Operadores Logísticos fazem malabarismo para superar desafios em 2021

Operadores Logísticos

Se não bastasse a continuidade da pandemia da Covid-19, cujo auge se deu em 2020, com lockdowns e restrições sociais mais urgentes, o setor de logística precisou lidar, em 2021, com outras adversidades que levaram as empresas a um verdadeiro malabarismo. Foram 12 meses marcados por reformulações de estratégias, adaptação ao cenário de constantes mudanças e investimentos robustos em inovação, tanto para garantir a continuidade e a qualidade da prestação dos serviços ofertados aos clientes, como para gerar mais competitividade no mercado, assegurando ganhos de eficiência e produtividade.

Ou seja, ao mesmo tempo em que 2021 desafiou, o ano também forçou novas descobertas e contratação de ferramentas capazes de alavancar os negócios. A máxima de que é em momentos de crise que aparecem as melhores oportunidades e soluções fez sentido, levando muitos Operadores Logísticos (OLs) a registrarem recordes em suas operações.

Entre os empecilhos e imprevistos que impactaram o trabalho de gestão de estoque, armazenagem e transporte dos OLs, estiveram: os reflexos ainda gerados pela crise sanitária; variações no preço dos combustíveis; inflação, taxas de juros e cotações do dólar elevadíssimas; paralisações pontuais de caminhoneiros; fechamento de portos, comprometendo o fluxo do comércio internacional; escassez de peças essenciais para o funcionamento da indústria, e a má distribuição de contêineres no mercado mundial.

Esses obstáculos impossibilitaram a recuperação expressiva desejada com o leve arrefecimento da pandemia. No entanto, não impediu o início de uma retomada do setor, cujos primeiros resultados positivos observados geram boas expectativas para 2022.

“Ao mesmo tempo em que precisaram atender ao aumento da demanda sem precedentes, imposta velozmente pela pandemia, os Operadores Logísticos, peças-chaves para o desenvolvimento eficiente de qualquer cadeia de produção, de suprimento e de abastecimento, também tiveram que resistir a mais de 10 reajustes no preço dos combustíveis realizados em 2021 (12 vezes só do diesel), falta de contêineres em portos estratégicos para que as mercadorias internacionais fossem transportadas em tempo hábil, inflação e taxas de juros atingindo patamares que há muito não se via no Brasil”, afirma a diretora executiva da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos, Marcella Cunha.

Os OLs, que atendem quase exclusivamente a indústria automobilística, sofrem um impacto ainda maior, destaca Marcella, pois também precisam lidar com a falta de peças de reposição essenciais, como condutores e semicondutores. “Tudo isso aumentou sobremaneira a pressão para que os OLs rapidamente ajustassem seus planejamentos estratégicos, de modo que evitassem grandes perdas financeiras ou de eficiência logística. O foco foi não deixar de atender os clientes, suas expectativas e necessidades por soluções logísticas integradas. Estamos falando de grandes embarcadores que atendem todas as demandas da população brasileira – das mais essenciais, como alimentação e medicamentos, às menos essenciais. A responsabilidade é grande, mas o setor tem respondido à altura do desafio”, afirma a diretora executiva.

Para ela, dois dos piores gargalos do ano passado foram os aumentos do diesel, que chegaram a comprometer até 40% do custo operacional das empresas, e a escassez de contêineres – principal meio pelo qual cargas transitam no comércio internacional. Caixas metálicas vazias e paradas em portos pelo mundo fizeram triplicar o valor do frete, chegando a mais de U$ 10 mil. As empresas associadas à ABOL têm a mesma percepção. Os Operadores Logísticos observam a falta de disponibilidade de contêineres vazios como um desafio às exportações.

Crise de Contêineres

A Wilson Sons observa que, com o fechamento de fronteiras entre os países, comércio paralisado e, depois, a retomada, houve grandes desafios no mercado mundial em relação ao transporte dos contêineres. “Existem vários portos nos EUA, na Europa e Ásia que hoje estão congestionados. Isso tem causado algumas omissões e cancelamentos nos portos brasileiros. E os gargalos devem continuar ainda nos próximos meses”, destaca o COO da Wilson Sons, Arnaldo Calbucci. A companhia foi uma das 29 associadas consultadas pela ABOL, que fez um balanço de 2021.

As associadas BBM, Brado, Coopercarga, DHL, FM Logistics, Gefco, Grupo Toniato, ID Logistics, Luft, Multilog, Mundial, Penske, Santos Brasil, UPS e Wilson Sons trouxeram as suas percepções diante das adversidades, reforçando a visão da ABOL diante dos desafios.

A maioria se viu obrigada a adotar estratégias para conter os custos e suportar o aumento dos índices em toda a cadeia. Aliado a isso, as empresas ainda precisaram driblar a escassez de contêineres, o congestionamento em alguns portos e o fechamento de outros complexos marítimos, que geraram oscilações na produção dos clientes. Foi um período de grandes desafios e necessidade de adequação à nova realidade do mercado. Porém, 2021 também foi visto como um ano de recuperação, com aumento de propostas e projetos e importantes investimentos, tanto em expansão da infraestrutura, como na movimentação de cargas.

Investimentos, tecnologia e inovação

O aporte em tecnologia também foi destaque no período, uma vez que os Operadores Logísticos encontraram na inovação uma forma de minimizarem os impactos gerados pelo cenário político-econômico instável e ainda estarem prontos para o processo de transformação do mercado. Vale ressaltar ainda a preocupação com o meio ambiente e ESG, por meio de soluções sustentáveis.

A FM Logistics, por exemplo, dispõe, anualmente, de mais de 100 milhões de euros em tecnologia e inovação para garantir cada vez mais agilidade e confiabilidade às operações. Globalmente, a empresa assinou 207 milhões de euros em novos contratos entre abril de 2020 e março de 2021, sendo que a grande parte deles está relacionada aos serviços de omnichannel e e-commerce. Na Wilson Sons, apesar das adversidades, os resultados ficaram acima dos obtidos em 2020, no acumulado de setembro, com um aumento de 14,7% na receita.

O ano da companhia também foi marcado por um investimento de R$ 500 milhões no Terminal de Contêineres de Salvador. Na BBM, os resultados também foram positivos, atingindo uma receita líquida recorde, com crescimento de 37% em relação ao período anterior. Já a Multilog cresceu aproximadamente 20% em comparação a 2020. Os investimentos envolveram a renovação de equipamentos e máquinas de movimentação nos armazéns. A Penske liberou R$ 4 milhões para um hub de transportes próprio para consolidar cargas de diferentes clientes e outros R$ 5 milhões para melhorias dos softwares.

A maioria também precisou se adaptar ao incremento significativo do e-commerce, aprendendo a se adaptar ao novo perfil do consumidor, revendo os modelos de distribuição e da malha logística. Também em consequência das vendas online, houve um aumento grande de terceirizações e um incremento no transporte de distribuição last mile. Na BBM, por exemplo, a expansão do e-commerce gerou uma alta de 53,4% no volume de entregas da Diálogo (empresa do grupo focada em last mile) nos primeiros nove meses de 2021 em comparação ao mesmo período do ano passado.

“Os Operadores, mais uma vez, mostraram resiliência e capacidade de recuperação. Estamos falando de um setor que, pela natureza do serviço prestado, teve 92% de sua força de trabalho totalmente presencial durante a pandemia. Estamos falando de auxiliares, supervisores de logística que não puderam desenvolver seus trabalhos de casa e garantiram o abastecimento de cada brasileira e brasileiro, e por isso merecem todo nosso reconhecimento e respeito. As empresas, mesmo diante de imprevistos, também cresceram e seguiram contribuindo para o desenvolvimento da economia do País. Temos acompanhado de perto as aquisições e o uso de novas ferramentas, e fica claro que estão caminhando positivamente para atender as demandas do setor”, finaliza Marcella, da ABOL.

Ações internas

Quando o assunto são as ações realizadas internamente pela ABOL, 2021 representou um marco na história da Associação, que desde abril conta com uma diretora mulher à frente. As mudanças implementadas ao longo do ano foram no sentido de buscar maior aproximação com as empresas filiadas, fortalecer a comunicação e cumprir a maior missão da nova gestão: tornar a função do OL compreendida e palatável, principalmente às autoridades e sociedade brasileiras. “Reposicionamos a imagem da entidade e caminhamos ao lado de cada empresa associada. Entendemos, in loco, os desafios que enfrentam e seus anseios particulares e setoriais, e então alcançamos mais capilaridade em nossas atuações”, ressalta Marcella. O número recorde de pedidos de novas filiações neste ano corrobora com o cenário satisfatório verificado no período.

O foco no Projeto de Lei 3757/2020, que regulamenta a atividade do Operador Logístico no Brasil, foi mantido. A Associação se debruçou sobre o novo texto do PL, de forma que atendesse os anseios de outros stakeholders importantes nessa discussão. O novo texto será em breve entregue ao relator do projeto, Deputado Isnaldo Bulhões (MDB/AL), para que, então, seja possível ter uma legislação clara sobre as atividades e serviços prestados pelos OLs. “Juntos, temos construído um mercado mais sólido, lidando com as transformações geradas pela pandemia. Para 2022, a palavra de ordem será crescimento”, finaliza a diretora.