Compra de caminhão: cuidado para não trocar uma dívida barata por outra cara

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Diferente de automóvel de passeio, caminhão é um meio produtivo. Por isso, sua compra deve ser feita com muito cuidado, observando critérios técnicos e também financeiros. Às vezes, na tentação de diminuir o pagamento de juros, o caminhoneiro faz um empréstimo de curto prazo, com parcelas maiores, e se endivida na outra ponta. O resultado é que o custo no final acaba saindo muito maior, porque uma dívida relativamente barata é trocada por dívidas mais caras que surgem envolvendo, por exemplo, o uso de cheque especial.

“O financiamento tem de ser feito de forma a dar sentido ao próprio negócio. A receita gerada tem de cobrir confortavelmente as despesas”, explica o diretor financeiro da Comdinheiro, Filipe Ferreira. Para evitar esse problema, o executivo da Comdinheiro aconselha a fazer um planejamento que gere conforto e saúde financeira ao longo do pagamento. Assim, o empréstimo se torna uma forma de tirar do papel e tornar realidade tudo o que foi planejado e evita-se que ele, ao contrário, vire uma grande dor de cabeça.

Outro ponto importante é fazer uma pesquisa de mercado para conhecer as linhas de crédito à disposição e assim escolher a com menor custo efetivo total. “O certo é não se prender ao número que aparece nas primeiras negociações do banco, que muitas vezes é apenas a base da taxa de juros. Existem outros custos como o próprio seguro sobre financiamento, imposto sobre operações financeiras, entre outros, que acabam pesando. Por isso é importante ficar atento ao custo efetivo total”, afirma.

Entre as opções de financiamento oferecidas, a mais comum é o CDC (Crédito Direto ao Consumidor), disponível em diferentes instituições financeiras. Essa modalidade é oferecida tanto para pessoas físicas (caminhoneiros autônomos, neste caso) quanto para pessoas jurídicas. Funciona de maneira semelhante ao financiamento de automóveis de passeio e tem um custo efetivo total geralmente mais alto.

Há opções mais baratas via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Um deles é o Finame Procaminhoneiro, voltado às empresas e possibilita o financiamento de 50% a 80% do valor total com o pagamento da primeira parcela depois de 24 meses. O outro, válido apenas para profissionais autônomos e empresas com faturamento de até R$ 2,4 milhões/ano, é o BNDES Procaminhoneiro. Ele permite financiar até 90% do valor do caminhão com prazo máximo de pagamento de até oito anos.

A questão financeira, porém, não é a única a ser considerada. Hovani Argeri, diretor geral de Operação da Via Trucks, concessionária DAF, explica que o ideal é usar uma ferramenta conhecida pela sigla TCO (Total Cost of Ownership ou Custo Total de Propriedade), adequada para qualquer tipo de empresa da área de transportes, principalmente quando se trata de uma companhia do segmento de logística.

Argeri lembra que o e-commerce cresceu muito por causa da pandemia com impacto positivo no setor logístico. Acontece que para atender a demanda foi preciso ampliar a frota, pois a eficiência logística se tornou essencial para a sustentabilidade dos negócios, que passa pela espinhosa via de uma avaliação crítica dos investimentos. “A urgência de decisões pode levar a erros que, num primeiro momento, parecem acertos, mas comprometerão a performance ou mesmo a permanência da empresa no mercado no longo prazo. É aí que entra a análise através do TCO”, diz o executivo.

A aquisição deste ou daquele bem não se pode basear apenas em preços, formas, prazos de pagamento e juros. Na metodologia TCO, são computadas despesas presumíveis com implantação, instalações, adaptações, customizações, ajustes necessários etc. Também é preciso identificar aportes que a operação demandará, como treinamentos operacionais e administrativos, custos de manutenção, previsão de tempo de operação e gastos necessários com insumos. O detalhamento dessas variáveis identifica qual escolha proporcionará maior produtividade.

Tal tarefa não é fácil e muito menos agradável, porém, é essencial e pode determinar a vida ou morte de uma empresa. No entanto, por mais óbvia que seja a importância deste tipo de gestão, pesquisas apontam que somente 3% das empresas levam em consideração tal mecanismo ao definir pela compra de um produto ou serviço. Sejam cortes ou investimentos inadiáveis, o administrador tem de ter em mente não o futuro imediato, mas a perenidade da corporação ao longo do tempo. “Um bem que se mostra mais barato hoje, pode não ser ao longo de anos. Falhas gerenciais podem passar despercebidas e a lucratividade, que poderia ser maior, é prejudicada”, afirma Argeri.