O avanço do coronavírus pelo país terá um efeito muito forte sobre o agronegócio. Diferentemente de países como a China, que tem produtos industriais e não perecíveis para pôr no mercado externo, o Brasil dispõe de alimentos.
O governo e o setor do agronegócio têm de se preparar para um eventual avanço descontrolado do vírus, o que exigiria medidas draconianas, como já estão sendo sugeridas por alguns especialistas.
É melhor se prevenir, montando estratégias, do que aguardar. A China inicialmente isolou completamente algumas regiões do país.A morte dos animais, que não recebiam os insumos para a ração, e a necessidade humana por alimentos forçaram o país a criar corredores estratégicos.
É nesse sentido que o Brasil deveria começar a agir para estar pronto em caso de um agravamento da doença.
O agronegócio foi responsável por US$ 97 bilhões das exportações em 2019, o que representou 43% das divisas obtidas pelo Brasil no ano.
Tomando como base os principais produtos, o setor agropecuário movimentará R$ 683 bilhões dentro das porteiras neste ano, segundo o Ministério da Agricultura. No setor de lavouras, serão R$ 448 bilhões. No de pecuária, R$ 235 bilhões.
A circulação dessas mercadorias produzidas no país é importante. O principal parceiro comercial do Brasil, a China, já tem um impacto menor do vírus e eleva a demanda por alimentos. As exportações brasileiras de soja, mesmo com o acordo China e EUA, estão aceleradas neste início de ano.
O ritmo é intenso também nas vendas de proteínas. Os chineses estão importando volumes próximos aos de dezembro, um mês histórico para indústria nacional exportadora. É o que mostram os dados da Secex desta segunda-feira (16).
Leve-se em consideração apenas o caso do principal produtor brasileiro de grãos e de carne: Mato Grosso.
Um eventual fechamento das fronteiras de São Paulo, por exemplo, o estado mais afetado pelo coronavírus no momento, deixaria produtores mato-grossenses isolados, se não houver um corredor estratégico de passagem.
A importância de Mato Grosso é grande no cenário nacional, mas a de São Paulo não é menos importante. O estado é a porta de saída e de entrada do agronegócio brasileiro e um dos principias consumidores.
Em 2019, 41% dos 20 milhões de toneladas de soja exportados por Mato Grosso saíram pelo porto de Santos. Parte, embora pequena, saiu por portos do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, rotas que teriam também uma passagem por São Paulo.
Uma eventual dificuldade no escoamento de grãos por São Paulo traria uma situação dramática para os mato-grossenses. Não há armazéns suficientes para guardar a soja, principalmente em um momento em que está chegando o milho safrinha.
Serão colhidos 32 milhões de toneladas do cereal no estado. Em 2019, saíram de Mato Grosso 24 milhões de toneladas.
Maior produtor de carne do país, o estado também teria dificuldades para escoar suas proteínas, caso haja um agravamento da doença e a necessidade de medidas drásticas nas comunicações entre os estados.
Neste ano, 93% das exportações de carne bovina de Mato Grosso passaram pelo Sudeste e pelo Sul. Os problemas, porém, não se restringiriam às exportações, mas também às importações de adubo, de insumos químicos e até de trigo, produtos que, em grande parte, entram por São Paulo.
Fonte: Folha de S. Paulo