Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), foram registradas 30.168.458 multas aplicadas por excesso de velocidade em todo território nacional em 2022. Os números registrados refletem consideravelmente nas operações do setor de transporte rodoviário de cargas.
Levando em consideração o fato de que o transporte rodoviário de cargas (TRC) é responsável pelo transporte de 65% das mercadorias do Brasil, a movimentação dos caminhões acontece majoritariamente pelas principais rodovias do país.
Assim, é comum que as principais multas sejam registradas de acordo com as frotas das empresas do segmento. Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística – empresa com principal atividade no transporte de produtos químicos –, destaca a importância de a organização estar acompanhando de perto essa questão junto aos motoristas para minimizar os impactos.
“Atualmente, realizamos diálogos semanais de segurança, todas as segundas-feiras, abordando temas recorrentes como a questão da velocidade. Sempre destacamos a importância do treinamento em direção defensiva obrigatória para todos os motoristas devido à natureza química da nossa carga. Nosso limite de velocidade é de 80 km/h, e buscamos equilibrar a segurança com os desafios enfrentados pelas estradas, onde outros veículos frequentemente ultrapassam esse limite”.
De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a infração referente ao excesso de velocidade de naturezas média e grave ocupa respectivamente a primeira e a segunda posição na lista de infrações mais cometidas pelas frotas empresariais no Brasil, o que é uma preocupação para os gestores empresariais que lidam diretamente com a verificação de seus veículos.
“As consequências do excesso de velocidade são monitoradas via telemetria em todos os veículos, permitindo um fechamento mensal com análise de freadas bruscas, força G e excessos de velocidade. Quando identificamos infrações, entramos em contato com os motoristas, fornecendo feedback e alertas sobre a importância da segurança. Ultrapassar 90 km/h resulta em perda de pontuação interna, advertências por escrito e outras medidas disciplinares”, destaca Marcel sobre as atitudes tomadas na Zorzin Logística.
Além disso, os métodos utilizados em operações em outros países vêm ganhando destaque, o que pode ser o diferencial para uma segurança maior. Na Alemanha, por exemplo, aplicativos que informam a presença de radares são proibidos, o que causa uma preocupação maior por parte dos motoristas.
Para Marcel, as abordagens realizadas em outros territórios podem servir de exemplo: “Ao comparar as práticas em outros países, um sistema eficaz de variação de velocidade nas estradas pode ser mais seguro do que limites fixos. Se pegarmos o exemplo da França, onde as placas indicam variações de velocidade nas estradas e nas saídas de vias, a abordagem parece ser diferente”, destaca o executivo.
Trazendo ao contexto brasileiro, além da falta de infraestrutura nas estradas, há críticas sobre a falta de fiscalização adotadas pelas autoridades, já que estudos mostram que houve diminuição de multas aplicadas pela Polícia Rodoviária Federal nos últimos anos.
Na visão de Marcel, é preciso haver um olhar clínico sobre essas questões: “O respeito às leis de trânsito muitas vezes é negligenciado, e a abordagem punitiva, como multas, não é o suficiente. Precisa haver uma revisão maior da infraestrutura, incluindo sinalizações eficientes, algo crucial para melhorar a segurança. Além disso, a gestão do tráfego, como a sincronização de semáforos, deve ser aprimorada para evitar situações frustrantes, como espera prolongada em cruzamentos vazios”.
Essa avaliação de um cenário melhor nas rodovias passa por uma parceria maior entre as lideranças do setor, juntamente com as governamentais, para que tragam um planejamento mais assertivo na busca do aperfeiçoamento da condução dos usuários nas vias, levando à reeducação no processo das pessoas.
“Reconheço que o desafio no Brasil vai muito além da velocidade; é necessário um esforço educativo mais abrangente. Nós como empresas fazemos nossa parte com treinamentos e ensinamentos para melhorar a segurança nas estradas. Porém, um planejamento governamental com ênfase inicial na educação, desde a infância até a idade adulta das pessoas, pode ser um ponto de partida para um trânsito melhor e com menos riscos para a população”, finaliza o empresário.