Embora os números não demonstrem uma recuperação robusta do mercado automotivo, a Anfavea (associação nacional que representa as montadoras) mantém o discurso otimista que adotou desde o impeachment.
“Acredito que teremos dois meses fortes de produção até o fim do ano”, diz Antonio Megale, presidente da Anfavea.
O executivo acredita que o “o salão do automóvel [que será aberto ao público nesta quinta (10)] representará a virada que precisamos, com o mercado voltando a crescer”. A entidade prevê que haverá crescimento “de um dígito parrudo” acima de 5% em 2017.
Contudo, as bases de comparação serão baixas. De acordo com a Anfavea, as vendas de veículos acumulam queda de 22,3% entre janeiro e outubro, na comparação com igual período de 2015. Os dados incluem carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões.
“Tivemos 159 mil licenciamentos em outubro, praticamente o mesmo que em setembro, com estabilidade nos emplacamentos diários [cerca de 8.000 carros/dia]”, diz Megale.
O estoque de 209 mil unidades, suficiente para atender a 40 dias de vendas, é considerado equilibrado pela entidade.
O crédito disponível continua a ser um problema. Os financiamentos foram baixos, representando 51,7% das vendas de veículos. Setores ligados à produção de caminhões e maquinário agrícola também querem mudanças na distribuição das linhas de financiamento.
“Temos uma expectativa de crescimento forte com o agronegócio. Nossa preocupação é com o financiamento. Buscamos uma alocação de crédito mais adequada ao momento atual”, afirma Ana Helena de Andrade, vice-presidente da Anfavea.
A produção total teve pequena melhora entre setembro e outubro, com alta de 2,3%. No acumulado do ano, há queda de 17,7%.
Ao analisar a fabricação apenas de carros de passeio, a alta entre setembro e outubro chega a 6%, o que reflete a retomada da produção nas unidades da Volkswagen, que vem tendo problemas com fornecedores neste ano.
A Anfavea prevê que as exportações devem ter alta em 2017, movida por acordos pontuais com países da América Latina. O próximo será o Peru, segundo presidente da entidade.
A boa vontade que a entidade demonstra em relação ao governo faz parte de uma estratégia que busca obter medidas mais previsíveis, que poderão vir com as esperadas mudanças na política industrial do país.
“A nova política industrial deve sair pronta. No exemplo do Inovar-Auto, a regulamentação foi saindo aos poucos”, afirma Megale.
Fonte: Folha de S. Paulo