Em economia, a produtividade é a relação entre aquilo que é produzido e os fatores de produção utilizados, como mão de obra, materiais, energia etc. É um conceito associado à eficiência e ao tempo: quanto menor for o tempo levado para obter o resultado pretendido, mais produtivo será o sistema.
Fatores macroeconômicos podem influenciar, mas são principalmente fatores internos às organizações que determinam sua produtividade, como planejamento, rotatividade e capacitação de mão de obra, qualidade da gestão, inovação, aporte de tecnologia.
Uma empresa com alta produtividade é mais eficiente, utiliza melhor os seus recursos e atinge melhores resultados. Um país com alta produtividade é mais próspero, tem maiores taxas de crescimento e melhor distribuição de renda, o que torna a melhoria da produtividade fundamental para o desenvolvimento econômico.
O Brasil é, historicamente, um país de baixa produtividade. Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas apontou que, entre 1981 e 2018, a renda per capita do país cresceu 0,9%, enquanto a produtividade avançou apenas 0,4%. É um percentual baixo, e tem se mantido baixo por mais de 30 anos, sendo um dos principais fatores que explicam o baixo crescimento do país nas últimas décadas. Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) chegou a resultados semelhantes.
O relatório mostra que a produtividade do trabalho no Brasil cresce a um ritmo de 0,7% ao ano desde a década de 1990, sendo o trabalhador brasileiro apenas 17% mais produtivo hoje do que há 20 anos. Nos países de alta renda, essa proporção é de 34%.
Também aponta que um trabalhador brasileiro leva em média uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um norte-americano faz em 15 minutos e um alemão ou coreano, em 20 minutos. Assim, em termos de valor, cada trabalhador brasileiro produz por ano menos de 20% da riqueza gerada no mesmo período por um trabalhador médio da OCDE.
Se o Brasil elevasse a sua produtividade para níveis dos Estados Unidos, a renda per capita da população poderia aumentar 2,7 vezes, em termos reais. É como se um operário na fábrica recebesse, em valores reais, quase três vezes mais do que ganha hoje.
Ainda de acordo com o BIRD, se o país repetisse as taxas de crescimento registradas entre os anos 1960 e 1970, o Brasil poderia crescer cerca de 4,5% ao ano.
Todos esses dados foram divulgados entre 2018 e 2020. Contudo, depois de termos passado por uma pandemia de longa duração e ainda estando o mundo inteiro sob os efeitos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia, é possível afirmar que os patamares brasileiros de produtividade não tiveram qualquer avanço.
Respondendo a questões
É justamente para responder a estas questões ligadas à produtividade que convidamos Giuseppe Lotto para a nossa entrevista desta edição de Logweb. Ele é CEO da TEMSI Brasil, empresa de origem italiana com 45 anos de existência e sete anos de presença no Brasil, e considerada líder em consultoria estratégica para melhoria da produtividade, atuando em todos os elos da cadeia de suprimentos: indústria, atacado distribuidor, varejo e serviços.
Por que a ênfase tão grande em produtividade? Porque estamos atrás do mercado europeu, por exemplo?
O Brasil se encontra em plena busca de suficiência. Falando mais objetivamente, pelas estatísticas, ainda mais nas empresas de médio e pequeno porte não se pode falar em pesquisa da excelência operacional, pois ainda é preciso mensurar a produtividade dos processos e identificar as bases da escala de crescimento.
Fale sobre a importância da produtividade.
O mais importante aspecto para se investir em produtividade é perceber que o retorno traz resultados significativos em termos de pay back e, especialmente, no desempenho dos funcionários, refletindo na qualidade de vida. O envolvimento dos funcionários na vida da empresa está diretamente ligado aos resultados, a ponto de representar, muitas vezes, a necessidade de retornar ao trabalhador parte do valor gerado pelo aumento da produtividade, beneficiando a ambos, negócios e equipe.
É possível fazer um comparativo da produtividade das empresas brasileiras e das europeias, por exemplo?
Posso citar o exemplo da perda de produtividade no processo de abastecimento da gôndola com produto seco, no qual o número médio no Brasil é de 20 caixas abastecidas por hora/homem. Pela lei trabalhista brasileira e as regras de exposição esperadas pelo cliente, é possível chegar a 35 caixas por hora/homem. De forma geral, no mundo ocidental, essa produtividade é de 55 caixas por hora/homem, ou seja, o que é feito por um funcionário na Itália, requer três funcionários no Brasil. Nesse sentido é que demonstramos, em um processo simples, a evidência de possibilidade de aprimoramento a ser atingida.
Nestes tempos pós-pandemia, o papel da produtividade mudou, comparado ao período antes da pandemia?
Nas fábricas, lojas, Centros de Distribuição, transporte, onde é necessária a atividade presencial, ficou ainda mais evidente que as regras para se ter alta produtividade não mudam, a depender do lugar onde os processos são desenvolvidos. Já em atividades em que o trabalho em home office é possível, por exemplo, há indicadores que mostram que pode ser mais produtivo do que na empresa.
Em tempos de tecnologia e de ChatGPT, a produtividade fica mais por conta da automação e da tecnologia? E o papel do profissional em si?
Considero que seja muito importante acompanhar o desenvolvimento dessa modernização, estar atualizado sobre essa cultura e sobre as novas ferramentas tecnológicas. Ressalto inclusive que a pesquisa da produtividade pode ajudar as empresas a aproveitarem melhor esses recursos. Sou muito otimista e reconheço que haverá impacto no trabalho futuramente, mas o homem será sempre o protagonista.
Quais os segmentos que a TEMSI vê como os que devem se desenvolver mais no Brasil? Por que?
Os segmentos que mais precisam se desenvolver nos assuntos da produtividade são aqueles em que identificamos dificuldades nos processos “Human Intensive”, que sofrem pela falta de competências operacionais específicas. Nesse sentido, atuamos nas áreas de serviços, varejo, atacadistas e distribuidores.
A empresa
Quais os diferenciais que a TEMSI oferece ao mercado brasileiro?
Oferecemos uma abordagem pragmática, com foco nos resultados e sempre consideramos as condições iniciais da empresa e o nível organizacional dos processos envolvidos. Não atuamos com soluções pré-constituídas, mas avaliamos o melhor “remédio” no caso especifico. Entendemos que as empresas estão em condições organizacionais diferentes e, por isso, não é possível procurar excelência operacional naquelas em que faltam os requisitos básicos.
Exclusivamente em termos de logística, como é a atuação da empresa no Brasil? O que ela oferece? Quais projetos já foram desenvolvidos na área?
Em logística, a TEMSI tem atuado com uma experiência mais robusta nestes anos de trabalho, tanto com foco na eficiência das atividades no Centro da Distribuição, quanto no transporte. Também oferecemos suporte no desenho do network de distribuição e do layout operacional das plataformas, ou seja, podemos intervir em termos de “green field” ou para otimizar situações existentes. Conseguimos resultados expressivos na economia (15-20%) ou na solução de eficácia e qualidade dos processos de entrega, reduzindo atrasos e falhas, por exemplo.
Explique como foi a instalação da empresa no Brasil.
Chegamos aqui através de um parceiro que nos abriu as primeiras portas para construir a base do nosso network. A instalação foi um processo baseado no estudo profundo do mercado brasileiro que demorou mais de dois anos, por meio de projetos piloto realizados em empresas que permitiram nossa avaliação. Foi necessário mergulhar nas caraterísticas específicas do país, entender a cultura, ‘tropicalizar’ nossa oferta em termos de abordagem e modelo comercial. Após essa fase de estudos, primeiramente fizemos um processo de construção do primeiro núcleo de profissionais brasileiros e, sucessivamente, foi se moldando uma empresa de consultoria com uma forma definida, com processos internos e papeis estruturados. Foi uma longa jornada, pois foi desenvolvido a partir do zero e não foi simples, mas o mais importante é que com sacrifício, humildade e competência, chegamos ao patamar de hoje.
E quais as perspectivas com a abertura do novo escritório em São Paulo? Quais os objetivos destas novas instalações?
O novo escritório tem principalmente dois objetivos: o primeiro é transmitir o valor da nossa presença pelo mercado e pelos nossos engenheiros colaboradores. Mostrar que a TEMSI é uma empresa forte, presente, confiável e visível. Em termos mais práticos, nos permitirá, em colaboração com principais associações brasileiras e universidades, a organização de cursos de treinamento voltados para os assuntos da produtividade, da eficiência e, de forma geral, da gestão operacional. Estamos também pensando na organização de eventos focados em assuntos verticais, dedicados cada vez mais a oferecer soluções personalizadas.
Quais os planos para o futuro da TEMSI no Brasil?
O plano é reforçar nossa oferta de suporte na gestão operacional por meio de novos serviços e da conexão com soluções tecnológicas, com a intenção de se tornar no futuro um parceiro hábil a representar uma solução a 360 graus, conquistando resultados pelos projetos “chave na mão”, ou seja, atendimento pleno.