Em alta recorde, Ásia compra quase metade dos produtos brasileiros

A Ásia comprou 47,2% das exportações brasileiras no primeiro quadrimestre de 2020. No ano passado, comprava 39,4%; na média dos cinco anos passados, 36%. A China sustentou as vendas brasileiras neste início de ano afetado pela pandemia. Mas o restante do continente, desconsiderado o Oriente Médio, superou os EUA e quase empatam com a União Europeia nas compras de produtos brasileiros.

Apenas a China comprou 32,2% das exportações brasileiras. O restante da Ásia (menos Oriente Médio), 15%. É uma fatia maior das vendas externas que a dos Estados Unidos, que compraram 10,3%. Quase empata com as compras da União Europeia, que ficaram com 15,9% do total.

Os bons números dos negócios contrastam com o número de agressões do governo brasileiro contra o governo da China e os chineses. A China compra mais do Brasil do que União Europeia, Estados Unidos e Argentina somados.

Pelo menos no primeiro terço do ano, a queda das exportações brasileiras foi pequena (-3,7%), considerado o colapso da economia mundial. A quantidade exportada aumentou (a perda veio dos preços). A Organização Mundial do Comércio prevê queda de algo em torno de 22% no volume mundial de comércio neste 2020.

A resistência das exportações brasileiras se deve a exportações de produtos do agronegócio. Em abril, houve recordes de vendas do complexo soja, de algodão, de carne de boi e de porco.

O restante do ano é um mistério. Gente do governo acredita que as exportações de comida tendem a sofrer menos do que a de produtos industriais. Além do mais, por ora parece que há perspectiva de retomada mais precoce e mais rápida da atividade econômica na Ásia do que nos EUA e na Europa.

Uma dúvida é se o afundamento euro-americano não vai ter efeito ricochete na recuperação do Leste e Sudeste Asiáticos ou se não pode haver uma segunda onda de epidemia nessa região. Outra: o afundamento das economias ricas do Ocidente pode ser grande o bastante para anular a resistência das compras asiáticas?

Por ora, no primeiro terço do ano, o resultado do comércio exterior foi surpreendentemente bom. No caso dos exportadores de alimentos, o ganho de renda ainda será ampliado por causa da desvalorização do real. Além do mais, dizem especialistas do governo, os preços dos fretes caíram muito, aumentando a rentabilidade das exportações.

MAIS TRANSAÇÕES EXTERNAS
Os gastos dos brasileiros em viagens ao exterior em abril foram os menores em cerca de 15 anos. Seja em negócios, turismo, saúde ou educação, as despesas foram de US$ 612 milhões em março, dado mais recente, 32% menos que no mês mesmo do ano passado.

O déficit na conta de viagens caiu (trata-se da diferença dos gastos de brasileiros lá fora e dos visitantes aqui dentro). Passou de cerca de US$ 2,5 bilhões no primeiro trimestre de 2019 para cerca US$ 1,5 bilhão no início deste ano, queda de 40%.

Não haverá turismo no exterior tão cedo, não apenas porque viajar ficou muito caro, dada a desvalorização da moeda e a perda de renda. Pegar avião é um risco de saúde, as restrições a entretenimento ainda vão longe, os governos exigirão quarentenas, isolamentos de vários dias, duas semanas. Que turista poderá bancar tal despesa, ainda mais para retorno tão diminuído?

Até a vacina ou um remédio tiro e queda, longe será um lugar que não existe, para parafrasear aquele livrinho pop antigo.

Na verdade, a “grande viagem” será manter o emprego, a loja, o negócio, o bico. Para muitos, milhões, apenas comer.​

Fonte: Folha de S. Paulo