ABOL: 2021 será lembrado como o ano em que os transportadores fizeram verdadeiro malabarismo para sobreviver

A ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos também não poderia deixar de participar deste nosso especial. Quem analisa o segmento é Marcella Cunha, diretora Executiva da entidade.

 

Faça um balanço no setor de transporte rodoviário em 2021. 

2021 poderá ser lembrado como o ano em que os transportadores rodoviários de carga – sejam TACs, ETCs ou Operadores Logísticos que possuem frotas próprias ou terceirizam o serviço – fizeram verdadeiro malabarismo. Pandemia, variações no preço dos combustíveis, inflação e taxas de juros altíssimas, paralisações de caminhoneiros, fechamento de portos estratégicos para o fluxo do comércio internacional, falta de peças para indústrias importantes e a crise de contêineres foram os grandes desafios. 

Ao mesmo tempo em que tiveram que atender a um aumento da demanda sem precedentes, que se impôs de forma veloz a partir da pandemia, esses atores, que são peças-chaves para as cadeias de suprimento e abastecimento se desenvolverem de forma eficiente, também tiveram de lidar com mais de 10 ajustes no preço dos combustíveis e inflação e taxas de juros no país atingindo patamares que há muito não se via. Com isso, a pressão para que rapidamente ajustassem seus planejamentos logísticos para melhor atender os produtores, os comerciantes, os clientes em geral aumentou. Todos desejam que seu produto chegue às fábricas, lojas ou na casa dos consumidores sem demora e a um frete baixo. Mas isso, em muitos casos, tem sido inevitável, principalmente em segmentos que dependem de peças que hoje estão em falta, a exemplo de condutores e semicondutores nas indústrias automotiva e de eletrônicos. 

O malabarismo foi ainda mais essencial quando o acesso a contêineres, hoje principal meio pelo qual cargas transitam no comércio internacional, se tornou escasso. Contêineres vazios e parados em portos pelo mundo fizeram com que o valor do frete mais do que triplicasse, chegando a mais de U$10 mil. Para completar, em semanas em que houve greves e paralisações pontuais de caminhoneiros – como as que ocorreram recentemente no Porto de Santos e no Porto de Salvador –, Operadores Logísticos, transportadores rodoviários, empresas portuárias e marítimas em geral sofreram uma pressão natural ainda maior de clientes e embarcadores, exigindo que revisassem seus planejamentos logísticos para evitar que a carga ficasse parada por mais dias. 

 

Quais as perspectivas para o ano de 2022 no setor?

Esperamos que algumas dessas dificuldades comecem a ser endereçadas de forma mais planejada em 2022, como os reajustes nos preços dos combustíveis, a inflação e a taxa de juros altas. Para isso, no entanto, precisamos contar com novas políticas e direcionamentos a serem adotados pelos governos. 

Vale destacar que a prorrogação da desoneração de folha de pagamentos para os 17 setores hoje contemplados, incluindo as ETCs, representaria um suspiro para o setor, que ou demitiria ou iria interromper seus planos de novas contratações em 2022 se o benefício não for continuado. 

 

Como a entidade vê a eletrificação no setor? 

Observamos cada vez mais ações nesse sentido entre os Operadores Logísticos, e que vêm a calhar. 

Vários vêm estabelecendo metas de redução de emissões internas para os próximos anos. A DHL, por exemplo, estabelece políticas de racionalização de uso de insumos e investe em instalação de usinas solares em plantas logísticas. A GEFCO também é outra empresa que adotou cobertura de alguns pátios de veículos com placas fotovoltaicas, e ela também atua muito próximo às montadoras e fornecedores de bateria para veículos, para garantir a correta gestão de todo o ciclo de vida das baterias até a correta destinação final. Outros, como é o caso da Coopercarga, estabeleceram a meta de, até 2026, ter toda a sua frota eletrificada e já iniciaram esse processo com uma recente compra robusta de caminhões elétricos. A FM Logistic também quer estar inserida no mercado como uma empresa de logística “green”, que se preocupa com o meio ambiente e a sustentabilidade. Para isso, também tem investido em frota de veículos ecológicos (elétricos, híbridos, gás ou hidrogênio). 

A adesão a certificações e programas ligados à sustentabilidade, inclusive internacionais, também é muito valioso, e várias são adeptas do “Pacto Global da ONU – Objetivos de desenvolvimento sustentável”, como é o caso do Grupo Toniato, que inclusive usa Torre de Controle para fazer toda a gestão do CO2 emitido nas operações. Ou seja, posso dizer que todas elas já vêm adotando medidas de alto impacto dentro das políticas de ESG e acho que essa é uma tendência que veio pra ficar. 

 

Quais as tendências no setor, em termos de tecnologia e novas atuações? 

Os Operadores Logísticos têm cada vez mais se posicionado estrategicamente no mercado a partir do Omnichannel, atendendo seus clientes por todos os canais de venda. Além disso, eles também vêm se preocupando com o uso estratégico de novas tecnologias, startups e ideias inovadoras para melhorar os serviços que ofertam o mercado e, ainda, seus processos administrativos internos, políticas ESG, entre outros desafios a serem endereçados.

A tecnologia se tornou uma grande aliada da logística. Não é à toa que nos últimos cinco anos, o número de logtechs dobrou, atingindo o total de 283 empresas, conforme levantamento feito pela Distrito LogTech Report.

Cada vez mais as empresas têm rompido barreiras em busca de startups para manter a sua competitividade e aumentar a produtividade. Especialistas garantem que agilidade será a palavra do futuro, quando se trata de gestão, e a logística tem acompanhado essa caminhada. 

Dentro desse processo, o papel da ABOL é estar inserida no ecossistema de startups, consolidando a ideia de que entidades representativas também podem ser extremamente úteis e cumprir um papel estratégico nesse elo.

A utilização de drones para facilitar, agilizar e reduzir os custos de entrega já começa a se tornar uma realidade. Além disso, o setor também conta com outras soluções voltadas a softwares para o rastreamento de cargas, gestão do combustível e controle de armazéns. Há ainda Big Data, Internet das Coisas, cada vez mais exploradas por diversas áreas de empresa, desde a comercial e de marketing à operacional.

Isso sem contar os investimentos em tecnologia voltados ao ESG. Com o estabelecimento de metas de redução de emissões internas para os próximos anos, os Operadores Logísticos também têm desenvolvido ações nesse sentido com a colaboração de startups. Vale destacar que preparar a infraestrutura de transporte para receber novas tecnologias aliadas também é um grande desafio, principalmente para o nosso país que ainda apresenta deficiências importantes na infraestrutura básica de transporte: condições das rodovias, malha ferroviária, acesso aos portos, etc.