Se a logística no segmento de alimentos e bebidas já é complexa, em razão das próprias características dos produtos, imagine a logística do frio aplicada a este segmento – tema desta matéria especial. Ela apresenta várias peculiaridades, como as apresentadas a seguir pelos representantes de algumas empresas atuantes nesta área.
“A logística no segmento de alimentos na cadeia do frio exige práticas operacionais rigorosas. Controles de temperatura na armazenagem, desde a entrada, picking e saída, embarque, transporte, descarga e novamente armazenagem e exposição no varejo. A perda de temperatura em uma dessas etapas é chamada de quebra da cadeia do frio, e põe em risco a segurança alimentar”, expõe Rosemary Panossian, sócia-diretora da Confiancelog Armazenagem, Logística e Transporte (Fone: 11 2227.7711).
“A armazenagem e o transporte de produtos alimentares apresentam determinadas características – temperatura, higiene/limpeza e umidade. Por conta disso, devemos seguir diversas normas para garantir a integridade do produto e a segurança para o consumidor final”, diz, agora, Luiz Fernando Carminatti, diretor de operações da JSL (Fone: 0800 019.5755), complementado por José Ferreira Junior, diretor geral da Gelatto Transportes Climatizados (Fone: 11 4323.6624), para quem, o setor requer, primeiro, ter um bom equipamento, bem como carro limpo, motorista uniformizado e equipamentos de medição. “Habilidade e agilidade com manuseio são os diferenciais para uma rotina sem grandes surpresas.”
De fato, a logística do frio é uma operação muito intensa no que se refere a maquinário pesado para a obtenção do ambiente, sendo resfriado ou refrigerado, e para cada produto há uma especificação de temperatura, que caso não seja adequada, pode influenciar na validade dos produtos, na qualidade e consequentemente gerar perdas. “É uma logística que requer muitos protocolos e especificações quando se trata de alimentos, e o cuidado constante é uma prioridade”, alerta Alexandre Luiz Ramos, gerente de planejamento da Log Frio Logística (Fone: 11 2175.7100).
Ainda com relação aos requisitos do segmento de logística do frio aplicada ao segmento de alimentos e bebidas, Cintia Virginio, sócia-diretora do Grupo Zeit – Zeit Trading (Fone: 11 2613.2834), aponta que contêineres reefers e câmaras frias, em casos de transporte aéreo e rodoviário, são utilizados para logística de produtos cujo transporte exige controle de temperatura. “São transportes geralmente de risco elevado em razão da perecibilidade do produto e, por consequência, que geram custos altíssimos e até certa limitação em termos de gerenciamento de riscos – contratação de seguro. Os produtos são variados: carnes, peixes, frutas (algumas espécies) e verduras, flores, laticínios, embutidos, certos néctares”, conta Cintia.
Problemas… e soluções
Tanto especificidade, se não atendida, certamente vai gerar problemas.
Rosemary, da Confiancelog, aponta que o turn-over nesse segmento é alto. A contratação quase sempre é feita com candidatos não especializados, devido a ser um segmento muito específico. “A necessidade de treinamento em boas práticas de operação, conscientização e padronização de processos deve ser uma constante.”
De fato, Ramos, da Log Frio, lembra que a logística do frio é uma operação muito meticulosa, partindo de um ambiente extremamente exigente, desde o treinamento dos colaboradores na utilização correta dos EPI’s, para resistirem às condições extremas de baixa temperatura, aos processos e procedimentos no que se refere aos produtos em sua armazenagem, movimentação e acondicionamento, e no transporte até o cliente, garantindo a qualidade dos produtos. É um grande desafio não só manter, mas monitorar a temperatura dos produtos até o cliente, sempre levando em conta as condições e dificuldades de cada entrega.
“O investimento em treinamento dos colaboradores, desde a operação no Centro de Distribuição até a equipe de motoristas e ajudantes que realizam a entrega, passa por reciclagens constantes, simulando cenários e situações, buscando antecipar cada situação para que possam estar prontos para uma tomada de decisão adequada em campo, garantindo a qualidade dos produtos e do serviço prestado por nossa empresa”, ensina o gerente de planejamento da Log Frio.
Para Ferreira Junior, da Gelatto Transportes Climatizados, nem sempre o produto está armazenado na temperatura ideal, e isto impacta na entrega com o risco de descongelamento ou devolução por temperatura abaixo do exigido. Situações como demora no recebimento também impactam na temperatura, bem como na qualidade do produto. “Estes problemas intrínsecos do setor poderiam ser solucionados com a armazenagem correta, enquanto o respeito ao agendamento ou à prioridade de entrega reduziriam de forma sensível o custo, bem como o descarte de produtos.”
A questão do controle de temperatura envolve não só o gerenciamento de risco da transportadora, mas a boa manutenção dos equipamentos utilizados. “Nem sempre, ao solicitarmos a coleta ou o transporte de um produto que exija equipamentos refrigerados, nos deparamos com equipamentos em bom estado de uso ou mesmo aferidos adequadamente”, diz a sócia-diretora do Grupo Zeit – Zeit Trading.
Outro tema importante que se deve destacar é a falta deste tipo de equipamento em certas localizações, como portos do Norte/Nordeste, justamente locais onde a temperatura é o fator de maior influencia no transporte dos produtos produzidos na região. “Os equipamentos disponíveis são disponibilizados aos médios e grandes produtores, fornecedores, exportadores e importadores. Os pequenos produtores acabam por ter que se adaptar aos equipamentos que sobram: ou em má condição de uso, ou ainda a falta de regularidade na disponibilidade dos mesmos, com consequente aumento do custo para o seu aluguel”, desabafa Cintia.
Continuando, a sócia-diretora do Grupo Zeit – Zeit Trading revela que a oferta deste tipo de equipamento deve ser equiparada a todas as regiões do Brasil, e os equipamentos disponibilizados não só aos grandes e médios produtores, mas, também, aos de pequena participação no mercado. “Como exemplo, cito a necessidade de exportação de um produtor de Rondônia de polpa de maracujá. O produto deve sair de uma plantação no interior de Rondônia e chegar ao porto de Porto Velho para seguir de balsa até Manaus e depois para outros países. Ocorre que não ha caminhões frigoríficos suficientes para atender a este produtor, pois todos eles atendem aos frigoríficos de carne da região, não sobrando oferta de transporte aos pequenos produtores. Em paralelo, não há balsas adaptadas para este tipo de transporte, de forma que toda a produção – inclusive de carnes – de produtos ‘frios’ sai de Rondônia somente de caminhão, fator que eleva (e muito) o preço final do produto no porto”, completa Cintia.
Carminatti, da JSL, divide os problemas da logística do frio no segmento de alimentos e bebidas em dois momentos. Na armazenagem – diz ele –, o aspecto que merece uma atenção especial é “infraestrutura do armazém”, se está com as manutenções preventivas em dia, sala de máquinas com compressores e gerador de backup, a fim de não haver perda de temperatura nas câmaras frigoríficas.
“No transporte – complementa o diretor de operações da JSL –, o aspecto que impacta diretamente a operação no segmento alimentício é pico no fechamento do mês, onde todo fluxo logístico sofre uma pressão muito grande para suportar esses aumentos. Outro aspecto relevante é a condição das rodovias do Brasil, que jogam contra a produtividade diária do negócio e quebra de veículos em regiões com pouco nível de atendimento mecânico, que comprometem o lead time de entrega até o cliente final.”
Tendências
E as tendências, em termos de logística do frio no segmento de alimentos e bebidas?
Para Rosemary, da Confiancelog, é a busca pela automatização. “Muito embora com um custo muito alto ainda, é realidade lá fora. Precisamos avançar.”
Concorda com ela Ferreira Junior, da Gelatto Transportes Climatizados. Para ele, assim como em toda a cadeia, a tecnologia é, e sempre será, o diferencial: controle de temperatura em tempo real, monitoramento de abertura de porta e ai por diante, além de cada vez mais carros com capacidade maior de gerar e manter baixas temperaturas.
Na opinião de Ramos, da Log Frio, por outro lado, há uma tendência de crescimento no setor de Fast & Food, onde se estima um aumento acima de 30% até 2019. “Com esta expectativa, é de suma importância que os controles de monitoramento em campo, o investimento em treinamento e a adequação às leis que regulam o setor sejam sempre prioridade para acompanhar este crescimento.”
Por último, Cintia, do Grupo Zeit – Zeit Trading, aponta que, ainda pouco difundidos, já existem estudos sobre a movimentação deste tipo de produtos por modais fluviais e ferroviários. Seria uma solução plausível e que poderia atender a toda a extensão territorial do país.
As empresas
A Confiancelog é especializada na área de supermercados. “Hoje consideramos nossa expertise, com KPI´s bem perto de 100% de eficiência”, diz Rosemary.
A empresa faz todo o trabalho da gestão dos estoques do cliente em seu CD – recepção de pedidos, picking, entrega e inventários. “Inclusive fazemos, também, o controle de qualidade na entrada do produto no CD”, completa a sócia-diretora, apontando alguns dos clientes da empresa: Rede Ricoy e Rede Barbosa de supermercados.
A Gelatto Transportes Climatizados oferece frota nova com no máximo três anos de uso, monitoramento de temperatura e localização para distribuição ou rodoviário. Atua no segmento de alimentos e bebidas em geral, e tem como clientes a Fonterra, Suco Citric e Pomelo Foods.
“Atuamos no ramo de transporte ponto A ao ponto B (carga geral), armazenagem e distribuição urbana”, aponta, agora, o diretor de operações da JSL. Entre os seus clientes nos segmentos estão: Unilever, Danone e Mondelez.
“Oferecemos soluções em logística fria, com tecnologia de ponta desde o Warehouse até o ponto de entrega, com uma frota de 90 veículos próprios, todos bitemperatura, e com a expertise de cargas mistas de refrigerados e secos no mesmo veículo, além das tecnologias de última geração em rastreamento e monitoramento de temperatura e 350 prestadores de serviços no apoio de todas as entregas realizadas no país.”
A descrição é de Ramos, da Log Frio Logística. Ele também informa que a empresa atua nos setores de alimentos secos, resfriados e refrigerados, e bebidas, com armazenagem e distribuição. “Temos como clientes a Sapore, Sodexo e Lactalis, dentre outras grandes empresas do setor.”
Já a Zeit Trading trabalha com a contratação de transportes e seguro para as exportações porta a porta, cujos serviços, dentre outros, envolvem o controle de temperatura. “Também a utilização do equipamento vazio, desligado, quando é devolvido aos portos brasileiros, que pode, e deve, reduzir os custos do frete marítimo aos nossos clientes. Considerando que o frete é base de calculo dos impostos de importação, a utilização dos equipamentos desligados acaba por ser uma estratégia neste sentido”, diz Cintia.
A sócia-diretora diz que o grupo é composto de quatro empresas: uma comercial importadora exportadora, um agente de cargas e transportes, um despachante aduaneiro e uma exportadora de cosméticos e importadora de matérias primas. A Zeit Trading é quem consolida as demandas e distribui a todas as funções para que o processo seja acobertado desde a planta do exportador até a entrega no endereço do importador.
Comfrio vai construir dois armazéns refrigerados
A Comfrio (Fone: 41 3525.8228) construirá dois armazéns refrigerados para atender o setor de alimentação, responsável por metade da sua receita anual, de R$ 300 milhões. Um dos complexos será no Rio de Janeiro e receberá investimento de R$ 20 milhões. O outro, em Pernambuco, ficará para o primeiro trimestre de 2018. Esse aporte vai girar entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões.
A companhia cuida apenas da armazenagem de clientes de indústria e agronegócio, mas, no setor de alimentação, também é responsável pelo planejamento e distribuição de dez redes de grande porte. (Fonte: Folha de S.Paulo)