Artigo – Supply Chain: não desligue o forno! Ou: cuidado ao cortar custos na cadeia de suprimentos

Em tempos de baixo crescimento econômico, a pressão por corte de custos aumenta. Esse movimento tem sido a tônica e está afetando todos os setores da economia brasileira. Ter eficiência nos custos é fundamental para enfrentar mercados cada vez mais competitivos e com margens mais baixas. Mas também é preciso cuidado e inteligência ao cortar despesas.

Nessa hora, vale lembrar o exemplo das empresas de siderurgia. Mesmo em períodos de baixo crescimento, as usinas procuram manter seus altos -fornos funcionando. É que ligar o equipamento novamente é um processo caro e complexo. Por isso, se não se trata de manutenção programada, a decisão só é tomada em último caso.

O mesmo deveria valer para cortes de custos na cadeia de suprimentos de uma empresa. Infelizmente, nem sempre é o que acontece. Para que a redução de gastos seja eficaz, é preciso ter uma visão estratégica, para que não haja risco de cortar algum custo que reduza o valor do produto e/ou serviço oferecido ao mercado.

Um bom gerenciamento de Supply Chain vai apontar o caminho. No cenário econômico de 2016, isso significa tomar medidas que tenham efeito imediato no resultado financeiro da empresa e a ajudem a atravessar a turbulência, ao mesmo tempo em que aumentam a eficiência operacional no longo prazo.

Basicamente, há três elementos-chave para um controle estratégico de custos na cadeia de suprimentos: gerenciamento de demanda, de estoque e logística. São áreas em que é possível tomar decisões erradas e, por isso, a precisão das medidas deve ser cirúrgica.

Olhar global e boa lábia
Boas práticas de Supply Chain indicam que a otimização de estoque pode reduzir de 15% a 30% o capital empatado em produtos acabados. Mas para que essa otimização funcione a contento, é preciso um bom planejamento de demanda, que permitirá trabalhar com estoques mais enxutos sem criar problemas operacionais, além de uma visão estratégica do departamento de compras. É preciso olhar para o custo total de qualquer produto ou serviço na cadeia de suprimento.

O momento é de avaliar bem as operações e negociar com os fornecedores. Quais são essenciais e em qual volume? Quais podem ser reduzidos? Vale a pena diminuir o valor agregado de algumas compras? Reduzir o pacote de serviços agregados pelo fornecedor a determinado produto? Há outros fornecedores com capacidade ociosa no mercado?

Tal avaliação estratégica permitirá cortar despesas não essenciais e ajudará a criar uma cadeia de suprimentos mais eficiente. Cortes equivocados podem desarticular uma rede de fornecedores e, quando a economia reaquecer, se a cadeia de suprimentos não estiver preparada, é possível perder o momento da recuperação.

Por último, o gerenciamento da demanda e dos estoques tem impacto direto sobre a logística, outro setor que pode ser otimizado para redução de custos. Fica o alerta: reduzir a malha logística pode ser um risco. Afinal, quando a economia voltar a crescer, será difícil recompor a malha num prazo curto para atender os clientes.

O caminho da redução de custos em logística passa mais pelo bom aproveitamento da malha existente do que por seu eventual enxugamento. Uma estratégia viável, e com efeitos positivos no curto prazo, é assumir a gestão do sistema logístico, mesmo que a frota permaneça terceirizada. Essa solução depende da natureza do negócio, mas pode trazer ganhos significativos. Uma das maiores redes varejistas do mundo aplicou essa estratégia e reduziu em 8% seu custo logístico total.

A boa notícia é que a reformulação do Supply Chain não precisa ser feita de uma vez só e pode se limitar aos pontos-chave da operação. Os resultados serão sentidos no curto prazo. Uma otimização de estoques, por exemplo, traz benefícios visíveis em três meses. Já os ganhos proporcionados por um sistema de compras estratégicas, aliado ao gerenciamento de demanda, são capturados num período de dois a quatro meses.

Uma reforma parcial do sistema de logística, priorizando as operações estratégicas, cria reflexos positivos no resultado em três meses. Além de dar fôlego para atravessar 2016 com boa saúde financeira, tais medidas podem gerar ganhos de eficiência pelos próximos cinco ou dez anos.

Por isso, se cortar custos é inevitável, é necessário pensar bem antes de fazê-lo, para não desligar o “alto-forno” por acidente. Mais tarde, a dor de cabeça pode ser grande.

*Alexandre Furigo – Diretor de Operações e Supply Chain da TOTVS Consulting (Fone: 0800 7098100)