Mercedes-Benz e Scania analisam o mercado brasileiro de caminhões. E apontam significativa recuperação

Afinal, o mercado deve chegar ao patamar entre 120.000 e 125.000 unidades vendidas em 2021. No acumulado do ano, até outubro, já foram emplacados mais de 95.000 caminhões no Brasil. Uma alta de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2020, segundo um dos entrevistados.

 

Curto e grosso: o setor de caminhões apresenta significativa recuperação este ano. Para comprovar, Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas e Marketing Caminhões e Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, aponta que o mercado brasileiro de caminhões deve chegar ao patamar entre 120.000 e 125.000 unidades vendidas em 2021. “No acumulado do ano, até outubro, já foram emplacados mais de 95.000 caminhões no Brasil. Isso significa uma alta de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2020.”

Mais ainda, segundo Leoncini: Como nos últimos anos, o agronegócio segue sendo o grande impulsionador das vendas de caminhões no Brasil. Já o comércio eletrônico vinha crescendo e isso se consolidou na pandemia, impulsionando a distribuição urbana e o sistema delivery. A construção civil e a mineração também vêm puxando as vendas de caminhões no País este ano. Nota-se também uma procura maior de caminhões para a logística de movimentação de produtos de vários setores da indústria.

Mas, como nem tudo “são flores”, assim como todas as empresas do setor automotivo, a Mercedes-Benz enfrenta dificuldades com o suprimento de matérias primas e componentes. “Há problemas locais e globais de abastecimento e estamos fazendo o possível para contornar a situação e continuar atendendo nossos clientes. Criamos um comitê multiáreas que monitora constantemente os processos de abastecimento e de produção para minimizar as dificuldades, esperando ansiosamente pela volta à normalidade do mercado de suprimentos”, completa Leoncini.

Para entender melhor o desempenho do setor de caminhões em 2021, Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções de Transporte da Scania no Brasil, volta um pouco no tempo. O mercado voltou a ter um patamar acima de 100 mil unidades vendidas em 2019, com 101 mil caminhões emplacados. E vinha num momento de retomada concreta com expectativa de recuperar os anos de baixas vendas (2015 a 2018), com renovação mais intensa. Até chegar a pandemia. Em 2020, o impacto foi forte negativamente de abril, o pior mês da história, até julho. “Naquele momento imaginamos que levaríamos meses para o mercado se recuperar da pandemia. Mas, em agosto, os clientes voltaram a demandar e o mercado não parou mais.”

E 2021 começou muito aquecido, continua Nucci. “Contudo, a cadeia de fornecedores global não se recuperou da mesma forma que a indústria automotiva, pois muitos componentes, especialmente os semicondutores, são usados em diversos segmentos. A alta procura global começou a gerar problemas de falta de componentes para a indústria. Esse tem sido o nosso maior problema. Temos uma cadeia de suprimentos ainda instável, que tem nos demandado realizar ajustes de curto prazo em nossa produção, em conjunto com o Sindicato, mas não estamos medindo esforços para atender aos nossos clientes que sofrem com este impacto global.”

Sobre o mercado em si, além do Agro, que segue sendo o maior comprador de caminhões, a grande maioria dos segmentos está aquecida e puxando a demanda por veículos pesados. Nucci fala de cada um. Carga Geral, com destaque aos produtos alimentícios, higiene, limpeza, bebidas e insumos para indústria; E-Commerce, com o crescimento das compras online; Cargas Frigorificadas, tanto para o mercado interno quanto exportação; Construção Civil, devido ao boom imobiliário e adaptação das famílias ao home-office, bem como a exportação, tendo como destaque o minério para a produção de aço; Madeira, na produção de celulose; e Canavieiro, para a produção interna de açúcar e álcool.

De modo geral, para 2021 a Scania não tem mais capacidade produtiva, de entregas. “Mas temos capacidade para o primeiro semestre de 2022. Dependendo da região do país e da capacidade da rede, podemos entregar ao longo do primeiro semestre. Seguimos firmes no otimismo de acordo com a nova projeção da Anfavea de em 2021 o mercado de caminhões crescer cerca de 30% na comparação com 2020”, completa Nucci.

 

Perspectivas

Como é possível perceber, o otimismo dos dois representantes das montadoras ouvidos nesta matéria especial transpassa para 2022. Leoncini, da Mercedes-Benz, relaciona as projeções: Todos os setores citados (agronegócio, e-commerce, construção civil, mineração e logística) são muito consistentes, criando no mercado uma expectativa de manutenção de demandas aquecidas por caminhões no ano que vem. E o aumento nas vendas de caminhões, especialmente de extrapesados, é um reflexo da retomada da economia no Brasil. “Estamos otimistas quanto a isso.”

Otimismo compartilhado por Nucci, da Scania. Afinal, segundo ele, o mercado continuará comprador. “Mas, há alguns ingredientes que ainda não nos deixam ter uma noção do tamanho do bolo que teremos que dividir em 2022. As indefinições nos rumos estratégicos da economia brasileira, alta dos juros, os altos custos dos combustíveis, a indefinição política e o problema da falta de componentes para a produção dos veículos, principalmente os semicondutores, são os principais fatores que nos impedem, hoje, de traçar uma projeção do mercado em 2022. O potencial do mercado brasileiro continuará em alta nos próximos anos.”

 

Eletrificação

Sobre a eletrificação no setor de caminhões, Leoncini, da Mercedes-Benz do Brasil, ressalta que o uso de caminhões elétricos só acontecerá em larga escala no Brasil quando essa tecnologia for viável do ponto de vista tecnológico, econômico, estrutural e comercial dentro da realidade do nosso mercado. “Quando isso ocorrer, estaremos ao lado do cliente, como sempre fizemos, para entregar soluções confiáveis, eficientes e rentáveis. Isso, por exemplo, ocorreu no segmento de ônibus. Apresentamos recentemente o eO500U, o primeiro chassi de ônibus elétrico urbano da marca no Brasil. Ele chegará ao mercado em 2022. Assim, a Mercedes-Benz entra na era da eletromobilidade em veículos comerciais no Brasil. Paralelamente à eletrificação, a montadora acredita em multissoluções para a redução de emissões e a sustentabilidade ambiental. O Grupo Daimler, por exemplo, detém várias tecnologias alternativas ao uso do diesel fóssil, como o Biodiesel HVO, Híbrido, células de combustível e elétricos, já em operação regular em vários mercados.”

Na análise de Nucci, da Scania, o perfil do transportador, e mesmo do caminhoneiro autônomo, vem mudando ao longo dos anos. O profissionalismo da gestão e da transição familiar, ponto tradicional do setor, está evoluindo. Por outro lado, a exigência com a indústria aumentou, o que é ótimo.

“É justamente isso que queremos, já que investimos tanto em novos produtos e soluções; queremos que o cliente tenha o melhor nas mãos. Desde economia de combustível, passando pela gestão via conectividade até as tecnologias vitais para aumentar a segurança dos caminhões e de seus motoristas. A maturidade do mercado é essencial para os avanços que planejamos para os próximos anos. O investimento certo do cliente, hoje, representará um transporte mais seguro, eficiente e menos poluente. Muitas das novidades que passamos a oferecer vêm, também, de conversas com os próprios clientes que nos trazem suas necessidades. Está no DNA da Scania trabalhar com a melhoria continua de seus produtos e soluções, e por isto não esperamos um lançamento para adicionar uma nova tecnologia. Vamos evoluindo junto com o mercado, os clientes e a sociedade.”

Sobre as alternativas ao diesel, a Scania iniciou na Europa, em 2016, a liderança na transição para um sistema de transporte mais sustentável. “Em 2019, iniciamos aqui este movimento com a chegada da Nova Geração de caminhões. Lançamos a linha de caminhões movidos a gás (natural e/ou biometano), e vem sendo um sucesso, já vendemos mais de 200 unidades e planejamos vender outras 500 em 2022. O veículo elétrico é o caminho do futuro, sim, mas o ´Aqui e Agora’ para o Brasil é o gás, o que mais se aproxima do bolso do transportador. Os transportadores estão cada vez mais perguntando sobre alternativas ao diesel e a tendência é esta a partir da pandemia: um transporte de cargas mais sustentável. Estamos neste caminho e levando nossos clientes conosco nesta jornada. Infelizmente, são inúmeros desafios até chegar à realidade do elétrico em questões como investimento inicial, geração e distribuição da rede elétrica preparada para alta demanda (frota), geração da energia elétrica (fontes limpas) e descarte ou reciclagem e capacidade de vida útil das baterias.”

 

Lançamentos

Leoncini lembra que a Mercedes-Benz lançou, no último mês de outubro, o Arocs 8×4, caminhão extrapesado basculante que vem revolucionar as operações fora de estrada no Brasil, sendo especialmente indicado para a mineração, construção civil pesada e grandes obras de infraestrutura.

“O Arocs traz em seu DNA a origem alemã, destacando-se pelo seu alto padrão de qualidade e eficiência. Aqui, no Brasil, o Arocs 8×4 foi desenvolvido e intensamente testado pelos engenheiros da montadora em operações severas fora de estrada e nos locais de trabalho de empresas que são referência no setor de mineração. Ou seja, esse nosso novo gigante off-road nasceu em operações reais brasileiras a partir da necessidade de nossos clientes.”

Esse novo caminhão extrapesado Mercedes-Benz, com cabina global da família Arocs, tem capacidade técnica para até 58 toneladas de PBT – peso bruto total e 150 toneladas de CMT – capacidade máxima de tração, conforme as condições de operação. E é um veículo preparado para receber básculas de 20 a 24 metros cúbicos de capacidade volumétrica de carga.

A Mercedes-Benz oferece aos clientes e ao mercado uma completa linha de caminhões, formada pelas famílias Accelo (dos segmentos de leves e médios), Atego (médios, semipesados e extrapesados), Axor (extrapesados on e off-road), Novo Actros (extrapesados on-road) e agora Arocs (extrapesado off-road).

No caso da Scania, Nucci revela que o Actcruise, a evolução do controle de cruzeiro Ecocruise, foi introduzido na linha 2020/2021 e já é item de série. O Actcruise atua por meio de posicionamento via GPS e um mapa topográfico integrado ao módulo de conectividade para gravar rotas e aproveitar aclives e declives de maneira mais eficiente.

Já o Acelerador Inteligente, ou controle de aceleração, está disponível para todos os modelos da Nova Geração, inclusive os fora de estrada. Seu funcionamento está ligado a uma análise do peso do veículo, da posição do pedal de aceleração e deslocamento do modelo, para evitar acelerações bruscas e desperdício de combustível. Dessa forma, o veículo é conduzido de forma mais confortável e econômica, preservando outros componentes do trem de força e os freios. O sistema trabalha de forma automática e desativa quando o motorista pressiona o acelerador até o fundo (posição do Kickdown), entendendo que o condutor precisa de toda a capacidade de aceleração. Ao soltar o pedal, o sistema volta a controlar a aceleração. Numa viagem com alta frequência de alternâncias de velocidade, tráfego intenso e em veículos não totalmente carregados ou vazios, o acelerador inteligente vai contribuir para uma maior economia de combustível. Quanto mais variações na rota maior será sua atuação automática.

O sistema ADAS utiliza câmera e um radar instalados no para-brisa e no para-choque, respectivamente. Ele é dividido em três dispositivos. O AEB (frenagem de emergência avançada) funciona por meio do radar e da câmera e vai medindo a distância e a velocidade relativa de qualquer veículo na pista, para intervir e evitar acidentes. Para isso, utiliza os freios de serviço auxiliares e também as trocas de marchas por meio da caixa automatizada Scania Opticruise, e diminui, assim, efetivamente o risco de colisões frontais. O segundo componente é o LDW (aviso de saída de faixa), que monitora as faixas de rolagem da pista e avisa o motorista quando o caminhão sai de forma involuntária e invade o espaço ao lado. O terceiro e último item que compõe o ADAS é o ACC (controle de cruzeiro adaptativo). Ele auxilia o condutor a manter um intervalo de distância constante em relação ao veículo à frente por meio do radar localizado no para-choque dianteiro.

Finalizando, Nucci diz que em breve serão apresentados mais lançamentos, especialmente porque a partir de janeiro de 2023 entrará em vigor a nova lei Euro 6 de emissões no Brasil. “Essa melhoria contínua dos produtos é percebida pelos clientes. O mercado sempre revela seus desejos, e mostraremos que temos o que ele quer e o que ele vai querer.”