As exigências da logística farmacêutica

Os operadores logísticos e as transportadoras estão sujeitos às normas da Anvisa e das próprias empresas do setor farmacêutico, que se mostram cada vez mais exigentes no que diz respeito à área técnica e legal da empresa de logística. Os caminhões precisam ser climatizados e os armazéns necessitam de controle de temperatura e umidade, por exemplo.

Manusear, transportar, gerenciar e armazenar produtos farmacêuticos. Quais as exigências próprias? Como atuam as empresas deste setor? Uma associação, um sindicato e dois operadores logísticos desmembram a operação logística do segmento nessa matéria especial do jornal LogWeb.

Vamos começar pelas dificuldades. Quais os maiores problemas enfrentados para a contração de frete por parte da indústria farmacêutica?

De acordo com Cássio Ribeiro Leal Silva, coordenador de assuntos regulatórios da Alanac – Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Fone: 11 5506. 8522), as maiores dificuldades para a contratação envolvem questões financeiras e legais.

No que diz respeito à questão legal, ele aponta a qualificação de fornecedor, seguindo a RDC 210/03 – resolução que institui as normas das Boas Práticas de Fabricação, Armazenamento e Distribuição de Produtos e Artigos Médico-Hospitalares – Produtos para a Saúde – e a presença de todas as autorizações e documentações necessárias à transportadora como alguns dos pontos legais que dificultam a contratação desta.

“Ainda no campo das exigências legais, há algumas delas feitas pelo próprio setor farmacêutico, tais como não permitir o repasse de cargas – conhecido como ‘cabritagem’ –, a necessidade de uma série de medidas que garantam a qualidade do produto durante o transporte e uma correta manutenção da cadeia fria para o transporte de produtos perecíveis, entre outras”, destaca Silva.

Já com relação à parte financeira, o problema de um modo geral, de acordo com ele, esbarra na própria negociação do valor – em relação à freqüência e ao volume de carga –, bem como nas regiões atendidas pela transportadora.

Ivan da Glória Teixeira, presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas no Estado de Goiás – Sindifargo (Fone: 62 3098.3006), por sua vez, diz que existem essas dificuldades porque o Brasil é um país continental e o meio de transporte mais eficiente e competitivo é o terrestre. “Hoje não são todas as transportadoras que possuem autorização junto à Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para transportar medicamentos, ficando na mão de poucas”, expõe.

Falando na Anvisa, existe uma tendência de as empresas farmacêuticas estocarem seus produtos nos operadores logísticos para fugir das exigências da agência?

Segundo Silva, da Alanac, a tendência de as empresas farmacêuticas se valerem dos operadores logísticos não se deve às exigências da Anvisa, mas, sim, por questões de estratégia de cada empresa. Ele explica que isso pode ser constatado ao notar que existem diferentes situações dentro do mercado farmacêutico, como, por exemplo: há empresas grandes e pequenas que terceirizam todo o seu estoque e transporte para um operador logístico; algumas empresas de variados portes terceirizam apenas o transporte, mas mantêm o seu estoque dentro da própria empresa; e existem empresas que não terceirizam nada, nem mesmo o transporte, mantendo toda a operação logística.

“Sendo assim, é possível observarmos que essa tendência à terceirização do estoque para os operadores logísticos não depende da necessidade de ‘fugir’ das exigências da Anvisa, mas, sim, das questões estratégicas e econômicas das empresas”, sintetiza.

Teixeira, da Sindifargo, concorda. “As empresas fazem a opção por operadores logísticos para melhorar a sua competitividade na distribuição. Em Anápolis, GO, temos a DHL, que já faz a distribuição para o Laboratório Roche”, exemplifica.

E, afinal, quais as exigências da Anvisa, tanto para transporte quanto para armazenagem de produtos farmacêuticos?

Para Silva, da Alanac, as exigências estão descritas em suas legislações específicas e nas relacionadas. Algumas das principais legislações relacionadas a transporte e armazenagem estão no quadro.
“Estas exigências auxiliam a logística do setor, pois o intuito maior é a manutenção da qualidade do produto até o consumidor final e, com elas, dá-se um ‘norte’ para que sejam minimizados os riscos de prejuízo da qualidade do medicamento estocado e transportado”, considera.
Já para uma transportadora e um operador logístico no transporte e armazenagem de produtos farmacêuticos, Silva relata que não há exigências especiais, além daquelas existentes nas normativas que regem o setor de estoque e transporte desses produtos. “O que é preciso é que as transportadoras e os operadores logísticos entendam tais normativas e saibam trabalhar dentro delas para que se consiga manter a mesma qualidade do produto que acaba de sair da produção, até a chegada do mesmo ao consumidor final”, diz.

Teixeira, da Sindifargo, destaca que as exigências da Anvisa para as transportadoras envolvem a autorização dos veículos, que passam por vistorias, e o custo da autorização, que depende do porte da empresa. No caso dos caminhões, devem ser climatizados, com controle de temperatura e umidade e em bom estado de conservação. Já para a armazenagem, são necessários armazéns com controle de temperatura e umidade, separação de classes terapêuticas, limpeza e higiene deles, ou seja, estruturas físicas adequadas para tal.

OPERADORES LOGÍSTICOS

Depois dessa análise, é interessante saber dos próprios operadores logísticos quais as obrigações e exigências em relação ao transporte e manuseio destes produtos.

Fernando P. Muller, gerente comercial da TA Logística (Fone: 19 2101. 7511), diz que as exigências são muitas, de ordem legal, operacional e técnica. Ele deixa de lado as legais, relativas às licenças necessárias, e analisa as questões técnicas e operacionais. “A operação logística de produtos farmacêuticos é, em geral, bastante complexa e intolerante em relação aos erros operacionais. A sua complexidade decorre de fatores como o grande fracionamento, a quantidade de SKU’s e o controle FEFO, que precisa ser absolutamente perfeito. Assim, é necessário que o operador tenha grande know-how e tecnologia de ponta, muito mais do que em outros segmentos. Não é trabalho que possa ser feito por empresas que não tenham muito conhecimento, experiência e tecnologia de ponta”, frisa.

Na opinião de Larissa Rossi de Migueli, farmacêutica da Transcole Transportes Urgentes (Fone: 11 4366.6100), além da regulamentação perante os órgãos competentes, como Anvisa, Vigilância Sanitária Municipal e outros, a empresa deve atender às exigências dos clientes através de um sistema de monitoramento e rastreamento altamente eficaz, frota diversificada e adequada para atender às diversas situações, centro operacional de distribuição com infra-estrutura que atenda às necessidades das operações logísticas e profissionais qualificados. “A relação custo x qualidade e a eficiência da cadeia de fornecimento são importantes para garantir o sucesso da empresa como operador logístico”, declara.

Sobre existir uma tendência de as empresas farmacêuticas estocarem seus produtos nos operadores logísticos para fugir das exigências da Anvisa, Muller, da TA Logística, afirma a tendência de as indústrias farmacêuticas utilizarem operadores logísticos não advém de uma possível menor exigência da Anvisa. “As exigências da agência em relação aos operadores logísticos também são muito elevadas, semelhantes às aplicadas aos armazéns de propriedade da indústria farmacêutica”, ressalta.

De acordo com ele, a procura pelos operadores logísticos decorre da especialização e da qualidade dos serviços destes, bem como da redução dos custos totais da cadeia. “Os operadores realizam uma operação de alta qualidade, apresentam ganhos de performance e têm custo consideravelmente menor”, garante Muller.

Segundo Larissa, da Transcole, as empresas farmacêuticas podem utilizar este recurso p


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