Monsanto faz aporte na startup Grão Direto

Dois anos após trazer ao país o Monsanto Growth Ventures, seu braço de investimentos em venture capital, a multinacional anuncia o primeiro aporte em uma startup brasileira. A escolhida é a Grão Direto, empresa de Uberaba (MG) que desenvolveu uma plataforma digital para a compra e venda de grãos. Ainda hoje, a maior parte dessas negociações são por telefone ou WhatsApp.

A startup receberá R$ 2,3 milhões em rodada inicial – o maior valor, de US$ 330 mil, será da Monsanto, e o restante do fundo de investimentos Canary e os criadores do OpenVC. “Em 12 meses, mapeamos no país mais de 100 startups para conhecer novos negócios”, diz Bernardo Nogueira, líder da Monsanto Growth Ventures no Brasil. Segundo ele, a companhia já investiu globalmente em 20 startups, mas em alguns casos decidiu desinvestir.

O aporte da Monsanto é o primeiro realizado de forma direta em uma novata do agronegócio, e acompanha a corrente de investimentos de fundos e outras empresas no segmento de “agtechs”. No ano passado, a Monsanto colocou indiretamente R$ 1 milhão na também mineira Tbit, escolhida após um processo de seleção de startups lançado em parceria com a Microsoft e o fundo BR Startups. A Tbit criou uma solução baseada em inteligência artificial que dispensa os processos manuais e químicos de análise de qualidade de sementes e grãos na indústria. Em abril, a Syngenta adquiriu a Strider, por valor não revelado. Foi o primeiro negócio fechado no país com uma empresa de agricultura digital.

Como todas as soluções, a Grão Direto se fiou a uma “dor” do campo para desenvolver sua ferramenta. Nesse caso, a dificuldade de acesso relatada por produtores e compradores. Se até agora o produtor vende sua safra para quatro ou seis compradores, a intenção é que, à medida que a tecnologia se difunda, eles passem a ter uma carteira maior. E o mesmo vale para os compradores: uma carteira de 100 clientes pode se transformar em milhares, com a plataforma identificando quem está vendendo grão de acordo com as expectativas do comprador.

“A fazenda se tornou tão moderna, os processos industriais são tão modernos, mas a compra e a venda de grãos ainda é feita de forma desestruturada: por ligação telefônica e, mais recentemente, por WhatsApp. Não há quem não reclame disso”, diz Alexandre Borges, CEO e cofundador da Grão Direto. “Criamos uma teia muito mais eficiente entre produtores e compradores”.

Criada em 2016, a plataforma do Grão Direto permite que produtores insiram no aplicativo do celular o que estão vendendo – nesta fase soja, milho, sorgo, trigo e cevada – e com o preço de saca desejado. Os compradores informam o que estão buscando e quanto querem pagar. Os algorítimos localizam as pontas e apresenta uma lista de interessados por ordem de probabilidade de sucesso. Por enquanto, o serviço não é cobrado. Em breve, funcionará por assinatura. “Isso aumenta as possibilidades de áreas do comprador [que podem ser exploradas]. Para o produtor é um ganho de inteligência para saber se é o momento de entrar no mercado. Ninguém fica refém de ninguém”, afirma Borges.

“Somente para encher um navio Panamax, de 60 mil toneladas, são necessários 100 produtores com uma média de 3 mil quilos de soja por hectare”, afirma Nogueira, sugerindo o novo horizonte que a tecnologia poderia propiciar.

Nesta primeira fase, a Grão Direto optou por limitar a área de adoção da tecnologia a 250 municípios do Triângulo Mineiro, noroeste de Minas e sul de Goiás. Ao todo são 1.300 produtores cadastrados e certificados. Do outro lado estão 40 compradores de grãos, como cooperativas, tradings, corretores e plantas de ração, e outros 100 corretores independentes.

Além de dobrar a equipe atual, de oito para 16, a intenção é aumentar o raio de atuação e intensificar o desenvolvimento de produtos e serviços. A inclusão de arroz, feijão e aveia no portfólio de negociações também é prevista.

Fonte: Valor Econômico