O Brasil perde em média R$ 10 bilhões em grãos pelas rodovias, mas não se sabe quanto Mato Grosso, o maior produtor de grãos do País, perde na BR-163, principal rodovia do Estado para escoamento da safra.
Em dados divulgados em 2013, o Estado perdeu 14 milhões de toneladas de grãos que poderiam abastecer 488 caminhões. Mas essas perdas não acontecem apenas nas rodovias. Elas acontecem no campo, na colheita, no trajeto até os armazéns e dentro deles. Todos esses dados, que deveriam ser disponibilizados e atualizados, não existem.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa) e Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) ainda não disponibilizam essas informações.
De acordo com o professor doutor Carlos Canapelle, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a perda de grãos no transporte rodoviário no Estado deve ficar em torno de 0,5%. “Essa estimativa se dá porque existe a chamada Tolerância de Balança que é de 27 kg por caminhão. Esse percentual estimado é mensurado na pesagem no início da viagem e ao final dela. Se der uma diferença de 27 kg não é considerado perda, mas se ficar acima desse valor considera-se perda”, segundo explica o professor.
Pesquisa realizada numa parceria entre a UFMT e a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em 2015 sobre a perda de grãos na colheita mostra que de 16 máquinas analisadas, a maioria nova, 69% foram avaliadas como apresentando um nível aceitável de perda, de até 60 kg por hectares (valor aceitável). Mas, a perda total da região Médio-Norte ficou acima de 70 kg por hectare, devido às máquinas velhas e em estados de conservação inadequados para a colheita. Os dados foram recolhidos na safra de 2012/2013 em 12 fazendas de sete municípios mato-grossense.
Maquinários velhos, condições precárias nas estradas, carregamento inadequado e acima do permitido, falta de conservação dos pneus e falta de capacitação adequada aos caminhoneiros são problemas que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) acarretam as perdas nas rodovias.
Conab e UFMT realizam pesquisa
A Conab, demandada pelos órgãos de controle, em parceria com Universidades e Instituições de Pesquisa nacional, iniciou em 2015 um estudo para saber quanto o Brasil perde especificamente durante o armazenamento dos grãos de milho, arroz e trigo e quantos desses grãos perdemos nas estradas.
A partir de então a Conab junto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CPNq), começaram uma pesquisa quantitativa sobre as perdas em estradas de três Estados: Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
O estudo realizado irá mensurar a perda dos principais produtos trabalhados pela Conab. Em Mato Grosso, a UFMT fará a pesquisa de quantos grãos de milho são perdidos pela BR-163 que liga Mato Grosso ao Pará. A escolha do grão, segundo explicou a Superintendente de Armazenagem da Conab em Brasília, Deise Menezes, é pela “maior movimentação nas rodovias realizada pela Conab”.
A pesquisa deve ser concluída até 2017. Além de mensurar as perdas, a UFMT também terá que apresentar metodologias para minimizar os problemas como explicou Menezes. “Acontece que o estado das estradas é um fator preponderante para as perdas, mas há também o tipo de transporte e pontos críticos como curvas e lombadas. Tudo isso será identificado. Assim serão apontados os principais fatores que causam essas perdas e a proposta para minimiza-las”, contou a superintendente.
Levantamento será feito em 4 estágios
O professor Carlos Canapelle é o coordenador da pesquisa realizada pela UFMT. A equipe é composta por estudantes de graduação, mestrado e doutorado e levanta dados da perda do milho divididos em quatro estágios: avaliação do peso no início e no final do processo; aplicação de questionário aos motoristas de caminhões; envelopamento das carrocerias dos caminhões que transportam o grão e realização do percurso por onde passam as cargas.
“Nós não estamos conseguindo ainda um índice de perda, porque na realidade o que nós precisamos buscar, junto do projeto, é a estimativa de perda e Mato Grosso perde muito produto”, contou Canapelle. Até agora, a UFMT já entregou um relatório semestral para a Conab e se prepara para encaminhar o segundo. Os dados, porém, ainda não foram divulgados, nem adiantados.
Pesquisa vai ajudar a minimizar as perdas
Deise Menezes, superintendente de armazenagem da Conab, afirma que a pesquisa vai ser importante para minimizar as perdas. “Nós temos transportes rodoviários de forma inadequada que dificulta o desenvolvimento do agronegócio. Temos, também, históricos de prejuízos para os produtores rurais e órgãos públicos com perda de grãos em função dessa deficiência no sistema de transporte”, informou.
Com o diagnóstico dos impactos causados pela perda de grãos, o mercado financeiro será o maior impactado positivamente, afirma Menezes. “O retorno financeiro irá beneficiar tanto os produtores quanto o governo. Além disso, temos a possibilidade de crescimento e desenvolvimento do agronegócio nacional”, finalizou.