A Usiminas pretende continuar com a sua estratégia – bem-sucedida até aqui – de repassar a inflação de custos de produção para seus clientes por meio de aumento dos preços do aço. A empresa confirmou ontem o quinto reajuste só neste ano, por conta da valorização do minério de ferro e do carvão, e seu presidente, Rômel Erwin de Souza, disse que quando esse repasse não for mais possível, será necessário repensar o negócio.
Em reunião organizada pela Apimec, em São Paulo, o executivo lembrou que no momento a usina de Cubatão (SP) não fabrica mais aço bruto, apenas lamina placas compradas de terceiros. Se o valor das placas se tornar inviável, exatamente devido às matérias-primas mais caras, uma avaliação sobre a atividade terá de ser feita para determinar se é sustentável ou não. “Não vamos produzir com prejuízo.”
A maior parte das placas de aço adquiridas pela unidade vêm da ThyssenKrupp CSA, no Rio de Janeiro, mas a companhia também tem comprado o produto de outras fontes, como Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e a russa Severstal. No quarto trimestre, o volume estimado chega a 395 mil toneladas, contra 295 mil toneladas entre julho e setembro. “Até agora repassamos esse custo maior da placa, os reajustes estão pegando”, comentou.
Para o Citi, os reajustes de fato estão dando certo e devem continuar sendo aplicados, dada a evolução dos preços lá fora. Antes desse quinto aumento no Brasil em 2019, o banco calcula que o desconto do produto nacional sobre o importado encontrava-se entre 3% e 9%. Thiago Ojea, responsável pela análise, lembra que patamar de 5% a 10% é o mais saudável para a concorrência.
Após o novo aumento, que segundo agentes do mercado deve ser seguido por Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e ArcelorMittal em aços planos, o prêmio está sendo calculado em cerca de 10%. O índice depende do comportamento do real ante o dólar da cotação do aço internacional, especialmente o chinês.
Para o setor automotivo, que assina contratos de fornecimento anuais, a negociação continua. A Usiminas está pleiteando alta de 25% nos preços, após dois anos sem reajustes, em 2017.
A expectativa da siderúrgica é que o preço do carvão recue em breve. Mas se a cotação à vista seguir tão alta como atualmente, em torno de US$ 310 por tonelada, os contratos trimestrais podem acompanhar, o que encolheria mais a rentabilidade. Entre 65% e 70% do material importado pela empresa é feito usando contratos. O minério de ferro bateu ontem US$ 75 a tonelada na China.
Aos analistas, Sergio Leite, vice-presidente comercial, revelou que a expectativa é de um aumento no consumo de aços planos no Brasil em 2017. Essa alta seria de aproximadamente 5%, baseada nos modelos econométricos da Usiminas, que levam em conta Produto Interno Bruto (PIB), formação bruta de capital fixo, entre outros.
Leite disse ainda que espera uma resolução sobre o pedido antidumping para laminados a quente da China e da Rússia no primeiro trimestre de 2017. Nesta semana, foram divulgadas margens preliminares de uma potencial medida, mas que não possuem efeito prático ainda.
Fonte: Valor Econômico