Em um anúncio inesperado, mas que retrata movimentos de consolidação de ativos que podem se tornar rotineiros daqui para frente, ontem os grupos Votorantim e ArcelorMittal informaram que decidiram fundir suas operações de produção de aço longo no Brasil. O objetivo da união, que já foi à análise do órgão antitruste do país, é fortalecer o negócio siderúrgico no país, que enfrenta uma forte crise de demanda desde 2014.
A fusão de ativos, que dará uma participação de 3% para a Votorantim no capital da ArcelorMittal Brasil, é também uma porta de saída para o grupo da família Ermírio de Moraes deixar a atividade siderúrgica, ao menos no Brasil, a partir de 2019. As fábricas instaladas na Argentina e Colômbia ficaram de fora desse acordo.
Segundo apurou o Valor, as negociações entre os dois grupos tiveram início no terceiro trimestre de 2016. Nesta etapa, não envolve nenhum pagamento em dinheiro: apenas dação de ações da ArceloMitttal Brasil à Votorantim.
No acordo assinado com a líder mundial de produção de aço, a Votorantim garantiu um direito de vender (conhecido como put) suas ações na ArcelorMittal Brasil entre 2019 a 2022. Uma fórmula de preço, no caso de exercer a put, já ficou definida na operação.
Pelas regras, a ArcelorMittal será obrigada a adquirir essa participação no prazo definido se ela desejar vender. Mas, ao mesmo tempo, o grupo também garantiu para si um direito de compra (“call”) da fatia da Votorantim entre 2023 e 2024, informou Jefferson De Paula, presidente de Aços Longos do grupo indo-europeu nas Américas do Sul e Central.
“Foi um acordo bom para ambas as empresas, considerando o cenário de sobreoferta de aço no mundo e a crise de demanda no Brasil, que teve uma retração brutal de 33% de 2014 para cá”, disse o executivo da ArcelorMittal.
“Além da complementariedade geográfica, vemos ganhos de logística e de especialização de produtos nas unidades fabris combinadas”, afirmou o executivo. Atualmente, o nível de utilização da capacidade das usinas da ArcelorMittal é da ordem de 75%, enquanto na Votorantim está na faixa de 50% a 60%.
Segundo De Paula, surgiu a oportunidade de unir o vice-líder de aços longos (ArcelorMittal) com o terceiro no país, criando uma empresa mais competitiva em escala, custos, produtos e logística. “Hoje, a Votorantim não exporta nada; nós embarcamos 15%, mas temos dificuldades devido a carga tributária e os custos de logística do Brasil”, afirmou.
A Votorantim não colocou porta-voz para comentar a fusão.
O executivo da ArcelorMittal lembrou que o mercado de aços longos no Brasil passou a ter a concorrência de novos entrantes – pequenos, mas competitivos -, que acirram a competição. Desde 2008 chegaram Sinobrás, CSN, o grupo mexicano Simec, o espanhol Anõn e a Aço Verde (grupo Ferroeste). Ao todo, adicionaram capacidade de 2,6 milhões de toneladas. A Gerdau é a líder e detinha cerca de 40% das vendas.
“A hora é de busca de competitividade e ganho de margens”, observou o executivo. A fusão de ativos envolve cinco operações em Minas Gerais (três usinas), São Paulo e Espírito Santo, do lado da ArcelorMittal; pelo lado da Votorantim, três unidades: Rio de Janeiro (Resende e Barra Mansa) e Mato Grosso do Sul (Três Lagoas).
Com a combinação, a capacidade do grupo Arcelor passa a ter capacidade produtiva de 5,6 milhões de toneladas de aço bruto por ano e 5,4 milhões de toneladas de produtos laminados. A Votorantim agregou à ArcelorMittal Brasil – que também faz aços planos e tem mineração de ferro – 1,8 milhão de toneladas de aço bruto e 1,7 milhão de toneladas de laminados.
Com a junção, o grupo fundado pela família Ermírio de Moraes – que passou a fazer aço desde 1937 em Barra Mansa – passa a ter participação de 15% do negócio combinado de aços longos. A Votorantim já havia saído do capital da Usiminas em 2011 ao vender sua participação para Paolo Rocca, dono da Ternium.
Com uma receita anual de mais de R$ 30 bilhões, a Votorantim tem no cimento seu principal negócio, seguido por mineração e metalurgia de zinco, cobre e alumínio. Também gera energia e tem participações de controle na Fibria (celulose), e Citrosuco (suco de laranja), além dos aços longos.
Fonte: Valor Econômico