França aprova fusão entre fabricante de trens Alstom e alemã Siemens

O governo francês aprovou os planos de fusão entre a Alstom, fabricante francesa de trens de alta velocidade, e a divisão ferroviária da Siemens, em um acordo que daria o controle de metade da companhia a ser criada ao grupo industrial alemão, de acordo com pessoas diretamente envolvidas nas negociações.

A transação sinalizaria uma mudança na política de intervenção industrial da França, sob o presidente Emmanuel Macron, que defende a criação de grandes líderes setoriais europeus mesmo que isso signifique vender ativos industriais no passado considerados estratégicos.

Como parte da transação, o Estado francês não exerceria a opção de adquirir os 20% de participação na Alstom que o grupo francês de construção Bouygues concedeu a ele em 2014. Arnaud Montebourg, então ministro da Economia, negociou a opção em um esforço para demonstrar que o Estado ainda detinha controle sobre a fabricante dos trens de alta velocidade TGV, a despeito da venda da divisão de turbinas da Alstom à General Electric.

A Siemens deve ficar com cerca de 50% das ações da Alstom, depois de um aumento de capital. A entidade criada pela fusão geraria receitas anuais combinadas de € 16 bilhões (quase R$ 60 bilhões).

O acordo criaria um baluarte contra a expansão da companhia ferroviária chinesa CRRC, que segundo os analistas é capaz de investir sete vezes mais que a Alstom em pesquisa e desenvolvimento. “Depois da criação da gigante ferroviária chinesa CRRC, em 2015, a Siemens vinha falando de forma cada vez mais veemente sobre a necessidade de consolidação no mercado europeu de equipamento ferroviário”, disse James Stettler, do banco Barclays.

Alstom, Siemens e o governo francês se recusaram a comentar.

Paris vinha conduzindo as discussões desde que Henri Poupart-Lafarge, presidente-executivo da Alstom, alertou o governo francês de que pretendia iniciar negociações de fusão com a Siemens, cerca de um mês atrás.

A decisão de Poupart-Lafarge gerou discussões entre a Siemens e o grupo canadense Bombardier que ameaçavam deixar a Alstom em posição ainda mais fraca na concorrência com os rivais asiáticos de maior porte.

As fontes envolvidas nas negociações destacaram que Paris trabalhou com o governo alemão para obter garantias de que algumas fábricas não sejam fechadas, ao menos pelos próximos quatro anos.

Poupart-Lafarge comandará a empresa criada pela fusão, que continuará a ter suas ações cotadas em Paris.

As decisões estratégicas de negócios requereriam aprovação por maioria qualificada dos conselheiros da empresa, de acordo com uma pessoa informada sobre o assunto. O governo francês não deteria participação acionária mas exerceria alguma influência porque a operadora estatal de ferrovias francesa SNCF continuaria a ser um dos maiores clientes da Alstom.

Fonte: Folha de S. Paulo