A arte de fazer vagões: Greenbrier Maxion e AmstedMaxion completam 75 anos

Cobertura: Carol Gonçalves

 

Para comemorar seus 75 anos, as empresas Greenbrier Maxion (Fone: 19 2118.2000) e AmstedMaxion (Fone: 12 2122.8400), originárias da FNV – Fábrica Nacional de Vagões, convidaram a imprensa para conhecer suas plantas industriais, nos dias 10 e 17 de outubro último.

A história das marcas começou em 22 de outubro de 1943, quando o governo Getúlio Vargas criou a FNV para fortalecer a indústria nacional e ampliar a ferrovia no Brasil. Em 1990, a Fábrica Nacional de Vagões foi adquirida pelo grupo brasileiro Iochpe que, em 1998, devido à crescente expansão de suas atividades, dividiu a empresa em duas unidades distintas: a Maxion – Fundição e Equipamentos Ferroviários, voltada para o setor ferroviário e fundição; e a Maxion Componentes Estruturais, atuando no setor de autopeças e implementos rodoviários.

A partir de uma joint venture entre a brasileira Iochpe-Maxion e a americana Amsted Industries Inc foi formada, em 2000, a Amsted Maxion. Já em 2017, a gigante americana fabricante de vagões The Greenbrier Companies tornou-se acionista nas unidades ferroviárias da companhia e majoritária na unidade de vagões em Hortolândia, SP, que passou a ter o nome de Greenbrier Maxion. Hoje, as duas empresas, Greenbrier Maxion e Amsted Maxion, formam a maior operação ferroviária integrada na América do Sul, oferecendo soluções completas de produtos e serviços.

 

AmstedMaxion

Com mais de quatro décadas de atuação, a AmstedMaxion é referência na fabricação e no fornecimento de fundidos ferroviários e industriais na América do Sul, atendendo aos mercados interno e externo. Com capacidade para produzir 30 mil toneladas de peças fundidas e 85 mil rodas ferroviárias por ano, utiliza tecnologia de ponta para fabricar peças de 10 quilos a seis toneladas, em aço carbono e baixa-liga, atendendo aos setores de mineração, máquinas e equipamentos para construção civil, sucroalcooleiro e ferroviário.

Localizada em Cruzeiro, SP, produz uma diversificada linha de fundidos ferroviários e outros componentes, como sistemas de choque e tração, pontas de viga central fundida, espelhos, travessas, laterais e hastes de ligação. Outro destaque são as rodas ferroviárias fundidas, produzidas em aço microligado e desenvolvidas com a exclusiva tecnologia Griffin, cumprindo todas as especificações e normas estabelecidas pelas mais rigorosas ferrovias do mundo. Vale lembrar que, em 2003, a área de vagões foi transferida desta unidade para a planta de Hortolândia, devido à localização estratégica, próxima à região Centro-Oeste.

José Santos de Araújo, diretor geral da AmstedMaxion, recepcionou os visitantes e ressaltou que esta é primeira planta industrial do segmento ferroviário do Brasil. “Conseguimos superar os desafios do setor e da economia investindo em inovação e tecnologia, evoluindo internamente e acompanhando as tendências mundiais, sempre alinhados às necessidades do mercado”, disse.

Ele também salientou que esses 75 anos de atividades têm significado especial para a cidade de Cruzeiro e para as famílias que trabalham na empresa a gerações, afinal, a AmstedMaxion emprega 1.087 pessoas.

 

Greenbrier Maxion

A empresa desenvolve e produz todos os tipos de vagões de carga, através de linhas de montagem simultâneas com processos robotizados, robustos e de precisão. Com parceria tecnológica com a norte-americana Greenbrier e capacidade instalada de 10 mil vagões, fornece para todas as ferrovias e seus usuários no Brasil e no exterior, com atuação global.

Eduardo Scolari, presidente da Greenbrier Maxion, contou que há quatro estações robotizadas na área de soldagem para atender à necessidade de alta precisão na operação. Ele revelou que a ideia é trazer para a fábrica, já em 2019, um novo sistema de otimização de processos para substituir as pontes rolantes.

Fernando Mantovani Prates, engenheiro de processos, liderou a visita à planta de Hortolândia, mostrando todo o caminho necessário para a produção de um vagão. Na área de fabricação, a matéria-prima passa por corte, conformação, dobra e furação. A montagem é feita no setor de solda, e a atividade de acabamento é composta por jato, pintura e regulação de freio. “Neste processo logístico, cada vagão percorre cerca de 2 quilômetros dentro da fábrica”, explicou.

Os truques, responsáveis pela dinâmica e estabilidade dos vagões, são produzidos através de parceria com a Amsted Rail. Um dos destaques é o truque Motion Control®, com projeto funcional para carga de amortecimento variável. Segundo a empresa, o modelo gera redução no consumo das rodas e de combustível, melhor segurança e desempenho operacional, além de processo de manutenção simplificado.

A Greenbrier Maxion também anunciou uma nova linha de serviços, com o objetivo de oferecer soluções completas no que se refere à operacionalização de vagões de carga, permitindo que as operadoras fiquem livres de preocupações e custos elevados referentes à manutenção de seus vagões. As principais vantagens são: maior confiabilidade e disponibilidade; melhor produtividade; redução de backlog de manutenção; redução de custos, gestão de materiais e trem-hora-parada, além da reciclagem e reaproveitamento de materiais e peças. Os projetos, assim como alguns serviços, são tratados como demandas independentes, personalizadas e pensadas para as necessidades específicas de cada cliente.

Em sua apresentação, Scolari salientou que a empresa está estudando as funcionalidades dos vagões plataforma e sanfonados no Brasil. Enquanto isso, já está em teste o vagão hopper HTH Articulado, que permite ganho de 30% em relação ao modelo anterior.

Setor ferroviário

As principais economias do mundo têm a ferrovia como um dos básicos meios de transporte de cargas. No Brasil, desde a concessão à iniciativa privada, processo iniciado a partir de 1996, o transporte ferroviário de carga tem sofrido uma profunda transformação, de acordo com a ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários.

As ferrovias de cargas ampliaram significativamente o volume transportado, que atingiu o recorde de 538 milhões de toneladas úteis em 2017, representando um aumento de 112,5% desde 1997 – época do início das concessões, quando foram movimentadas 253 milhões de toneladas úteis – e um crescimento de 6,2% sobre o volume transportado em 2016 (504 milhões). O país possui 29 mil quilômetros de ferrovias, operantes ou não.

Para se ter uma ideia da importância das ferrovias na logística, mais de 95% dos minérios chegam aos portos pelos trilhos. O modal responde pelo transporte de mais de 40% dos granéis sólidos agrícolas exportados e, no caso do açúcar, esse índice é de 46%. No entanto, há grande demanda para diversificação das cargas.

Nos mais de 20 anos de concessão à iniciativa privada, as ferrovias ampliaram a participação na matriz de transporte do Brasil, mas ainda há espaço para crescer. A projeção do Ministério dos Transportes é de um aumento no uso do modal ferroviário de 25% para 42% até 2025. Vale lembrar que um vagão corresponde a quatro caminhões, mostrando uma das vantagens deste tipo de transporte.

Durante as visitas à Greenbrier Maxion e à AmstedMaxion, as empresas apresentaram alguns dados do setor. A frota de vagões no país em 2018 é composta por cerca de 131 mil unidades, sendo que 61,6 mil possuem design obsoleto e, destas, 32,5 mil precisam ser substituídas, pois possuem entre 40 e 70 anos. Além da frota antiga e desatualizada, também foram revelados outros problemas: falta de investimentos na malha ferroviária; trens que vão cheios e voltam vazios, encarecendo a operação; falta de estrutura ferroviária para receber inovações; diferença de bitolas; falta de integração com outros modais; e limitações em passagens. “Há várias oportunidades no setor, mas é preciso um olhar mais focado para resolver esses entraves. Falta um modal mais integrativo, falta um projeto para o país, pois a logística é extremamente importante”, disse Scolari, da Greenbrier Maxion. As expectativas para 2019 dependem do governo: a renovação das concessões e o aumento dos investimentos.