Cobertura: Carol Gonçalves
Para comemorar os 20 anos da retomada da cabotagem no país através de suas atividades, a Aliança Navegação e Logística, que foi adquirida na época pelo grupo alemão Hamburg Süd, realizou um evento na Casa Fasano, em São Paulo, SP, no dia 19 de setembro último.
O serviço regular de cabotagem tinha sido abandonado gradativamente após a década de 1950, quando o foco do governo passou a ser o transporte rodoviário. Após o Plano Real e a privatização dos portos, a empresa vislumbrou que era o momento de apostar no mercado e investir no serviço entre os portos do Brasil.
“Começamos timidamente com um navio pequeno, de 600 TEUs, entre Rio Grande, Santos e Manaus, que logo substituímos por dois navios de 1.200 TEUs. O maior desafio foi conquistar a confiança do mercado, que não acreditava no modal, não confiava nos portos e tinha dúvidas sobre a sustentabilidade do serviço. Várias empresas tinham tentado voltar, inclusive a própria Aliança, mas desistiram devido às dificuldades e aos prejuízos com que arcaram”, ressaltou em seu discurso o CEO da Aliança, Julian Thomas.
Ele aproveitou para agradecer ao setor de arroz de Rio Grande e Santa Catarina, bem com aos clientes de eletroeletrônicos de Manaus, que foram os primeiros a aderirem ao serviço.
Julian confessou que os resultados nos primeiros cinco anos foram horríveis. “Naquela época, em contato com os clientes, entendemos que precisávamos ter, no mínimo, uma frequência semanal, em dia fixo, para que pudessem planejar sua logística de acordo com o dia da semana combinado”, contou. Assim, a empresa dobrou a aposta, dedicando cinco navios à linha e, a partir daí, o serviço deslanchou.
Hoje, a Aliança emprega 13 navios no sistema da Cabotagem e MERCOSUL, oferecendo cinco serviços semanais em rotas interligadas, conectando todos os portos principais entre Ushuaia, na Argentina, e Manaus. “Recentemente, adicionamos Vila do Conde à rede para atender ao mercado promissor de Belém. Também estamos testando Itaqui como porta de entrada para o Estado do Maranhão”, revelou. Desde 2008, a empresa cresceu na média 10% por ano e, no ano passado, rompeu a marca de 700 mil TEUs carregados. Neste ano, a expectativa é de crescimento de, pelo menos, 12%.
Ao longo desses 20 anos, a companhia transportou mais de 6 milhões de TEUs. Foram 2,4 milhões de contêineres entregues na porta do cliente e mais de 13 milhões de milhas navegadas, o equivalente a 517 voltas ao mundo, com 11 milhões de toneladas de CO2 a menos na atmosfera. Este volume representa 4 milhões de viagens de caminhão de longa distância a menos nas estradas brasileiras.
Durante o evento, Frank Smet, CCO – Chief Commercial Officer da Hamburg Süd, também discursou, relembrando o início das atividades. Com mais de 100 anos de presença e experiência no Brasil, a empresa conhecia bem as oportunidades e os riscos. “Lembro-me das fortes discussões entre a equipe de cabotagem e a diretoria da Hamburg Süd anos seguintes ao lançamento do serviço. Os resultados foram muito ruins e várias vezes chegamos muito perto da decisão de finalizar a atividade no Brasil. Julian e sua equipe sempre defenderam apaixonadamente o projeto e mostravam otimismo. Convenceram-nos de que era preciso desenvolver o negócio no Brasil e mantivemos o apoio”, revelou.
Smet salientou, ainda, que a Hamburg Süd sempre quis construir navios no Brasil, mas que até agora isso não tem sido possível, já que os estaleiros no país não estão preparados para construir navios do tamanho e configuração técnica necessários. “Assim, tivemos de construir navios fora do país e importá-los de acordo com a leis. Dessa forma, incorporamos, ao longo dos anos, oito navios concebidos especificamente para a cabotagem”, frisou.
Mudanças regulatórias
Durante sua apresentação, Julian abordou o programa “BR do Mar”, que envolve um conjunto de medidas para estimular a cabotagem e a indústria naval brasileira. Ele prevê mudanças no sistema de afretamento de embarcações entre outras medidas que visam à diminuição de custos operacionais. O plano do governo é editar uma Medida Provisória que flexibilize as regras com o objetivo de aumentar a quantidade de navios operando na cabotagem. “Embora a intenção seja positiva, é preciso frisar que o problema do serviço de cabotagem não está na falta de capacidade, mas no Custo Brasil. O custo da tripulação brasileira é sensivelmente maior do que o da estrangeira, em função dos encargos trabalhistas”, afirmou o CEO da Aliança.
No transporte de um contêiner porta a porta, 59% do valor do frete são gastos no transporte terrestre para fazer as pontas (do cliente ao porto e vice-versa); 11% vão para os terminais portuários; 8% são referentes ao PIS/COFINS, restando 22% para arcar com os custos do navio e do contêiner.
Por isso, a empresa foca em criar uma rede de transportes rodoferroviário, com parceiros próximos de cada porto, para ter custos mais competitivos. Este ano, a Aliança deu um passo adiante investindo em 50 caminhões próprios, em São Paulo, e em um terminal operacional em São Bernardo do Campo, SP. “O sucesso do modelo nos permite otimizar os custos e, certamente, será um padrão que seguiremos em outras localidades, como já fizemos em Manaus, com operação de frota própria desde o início do serviço”, expôs.
A Aliança acredita que o crescimento do modal depende da redução da burocracia no setor. “Vivemos o excesso de ‘burrocracia’. Procedimentos, tais como o tratamento do canhoto com fluxo complexo de documentos físicos, não são mais adequados ao mundo digital. Da mesma forma, é surreal que a nota fiscal eletrônica precise ser impressa em papel, assim como diversos outros documentos eletrônicos, que obrigatoriamente precisam transitar com a mercadoria, em papel. Esperamos que as medidas a serem anunciadas pelo governo consigam simplificar os processos e reduzir, de fato, o custo do combustível, que na cabotagem é mais oneroso em função da alta carga tributária”, reforçou Julian.
Digitalização
O aumento de eficiência, produtividade e transparência passa pela onda de digitalização que as empresas estão vivenciando em vários setores. Embora tenha chegado um pouco mais atrasada à cadeia logística, a transformação digital veio com força para favorecer as relações entre as empresas e seus clientes.
O CEO da Aliança lembrou que, em 2018, a empresa lançou o Portal Cabotagem 2.0, com o objetivo de tornar mais simples e intuitivo o acesso às informações sobre embarques, cotações, agendamentos e rastreamento, dando acesso, inclusive, à impressão da documentação e faturas fiscais. “Em breve, será possível ver ‘in real time’ a localização de cada contêiner com sua carga, seja no navio ou no caminhão. Trata-se do início de uma viagem longa, que percorremos na era digital. Nos anima fazer parte do Grupo Maersk, que investe pesadamente nas ferramentas do futuro”, complementou.
Finalizando o seu discurso, Julian disse que a empresa tem muitos desafios e avanços pela frente, que serão enfrentados com otimismo e entusiasmo. “Nós, caboteiros, somos empreendedores por natureza e seguiremos desbravando as novas fronteiras do nosso país. A cabotagem transformou o passado, revigora o presente e será o futuro dentro de um conceito mais abrangente de multimodalismo.”
Maersk integra seis terminais terrestres da APM Terminals no Brasil
Em março deste ano a Maersk se tornou um fornecedor integrado de logística, com serviços de ponta a ponta, por terra e mar, para clientes ao redor do mundo. E para ampliar sua oferta de serviços no Brasil, a empresa integrou 283.000 m² de seis terminais terrestres da APM Terminals – Cascavel, Paranaguá, Itajaí e Itapoá (dois locais). Agora os clientes poderão utilizar os terminais para armazenamento, limpeza, reparo e Cross Docking, incluindo o carregamento de mercadorias de um caminhão para um contêiner ou vice-versa.
De acordo com Matias Concha, diretor de Produtos Maersk Costa Leste da América do Sul, os contêineres são bens escassos, precisam ser reparados e mantidos em ótimas condições para transportar alimentos ao redor do mundo e passar por inspeções de saúde, “Economizar tempo e encontrar oportunidades de armazenamento eficientes, aumenta a eficiência das operações. Também montamos depósitos internos em grandes clientes em seus Centros de Distribuição, assim efetuamos estas ações no local, aumentando ainda mais a efetividade”, exemplifica Matias.
Ele também destaca que a Maersk tem a missão global de se tornar a principal empresa integrada de logística de contêineres no mundo, conectando e simplificando as cadeias de suprimentos globais dos clientes com produtos e serviços de ponta a ponta no mar e em terra.
A tecnologia também é essencial para essa visão, possibilitando e acelerando o comércio. A digitalização de transações, o desenvolvimento de um aplicativo, a criação de cotações on-line, o rastreamento e o fornecimento de garantias fixas de preço e carga (Maersk Spot) e blockchain estão no centro da meta da Maersk de fornecer produtos e serviços mais completos, transparentes e fáceis de usar para seus 70.000 clientes da divisão de serviço marítimo no mundo todo.
Santos Brasil passa a usar aplicativo para a leitura de lacres de contêineres
A Santos Brasil está implantando uma nova tecnologia em suas operações com contêineres para exportação: a leitura de lacres por meio de OCR (sigla em inglês para “reconhecimento ótico de caracteres”). O sistema substitui a digitação manual dos dados do contêiner, aumentando a segurança e a produtividade, reduzindo erros e agilizando o processo de despacho de cargas.
A ideia do aplicativo surgiu quando a Alfândega do Porto de Santos editou a Portaria 134, de março de 2018, determinando, entre outras coisas, que os contêineres com carga para exportação devem ter seu lacre fotografado antes de serem abertos. A Santos Brasil resolveu ir além do que determinava a Portaria e desenvolveu o novo sistema, que permite que seus funcionários utilizem um aplicativo instalado em um tablet e façam a leitura dos lacres antes dos contêineres serem abertos pela Receita Federal.
De acordo com Ricardo Abbruzzini, diretor de Tecnologia e Inovação da Santos Brasil, além de atender às regras da Receita, o novo app dá mais segurança e rapidez aos processos aduaneiros na empresa. “A leitura dos lacres com OCR nos tablets diminui a incidência de erros de digitação, já que antes, os dados eram preenchidos pelo vistoriador de forma manual”, explica.
O app já está em uso na área de logística da Santos Brasil, onde os resultados se mostraram bastante positivos: a leitura dos lacres, que levava em média 7 segundos antes do uso do sistema, passou a ser feita em 1,43 segundo, com acuracidade de 83%. O próximo passo será implementar o aplicativo no Tecon Santos (terminal de contêineres do porto santista administrado pela empresa) e, em um segundo momento, ampliar o seu uso para a leitura dos lacres de descarga (importação).
Expansão vai dobrar capacidade de movimentação de terminal no Porto de Antonina
O Terminal Portuário da Ponta do Felix (TPPF), localizado no Porto de Antonina, Litoral do Paraná, iniciou uma nova fase do seu projeto de expansão que prevê investimentos de aproximadamente R$ 150 milhões para modernização e ampliação da infraestrutura existente.
A obra, já iniciada, prevê a construção de um novo armazém para fertilizantes – em área de 17 mil metros quadrados – com capacidade para 120 mil toneladas de produto, interligado por correias transportadoras com os berços operacionais. Os investimentos apenas nesta obra são de R$ 70 milhões.
Esta é mais uma etapa do projeto de modernização e readequação do TPPF – com investimento de mais R$ 25 milhões para os próximos nove meses – e que inclui a construção de um conjunto de silos verticais, para grãos, farelo e cereais. Além disso, o projeto de desenvolvimento da estrutura portuária prevê a expansão do cais de atracação em 170 metros.
Desde o início das operações em Antonina, já foram investidos mais de R$ 300 milhões pelo TPPF, incluindo estruturas de armazenagem e equipamentos.
Mercado – O TPPF é atualmente uma das principais opções logísticas para grandes produtores mundiais e importadores brasileiros de fertilizantes. Dentre eles, destaca-se a Uralkali, empresa russa que responde por 25% de toda a produção global de potássio, matéria prima para produção de fertilizantes.
O CEO da Uralkali no Brasil – que, além de principal cliente é acionista do terminal –, Marcel Cisneros, conta que a empresa está investindo há cerca de oito anos no TPPF. “Com a expansão, poderemos direcionar cada vez mais navios para o terminal de Antonina, gerando receita e renda para toda a cadeia logística.”
Dragagem – A nova dragagem do canal de acesso ao porto de Antonina foi apontada como determinante para que um maior número de navios pudessem ser movimentados por meio do terminal paranaense.
“A dragagem que está sendo feita pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina deverá reestabelecer a profundidade do canal para 9,5 metros ainda este ano. Essa ação, somada às atuais obras em andamento, permitirá dobrar a capacidade de movimentação de graneis sólidos, cereais, açúcar ensacado, fertilizantes e carga geral pelo Porto de Antonina”, explica Gilberto Birkhan, diretor presidente do TPPF.
Números – Nos últimos anos, o terminal aumentou a sua movimentação de 313 mil para 1,6 milhão de toneladas de cargas por ano. Apenas nos primeiros seis meses de 2019, o terminal de Antonina aumentou em 43% a sua movimentação de cargas, passando de 343 mil entre janeiro e julho de 2018, para 493 mil no mesmo período deste ano. A expectativa do TPPF para este ano é movimentar cerca de 1,7 milhão de toneladas de fertilizante, farelo de soja, cereais, açúcar ensacado e cargas gerais.
Após a conclusão da dragagem e das obras em andamento, a capacidade de movimentação do terminal deverá saltar dos atuais dois milhões de toneladas para quatro milhões de toneladas/ano.