Cobots ajudam a automatizar a paletização e criam soluções que atendem às necessidades industriais de forma ágil

A implementação de robôs colaborativos influencia positivamente no planejamento de automação dos negócios, pois auxilia a engenharia e a produção a implementarem projetos mais rápidos, simples e versáteis que impactam KPIs operacionais.

O processo de paletização é um desafio para qualquer empresa que lida com mercadorias físicas e nem sempre uma atividade agradável para os operadores – passar o dia realizando movimentos repetitivos, que geralmente envolvem a manipulação de caixas pesadas, é prejudicial para a saúde e torna as rotinas muito monótonas.

Porém, hoje em dia já podemos podem contar com a ajuda dos cobots para realizar esse tipo de trabalho e criar soluções que atendam às necessidades industriais de forma mais ágil, compacta e flexível, e, com isso, gerar valor organizacional para as empresas. Segundo dados da MarketsandMarkets, empresa focada em inteligência de mercado, o segmento de robótica industrial deve alcançar US$ 30.8 bilhões em 2027. Já de acordo com informações da Federação Internacional de Robôs (IFR), 34% do total de vendas desse mercado até 2025 será resultante do uso dos robôs colaborativos.

Portanto, sua implementação para automatizar a paletização influencia positivamente no planejamento de automação dos negócios, pois auxilia a engenharia e produção a implementarem projetos mais rápidos, simples e versáteis que impactam KPIs operacionais, possuem retornos financeiros interessantes e estão bastante ligados às iniciativas ESG.

“A implementação de robôs colaborativos (cobots) na paletização está revolucionando as indústrias brasileiras, promovendo maior eficiência, flexibilidade e segurança. Os cobots são projetados para trabalhar em colaboração direta com os seres humanos, sem a necessidade de barreiras de segurança, o que facilita sua integração nos processos existentes. Os principais benefícios observados incluem o aumento da produtividade, devido à capacidade dos cobots de operar continuamente, a redução de erros e danos ao produto durante o manuseio e a economia de espaço, já que esses robôs são compactos e podem ser facilmente reposicionados conforme as necessidades de cada negócio”, explica Adrian Covi, gerente de Negócios do segmento de Industries da ABB Robótica.

“O primeiro ponto é que, se pensarmos em paletização, todo produto que vemos numa prateleira, seja de um supermercado, de uma farmácia ou de uma loja de conveniência, deve ter sido transportado em boa parte do processo logístico num palete. Chega em algum ponto onde tem uma desconsolidação e aí depois a entrega final até a prateleira. Pensando que a maioria dos produtos de bens de consumo passa por paletes entre o final da linha de produção e o ponto de entrega, podemos imaginar que toda a grande parte dos finais de linha de produção aqui no Brasil estão com operadores fazendo o processo de paletização.”

Então – continua Denis Pineda, General Manager LATAM da Universal Robots –, imagine uma pessoa que está paletizando caixas de 5 kg, 6 kg, três caixas por minuto. “Então, em 60 minutos dá praticamente uma tonelada. Portanto, o processo de paletização em si é um foco de potenciais problemas de saúde no trabalho, porque o esforço repetitivo e a posição de abaixar e levantar constantemente podem gerar lesões nos operadores.

Assim, o primeiro grande benefício da paletização robotizada é poder eliminar esse potencial problema de saúde ocupacional. O segundo benefício extremamente importante é relacionado ao aumento da produtividade. “Imagine uma pessoa no final de uma linha com fluxo contínuo que está trabalhando acima de 90% de OEE (medida de eficiência produtiva) – durante as suas 8 horas de trabalho, deve ficar em torno de 70 a 75% de eficiência. A partir do momento que você coloca um robô, o outro benefício é que vai aumentar a produtividade dessa linha, em vez dela ter um output ou throughput. Dependendo da bibliografia que estivermos usando nessa linha de produção, estamos aumentando a quantidade de produtos por hora que ela vai conseguir entregar.”

E o terceiro benefício muito importante do ponto de vista de paletização – completa Pineda –, principalmente na indústria farmacêutica, é garantir a rastreabilidade, ou seja, se elimina o risco de ter, por exemplo, uma caixa colocada no palete errado ou ter produtos que acabam sendo misturados.

Fábio Borsato, gerente Regional de Vendas – responsável por atender o mercado de paletização na América Latina – da Yaskawa Motoman Robótica do Brasil, completa ressaltando que os cobots estão colaborando onde o produto final tem um peso entre 5 kg e 30 kg. E os principais benefícios a serem destacados são: área de fábrica simplificada, economia de energia elétrica, programação amigável e fácil operação, segurança dos operadores, ergonomia e os ambientes de atuação podem ser desde produtos de higiene até modelos de cobots para a indústria de alimentos.

Vale lembrar também que os cobots possuem uma grande vantagem em relação aos robôs industriais convencionais, pois oferecem a possibilidade de robotizar processos de uma maneira mais rápida e econômica.

Como explica Luiz Egreja, executivo de clientes sênior da Dassault Systèmes na América Latina, a solução apresenta uma alternativa interessante para o processo de paletização por conta da baixa complexidade de instalação e pouca necessidade de ajustes na infraestrutura do espaço físico – ou criação de áreas isoladas, como no caso da paletização empregando robôs industriais –, uma vez que os robôs colaborativos possuem tecnologia para garantir tanto a segurança da operação, quanto dos operadores.

Além disso, a colaboração entre robô e ser humano gera o aumento da produtividade na linha de produção sem a necessidade de automação completa do processo, o que torna este tipo de robotização economicamente mais viável para certas empresas.

Diferenças

Quando comparamos a paletização tradicional com a paletização robotizada colaborativa, a grande diferença é que, no primeiro, pensando em paletizações centralizadas – linhas de produção com várias esteiras que levam todas as caixas para um mesmo ponto, onde se tem vários robôs fazendo as paletizações –, há uma quantidade de movimentação em esteiras muito grande para poder concentrar os produtos numa central de paletização. “Outro aspecto importante é que nesse modelo há menor flexibilidade, ou seja, se tiver que colocar um produto novo ou tirar algum produto do mix que aquela central de paletização está fazendo, em geral existe uma quantidade de horas paradas muito significativa para reprogramar, para mexer nas garras e assim por diante”, explica Pineda, da Universal Robots.

Quando há uma paletização colaborativa – continua o General Manager –, ela acaba sendo uma paletização por final de linha. Então isso vai permitir uma flexibilidade muito maior porque é possível operar de maneira individual nas linhas sem que isso afete outras. “Portanto, é eliminada a necessidade de grandes esteiras para levar os produtos para áreas de paletização, o que diminui a movimentação de material e traz muito mais flexibilidade, uma vez que cada linha tem o seu processo de paletização.”

Também falando sobre as principais diferenças entre a paletização tradicional e a paletização colaborativa utilizando cobots, Covi, da ABB Robótica, lembra que a paletização tradicional geralmente envolve robôs industriais grandes e complexos, que requerem cercas de segurança e são programados para executar tarefas repetitivas em ambientes controlados. Já a paletização colaborativa com cobots se destaca pela flexibilidade e segurança. Os cobots são mais fáceis de programar e ajustar para diferentes tarefas, podendo trabalhar ao lado de humanos sem cercas de proteção, o que permite uma maior adaptabilidade a mudanças nas linhas de produção e processos.

“De fato, a paletização com robôs industriais exige mais proteção, medidas de segurança que protejam os colaboradores, sendo assim, há um investimento maior em engenharia, automação e recursos. Já a paletização colaborativa não necessita de tantos recursos, pois o robô vem de fábrica equipado com recursos de segurança que permitem projetos seguros e amigáveis operacionalmente”, completa Borsato, da Yaskawa Motoman.

Por seu lado, Egreja, da Dassault Systèmes, alerta que a paletização tradicional, com movimentações e ações realizadas sem o suporte de um robô, apresenta as desvantagens de processos não automatizados. Já na paletização colaborativa, possibilitada pelos cobots, torna-se possível agregar agilidade e segurança às etapas do processo, com a vantagem de operar com um custo de implementação e programação menor, além de não precisar eliminar completamente a participação das pessoas, trabalhando no mesmo ambiente em operações que demandarem atividades manuais, e que não fizerem sentido automatizar completamente.

Segurança dos colaboradores

Os cobots têm um impacto positivo na saúde e segurança dos colaboradores, especialmente em tarefas ergonômicas, como a paletização. Essas tarefas frequentemente envolvem levantamento repetitivo e pesado, que pode levar a lesões. Com os cobots assumindo essas atividades, os trabalhadores são menos expostos a riscos de lesões, podendo se concentrar em tarefas de maior valor e menor risco físico. Isso contribui para a redução de problemas ergonômicos e melhora a qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Covi lembra que os cobots SWIFTI CRB 1300 da ABB, por exemplo, são equipados com um scanner a laser de segurança integrado ao software de segurança colaborativo SafeMove da ABB Robótica, priorizando a segurança do trabalhador. “Essas tecnologias permitem que a colaboração segura seja alcançada sem o espaço e custo associados à instalação de cercas de proteção ou outras barreiras físicas.”

Se o scanner a laser detecta um trabalhador dentro da área de operação do SWIFTI, o software SafeMove desacelera automaticamente o robô ou o para completamente. À medida que o trabalhador se afasta, o movimento é restaurado, retornando à velocidade máxima para produtividade total somente quando a área de trabalho estiver completamente livre. “Como medida de proteção adicional, uma luz de status de interação integrada fornece uma indicação visual do status do cobot quando um trabalhador está dentro da área de trabalho”, explica  o gerente de Negócios.

Pineda, da Universal Robots, também destaca que, com o uso de cobots na paletização, os colaboradores não têm que ficar carregando caixas o dia inteiro e fazendo esse movimento de pegar uma caixa numa esteira e coloca-la em um palete em diferentes alturas, que pode ser um foco muito importante de lesão.

A segurança e saúde no trabalho têm influenciado cada vez mais para que empresas invistam em soluções robotizadas, que transformam positivamente a rotina dos funcionários, explica Egreja, da Dassault Systèmes. “Ao manter o operador atuando naquilo que realmente agrega valor, o ambiente de trabalho é aprimorado para evitar acidentes e problemas ergonômicos”, diz.

Borsato, da Yaskawa Motoman, também aponta que as empresas estão preocupadas com a saúde e segurança de seus colaboradores, e o cobot veio para reduzir os problemas ergonômicos, evitando lesões e afastamento. “A capacidade produtiva e a repetibilidade fazem parte do dia a dia dos robôs industriais e colaborativos, e os robôs não irão ‘tomar’ o trabalho do operador, mas transformar uma condição de trabalho insalubre e perigosa em uma condição operacional limpa, ergonômica e de alto valor na programação off-line nos simuladores 3D, por exemplo.” Além disso, ele diz que estudos comprovam que os países mais robotizados são os com menor taxa de desemprego.

Setores

No Brasil, os setores que mais estão adotando cobots para paletização são os de alimentos e bebidas, farmacêutico, automotivo e de produtos de consumo. São as empresas de grande porte que mais têm explorado o uso de cobots para melhorar a eficiência em suas operações de paletização. No entanto, prossegue Covi, da ABB Robótica, barreiras de entrada para usuários iniciantes, educadores e PMEs vem sendo reduzidas com a chegada ao mercado de modelos de cobots que oferecem programação simples e rápida integração em ambientes de produção, além de menor custo de implantação, ampliando, dessa forma, o seu uso para mais setores da economia.

O principal foco dos cobots está no setor de bens de consumo, acredita Pineda, da Universal Robots. “Tudo que a gente encontra no supermercado, na loja de conveniência, na farmácia, tudo que está numa prateleira, numa caixinha, num sachê, em algum momento, muito provavelmente, deve ter passado por um processo de paletização no final de produção de uma linha contínua.”

E para Egreja, da Dassault Systèmes, a adoção de robôs em paletização tem sido uniforme. Segundo ele, e concordando com os outros participantes desta matéria especial, os setores que mais utilizam cobots são aqueles que possuem produtos paletizáveis, como de bens de consumo, alimentos e bebidas, higiene pessoal, cosméticos e indústria farmacêutica, por exemplo. Entretanto, diz ele, o uso de robôs colaborativos para a paletização ainda se limita às empresas que lidam com produtos menos pesados, ou que possuem um grande volume de produção e que justificam o uso de cobots em processos de embalagem secundária, por exemplo.

Integração

O executivo de clientes sênior da Dassault Systèmes na América Latina continua sua análise, agora destacando que cobots podem ser integrados a outras soluções de automação industrial para otimizar ainda mais as operações logísticas ao combinar suas capacidades com tecnologias avançadas e sistemas automatizados. Segundo Egreja, uma forma de integração seria utilizar os cobots em conjunto com sistemas de gestão de estoque e logística para automatizar tarefas como a movimentação e a organização de materiais. Isso pode reduzir erros, melhorar a eficiência do armazém e permitir um fluxo de trabalho mais contínuo.

“Os cobots podem ser integrados a sistemas de visão artificial, inteligência artificial (IA) e softwares de gestão de armazéns (WMS) para otimizar ainda mais as operações logísticas. Essa integração permite um maior grau de automação e precisão na paletização, com os cobots sendo capazes de identificar, classificar e empilhar produtos de forma autônoma. Além disso, a conectividade com sistemas de IoT (Internet das Coisas) permite monitoramento e ajuste em tempo real, melhorando a eficiência e reduzindo o tempo de resposta a possíveis problemas”, acrescenta Covi, da ABB Robótica.

Pineda, da Universal Robots, vai mais além, e diz que, pensando em operações logísticas, além da paletização, como já se falou, pode-se ter a despaletização nos centros logísticos, além da montagem de kits, armação de caixas e processos de empacotamento, ou seja, colocar o produto dentro das caixas.

“Hoje já temos cobots funcionando sobre AGVs, permitindo a locomoção pelo chão de fábrica e auxiliando na logística dos produtos, em trilhos servocontrolados de altíssimas velocidades, em mesas giratórias sincronizadas e em bases para elevação, facilitando a paletização e velocidade”, finaliza esta questão Borsato, da Yaskawa Motoman.

Considerações financeiras e operacionais

Antes de usufruir das vantagens dos cabots na paletização, é preciso que se faça considerações financeiras e operacionais e sobre como isso afeta os KPIs operacionais. “Antes mesmo de investir na robotização, é importante considerar a simulação do processo de produção com diferentes cenários para escolher a solução adequada para cada empresa, e que gerará o melhor retorno sobre o investimento. Entre os KPIs operacionais impactados positivamente pelos cobots, estão: aumento da produtividade, melhora da segurança e saúde do operador, redução de erros e do índice de reclamações dos clientes – por exemplo, a montagem incorreta do palete, podendo levar à acidentes no transporte e danificação de cargas”, acentua Egreja, da Dassault Systèmes.

As considerações financeiras incluem o custo inicial de aquisição e implementação dos cobots, o retorno sobre o investimento (ROI) e os custos operacionais, como manutenção e treinamento. Ainda segundo Covi, da ABB Robótica, operacionalmente, é importante avaliar a compatibilidade dos cobots com os processos existentes e a necessidade de reconfiguração das linhas de produção. Ainda segundo ele, a adoção de cobots pode melhorar KPIs operacionais, como o tempo de ciclo, a taxa de utilização dos equipamentos e a redução de defeitos e desperdícios, contribuindo para maior eficiência e rentabilidade.

“Olhando para os KPIs financeiros em geral, e considerando o custo médio de operador aqui no Brasil e na América do Sul, que é bastante parecido e gira ao redor de 10 mil dólares por ano, temos um sistema de paletização com o UR10 ou até com UR20 que vale aproximadamente 100 mil dólares já instalado aqui no país, mas sem os impostos. Em geral, leva entre três a quatro anos de payback rodando em três turnos com um operador no final da linha”, exemplifica, agora, Pineda, da Universal Robots.

Iniciativas ESG

Vale lembrar, ainda, que a adoção de cobots na paletização está alinhada com as iniciativas ESG (Ambiental, Social e Governança) ao promover práticas de trabalho mais seguras e reduzir a pegada de carbono das operações. Os cobots são energeticamente eficientes e permitem uma operação mais sustentável, reduzindo o consumo de energia em comparação com os robôs tradicionais. “Em termos de responsabilidade social, os cobots melhoram as condições de trabalho, diminuindo o risco de lesões e permitindo que os trabalhadores se concentrem em atividades menos desgastantes fisicamente e mais qualificadas”, ensina Covi, da ABB Robótica.

Também opinando sobre como a adoção de cobots na paletização está alinhada com as iniciativas ESG e os impactos positivos em termos de sustentabilidade e responsabilidade social, Egreja, da Dassault Systèmes, destaca que, cada vez mais em voga, as práticas ESG têm levado muitas empresas a robotizarem seus processos, seja com robôs colaborativos ou, dependendo do volume de cargas, com robôs industriais convencionais. “Enquanto no âmbito social a robotização proporciona o aumento nas condições de segurança de trabalho e bem-estar a longo prazo para os colaboradores, ao evitar lesões causadas pelo esforço repetitivo, a solução agrega sustentabilidade aos processos ao diminuir a taxa de erros na produção e, consequentemente, o índice de descarte e desperdício de recursos.”

Ainda segundo e executivo, para ambas as frentes a simulação do processo de produção em diferentes cenários é uma ferramenta essencial para auxiliar na escolha do melhor robô que possa dar suporte às metas de impacto social e sustentável do negócio.

A análise de Borsato, da Yaskawa Motoman, destaca o fato de que, além de evitarem acidentes e afastamentos dos colaboradores, os cobots utilizam menos energia elétrica para trabalhar e não poluem o ambiente de trabalho, reduzem significativamente o retrabalho, o desperdício e descarte de produtos, melhorando a eficiência e qualidade dependendo da aplicação.

Desafios

Também é bom lembrar que a implementação dos cobots na paletização envolve alguns desafios. Por exemplo, a integração eficiente nos processos produtivos existentes e a adaptação à variabilidade das operações. “Muitas empresas ainda possuem sistemas tradicionais e a transição para uma automação mais flexível pode ser complexa”, aponta Covi, da ABB Robótica.

Para superar esses desafios, aconselha ele, é fundamental investir em uma análise detalhada do fluxo de trabalho para garantir que o cobot seja configurado adequadamente e atenda às necessidades específicas de cada operação.

A capacitação da equipe é outro ponto crucial. Operadores e técnicos precisam estar bem treinados para trabalhar com os cobots, permitindo ajustes e programações conforme necessário.

Também há a questão do custo-benefício, como lembra Egreja, da Dassault Systèmes. “Um dos principais desafios enfrentados pela indústria nacional, e que impede uma adoção maior de robôs nos processos, seria a questão do custo-benefício da mão de obra. Com a desvalorização destes serviços e o cálculo de retorno sobre o investimento da maioria das empresas considerando basicamente o retorno financeiro, em vista da redução de mão de obra, torna-se difícil justificar em números este tipo de investimento.”

Há certas transformações que ainda precisam acontecer para impulsionar a indústria brasileira, por exemplo, a consideração de outros aspectos na tomada de decisão pela robotização de determinados processos, como: o impacto de questões ESG, os prejuízos à saúde no trabalho gerados por problemas ergonômicos que podem acontecer em diversos processos manuais, os ganhos de produtividade e redução de erros etc., completa Egreja.

Também em relação a estes desafios, Pineda, da Universal Robots, ainda vê a questão de risco percebido pelo empresariado em relação a um investimento que tem mais de dois anos de tempo de payback. “Eu acho que esse é o maior paradigma que ainda está em discussão. O que a gente vê em outros países, como Chile e México, é que, apesar de terem um nível de custo de mão de obra similar ao do Brasil, existe uma outra componente que é uma potencial falta de mão de obra para manter aquela linha produzindo. Já se nota uma dificuldade de contratação de mão de obra nesses países maior do que a gente vê aqui no Brasil.”

Ter a linha parada por falta de mão de obra pode custar muito mais caro do que efetivamente um investimento para manter aquela linha rodando com uma paletização robotizada no final de linha. “Então, olhando os dados da ONU e as projeções de idade média da população em idade de trabalho, o que podemos estimar é que esse movimento deve acontecer aqui no Brasil, principalmente com a melhora da atividade econômica e a redução do desemprego, essa situação acabe sendo mais latente.”

Por outro lado, Borsato, da Yaskawa Motoman, coloca que a curva de aprendizado e aplicação dos cobots e dos robôs industriais é relativamente pequena. “Hoje, um dos principais desafios está relacionado aos juros (custo do financiamento das linhas de automações industriais), diminuindo o ritmo de crescimento e a competitividade da nossa indústria, pois, a robotização está diretamente conectada ao aumento produtivo, rendimento e qualidade. Outro ponto importante a destacar são os cursos técnicos e engenharias em Mecatrônica, precisamos de um incentivo maior nesse segmento.”

Competitividade

Como já destacado, a utilização dos cobots torna a empresa mais competitiva, melhorando a produtividade e a qualidade e diminuindo o custo final do produto. “De um modo geral, uma empresa com muitos sistemas robotizados será competitiva local e globalmente. Podemos observar o crescimento na robotização na China, onde os produtos já estavam com um custo competitivo. Hoje, a China é líder em consumo e aplicação de robôs em números absolutos, demonstrando claramente que esse é o caminho para a competitividade global”, diz Borsato, da Yaskawa Motoman. E Egreja, da Dassault Systèmes, acrescenta: em relação ao mercado global, do ponto de vista de robotização, as estatísticas mundiais mostram que o Brasil ainda ocupa uma posição bem distante em relação a países mais industrializados, como a China, por exemplo. “Há uma lacuna de tecnologia que o Brasil precisa superar, e já possuímos internamente produtos e técnicos competentes para programar e operar todos os tipos de processos. A adoção de robôs nos processos de produção é um dos fatores que garantirá a constância e qualidade, aumentando consequentemente a competitividade da indústria brasileira frente a outros mercados mais desenvolvidos.”

Pineda, da Universal Robots, também coloca que a nível América Latina, olhando para México e Chile, a velocidade de adoção de robótica tem sido muito mais alta do que no Brasil. As empresas, a partir do momento que fazem o investimento em automação e conseguem elevar o nível de produtividade das suas respectivas linhas, passam a ter um produto cada vez mais competitivo. “Outro parâmetro importante que a gente deve olhar é que a China, hoje, consome mais da metade dos robôs do mundo e tem tido uma progressão acelerada na quantidade de robôs instalados por ano. Então, se olharmos o último relatório da IFR (International Federation of Robotics), enquanto o Brasil instalou menos de 2 mil robôs em um ano, a China instalou mais de 250 mil robôs no mesmo ano.”

Previsões

Ainda segundo Pineda, de acordo com o relatório da IFR, a previsão é que a adoção de robôs no mundo inteiro siga crescendo a uma velocidade de pelo menos 7% ao ano pelos próximos anos.

O fato é que as previsões indicam um crescimento significativo no uso de cobots na paletização, impulsionado pela necessidade de automação flexível e pela pressão para aumentar a eficiência operacional. Globalmente, espera-se que o mercado de cobots continue a expandir, com inovações como cobots mais inteligentes, que utilizam IA para melhorar a precisão e adaptabilidade, e cobots modulares que podem ser facilmente reconfigurados para diferentes tarefas. “No Brasil, o crescimento deve ser acelerado à medida que mais empresas reconhecem os benefícios econômicos e operacionais dos cobots, com setores como logística, alimentos e bebidas liderando a adoção”, acredita Covi, da ABB Robótica.

Com o uso de robôs mais integrados, a simulação do ecossistema da operação se torna essencial para localizar gargalos e acessar soluções possíveis. “Por exemplo, com a inovação dos gêmeos virtuais é possível analisar diferentes cenários envolvendo os aspectos do processo antes mesmo de precisar investir na compra do robô, utilizando dados para guiar uma tomada de decisão baseada em dados confiáveis, e que considera o cenário mais vantajoso para a empresa.”

Da mesma forma – continua Egreja, da Dassault Systèmes –, a programação coordenada de diferentes tipos e marcas de robôs será importante para mesclar a aplicação de diferentes atividades e ciclos inteligentes. Além disso, a sincronização dos processos por meio de um único sistema integrado será um diferencial nas linhas de produção.

Participantes desta matéria

ABB Robótica & Automação Discreta – Como um dos principais fornecedores de robótica e automação de máquinas do mundo, oferece um portfólio abrangente e integrado que cobre robôs, robôs móveis autônomos e soluções de automação de máquinas.

Dassault Systèmes – Disponibiliza ambientes virtuais e colaborativos para que negócios e pessoas imaginem inovações sustentáveis. Com sua plataforma 3DEXPERIENCE e aplicações para criar experiências de gêmeos virtuais do mundo real, os clientes podem redefinir seus processos de criação, produção e gerenciamento de ciclo de vida.

Universal Robots – Empresa dinamarquesa considerada líder na produção de braços robóticos industriais colaborativos.

Yaskawa Motoman Robótica do Brasil – Empresa do grupo Yaskawa Electric Corporation, considerada líder mundial na fabricação de robôs industriais.