A automação é passagem inevitável no caminho da intralogística do futuro

Daniel del Campo Alvarez – CEO da SSI Schäfer para América Latina. É licenciado em Administração de Empresas pela Sheffield Hallam University, da Inglaterra.

Nos dias de hoje, é muito o que se fala sobre a importância da automação na intralogística. Enquanto as empresas de ponta, independentemente de sua localização geográfica, setor e outros fatores, como preço do metro quadrado ou da mão de obra, já embarcaram numa viagem sem volta no movimento da automação, outras não acham a fórmula que faça a conta fechar. A realidade é que a conta deve considerar o que a automação alavanca para a empresa, e vai além de um frio cálculo de retorno do investimento.
Quando se olha estritamente o número de pessoas que um sistema automático substitui, ao preço atual de mão de obra versus o preço do investimento, o retorno pode mesmo demorar em acontecer em algumas situações. Porém, se colocadas no papel as oportunidades que este investimento cria – por exemplo: nível de atendimento superior, possibilidade de diminuir o tempo entre a recepção de um pedido e a saída do mesmo do armazém, facilitação de várias entregas por dia, atendimento a pedidos emergenciais no mesmo dia, aumento na qualidade da separação diminuindo o erro quase a zero, diminuição de perdas por materiais danificados, vencidos ou roubos, dentre outros –, então a conta muda.
É importante entender, também, que quando o talento dos quadros de mando da empresa – principalmente toda a cadeia de mando logística – está concentrado em gerenciar problemas triviais inerentes a uma operação muito manual, ou seja, assuntos laborais, organização de grandes equipes, dimensionamento de refeitórios, vestiários, fretados, etc., gerenciar rotação, absenteísmo, produtividade, ficam sem tempo de pensar em como atender melhor os clientes, definindo estratégias sobre o futuro da empresa, etc. Deixam de liberar metros quadrados antes destinados a operações manuais para usos alternativos e arrastam seus custos operacionais para diversos âmbitos da empresa, como departamento de RH, jurídico e financeiro, dentre outros, o que coloca estas empresas em desvantagem competitiva em relação a outras mais visionarias que fizeram investimentos mais arrojados.
O investimento em automação permite uma logística eficiente que pode ser definida como liberadora de recursos, cumprindo as necessidades da empresa e criando oportunidades adicionais, portanto gerando riqueza que deve, sim, ser estimada e colocada na conta do ROI.
Lógico que é muito difícil mensurar fatores não estritamente contábeis de substituição de pessoal pelo que não é uma conta que se possa fazer sem uma visão panorâmica de management. A decisão de automação deve extrapolar o círculo logístico. A área de negócios, os acionistas e o comando da empresa devem participar na decisão sobre que tipo de empresa querem e o que vão requerer da área logística para, em conjunto, definirem quais equipamentos, recursos, processos e sistemas devem incorporar.
Para muitos agricultores, no passado, não compensava a aquisição de um trator, devido ao seu alto preço, porém aqueles que deram o primeiro passo saíram na frente dos que continuaram com a enxada. Igualmente a máquina de escrever olhada pelo lado do custo-benefício não substitui uma bela carta manuscrita, porém se estendeu seu uso nas empresas como a pólvora por outros benefícios que trazia, como qualidade, uniformidade da escrita, ordem, etc. Quando os primeiros editores de texto apareceram, logo que os computadores surgiram, o investimento talvez não compensasse retirar as máquinas de escrever. Porém, o ganho em produtividade e qualidade que trouxeram cada uma destas inovações foi logo entendido pelas empresas. Sempre, logicamente, vão à frente as empresas mais inovadoras e que, via de regra, são mais bem-sucedidas.
Como nos exemplos anteriores, com a automação na intralogística ressurge o debate sobre o impacto destas inovações no mercado de trabalho. Afinal, vão sobrar os humanos? Em nosso entender, é este um debate completamente descabido. Se quando começou a revolução industrial na Inglaterra tivesse sido barrada a introdução de máquina de vapor, devido ao medo de substituir pessoas por máquinas, teríamos perdido o maior aumento de produtividade e de geração de atividade da história recente. Em lugar de eliminar trabalho, criou atividades e novos canteiros de emprego e progresso. A máquina de escrever, o trator, o computador pessoal não acabaram com o emprego mundial como previsivelmente não o farão as atuais inovações, (internet, robôs, etc.).
Automação e inovações permitem evitar trabalhos penosos e repetitivos para os humanos, permitindo que estes se concentrem em atividades cada vez mais nobres e que gerem mais valor para a empresa e a sociedade. Igualmente, a automação permite a inclusão de pessoas com necessidades especiais, ao adaptar postos de trabalho às mais diversas condições pessoais. Por último, a automação contribui de forma significativa com a ecologia, pois os sistemas automáticos são, por definição, mais eficientes e consomem menos recursos em todos os âmbitos.
Se tudo isto fosse pouco, ainda a automação é passagem inevitável no caminho da indústria e da intralogística do futuro, onde o uso do Big Data pelas empresas exigirá uma logística mais conectada, eficiente e versátil. Os sistemas automáticos, pela sua natureza, fornecem informação constante ao conjunto empresarial por meio da internet das coisas, integrando, assim, a logística na onda 4.0. Esta, já chamada de nova revolução industrial, está no começo e pode vir a ser uma alavanca muito maior das que até agora vivenciamos.
Para nós, fornecedores de soluções automáticas de intralogística, custa entender como algumas empresas se reafirmam na vivencia passada que deu seus bons frutos, porém renunciando a explorar o futuro em sua devida extensão, meditando os ganhos que podem ser incorporados às operações.
Paradoxalmente, as empresas mais bem sucedidas a nível nacional e internacional não têm dúvidas sobre os ganhos que a automação intralogística traz consigo.
Nos últimos anos passou de ser uma questão discutível, uma curiosidade, visão ou pioneirismo, a uma questão de sobrevivência. Sem investimento nesta área, a vantagem competitiva se dilui e fica muito difícil competir e, inclusive, sobreviver.