Antevendo que o futuro do desenvolvimento do Brasil passaria por soluções logísticas, Dom Pedro II projetou uma das principais ferrovias do Brasil: a Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) – partindo da capital Rio de Janeiro (Estação Central) com destino final em Belém do Pará.
Devido à localização geográfica estratégica, o planejamento inicial incluía Curvelo, na região Central de Minas, como um dos pontos de parada da rota interestadual. Para tanto, em 1904, inaugurou-se a estação ferroviária da cidade, que, por anos, foi fator determinante na atração de empresas dos mais diversos segmentos.
A EFCB foi projetada e construída para atender à necessidade do escoamento da produção dos produtos agrícolas destinados à exportação, principalmente o café, e ao abastecimento interno do Brasil. As intervenções evoluíam bem, até que a 1ª Guerra Mundial impôs fortes dificuldades operacionais e financeiras na continuidade do projeto, que foi interrompido na cidade de Pirapora (Norte de Minas) e teve trechos desmembrados e interligados a outras ferrovias.
Paralelamente, iniciava-se no País o fortalecimento do modal rodoviário, em função da necessidade de continuar o escoamento da produção. Quase um século e meio depois, as estradas federais e estaduais são responsáveis por movimentar 65% de tudo que é produzido nacionalmente e se tornaram o principal meio de abastecimento de indústrias e comércios Brasil afora.
Diante de um novo cenário, o asfaltamento da BR-135, em 1972, interligando Belo Horizonte, Curvelo e Montes Claros formava um importante tronco modal em Minas Gerais. Mas, com o término da duplicação da rodovia Fernão Dias (BR-381), ligando São Paulo a Belo Horizonte, em 2005, duas novas opções viáveis a partir de Belo Horizonte para o Norte/Nordeste brasileiro foram criadas: via Ipatinga e Governador Valadares (BR-381) ou via Curvelo e Montes Claros (BR-135).
Quem explica a contextualização e destaca o potencial de desenvolvimento econômico de Curvelo e região, a partir da infraestrutura ofertada pelo ramal logístico da BR-135, é o economista, especialista em planejamento estratégico, empresário e produtor rural, João de Oliveira. Ele também é estudioso e entusiasta da transformação logística da região, principalmente a partir do trecho de 300 quilômetros da rodovia que hoje é mantida e operada pela iniciativa privada.
“Tamanha relevância do trecho, que o mesmo obteve amplo sucesso na realização do leilão público em 2018. Foi arrematado por R$ 2 bilhões por uma empresa de capital italiano (Grupo Gávio-Ecorodovias), buscando aqui, após investimentos, retornos financeiros. Observa-se que este grupo tem larga experiência nacional e internacional neste segmento, tendo grande parte do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro trafegando em suas rodovias”, destacou.
Oliveira se refere à concessão do lote rodoviário de trechos da BR-135, MG-231 e LMG-754, em um total de 363,95 quilômetros para o consórcio EcoRodovias. A empresa se classificou em primeiro lugar na concorrência para a exploração por 30 anos do lote de rodovias na região de Montes Claros (Norte de Minas), a partir de uma oferta pela outorga de R$ 2,06 bilhões, a ser paga ao governo de Minas Gerais em 348 parcelas mensais no valor de R$ 5,9 milhões, com reajuste pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir do segundo ano de vigência da concessão.
Transformações
Conforme o especialista, desde que a Eco135 assumiu a gestão e operação da via, muitas transformações passaram a ser observadas. Para ele, os números também são surpreendentes à medida que se analisa o crescente fluxo de veículos pesados que trafegam pela região, de acordo com os números disponíveis no sistema concessionária.
Das nove concessões que possui no País, o trecho da BR-135 possui o maior percentual de veículos pesados equivalentes (80%). Este índice supera o de importantes corredores logísticos nacionais, como a Rodovia dos Imigrantes SP-Santos (41%), a Eco101, na BR-101 (66%), e a Eco050, na BR-050, em Uberlândia (71%).
“Novamente, o capital intelectual financeiro europeu busca fazer investimentos nesta região. Em épocas distintas, com modais diferentes, mas com os mesmos fundamentos. Pois para projetos serem exequíveis, precisam ser sustentáveis financeiramente. Principalmente em um momento de instabilidade econômica mundial, como o que vivemos. E neste ambiente macroeconômico de logística, a posição geográfica torna-se fundamental. Não é coincidência que há 100 anos o mesmo capital europeu também esteve aqui para realizar investimentos”, ressaltou.
DUPLICAÇÃO DA BR-135 TRAZ EXPECTATIVAS POSITIVAS
O município de Curvelo deve se beneficiar com a duplicação já estabelecida no edital de concorrência para concessão do trecho à iniciativa privada, entre o “Trevão”, BR-135 Km 665, em Curvelo, até a cidade Corinto, cujos recursos de quase R$ 1 bilhão foram aprovados em financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no final de 2019.
De acordo com a instituição financeira, o montante corresponde a 72% do investimento estabelecido entre a concessionária e o Governo do Estado de Minas Gerais para os primeiros cinco anos da concessão do chamado lote “Montes Claros” e compreende obras de ampliação de capacidade e de melhorias gerais nas condições não apenas da BR-135, mas também da MG-231 e da LMG-754.
“Estes investimentos em infraestrutura aumentarão a qualidade das estradas e a segurança dos motoristas. Sem falar nos impactos econômicos e sociais, uma vez que se trata de rodovias que ligam o Norte de Minas Gerais a Belo Horizonte e a toda região Sul do Brasil”, diz o texto do BNDES.
Já a concessionária destaca em seu site que está em dia com o cronograma e que o início das obras, até então previsto para julho de 2020, teve que ser adiado para o começo de 2021, em função da pandemia do novo coronavírus. “O contrato de concessão determina que a duplicação seja entregue até junho de 2023, com um investimento de R$ 673,2 milhões e geração de 1.300 empregos”, consta no endereço eletrônico da Eco135.
Para o economista, especialista em planejamento estratégico, empresário e produtor rural João de Oliveira, da mesma forma como ocorreu no Sul de Minas e em outras regiões, em que várias cidades se desenvolveram no rastro das melhorias efetuadas na rodovia Fernão Dias, e oportunidades surgiram de forma direta e indireta em distintos segmentos econômicos e sociais, colocando as cidades em maiores vantagens competitivas, impulsionando-as a uma nova matriz econômica diversificada e desenvolvimentista, o movimento também já começa a ocorrer nos arredores da BR-135.
Neste sentido, o especialista destacou que importantes empresas de diferentes setores, nacionais e internacionais já prospectam terrenos para se instalarem na região de Curvelo. “Ainda não podemos dar detalhes, mas estão previstos projetos e investimentos vultosos que transformarão Minas Gerais a partir do potencial logístico ofertado pela infraestrutura local, a começar pela rodovia para escoamento de produtos”, revelou.
Segundo ele, a região terá condições de abrigar empresas antes inimagináveis, como por exemplo, a Amazon, maior e-commerce do mundo na atualidade. Tamanho potencial, gerado a partir da infraestrutura ofertada.
“Concretamente estamos inseridos nesta nova ordem logística nacional, sendo quase impossível pensar neste segmento no Brasil sem incluir a região. Além de sermos muito bem localizados, a duplicação da BR-135 fará toda a diferença, pois o comércio tornou-se, em sua maioria, mais virtual, mas as entregas precisam ser cada vez mais rápidas e físicas. Privilegiando, assim, quem está melhor localizado e estruturado, como Curvelo”, argumentou.
Fonte: Diário do Comércio (MG)