A subsidiária brasileira do grupo japonês Mitsui está em negociações avançadas para a compra de 30% da Algar Agro, braço agrícola da companhia mineira de telecomunicações, apurou o Valor.
Procurada, a Algar afirmou, por e-mail, que “sempre está atenta aos movimentos do mercado, mas no momento não existe nada concreto neste sentido”. A Mitsui não retornou aos pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.
Com duas unidades de processamento de grãos e 17 armazéns localizados em diversas regiões do país, o braço agrícola estava em busca de investidores há alguns meses, diante do cenário adverso no segmento de commodities e da dificuldade da empresa de crescer no mercado. Segundo fontes do setor, esses esforços foram intensificados após a saída de Murilo Braz Sant’anna da presidência da Algar Agro, em abril. O executivo havia assumido o cargo em janeiro de 2015, após comandar o braço brasileiro de agro da Bunge. Ele foi substituído por Douglas Waldemar Vanderlei Ribeiro, até então diretor de trading da companhia.
“Murilo foi chamado para tentar alavancar resultados, mas talvez tenha percebido que o potencial de criação de transformação era limitado”, afirmou uma pessoa próxima à empresa, na condição de não ter o nome revelado. Na época da troca de comando, a Algar informou que o contrato do executivo era de apenas dois anos.
Para fontes do mercado ouvidas pelo Valor, a cobiça por empresas brasileiras do agronegócio de menor porte cresceu dado os resultados financeiros ruins, sobretudo após a quebra de safra em 2015/16, o que colocou muitos deles em posição vulnerável.
A Algar Agro, como outras empresas, amargou defaults importantes nesse ciclo, tendo comprado soja e não recebido a matéria-prima. A companhia tampouco conseguiu alavancar sua receita líquida – nos últimos três anos os resultados orbitaram em R$ 2 bilhões. No ano passado, o prejuízo reportado pela divisão agrícola foi de R$ 88,192 milhões.
Apesar da dificuldades em crescer mais rapidamente, a receita da divisão não é desprezível quando comparada à do grupo como um todo, de R$ 5 bilhões em 2016. A Algar atua também nas áreas de telecomunicações, de turismo e de segurança patrimonial.
Mesmo com os ventos contrários, a empresa tentou expandir suas fronteiras, passando a originar grãos no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso, na tentativa de reduzir a dependência comercial dos grãos do Norte e Nordeste. Em entrevista ao Valor em abril de 2016, o então presidente da Algar Agro, Murilo Sant’Anna, afirmou que pretendia investir de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões neste ano. Entre os investimentos da Algar, estava a expansão da capacidade de esmagamento de soja em Porto Franco, no Maranhão, e em um projeto de cogeração de energia elétrica para atender a necessidade do parque industrial da Algar Agro em Uberlândia, onde também tem uma unidade de processamento de soja.
Para a Mitsui, seria uma alternativa a somar nos negócios do grupo no país. O conglomerado tem participação em mais de 70 empresas no Brasil e atua em 12 áreas, entre serviços, transportes, mineração, logística e agricultura. Em 2013, a Mitsui adquiriu o controle da Multigrain, de originação e comercialização de grãos, que fechou 2016 com uma receita líquida da ordem de R$ 2,5 bilhões e prejuízo de R$ 53 milhões.
Fonte: Valor Econômico