Com cargas em baixa, armadores apostam em venda de contêineres

A queda de cargas no transporte marítimo com o Brasil levou os maiores armadores que atuam no país a apostar mais fortemente em um negócio periférico: a venda de contêineres usados. Uma forma de fazer dinheiro com a ociosidade das “caixas metálicas”.

A Maersk Line, maior armador do mundo, projeta dobrar as vendas no Brasil neste ano, saindo de duas mil unidades em 2015 para quatro mil, com previsão de receita entre US$ 5,5 milhões e US$ 6 milhões. A meta é que as vendas no país atinjam 10% da receita global do armador com o negócio. No mundo, a companhia deve vender 60 mil contêineres em 2016.

A Aliança Navegação, do grupo Hamburg Süd, líder nos tráfegos marítimos com o Brasil, criou em 2014 um departamento no país dedicado à comercialização de contêineres usados. A divisão cuida também da nacionalização dos equipamentos.

No ano passado a Aliança vendeu 1.300 unidades no Brasil, um negócio com receita de R$ 5 milhões. Foi o equivalente a pouco mais de 10% das 10 mil unidades que comercializou no mundo no em 2015. Em agosto começou a comercializar unidades no Uruguai e em setembro, no Paraguai.

Segundo Rune Sorensen, diretor-geral de vendas de contêineres na Maersk Line, ao longo de mais de 30 anos a compra de contêineres usados se destinava principalmente ao mercado de reforma para recolocá-los no transporte marítimo. Porém, mais recentemente eles estão sendo usados para outras finalidades.

“É uma oportunidade para vários segmentos, como o de construção, pois o contêiner é barato e um equipamento forte”, diz, destacando que a comercialização é um mercado que cresce apesar da desaceleração econômica.
“Vemos oportunidades na América Latina, em particular no Brasil e no México. Existe uma grande demanda na América Latina que não tem sido preenchida”.

José Roberto Salgado, diretor-executivo de logística na Hamburg Süd e Aliança na Costa Leste da América do Sul, afirma que a venda sempre existiu, mas que a crise brasileira estimulou e o negócio deslanchou, pois tinha muito contêiner parado.

Contudo, pondera, o aumento das exportações com a valorização do dólar vai fazer com que os armadores usem os contêineres antes ociosos para a atividade-fim: o transporte de cargas. Além disso, a escalada da moeda estrangeira pode inibir as compras, já que o contêiner é negociado em dólar. “A venda não vai crescer como vinha acontecendo”, avalia Salgado.

Ainda assim, diz o executivo, é um nicho de mercado que tende a ganhar espaço devido aos benefícios que traz.
Como o contêiner é projetado para aguentar esforços grandes no transporte interoceânico, consegue, por exemplo, suportar mais de 30 toneladas de carga, torção, vento e chuva. “A Austrália tem uma população muito menor que a do Brasil e lá a gente vende cinco vezes mais do que aqui. Até o Chile compra mais que nós, principalmente para usar na construção civil e habitacional. É uma forma rápida de fazer residência”, diz.

O negócio tem potencial nos dois lados: numa ponta, o armador incrementa suas margens quando sobra contêiner; noutra, a reutilização de contêineres para diversas finalidades ganha fôlego e se profissionaliza.

A Realreefer, com sede em Santos (SP), se especializou na locação principalmente de contêineres refrigerados, ideal para empresas que precisam armazenar produtos perecíveis. Há 13 anos no mercado, cresceu bastante em 2014, alugando contêineres para os estádios que receberam jogos da Copa armazenarem bebidas e alimentos. Naquele ano, a empresa firmou uma parceria com a Maersk Line, de quem compra a maior parte dos equipamentos.

A empresa remanufatura o equipamento para colocá-lo de volta no mercado. Hoje tem alugados 650 contêineres “reefers”, com tomada para controle de temperatura, e outros 450 “secos”. O faturamento da Realreefer cresce de 15% a 20% ao ano – 2015 foi o pior exercício, cresceu 12%. “Faturamos R$ 10,2 milhões”, diz Evaristo Garcia, gerente comercial da Realreefer.

Fonte: Valor Econômico