São necessárias análises das medidas da carga e seu peso, da regulamentação, da infraestrutura do percurso, dos órgãos e empresas competentes para auxílio no transporte e dos custos envolvidos.
Pela primeira vez, a Logweb aborda as cargas de projeto, especiais ou indivisíveis, ou seja, aquelas que ultrapassam os limites regulamentares definidos pelo Contran/Denatran e que exigem tratamento apropriado para adequação do transporte em conjunto com o Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Indústrias pesadas, como energia, petróleo & gás, química e mineração, são as que mais utilizam esta modalidade.
O planejamento para este tipo de transporte começa com uma avaliação das características do material a ser movimentado, explica Cintia Virginio, sócia e diretora operacional da Zeit Comercial Importadora e Exportadora (Fone: 11 2613.2834).
Posteriormente, parte-se para a preparação dos relatórios de dimensionamento de equipamentos e componentes da carga, para que possam ser definidos os modais que serão utilizados. Em paralelo, deve ser contemplado um estudo de viabilidade de transporte local (inland) e internacional. O roteiro é definido levando em conta as características do território nacional e do percurso até o descarregamento da mercadoria, incluindo vias de acesso, horários para o trânsito, itinerários, etc. “É importante atentar-se para a questão das embalagens e seu transporte, características e peculiaridades, pois a integridade da carga deve ser o principal foco no projeto”, conta Cintia.
Segundo ela, é preciso contemplar, também, estruturas em portos e aeroportos, visando atingir a efetiva movimentação nos pontos de parada para apresentação de documentos e procedimentos aduaneiros. Muitas vezes este é o ponto em que um projeto declina por não haver suporte para os custos.
Por fim, é necessário avaliar a estrutura no porto/aeroporto aonde chegará a mercadoria. “Vale salientar que todos estes passos devem ser baseados em pequenos subprojetos contemplando pesquisas de viabilidade e gastos envolvidos. Nesta fase, cada setor da empresa precisa se comprometer: engenheiros e técnicos da área, expedição e logística, financeiro e orçamentário, comercial e diretoria de projetos (se houver), para que não haja nenhum ponto falho na operação”, expõe a profissional da Zeit.
Cláudio Ramos, diretor de projetos industriais da DHL Global Forwarding (Fone: 11 5042.5500), diz que o transporte de cargas especiais no Brasil, em sua grande maioria, é realizado via transporte rodoviário. O transportador elabora um estudo de viabilidade do trajeto/rota em que a carga passará, levando em consideração suas dimensões e peso, além das obras de arte (pontes, viadutos, passarelas, túneis etc.), que serão utilizadas no trajeto. Este estudo é enviado ao Dnit junto com a solicitação da AET – Autorização Especial de Transporte e, assim que autorizado, são contatados os órgãos que serão afetados por este transporte, podendo ser as concessionárias de rodovia, o Denatran, as companhias de energia elétrica, de telefonia e de TV a cabo.
Rodrigo Natario, executivo de projetos da Wilson, Sons Logística (Fone: 11 2102.6515), lembra que os prazos para emissões de licenças variam de 24 horas a 15 dias, de acordo com a característica de cada carga. “Caso a travessia necessite de acompanhamento por equipe técnica de concessionária de serviço público, o prazo passará a ser o dobro do estabelecido”, conta. Vale lembrar que há casos em que o órgão nega e pede que seja feita a elaboração de outro trajeto/rota a ser apresentado para autorização.
Com relação ao transporte marítimo, quem conta é Edson Vegi, gerente de cargas de projeto da Aliança Navegação e Logística (Fone: 11 5185.3181). O primeiro ponto é o acesso à informação sobre a mercadoria. Dimensões, desenhos técnicos estruturais, indicação da localização dos pontos de içamento, amarração e centro de gravidade, pontos de apoio na base da carga para verificar a distribuição do peso no piso do navio, bem como fotos, manuais de transporte e movimentação da carga em questão completam a demanda de dados.
“Com essas informações em mãos, a área técnica efetua os planos de estiva, içamento e segurança da mercadoria a bordo do navio. Entre outros detalhes, verifica a posição dela, o esforço estrutural e a estabilidade da embarcação, a aceleração que sofre durante o transporte, o dimensionamento dos dispositivos para içamento e segurança, além do alcance dos guindastes e posição de atracação do navio”, detalha.
Este planejamento é posteriormente apresentado ao embarcador e recebedor da carga, como também aos operadores e agentes portuários e o transportador terrestre, para que todos tenham acesso e possam antecipadamente se planejar para posicionar a mercadoria no costado do navio, em posição e distância corretas para o início da operação. “Em todas as etapas, desde o planejamento, passando pelas reuniões pré-operacionais até a efetiva operação, a palavra de ordem é segurança”, ressalta.
Os horários para circulação dos veículos são negociados com os órgãos competentes, buscando períodos de menor movimentação. “O percurso da carga é com base na viabilidade realizada, que leva em consideração o local com menos restrições para o transporte com base na segurança dos usuários, menor tempo de percurso e baixos custos”, declara Jhony Fidelis, diretor executivo do Grupo Chibatão (Fone: 92 2123.0400).
Janir Branco, diretor-superintendente do Porto do Rio Grande, RS (Fone: 53 3231-1366), salienta que a logística precisa ser delineada para oferecer o mínimo de transtornos para o motorista e a sociedade. “O Porto Novo está localizado no entroncamento de uma via municipal com o início de uma rodovia federal. A logística respeita essa premissa, então são escolhidos finais de semana e horários fora do pico, como final da tarde e meio-dia.”
Entraves
O maior problema com relação a esse tipo de transporte, segundo Alexandre Chami, diretor de IFF – International Freight Forwarding da Yusen Logistics Brasil (Fone: 11 4064.9300), é a falta de estrutura adequada.
“As nossas estradas não foram planejadas para cargas de projeto. Desvios, passarelas e viadutos muitas vezes dificultam esta logística”, acrescenta Patricia Iglesias, diretora comercial do Tecon Salvador (Fone: 71 2106.1522).
Concorda Natario, da Wilson, Sons Logística. Os maiores gargalos, de acordo com ele, são a infraestrutura das rodovias e a regulamentação engessada, que prejudicam diretamente o desempenho das operações. “Muitas obras e concessões em rodovias são feitas sem levar em consideração as cargas superdimensionadas. Passarelas e viadutos com 5,5 m de altura, por exemplo, dificultam esse tipo de transporte”, analisa.
Em sua opinião, uma das soluções para resolver o problema é consolidar grupos de trabalhos com empresas que sofram com os gargalos logísticos do transporte rodoviário, com o intuito de rever os processos e atrair investimentos.
Uma alternativa, ainda de acordo com Natario, é a cabotagem para cargas de projetos, que está crescendo nos últimos anos e foi criada para atender este nicho de mercado, minimizando os impactos, principalmente em relação ao tempo de trânsito até o destino final.
“A cabotagem é uma possível solução para o transporte entre portos, sempre utilizada em sinergia com o transporte rodoviário, que é necessário para realizar a coleta no local de origem, a entrega no costado do navio no momento do carregamento e a recepção das cargas durante o descarregamento, além de entrega no destino final”, explica.
Fidelis, do Grupo Chibatão, acrescenta aos entraves: a burocracia para liberação de licenças especiais para trafegar em rodovias, a dificuldade para acompanhamento dos órgãos de trânsito (municipal, estadual ou federal), os altos custos das taxas e a dificuldade de atender as normas ou os procedimentos dos órgãos municipais, estaduais, federais e concessionárias.
“Essas questões poderiam ter uma resolução única, com custos bem definidos e sem burocracia, a ser seguida por todos os órgãos competentes, com maior flexibilidade, levando em conta nossa infraestrutura e as condições de cada estado, com profissionais nas estradas e órgãos com maior conhecimento do transporte especial”, expõe.
Outra questão, apontada por Nilson Santos, diretor operacional da TGA Logística Transportes Nacionais e Internacionais (Fone: 11 3464.8181), diz respeito ao cuidado no carregamento, manuseio e descarregamento da carga, por se tratarem de materiais de grandes dimensões e terem alto grau de risco. “Isso poderia ser resolvido com mais investimento em mão de obra qualificada”, opina.
De acordo com Vegi, da Aliança, o transporte de cargas, especiais ou não, demanda soluções para três questões específicas: segurança, prazo e custo. “Tratando-se de cargas de projeto, a segurança deve ser priorizada, portanto, é importante escolher empresas especializadas no serviço, que estão aptas a oferecer soluções adequadas para proteção da carga, das pessoas e da infraestrutura envolvida”, expõe.
Na questão de prazo, em vista da qualidade das estradas, das dificuldades de acesso aos portos e do tempo de emissão das licenças para trânsito, é importante garantir um prazo que possa ser cumprido, levando em consideração atrasos em alguns trechos, devido a restrições no tráfego ou a qualquer outro motivo que não possa ser previsto com antecedência.
Já o custo, explica Vegi, está diretamente ligado com prazo e segurança. “Os equipamentos envolvidos são caros e especializados. Nesse sentido, qualquer falta de planejamento pode acarretar em gastos adicionais desnecessários.”
No Terminal de Contêineres de Paranaguá (Fone: 41 2152.5999), os maiores desafios estão diretamente relacionados a peso, dimensão e alto valor agregado do produto, conta Juarez Moraes e Silva, diretor superintendente comercial. “Esse tipo de operação exige que o terminal tenha equipamentos adequados e faça um estudo detalhado previamente, a fim de reduzir possíveis riscos e garantir a segurança da operação, já que qualquer movimento mal planejado pode resultar em avarias nas mercadorias”, analisa.
Ele salienta que além, de um planejamento detalhista para operação de cargas especiais, o treinamento constante da equipe e os investimentos em equipamentos integram o tripé para operações bem-sucedidas no segmento.