que as receitas em pedágios e tarifas aeroportuárias também ficam automaticamente mais baixas em moeda estrangeira.
A questão, diz o executivo espanhol, é que os estudos técnicos que balizavam as licitações tinham taxas irreais de crescimento do PIB e da demanda. “Era um cenário de mil maravilhas”, afirma. Quando as últimas rodovias foram leiloadas, por exemplo, o governo até chegou a reduzir suas previsões de crescimento anual da economia de 4% para 2,5% ao longo de todo o período de concessão (30 anos). Mesmo esse cenário soa absurdo.
Para Del Pino, outra distorção que tende a ser corrigida são os elevados ágios observados nos leilões realizados quando o Brasil registrava taxas maiores de crescimento. Ele lembra o caso do aeroporto de Guarulhos: o preço mínimo era R$ 3,2 bilhões. “Oferecemos o dobro. Um lance bastante ousado e tínhamos um excelente plano de negócios”, observa. A Ferrovial montou um consórcio com a Queiroz Galvão. O lance vencedor, da Invepar, atingiu R$ 16 bilhões. “Impossível”.
Contando com uma modesta operação no Brasil, que são dois contratos de prestação de serviços para a concessionária de rodovias Abertis, Del Pino frisa que crescer no país é importante. “O mercado brasileiro é gigantesco e tem a classe média emergente.”
A indefinição política, contudo, preocupa e desorienta a Ferrovial. Mais do que nas respostas, o sentimento de preocupação emerge das perguntas feitas ininterruptamente pelo espanhol. “A presidente vai chegar ao fim do mandato?”, questiona. Quer saber mais: a situação “real” da economia e quais são as perspectivas de normalização das empreiteiras. “Qual delas tem mais riscos de quebrar?”, continua perguntando.
O espanhol manifesta, então, interesse em saber quais acusações pesam contra André Esteves – um “habitué” de Davos. E encerra a conversa com um comentário surpreendente: “A Lava-Jato é algo muito forte, não?”
Fonte: Valor Econômico
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