Monique Merencioo aborda o atual mercado de trabalho para executivos de Supply Chain

Monique Merencioo, Amrop 2GET, Entrevista Setembro 2018

Embora haja demanda por executivos na área de Supply Chain, o momento é de cautela, tanto para as empresas quanto para os profissionais. Este é um dos assuntos tratados por Monique Merencioo, sócia da Amrop 2GET (11 2222.1050), uma das maiores redes globais de busca por executivos.
Responsável pelos mercados de Logística e Agronegócios, Monique conduz pesquisas e assessments para C-Level Executivos Seniores. Antes de sua entrada na Amrop 2GET, fez parte de outras duas empresas relevantes de Executive Search. Possui graduação em Administração de Empresas e pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas.
Logweb: Como você analisa o atual momento para contratação de executivos na área de Supply Chain? A demanda e a oferta estão equilibradas?
Monique: Supply Chain é um dos setores mais complexos e relevantes do cenário brasileiro, exigindo um nível alto de evolução e aprimoramento de seus executivos. Obviamente a área sofreu com as dificuldades do país nos últimos semestres, como quase todas as frentes, contudo, continua demandada. A oferta de posições ficou menos exposta, não necessariamente menor, e os executivos ficaram mais seletivos para mudanças. Podemos dizer que é um momento de cautela dos dois lados. O ponto bastante positivo disso é que as organizações estão se preparando melhor para receber novos recursos e os profissionais estão mais atentos a posições que podem influenciar positivamente suas carreiras, deixando de realizar movimentos pura e simplesmente por remuneração.

Logweb: Quais são as competências mais exigidas para esses executivos?
Monique: Visão ampla dos negócios da organização, senso de dono, foco em resultado e excelência técnica.

Logweb: Pode-se dizer que há divergências entre o que o mercado exige e o que os profissionais oferecem?
Monique: Essa é uma pergunta complexa, pois depende de uma série de fatores. Podemos dizer que os profissionais com melhor avaliação em processos seletivos são aqueles que demonstram um bom match entre excelência técnica e conexão com o negócio. Entendem e explicitam de forma clara os resultados de sua área e o impacto na última linha da organização. A complexidade está na diversidade de skills necessários para esse match e que, não necessariamente, estão entre os focos dos profissionais de Supply Chain.

Logweb: As competências comportamentais são realmente o maior desafio?
Monique: Sim, sem dúvida a dificuldade está na entrega “não técnica”. Tem uma máxima em nosso mercado: pessoas são contratadas pelo perfil técnico e desligadas pelo perfil comportamental, na maioria das vezes. Seja porque não estão alinhadas aos objetivos/missão da organização, seja por dificuldades de relacionamento efetivamente. Já falamos antes do hiato entre “exigências do mercado” e “perfil dos profissionais” e isso é quase que puramente “comportamento”. Conforme você evolui na carreira, são exigidos mais que conhecimentos técnicos (isso se torna ponto pacífico), buscam-se líderes e gestores. Profissionais que conseguem entregar junto com o time e não apesar deles – leia time como organização. Esse shift não é fácil.

Logweb: Quais as diferenças entre os profissionais de perfil planejador e de perfil executor?
Monique: Esse é um outro grande ponto discutido em fóruns de liderança em Supply Chain, pois é comum a carreira estacionar na “execução” e não evoluir para “estratégia”. Veja que não usei o termo “planejador” para demonstrar evolução, pois também pode ser um erro permanecer só no “planejamento” e não descer para “implementação”. Certamente profissionais que conseguem pensar estrategicamente na solução, planejar a ação e executar com o time terá mais sucesso que somente um dos “lados”. Aqui mais uma vez falamos de equilíbrio… talvez uma das grandes chaves de uma carreira de sucesso.

Logweb: Quais as dicas para os contratantes escolherem um bom profissional para sua empresa?
Monique: É preciso ter muito claro o que se espera do profissional que será contratado, seu painel de metas dos próximos 12 meses e buscar evidências de performance no que é relevante. Performance passada não é garantia de resultado futuro, mas pode ser um bom indicador do “modus operandi” do profissional. Outro ponto extremamente importante: transparência sempre… quanto mais informação durante o processo, menores são as chances de surpresas não positivas e quebra de confiança.

Logweb: Quais os maiores erros cometidos pelos profissionais ao buscarem uma recolocação no mercado?
Monique: Gosto de uma analogia que utilizo sempre quando falo de recolocação e que acredito ilustrar bem essa resposta: é preciso ser um “sniper” em vez de um “atirador amador”. Às vezes, buscar recolocação é mais trabalhoso que trabalhar, por isso, deve ser uma atuação estratégica. Deve-se focar nos mercados nos quais seu perfil é interessante, nas empresas que você chamaria atenção e investir somente em projetos que realmente façam sentido para seu perfil. Pense sempre: nesse processo, eu me contrataria? Além de não ser efetivo, quando você aplica em projetos sem foco, estatisticamente, você errará mais e isso gera muita frustação. Fica a sensação de que você deixou de ser “bom” ou que o mercado está “mais difícil” que a realidade. Isso simplesmente porque você está perdendo a oportunidade de focar no projeto certo. Um “atirador amador” pode acertar o alvo no primeiro tiro, mas isso não significa excelência, é sorte. Se você perguntar como ele fez para chegar lá, não terá resposta e poderá tentar fazer o mesmo o restante da vida sem sucesso. Ser um “sniper” pode até “demorar” um pouco mais, mas certamente trará resultado.

Logweb: Fale sobre a tendência de especialização versus o modelo brasileiro “faz tudo”.
Monique: Ótimo ponto: nós, brasileiros, fomos criados para saber “fazer tudo”, mesmo que seja de qualquer jeito. E isso não necessariamente funciona em todos os momentos. Tentar ser bom em tudo gera frustração e não traz destaque, você corre o risco de cair no perfil “executor” que falamos anteriormente. Nossa multidisciplinaridade é uma excelente característica pela versatilidade, mas precisa ter uma mescla entre o que eu “sei fazer” e o que eu “posso fazer”. Nós podemos fazer quase tudo, mas sabemos fazer realmente poucas coisas. E isso é valioso. É preciso ter ciência de onde eu consigo contribuir realmente (o famoso “entrar jogando”). Ser empático geralmente é um bom caminho para conseguir soluções. Imagine que você tivesse de refazer a pintura da sua casa e, para isso, cotasse dois profissionais. Você gosta do perfil comportamental dos dois e tem confiança em ambos, contudo, um deles apresenta evidências dos últimos 10 projetos de pintura que executou, com referências. O outro é um pedreiro que também faz o trabalho de pintura. Para quem você daria o trabalho? Se sua escolha foi pelo pedreiro, você pagaria o mesmo valor ou negociaria para baixo pelo risco?

Logweb: O senso comum diz que a tecnologia vai substituir as pessoas. O que você acha?
Monique: A tecnologia não substituiu as pessoas até hoje, pelo contrário, ela exige mais pessoas focadas em soluções. Passamos de uma atuação quase que totalmente manual (era industrial) para um modelo de eficiência e excelência. Uso sempre como exemplo a Fórmula 1: veja os vídeos de um pit stop há 40 anos e hoje. Atualmente, temos um número muito maior de pessoas, altamente especializadas, para realizar a mesma atividade. Grande ganho está no tempo: de minutos para segundos. Tecnologia é uma grande facilitadora do processo evolutivo. O ser humano utiliza mais suas melhores habilidades e menos a força física hoje, isso será potencializado. Acredito que valida tudo que falamos acima, pois o mercado de trabalho diferencia pessoas que demonstram mais que habilidades manuais, buscando profissionais que pensam nos impactos de sua atuação em todo o sistema, independentemente de sua senioridade, valorizando ideias e comportamento de time.