Enquanto o país decide sobre legislação trabalhista e acordos de trabalho entre patrões e empregados, a tecnologia pode estar diminuindo a amplidão dessas discussões.
Está no Brasil um trator autônomo que poderá mudar as relações de trabalho, de produtividade e de como a agricultura será administrada no futuro.
Após circular pelos Estados Unidos e Europa, o trator autônomo da Case sai, nesta quinta-feira (27), de Sorocaba (SP) para Ribeirão Preto (SP), onde estará durante a feira Agrishow, que vai de 1º a 5 de maio.
Ainda considerado “um conceito de trator autônomo” pela Case, a máquina já tem um patamar mais avançado de tecnologia.
“É um primeiro passo para o caminho da automação total”, diz Christian Gonzalez, diretor de marketing da empresa para a América Latina.
Sem cabine e, é claro, sem um operador, o trator vai desempenhar as suas funções com comando à distância. Sensores, câmeras, GPS e rádio vão permitir que o trator leia o ambiente e tome as decisões de como atuar.
Ele vai trabalhar dentro de uma cerca virtual, que compreende as áreas de atuação determinadas pelo proprietário da fazenda.
Sai do barração na sede da fazenda, vai até a lavoura e inicia a operação, seguindo orientações predeterminadas via software.
Se durante o caminho ou a operação agrícola encontrar algum objeto móvel, o trator para e espera até que o caminho esteja livre.
Se for um objeto fixo não programado, para e manda um alerta para o gestor, que poderá estar distante do local e, via câmeras, vai avaliar a situação. Por meio de celular ou computador, dá novas orientações à máquina.
Apesar de todos esses avanços, a máquina não tem uma autonomia total a ponto de tomar decisões sozinha.
A passagem desse trator pelo Brasil —na sequência vai para a Argentina— tem seus motivos. Na avaliação de Gonzalez, o país reúne duas das principais áreas de atuação da máquina: Primeiro, as fazendas são grandes e estão em busca de tecnologias. Segundo, há uma escassez de mão de obra qualificada no país.
Segundo ele, o país reúne grandes fazendas de grãos, de cana-de-açúcar e de café. E todas elas estão em busca de ganho de produtividade e de eficiência.
O diretor da Case diz que “o trator autônomo tem a capacidade de elevar a produtividade para patamares superiores aos atuais”, diminuindo o efeito da ação dos trabalhadores que entendem menos de tecnologia.
EM OBSERVAÇÃO
A Case ainda considera o trator autônomo apenas como “um conceito” porque quer ver a reação do agricultor, a aceitação por esse tipo de tecnologia e até receber eventuais sugestões para mudanças.
Apesar de o trator autônomo ser uma realidade, a sua utilização ainda não é. Os principais entraves hoje são legislação e segurança. Essas discussões ainda devem se estender por vários países, inclusive o Brasil.
Gonzalez acredita, no entanto, que a aprovação dessas máquinas será mais rápida do que a dos veículos autônomos que serão usados nas cidades.
A empresa quer avaliar também qual o nível de tecnologia que a máquina deve ter e até quanto o produtor está disposto a pagar.
“Temos que ter um projeto de autonomia real”, diz Gonzalez.
O diretor da Case acredita que as máquinas autônomas vão custar valores similares às de mercado que contenham equipamentos para agricultura de precisão. O trator autônomo da Case tem como protótipo o Magnum 380, que custa próximo de R$ 900 mil atualmente.
O Brasil faz parte dos testes de desenvolvimento dessa máquina que, segundo Gonzalez, poderá estar no mercado em cinco anos.
As máquinas estão sendo desenvolvidas não apenas para grandes áreas mas também para pequenas. Nos próximos meses dois tratores estarão sendo testados na Califórnia. Um deles, de menor parte, vai ser utilizado nas vinícolas do Estado.
A escolha da Califórnia tem dois motivos. Primeiro, é o Estado com a legislação mais avançada na utilização de novas tecnologias. Além disso, os tratores estarão no Estado que é o berço da tecnologia, da qual a máquina depende.
MAIS AUTONOMIA
A Agres, empresa brasileira voltada para agricultura de precisão, também lançará na Agrishow duas tecnologias que, combinadas, possibilitam que máquinas agrícolas, como tratores, pulverizadores e colheitadeiras, se tornem autônomas.
Os equipamentos são instalados em máquinas normais e que já estão no mercado.
As novas tecnologias são a IsoPoint, da Agres, e a IsoFarm, desenvolvida com base em soluções de inteligência cognitiva da IBM.
Fonte: Folha de S. Paulo