O faturamento da indústria nacional cresceu 4,4% no primeiro semestre deste ano, o que representa a primeira alta real para o período desde 2013, segundo a Confederação Nacional da Indústria – CNI. Para a entidade, o resultado positivo foi influenciado pela alta do dólar, que resultou em um aumento no valor exportado em comparação aos anos anteriores. O dado pode sinalizar um início de recuperação no setor, ainda de acordo com a Confederação.
O principal indicador da produtividade da indústria – o número de horas trabalhadas – teve alta de 0,9%, após oito semestres consecutivos de quedas. O rendimento médio do trabalhador, no entanto, teve queda de 1,1% nos seis primeiros meses do ano.
Estes dados são usados por Nilza Aparecida Santos Siqueira, professora de pós-graduação do Centro Universitário Drummond, para falar sobre porque a massa salarial não mostra sinais de recuperação, se o crescimento seria maior sem a greve dos caminhoneiros, se a recuperação demonstrada pela indústria deve se estender para os outros setores e o papel da logística em todo este contexto.
Nilza possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, especialização em Administração Econômica- -Financeira, mestrado em Administração pelo Centro Universitário Alvares Penteado e MBA em Gestão em Instituição de Ensino pela Universidade Guarulhos. Atualmente é professora da Universidade de Guarulhos, Fatec e atua como consultora empresarial na área de gestão de custos e planejamento financeiro. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração e Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento financeiro, gestão de custos, automação da força de vendas, sistemas de gestão empresarial, parceria estratégica e economia.
Logweb: Por que a massa salarial não mostra sinais de recuperação?
Nilza: Embora a economia dê sinais de aquecimento, ainda estamos longe de reconquistar todos os postos de trabalho perdidos no decorrer da crise econômica que se instalou no país. Ainda tivemos a greve dos caminhoneiros, que trouxe prejuízos para todos os setores. O nível de capacidade instalada e o aumento das horas trabalhadas em junho ainda não foram suficientes para recuperar todas as perdas ocorridas no mês de maio.
Logweb: O crescimento seria maior sem a greve dos caminhoneiros?
Nilza: Como já foi dito, a paralisação dos caminhoneiros trouxe perdas para a economia como um todo, promovendo uma maior retração da atividade econômica. O setor de serviços, que tem peso importante no PIB, caiu 3,8%, a produção industrial 10,6% e as vendas no comércio, 0,6%, segundo dados do IBGE. Certamente sem a greve teríamos melhores indicadores para a economia brasileira.
Logweb: A recuperação demonstrada pela indústria deve se estender para os outros setores?
Nilza: Segundo a CNI, o faturamento da indústria nacional cresceu 4,4% no primeiro semestre de 2018, o que pode sinalizar um início de recuperação no setor. A retomada do setor industrial deverá se estender para outros. A economia funciona como um ciclo no qual produção gera renda, que gera consumo e investimento, consequentemente gerando mais produção.
Logweb: Quais as perspectivas para este final de ano? E para 2019?
Nilza: Por se tratar de um ano eleitoral, muitas incertezas permeiam o cenário econômico, entretanto a retomada da indústria no primeiro semestre pode ser um indicativo de recuperação.
Logweb: As eleições têm forte impacto na economia do país. Até quando a economia deverá ficar “parada” em função das eleições?
Nilza: Até que o resultado eleitoral se consolide e as primeiras ações do novo governo sejam apresentadas.
Logweb: Qual o papel do novo presidente na economia? Quais as ações deverão ser necessariamente tomadas para promover a recuperação econômica?
Nilza: O papel do novo presidente, em relação à economia, é colocar o país no rumo do crescimento e desenvolvimento econômico. Para recuperação da atividade econômica, um conjunto de políticas econômicas deve ser adotado com o objetivo de promover aumento do PIB, estabilidade da moeda e melhoria na qualidade de vida da população.
Logweb: Há risco de mais recessão, em função das ações do novo presidente? Explique.
Nilza: Risco sempre há, em termos econômicos nada é estático, são muitas as variáveis internas e externas que podem afetar o rumo da economia. Recessão ou crescimento econômico dependerá das políticas econômicas adotadas internamente e do cenário econômico externo.
Logweb: Especificamente com relação à logística, qual é o seu papel neste momento de retomada econômica?
Nilza: A área logística é responsável por garantir a harmonia entre as operações de armazenamento, distribuição e transporte de insumos e produtos. A logística é fundamental para a chegada do produto até o consumidor final, especialmente em um país com as dimensões do Brasil e, também pelo aumento dos negócios internacionais. Quando bem utilizada oportuniza vantagem competitiva às empresas.
Logweb: Como a logística é afetada em momentos de recessão econômica?
Nilza: A desaceleração da atividade econômica resulta num PIB menor. Se temos produção aquém das nossas possibilidades, temos menos renda e consumo. As atividades logísticas também diminuem, trazendo prejuízo ao setor.