A redução das emissões de CO2 na atmosfera tem sido uma das prioridades dos Operadores Logísticos, sobretudo diante dos avanços da regulamentação do mercado de carbono no Brasil e do projeto de lei do Combustível do Futuro, que agora chega ao Senado Federal.
O objetivo das empresas é mitigar o impacto das suas operações por meio de ações que envolvem, por exemplo, a substituição do diesel por combustíveis alternativos produzidos a partir de fontes renováveis.
Entre as opções estão o Biometano, HVO (óleo vegetal hidrotratado), mais conhecido como diesel verde, e o biodiesel, que foram abordados na segunda edição do ABOL Day de 2024, realizado pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos – ABOL, exclusivamente para as empresas filiadas e convidados externos.
Ao abrir o evento, a diretora da entidade, Marcella Cunha, apresentou dados do Net Zero Readiness Report 2023, da KPMG, que apontam os três setores que mais emitiram gases de efeito estufa no Brasil em 2022: Agricultura (46%), Transporte (16%) e Resíduos (13%).
“Estamos passando por um momento importante para a evolução da sociedade brasileira quando se trata de redução de emissões de gases do efeito estufa, a começar pelas empresas, que estão cada vez mais conscientes da sua responsabilidade e das ações necessárias para evitar o aquecimento global e as mudanças climáticas. O Governo brasileiro almeja a neutralidade até 2050 e já vemos, no cenário doméstico, movimentos importantes nesse sentido, como a ‘pauta verde’, que vem ganhando destaque no Congresso Nacional”, ressaltou Marcella ao comentar sobre os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo ESG da ABOL.
A busca por outros tipos de combustíveis faz parte da pauta do grupo que identificou, junto aos associados, o interesse dos Operadores Logísticos em obter mais informações para se tornarem parte ativa da mudança. Para falar sobre o biometano, a Analista Técnica e Regulatória da Abiogás, Bruna Jardim, foi uma das convidadas. A especialista trouxe as principais contribuições do biometano, considerado uma fonte madura capaz de descarbonizar setores chaves da economia, ser responsável pela independência energética do País, entre outras vantagens.
De acordo com Bruna, atualmente existem 20 plantas de biometano no Brasil, sendo que apenas seis comercializam o gás. A perspectiva é de que até 2029, o total de unidades produtoras voltadas à comercialização chegue a 90. Ela explicou que o biometano é capaz de suprir hoje 70% da demanda de diesel e esse número equivale a quase o dobro da demanda de gás natural de 2023. O biogás dá vida nova ao passivo ambiental, se torna um ativo, produzido a partir dos resíduos orgânicos. O potencial teórico brasileiro de biometano é de 120 milhões de metros cúbicos por dia, sendo 57,6% produzido a partir do setor sucroenergético. E o mais relevante, é capaz de reduzir em 87% as emissões em relação ao diesel.
Para diversificar a matriz de combustível brasileira, o gerente de Desenvolvimento de Mercado Américas da NESTE, Fabrício Bezerra, abordou o HVO, que pode ser misturado com o diesel fóssil em qualquer proporção e é produzido através de matérias-primas 100% renováveis e sustentáveis, sendo aprovado pelas principais montadoras. Entre os seus benefícios para o abastecimento estão a ausência de aromáticos e o alto ponto de fulgor, que melhora a segurança nas operações de abastecimento e manutenção, e atende aos regulamentos marítimos. O HVO garante 30% menos emissões de particulados e 24% menos emissões de monóxido de carbono. Substituir 100% do diesel fóssil por 100% de diesel renovável resulta em até 90% menos emissões de gases de efeito estufa.
Em meio às opções, o Técnico de Nível Superior da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Raflem dos Santos, trouxe uma reflexão sobre os problemas gerados pelo biodiesel, mostrando a necessidade de, independentemente da escolha, ser testado no que tange à viabilidade para o setor. Uma sondagem feita pela CNT com 710 empresários do transporte revelou que 60,3% das empresas tiveram problemas mecânicos relacionados ao teor de biodiesel no diesel, gerando altos prejuízos financeiros.
Diante das conclusões, o pleito do setor de transporte envolve condicionar acréscimos a testes e ensaios antes de cada aumento, aprimorar as especificações, implementar medidas de controle de qualidade, ampliar a rota tecnológica para a oferta de biocombustíveis líquidos de melhor geração e considerar o segmento nas políticas públicas. Com mais subsídios em mãos, os Operadores Logísticos pediram apenas mais uma dica: como conscientizar também os demais players envolvidos no processo para que todos participem ativamente da transição energética? “Educar o consumidor final sobre essas opções é o principal. Fazer mais seminários, falar mais sobre as opções. Não queremos levantar a bandeira de um só, temos que continuar disseminando as informações”, enfatizou o gerente da NESTE. “O lema é pense grande, comece pequeno e escale rápido”, completou o coordenador do Grupo de ESG da ABOL, Marcos Azevedo.