A americana Cargill, maior empresa do agronegócio do mundo, dá mais um passo para elevar sua competitividade portuária no Brasil. Dois meses após arrematar por R$ 300 milhões mais um terminal de grãos em Santos – em consórcio com a Louis Dreyfus Commodities -, a companhia poderá receber do governo federal a renovação por mais 15 anos do contrato de arrendamento de seu terminal em Paranaguá (PR). Em troca, promete investimentos de R$ 350 milhões em um novo píer no porto.
Conforme o Valor apurou, a Cargill propôs fazer o aporte para a construção de um píer no formato de “L”, que agregaria dois novos berços e alavancaria em até 10 milhões de toneladas por ano a capacidade de escoamento do corredor de exportação de grãos de Paranaguá. A trading americana teria prioridade de atracação de navios.
“A Cargill sinalizou que, se houvesse prorrogação de seu contrato vigente, faria o investimento. E nos manifestamos positivamente, caso a SEP [Secretaria dos Portos] concorde”, afirmou ao Valor o diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Henrique Dividino.
Questionada, a Cargill confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que fez a apresentação da proposta de investimentos no terminal portuário, e o caso está em análise na Appa e na SEP. A SEP afirma que o pedido de prorrogação do arrendamento da Cargill com a contrapartida do investimento é avaliado juridicamente.
Originalmente, o projeto elaborado pela administração de Paranaguá previa um píer em “T”, paralelo ao cais e avançando 400 metros para dentro do mar. Nesse formato, teria quatro berços e abarcaria até 20 milhões de toneladas de grãos a mais por ano. Mas a projeção de custos – R$ 280 milhões em água e R$ 70 milhões no terminal e interligações – versus o retorno do investimento levou a trading a adaptar e encurtar o traçado.
A ideia de um píer que atendesse o corredor de exportação de grãos foi apresentada pela Appa em 1995, mas só ganhou fôlego com o lançamento em 2012 de um portfólio de investimentos que dariam competitividade a Paranaguá. O projeto não saiu da gaveta por falta de recursos públicos.
O porto paranaense perde em volume de carga agrícola para Santos – foram 18 milhões de toneladas de grãos embarcados em 2015, contra 33 milhões de toneladas em Santos -, e vê o porto de Rio Grande (RS) ganhar mercado em soja e, em breve, verá também parte da produção do Centro-Oeste migrar para os terminais instalados no Pará.
Além disso, o corredor de exportações, o qual o píer atenderia, atingiu o limite de 16 milhões de toneladas movimentadas de grãos mesmo após os investimentos em dragagem de berços e novos shiploaders (carregadores de navios).
Para a Cargill, o investimento se justifica porque daria mais eficiência ao embarque – reduzindo o tempo de fila de navios – e elevaria a capacidade de operação da trading no Paraná. A companhia movimenta 3,5 milhões de toneladas de grãos por ano no porto paranaense e teria preferência na atracação de embarcações – mas não exclusividade, já que o píer estaria no porto público. Mais importante ainda, prolongaria por 15 anos o arrendamento em Paranaguá.
Segundo Mário Povia, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o contrato de arrendamento expira em março e cabe à SEP decidir por sua prorrogação ou não.
Até 2010, a Cargill detinha quatro áreas em Paranaguá, unificadas pela autoridade portuária paranaense por serem consideradas de difícil operação de forma independente. “Com isso, prevaleceu um dos contratos vigentes – o que tinha possibilidade de renovação”, disse. A unificação das áreas foi referendada pela Antaq em 2013.
Fonte próxima ao governo disse ao Valor que o ministro dos Portos Helder Barbalho vê de forma “otimista” a proposta da Cargill, citando os esforços de Brasília em destravar a agenda política positiva.
Fonte: Valor Econômico
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