A movimentação de sal é estratégica e financeiramente importante para o Brasil e é do Rio Grande do Norte que sai, para o mundo, a maior parte da produção nacional através do Terminal Salineiro de Areia Branca, fincado no meio do Oceano Atlântico. O Porto Ilha, como é comumente chamado, é o principal responsável pela geração de divisas para a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern).
Entretando, a estatal tem se destacado em outro pólo de exportação: o de frutas tropicais. No ano passado, o Porto de Natal bateu novo recorde e exportou mais frutas que os demais terminais marítimos do Nordeste, superando os gigantes Suape, em Pernambuco; e Pecém, no Ceará. A expansão das operações no terminal potiguar, porém, não significou vasta modificação na arrecadação da Codern, que ainda enfrenta problemas financeiros e estruturais. Sobre esse tema, além da análise dos números alcançados, você lerá, a seguir, entrevista com Emerson Fernandes, diretor-presidente da instituição.
Como foi possível tornar o Porto de Natal o maior exportador de frutas tropicais no Nordeste?
Eu estava me lembrando de outubro de 1994, quando o primeiro navio para movimentação de frutas atracou aqui em Natal. À época, eu era gerente de Engenharia e Operações da Codern e fiz uma preleção para todos os nossos funcionários ligados a essa área de operação e disse da importância de encararmos aquela nova carga de frutas de uma maneira que significasse não somente a eficiência e a eficácia, mas significasse, também, carinho. E me perguntaram: carinho por uma carga? Sim, carinho. É uma carga frágil, perecível e que nós precisávamos manter, sim, uma marca de zero avaria nas nossas movimentações ou algo sempre muito próximo de zero. Nós tínhamos feito, lá em 1994, uma movimentação de açúcar e nós tínhamos mostrado que em todo o embarque só havia tido um saco de açúcar que tinha tido um problema de avaria. Essa marca ela era magnífica, mas a gente tinha que fazer todo o esforço, maior ainda, em relação às frutas. Elas são mais fragéis e se precisa mostrar que essa carga ela tem, sim, um respeito de nós que somos do Porto e estamos tratando disso. Eu historio isso para mostrar que, efetivamente, foi algo que foi acontecendo ano após ano.
E mais recentemente?
Voltando rapidamente para os anos mais próximos, nós sempre estivemos muito próximos dos números da movimentação de cargas de Pecém. Nós não estávamos em posição desfavorável, longínguo. A partir deste ano, fizemos questão de salientar muito isso. Nossos usuários começaram a perceber, a partir de 2017, que nós teríamos, sim, condições de atendê-los de uma forma rápida, eficiente e eficaz e carinhosa mesmo com as frutas. Eles passaram a trazer uma quantidade maior de cargas. Por outro lado, os armadores foram muitos agéis ao sentir que estava chegando uma leva maior de frutas aqui para o nosso Porto e anunciaram que iriam colocar uma segunda linha de navegação para a Europa, a segunda semanal. Assim, nós passamos a sermos atendidos por dois navios. Esse atendimento tem duas vantagens principais: uma que é a questão da quantidade. Antes, éramos limitados aquela quantidade que é possível levar apenas em um navio. Quando se coloca um segundo navio se amplia, de maneira considerável, esse volume a ser exportado. E a outra vantagem é o fato de que você passa a ter dois dias possíveis de embarque. Nós tínhamos um navio chegando na sexta-feira, muitas vezes mais aos sábados. Hoje, nós temos o segundo navio que chega mais ao meio da semana ou no início. Se perder o embarque do sábado e domingo, não precisa esperar mais ou levar para outro porto, pois há outro navio na terça-feira. É uma opção bem próxima e bem mais simples porque a carga já estava aqui. Essa segunda linha de navegação tem uma importância muito grande, mas só foi possível porque os usuários passaram a trazer mais cargas para o nosso Porto. E eles passaram a fazer isso porque sentiram que nós estávamos dando a devida atenção a essa carga.
O Porto de Natal também exportou frutas produzidas em estados vizinhos em 2017?
Ele acaba atraindo alguma movimentação de cargas do próprio Ceará, por causa da proximidade com as divisas com o Rio Grande do Norte. Tem fazendas de plantio de melão e outras frutas. Há também as vindas de Petrolina, em Pernambuco; de Juazeiro, na Bahia; há contribuições totais de frutas vindas do Ceará, Pernambuco, Bahia e algumas coisas da Paraíba. Mas a maior contribuição é do Rio Grande do Norte.
Qual o diferencial do Porto de Natal em relação aos demais portos nordestinos?
O Porto de Natal é menor que o de Pecém, no Ceará; do que o de Salvador, e até mesmo menor do que o de Fortaleza. Nós temos que nos adequar ao nicho possível com relação a esse porto. Temos que fazer uma certa escolha de cargas, verificar o que se pode. Não é que a gente vá tratar algumas cargas de uma forma melhor e outras não. Nós temos que tratar todas as cargas que nos chegam com toda atenção e todo carinho. Isso tem sido feito pelos próprios usuários que, de certa forma, vem privilegiando e fazendo com o que o Porto de Natal seja o “porto das frutas”. Isso para o produtor, para a CMA CGM que nós conseguimos, hoje, fazer todas as movimentações de embarque de frutas pelo Porto de Natal, sendo o porto preferencial que passou a ter duas linhas desde o segundo semestre de 2017. O Porto de Natal é o HUB da CMA. Tem sido. A empresa só tem atracado aqui em Natal.
Os custos operacionais dos embarques de frutas reduziram?
Eu tenho frisado sempre essa questão da agilidade no embarque. Isso é muito importante. Na hora que a gente consegue fazer com que os embarques sejam mais agéis, isso faz com que o navio termine tendo uma estadia mais curta no porto. Porque o navio tem que estar a maior parte do tempo navegando, levando a carga do porto A para o B, com estadia o mais reduzida possível. Quando se demora muito tempo num porto, ele acaba se tornando não atrativo. Então, nesse particular, nós também temos conseguido, de forma bem consistente, sermos um porto conhecido por darmos agilidade e velocidade maior nos embarques. Não estamos no patamar ideal de velocidade, mas estamos trabalhando para isso.
E a saída da Comunidade do Maruim, quando será concluída efetivamente?
Estamos com a esperança redobrada de que os últimos percalços que precisam ser superados com relação à vinda da Comunidade do Maruim para a Codern, a área de 7,5 mil metros quadrados, ainda este ano nesse primeiro semestre. É importante no primeiro semestre porque, o segundo semestre porque o volume de cargas se torna maior. Nossas frutas atendem a Europa no segundo semestre porque a Espanha atende, de forma satisfatória, até julho. A partir de agosto, devido às condições climáticas, começa a perder terreno na questão do fornecimento aos demais países europeus. E quem garante esse abastecimento é o Porto de Natal. Estamos, sim, trabalhando. Sabemos que para a Prefeitura do Natal nos entregue definitivamente essa parte do Maruim, que é um sonho antigo, teremos mais espaço para movimentar cargas e contêineres. Teremos a construção de mais um berço de cais, que permanece na luta, nos esforços. Mas há uma dificuldade financeira que atinge o País e muito fortemente a Codern. Essa crise severa não permite garantir sequer que a gente possa licitar em 2018. Os projetos estão prontos, editais e termos de referência. Se os recursos chegarem amanhã, eu estarei pronto para licitar.
Quanto é necessário?
É algo em torno de R$ 200 milhões. É um berço com 320 metros. Nós já tivemos várias conversas, vários estudos foram apresentados, pensamos em reduzir a dimensão, mas é sempre bom lembrar que a gente tem que ter um cais que permita a atracação de navios maiores. Eles estão cada vez maiores, com 220 metros.
Com a ampliação das exportações pelo Porto de Natal, a arrecadação aumentou em quantos por cento?
Nós terminamos o ano (de 2017) com uma arrecadação similar a de 2016. Cerca de R$ 2,7 milhões em 2016 e R$ 1,9 milhão no ano passado. É um pouco menor, porque alguns navios atrasaram e iniciaram a operação de carregamento no último dia do ano de 2017 e terminou no ano novo, já agora em 2018. Se não tivesse sido isso, teríamos ultrapassado esse valor. A maior arrecadação da Codern vem do Terminal Salineiro de Areia Branca. O Porto de Natal fica em segundo plano. A movimentação a granel tem o condão de ser mais rápida, porque é toda com equipamentos e se termina tendo uma arrecadação maior em função disso. Com relação ao Porto de Natal, nós estávamos no patamar de 700 mil toneladas e passamos para 804 mil toneladas. Tivemos um acréscimo em algo próximo de 12% de um ano para o outro. Esse percentual, em relação à arrecadação da Codern, o Porto de Natal fica em torno de 20%, não é tão elevado. Esse nossa arrecadação é centrada, obrigatoriamente, no custeio. O custeio que é folha de pagamento, no que se tem de pagar de fornecimento de água, energia. O investimento em si ele sempre foi, desde o nascimento da Codern, responsabilidade do Governo Federal.
Em relação ao Porto Ilha, como está a situação atual?
Nós continuamos os trabalhos, que na verdade já vinham sendo feitos. Demos uma agilidade maior e o Porto Ilha voltou a funcionar, está funcionando e não suspendemos, de forma nenhuma, os trabalhos e os cuidados que estávamos tendo. A velocidade que foi dada na resolução dos trabalhos permanece, mas a grande maioria dos itens já foram resolvidos, solucionados. Não todos. Mas os que não foram, estão em processo de resolução.
Fonte: Tribuna do Norte