Quando se trata de logística sustentável, os principais erros cometidos pelas empresas são ausência de investimentos em tecnologia, pouca ou nenhuma padronização de processos, falta de manutenção correta dos veículos e, principalmente, inexistência de ações e programas de conscientização dos colaboradores.
Já ouviu falar em logística verde? Pode ser que você só conheça a logística reversa, que trata de dar destino certo aos resíduos produzidos pelos produtos depois de usados pelo consumidor. Na logística verde, essa ação também acontece, mas não só ela: todo o processo logístico é voltado para agredir o mínimo possível o meio ambiente, desde a criação das embalagens, passando por armazenagem e distribuição até chegar à casa do consumidor, que, após o uso, tratará de contribuir para que a empresa possa dar o destino correto aos resíduos. Em resumo, a logística reversa é apenas uma parte da logística verde.
Essa explicação está no blog da HBSIS (Fone: 47 2123.5400), desenvolvedora de soluções em sistemas de venda, logística e outsourcing de TI. Em entrevista exclusiva à Logweb, o gerente de produtos da companhia, Sidney Hamada, conta que os maiores impactos ambientais causados pela logística estão na movimentação e na distribuição de produtos e materiais, pois geram muitos resíduos sólidos (plástico, papel, vidros, metais, etc.) que acabam não sendo devidamente coletados e armazenados para posterior tratamento e reciclagem. Além disso, o setor emite gases poluentes, principalmente porque o transporte de cargas é, em sua maioria, realizado por veículos a combustão.
Entre os principais erros cometidos, quando se trata de logística sustentável, Hamada cita: ausência de investimentos em tecnologias, que podem contribuir para minimizar os desperdícios na cadeia de suprimentos como um todo; pouca ou nenhuma padronização de processos, que otimizariam pessoas e recursos; falta de manutenção correta dos veículos e, principalmente, inexistência de ações e programas de conscientização dos colaboradores.
“A tecnologia tem um papel importantíssimo, pois elimina desperdícios, aumenta a produtividade e melhora a utilização de recursos e materiais, como, por exemplo, o papel. Na distribuição de mercadorias, por exemplo, as soluções tecnológicas atuam garantindo que as entregas sejam feitas da melhor forma possível, em menor tempo e com acompanhamento. Os resultados são serviços mais rápidos, rotas mais inteligentes, processos mais assertivos, menos gasto de combustível e desgaste do veículo”, explica.
No processo de armazenagem de produtos, a logística verde aplica-se na organização dos produtos dentro do depósito para diminuir movimentações com equipamentos, no uso eficiente de energia elétrica, dando preferência para lâmpadas de LED ou utilização de luz natural, no consumo consciente de recursos naturais e na destinação correta de materiais recicláveis e resíduos.
Além de permitir ações mais sustentáveis na distribuição e na armazenagem, a logística verde também preza pela otimização dos materiais utilizados nos processos e pela redução dos resíduos. Dentro dessa política, o gerente de produtos conta que o design de embalagens figura como fator importante para a redução dos impactos ambientais causados pelo produto. “O design deveria considerar embalagens recicláveis ou de reuso, materiais biodegradáveis e que gerem a menor quantidade de resíduos possível. Um bom exemplo são indústrias de bebidas que estão voltando a utilizar embalagens retornáveis, isso aumenta o custo logístico, mas contribui bastante para uma logística verde”, expõe.
Redução de custos
Soluções sustentáveis podem, sim, reduzir custos, por exemplo, com o aproveitamento da água da chuva para limpeza predial e/ou dos veículos, a substituições de lâmpadas de mercúrio ou incandescente e até a utilização de energia renováveis. Hamada diz que nem sempre é preciso realizar grandes investimentos, muitas vezes programas de conscientização das pessoas já trazem benefícios e resultados.
Em alguns casos, ter uma cadeia verde é até mais barato, mas é preciso organização. Renovar a frota de veículos em períodos menores pode parecer desvantajoso, mas se considerarmos que os caminhões acabam consumindo menos combustível e gastam menos com manutenção, acaba valendo a pena. Ter embalagens retornáveis ou que agridam menos o meio ambiente não custa caro, basta ter um bom esquema para recolhimento e destinação dos resíduos e colaboração dos consumidores. Tudo depende muito mais da mudança de hábitos e processos do que despesas em si.
Justamente, um dos principais entraves às ações sustentáveis é a falta de conscientização. “Nem sempre os resultados vêm em curto prazo, sem falar que as novas atitudes requerem investimentos, que dependem do estágio em que a empresa está. Por isso, é importante também haver algum tipo de benefício ou incentivo que a compense de alguma forma, enquanto o ganho não é visível”, expõe.
Para o gerente de produtos da HBSIS, faltam iniciativas tanto em relação a processos mais sustentáveis quanto em conscientização pública. “Quando houver mais valorização do meio ambiente por parte da população, as iniciativas ecológicas vão passar a impactar mais fortemente na geração de imagem positiva, impulsionando as organizações a investirem na sustentabilidade”, acredita.
Hamada diz que apesar de ainda não haver muitas políticas focadas na sustentabilidade, o número de iniciativas vem aumentado pouco a pouco. “É preciso criar programas mais específicos nessa área e colocá-los em prática dentro das companhias e nas escolas. O pensamento sustentável começa com os cidadãos, a partir de pequenas atitudes replicadas em casa e no trabalho, e transformadas em resultados em larga escala”, conta.
Em países desenvolvidos, esse assunto é tratado com muito mais importância e rigor. No Brasil, atualmente, existem algumas áreas regulamentadas, principalmente no que diz respeito às embalagens, como as de produtos farmacêuticos, agrotóxicos, eletrônicos, óleos e lubrificantes e pneus. “Apesar de existirem políticas antipoluição desde os anos 90, ainda temos um grande desafio em controlar os resíduos e o descarte correto de materiais. Em todo o país, ainda é comum o uso de embalagens que não são biodegradáveis e que não podem ser recicladas, além do descarte de materiais de forma incorreta”, revela o gerente de produtos.
Em países como a Alemanha, por outro lado, ele diz que há obrigatoriedade de coleta seletiva e existem ações que incentivam o retorno de embalagens, contribuindo para a logística reversa. Em alguns estabelecimentos do país, ao devolver garrafas vazias, o consumidor recebe créditos para a compra de novos produtos. Iniciativas como essa, desenvolvidas também em outras regiões da Europa, começam a ser aplicadas no Brasil.
Na prática
Nos últimos dois anos, a Regra Logística em Distribuição (Fone: 62 3018.1000), com sede em Goiânia, GO, considerada a maior operação AB InBev do Brasil (do segmento de bebidas), vem aperfeiçoando sua gestão logística, como conta o diretor financeiro, Silvio Sousa. “A participação da HBSIS, fornecedora do ERP, nesse processo de melhoria e desenvolvimento de soluções, é fundamental. Os produtos que estão sendo implementados e desenvolvidos nasceram da necessidade específica de captura de lacunas de produtividade”, revela.
Um exemplo é a solução Touch Picking (T2P), que foi criada para reduzir custos e ampliar a capacidade produtiva. Trata-se de um sistema que automatiza o carregamento do processo de picking, acionado por meio de um smartphone que é acoplado ao braço do operador. Com essa tecnologia, não é preciso mais utilizar papel para fazer a conferência do que foi carregado, permitindo, também, mais segurança na gestão. “Os comandos são enviados e acompanhados em tempo real. Assim, temos acesso também ao ranking de carregamentos, o que possibilita melhor controle da produtividade”, destaca Sousa.
O sistema foi implantado há cerca de cinco meses e já apresentou resultados expressivos: mesmo com a otimização no quadro de carregadores – a equipe atual é de 21 funcionários, antes eram 28 –, houve ganho de 20% na velocidade de paletes carregados por hora. “Estamos na expectativa de redução de mais lacunas, com o desenvolvimento de novas soluções”, afirma.
Outro benefício considerável foi na capacidade de armazenamento: a partir da implantação do Touch Picking, a empresa mudou todo o layout do armazém e, com isso, foi possível abrir espaço para o carregamento de 20 carretas. “Considerando uma empresa de pequeno ou médio porte, é um resultado muito expressivo”, considera Sousa. A solução foi implementada também em outras seis unidades da empresa.
Mais um exemplo é a Comercial Atlântica, Logística e Distribuição de Bebidas (Fone: 12 3133.6532), revendedor Ambev na região de Guaratinguetá, SP, que passou a melhorar os processos com as soluções da HBSIS, ampliando os controles e reduzindo a necessidade de recursos.
“Antes, gastávamos muito papel e tempo para processar as informações. Com os sistemas implementados, aprimoramos tudo isso, dando mais agilidade ao dia a dia da revenda. Hoje, utilizamos serviços de TI que disponibilizam visões gerenciais em tempo real na tela dos dispositivos, eliminando a necessidade de imprimir relatórios”, explica Wedson de Paula, diretor operacional.
Além disso, recentemente, a companhia colocou o servidor na nuvem (cloud), diminuindo a quantidade de equipamentos e hardwares. A tecnologia também permite que o suporte seja remoto, diminuindo as visitas constantes dos técnicos à revenda e resolvendo eventuais dúvidas à distância. Tudo isso gera uma economia gradativa, reduzindo os custos e o uso de materiais.
A Atlântica utiliza as soluções da HBSIS há mais de 20 anos, entre elas, as principais são Promax, T2P, HB.MDM e HB.Frotas, cuja principal funcionalidade é aperfeiçoar a cadeia logística como um todo, gerando diversos impactos no sentido da sustentabilidade. “O HB.MDM, por exemplo, permite monitorar os percursos realizados pela nossa frota, o que resulta em menos gasto de combustível, rotas menores e diminuição dos erros. Hoje, mantemos os caminhões com manutenção corretiva e preventiva em dia e traçamos rotas otimizadas”, expõe Wedson.
O T2P, por sua vez, é uma solução que automatiza o processo de separação de mercadorias e montagem de paletes. “O produto nos ajudou a diminuir a quantidade de papel utilizada diariamente, além de agregar em produtividade. Tudo isso nos permite realizar as atividades em um tempo menor e, com isso, fechar o depósito mais cedo, gerando uma redução significativa no consumo de energia elétrica”, conta.
Em um ano, com projetos de conscientização e a ajuda dessas soluções, foi possível diminuir o consumo de combustível em 13%. Junto a isso, o aumento da produtividade resultou na economia de energia, que teve queda de 19% no período.
Segundo Wedson, mesmo com soluções digitais, existem pessoas que ainda insistem em imprimir relatórios, o que está relacionado à cultura de cada companhia. A Atlântica conseguiu implantar hábitos sustentáveis, como a reutilização do verso do papel e a adoção de canecas individuais para poupar o uso de copos descartáveis. Também realiza o descarte correto dos pneus trocados e implanta a cultura 5S, prezando pelo aproveitamento e eliminação do desperdício.
“E, ainda, não utilizamos mais mapas de carregamento, visualizando a disposição da carga e o planejamento de rotas pelo celular e pelo computador. Soluções assim, junto com uma cultura de conscientização, resultam em uma empresa mais sustentável”, afirma.
Para o diretor operacional, toda organização precisa buscar o resultado financeiro, afinal, sem ele, o negócio não consegue sobreviver, entretanto, é importante sempre haver dentro da companhia pessoas que olhem para o meio ambiente. “Qualquer empreendimento precisa de recursos que, de certa forma, impactam no ecossistema, como água e iluminação. Se não fizermos nossa parte, tanto em casa quanto na empresa, estaremos contribuindo para a escassez desses recursos. Independentemente do mercado de atuação e da atividade, devemos colaborar para que a degradação seja cada vez menor, buscando fazer o uso consciente de água e luz, realizar o descarte correto e reduzir o desperdício, fatores que geram custos não só para a empresa, mas para o planeta também”, destaca.
Para a HBSIS, o boca a boca e a internet são indispensáveis para que as pessoas se engajem na causa da logística verde. Por isso, é importante o investimento em marketing que explique como adotar essas práticas. Seja transparente, mostre cada etapa e sensibilize os consumidores!
O que é uma cadeia de suprimentos sustentável?
É aquela em que todas as partes envolvidas no processo logístico estão alinhadas com os conceitos de sustentabilidade ambiental, passando pelos fornecedores de insumos e matérias-primas, fornecedores de suprimentos e peças de reposição até a entrega do produto acabado para o cliente ou para o ponto de consumo. Esse ciclo da fabricação até a distribuição constitui uma cadeia que exige muitos recursos que podem gerar diversos produtos e resíduos prejudiciais ao meio ambiente. Para ser considerada sustentável, deve prezar por processos com o mínimo de recursos e resíduos possível, em todas as etapas. Além disso, é preciso investir em energias renováveis, reciclagem de materiais, tratamento de resíduos e rever processos que gerem o menor impacto possível ao meio ambiente e à comunidade, direta ou indiretamente afetada por suas atividades.
Fonte: Sidney Hamada, gerente de produtos da HBSIS