Com futuro promissor, impulsionado por avanços tecnológicos, logística colaborativa também atende os ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são ferramentas importantes para orientar ações e investimentos globais em direção a um futuro mais sustentável. E a logística colaborativa contribui tanto para o ODS 12, quanto para o ODS 17.

A logística colaborativa é uma estratégia que visa promover a cooperação entre os diversos atores do processo logístico com o intuito de otimizar a gestão da cadeia de suprimentos.

Neste sentido, ela busca não apenas reduzir os custos e melhorar os prazos de entrega, como também aumentar a eficiência e a qualidade do serviço ao cliente, além de reduzir o impacto ambiental.

“A colaboração estreita entre fornecedores, fabricantes, transportadoras, distribuidores, varejistas e clientes permite maximizar os benefícios para todos os envolvidos no processo logístico. Isto é, implica na maneira como se pensa e gerencia a cadeia de suprimentos, em prol da otimização do planejamento da produção, transporte e distribuição dos produtos. Em resumo, quando compartilhados os recursos e conhecimentos, se torna possível minimizar os gastos com transporte, armazenamento e distribuição”, ensina Alvaro Loyola, Country Manager da Drivin Brasil.

Ao adotarem a logística colaborativa, as empresas podem reduzir custos por meio da consolidação de cargas, otimização de rotas e compartilhamento de infraestrutura. Além disso, a logística colaborativa pode ajudar a melhorar a experiência do cliente, pois permite que as empresas respondam mais rapidamente às mudanças na demanda e garantam a pontualidade, acrescenta Lacordaire Sant’Ana, diretor de Tecnologia, Projetos e ESG da Ativa Logística.

Também como lembra Ana Paula Miranda, diretora de Sustentabilidade e Futuro do Grupo Emtel, ao promover a integração dos processos logísticos, a logística colaborativa permite que as empresas compartilhem recursos como armazéns, veículos de transporte e, até mesmo, informações. Essa colaboração não só reduz os custos operacionais diretos, como custo do combustível e manutenção, como também otimiza as rotas e a capacidade dos veículos, diminuindo o número de viagens necessárias. “O resultado é uma cadeia de suprimentos mais ágil e eficiente, com menores gastos e uma maior competitividade no mercado”, diz.

Porém, como ressalta Edson Grandisoli, embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, a otimização do uso dos recursos como veículos, Centros de Distribuição e armazéns, embora gere uma redução de custos e mais eficiência em diferentes processos, implica também no compartilhamento dos riscos e responsabilidades, reduzindo as incertezas e volatilidades típicas do mercado. “Colaborar, nesse caso, também reflete no ambiente por meio da redução de emissões de gases de efeito estufa por meio da otimização de rotas, por exemplo, o que é bom para as pessoas e para gerar economia em longo prazo.”

Javiera Lyon, Country Manager Brasil e Chief of Staff na SimpliRoute, também destaca que, ao permitir que empresas otimizem o uso de seus veículos, armazéns e Centros de Distribuição, ao invés de operar com ociosidade, a logística colaborativa possibilita que, se algo está sendo subutilizado, seja compartilhado para diminuir a necessidade de ativos e recursos adicionais e, consequentemente, os custos fixos e variáveis da operação logística.

Um exemplo prático é o compartilhamento de veículos entre empresas que operam em regiões próximas. Ao otimizar as rotas de entrega, é possível reduzir significativamente o número de veículos em circulação e os custos com combustível. Além disso, essa prática também tem um grande potencial de reduzir o desgaste dos veículos e horas de trabalho, e reduzem o impacto ambiental.

Falar de logística colaborativa, na opinião de Luís Marques, CEO Brasil & Argentina da DB Schenker, implica abrir as cadeias de abastecimento a quem melhor sabe cuidar delas: os Operadores Logísticos, que têm a expertise na gestão de transporte e armazenagem, integração de sistemas, otimização de rotas e processos de logística reversa.

“A prática pode ajudar a reduzir os custos logísticos pelo compartilhamento de recursos (veículos, armazéns, equipamentos); otimização de rotas por meio do uso de tecnologias, como sistemas de gestão de transporte e inteligência artificial, para redução do consumo de combustível e do tempo de entrega; economia de escala,  com a realização de pedidos em conjunto e negociação com fornecedores, para obtenção de melhores preços e condições de pagamento; aprimoramento da gestão de estoques, evitando perdas e reduzindo os custos associados à armazenagem, além de melhoria da eficiência operacional com a troca de melhores práticas e inovações entre as empresas”, completa Marques.

Desafios

Como pode ser notado, do ponto de vista econômico e ambiental, a logística colaborativa é a melhor resposta aos desafios cada vez maiores de limitação de infraestruturas, capacidade de transporte e emissões de gases de efeito de estufa. No entanto, enfrenta desafios relacionados aos aspetos culturais, de regulamentação, falta de tecnologia integradora de diversos sistemas e estrangulamento ou ausência de infraestruturas logísticas.

Hoje, de acordo com o CEO Brasil & Argentina da DB Schenker, apesar de toda a tecnologia empregada, ainda é normal contêineres, caminhões e aviões realizarem viagens com capacidade ociosa. Muitas vezes, é consequência do desbalanceamento entre a oferta e a demanda, embora existam casos em que isso ocorra porque os operadores econômicos não abrem as suas cadeias de abastecimento para outros operadores, que se colaborassem poderiam otimizar essa capacidade. São questões culturais que limitam uma maior colaboração das empresas na otimização de seus fluxos logísticos.

Também na opinião de Sant’Ana, da Ativa Logística, entre os principais desafios enfrentados pelas empresas ao adotar a logística colaborativa no Brasil está a falta de cultura colaborativa. Segundo ele, as empresas brasileiras ainda não estão acostumadas a trabalhar em conjunto com outras para otimizar a logística. Mas, ainda há outros desafios: ausência de infraestrutura adequada – a infraestrutura logística brasileira ainda é deficiente, o que pode dificultar a colaboração entre as empresas; o alto custo da logística, o que pode desincentivar as empresas a colaborarem entre si; e falta de segurança jurídica, o que pode dificultar a colaboração entre as empresas.

“Acredito que um dos principais desafios está em incentivar uma cultura de colaboração e, com isso, estabelecer os incentivos adequados para promover a cooperação entre os diversos participantes da cadeia de suprimentos. Implementar uma estratégia de logística colaborativa demanda uma cultura de colaboração entre os diversos participantes da cadeia de suprimentos. Isso envolve estabelecer relações de confiança e acordos transparentes e equitativos para a troca de informações e recursos”, também esclarece Loyola, da Drivin Brasil.

Como observado, a logística colaborativa representa um avanço significativo nas operações empresariais, mas sua implementação no Brasil enfrenta desafios complexos também na visão de Ana Paula, do Grupo Emtel, como a já subentendida resistência à mudança cultural, especialmente em um mercado onde a competitividade é acirrada e pode dificultar a criação de uma confiança mútua necessária entre os parceiros. Além disso, a fragmentação da infraestrutura tecnológica e a complexidade regulatória do país agravam as dificuldades, exigindo das empresas uma abordagem estratégica robusta para garantir que as operações fluam com segurança e eficiência.

“Buscar caminhos para a implantação de uma logística colaborativa é sempre uma tarefa complexa, uma vez que as empresas tendem a ter operações bem específicas e muito relacionadas às suas necessidades e atuação no mercado. Pensando em empresas que atuam de forma semelhante, é comum existir uma barreira cultural e organizacional de trabalhar em parceria com um concorrente e ser obrigado, muitas vezes, a compartilhar informações sensíveis e estratégicas. Existe também os desafios ligados à divisão de custos e benefícios, bem como limitações tecnológicas quando se pensa em integração de processos. A mudança de mentalidade para uma mais colaborativa pode ser positiva, e mesmo lucrativa, para todas as partes envolvidas, mas isso nem sempre é simples na hora de negociar”, complementa Grandisoli, do Movimento Circular.

Também na visão de Javiera, da SimpliRoute, para implementar uma logística colaborativa é preciso fazer com que, em alguma medida, as empresas troquem informações entre si de forma eficiente. Isso deve envolver a adoção de novas tecnologias e investimento em integrações. “É um ponto especialmente importante porque ambas as empresas vão ter que lidar com informações sensíveis uma da outra – como estratégias comerciais –, além, claro, de dados pessoais dos clientes.”

Flexibilidade e investimento em todas as partes envolvidas são os desafios apontados por Eduardo Ghelere, diretor Executivo da Ghelere Transportes. “Para a logística colaborativa funcionar plenamente é isso que as empresas precisam adotar. Porém, os desafios variam de acordo com a maturidade logística de quem a opera. Ao mesmo tempo em que os clientes buscam o lucro, por outro lado, nós transportadoras, precisamos garantir a sustentabilidade do negócio, e inovação e segurança dependem da lucratividade. Vejo que a logística colaborativa é frequentemente considerada apenas uma forma de reduzir custos, mas se o foco for exclusivamente os custos, não funcionará adequadamente.”

Compartilhamento de transporte

Ao compartilhar recursos de transporte, as empresas podem otimizar rotas, reduzir custos e aumentar a eficiência. Isso pode levar a uma redução nas emissões de gases de efeito estufa, pois menos veículos são necessários.

Além disso – continua Sant’Ana, da Ativa Logística, se referindo a de que forma o compartilhamento de transporte de mercadorias entre empresas pode impactar a produtividade e a sustentabilidade no setor logístico –, pode ajudar a reduzir o congestionamento nas estradas. Isso pode levar a uma melhor qualidade do ar, a uma redução no tempo de viagem para as pessoas e para as empresas, a preços mais baixos para os consumidores e a um aumento na demanda por produtos e serviços.

Os impactos na produtividade são relativos à eficiência operacional, redução de custos, melhor planejamento logístico para maior flexibilidade na hora de se adaptar às demandas dos clientes, agora na visão de Marques, da DB Schenker. “Mas os benefícios da logística colaborativa não se restringem aos aspectos econômicos. O meio ambiente também agradece quando há melhor aproveitamento da capacidade logística e menor circulação dos meios de transporte, que se reflete diretamente na redução do consumo de combustível e, consequentemente, queda na emissão de gases de efeito estufa. Isso sem falar na redução do tráfego urbano e dos congestionamentos, que impactam a qualidade de vida.”

Eduardo, da Ghelere Transportes, também destaca que o compartilhamento de transporte traz diversos benefícios, seja para a empresa, seja para a sociedade. Além de reduzir custos, também traz mais segurança para a operação. Com veículos mais dedicados e motoristas que conhecem bem o produto e o trajeto, há uma redução nas emissões, o que é altamente positivo.

“O compartilhamento de transporte é uma prática central na logística colaborativa, que melhora significativamente a produtividade ao maximizar a utilização dos veículos e reduzir o tempo ocioso. Isso não apenas aumenta a eficiência das operações, como também promove a sustentabilidade, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis, consequentemente, as emissões de gases de efeito estufa. Ao utilizar de forma otimizada os recursos disponíveis, as empresas podem avançar rumo a operações mais sustentáveis e responsáveis ambientalmente”, também explica Ana Paula, do Grupo Emtel.

E Javiera, da SimpliRoute, completa esta questão também destacando que compartilhar o transporte de mercadorias é fundamental para aumentar as taxas de ocupação dos veículos. A consolidação de cargas de diferentes empresas em um mesmo veículo minimiza o número de viagens com cargas parciais e a quilometragem percorrida para um mesmo número de entregas. Consequentemente, isso também reduz as emissões de gases de efeito estufa.

Benefícios econômicos e ambientais

Como pode ser notado, otimizar a capacidade dos veículos significa transportar mais carga por viagem. Consequentemente, realiza-se menos viagens, o que resulta em eficiência operacional e logística, além de menor queima de combustível. “Todo mundo sai ganhando: o meio ambiente, que recebe menos poluentes, e as empresas, que conseguem melhorar a competitividade”, aponta Marques, da DB Schenker, quanto aos benefícios econômicos e ambientais de otimizar a capacidade dos veículos e reduzir o número de viagens necessárias. “Além disso, a especialização, como o uso de carretas específicas para determinadas mercadorias de ida e volta, permite transportar mais quantidade ou peso. O Brasil, sendo um país diverso, oferece infinitas oportunidades de melhoria”, acrescenta Eduardo, da Ghelere Transportes.

A logística é reconhecida como uma das indústrias mais poluentes do mundo, representando 20% das emissões globais de CO2, e a logística colaborativa oferece benefícios tangíveis, tanto para as organizações como para o meio ambiente e, prioritariamente, uma abordagem abrangente para enfrentar os desafios climáticos atuais.

“Lembrando que a gestão sustentável de frotas vai além da simples redução das emissões de CO2 pelos veículos. Envolve também a implementação de um sistema de frotas mais eficiente, com menor consumo de combustível, óleo, pneus, entre outros recursos. Gerenciar a frota de forma sustentável é crucial para a redução de custos e, sobretudo, para garantir a competitividade das empresas. Inclusive, rastrear as melhorias na redução de carbono e medir os indicadores-chave de desempenho (KPIs) traz uma diferença significativa na saúde financeira da frota”, diz Loyola, da Drivin Brasil.

Sant’Ana, da Ativa Logística, também lista os benefícios econômicos e ambientais de otimizar a capacidade dos veículos e reduzir o número de viagens necessárias: redução dos custos de transporte: otimizar a capacidade dos veículos pode ajudar a reduzir os custos de transporte, uma vez que menos viagens são necessárias para transportar a mesma quantidade de mercadorias. Isso pode levar a uma redução nos custos de combustível, manutenção e mão de obra; redução do congestionamento: otimizar a capacidade dos veículos e reduzir o número de viagens necessárias pode ajudar a reduzir o congestionamento, uma vez que menos veículos estão na estrada. Isso pode levar a uma redução no tempo de viagem, na poluição do ar e no estresse; e aumento da segurança, uma vez que menos veículos estão na estrada. Isso pode levar a uma redução no número de acidentes  e nas mortes no trânsito, bem como, na consolidação de tecnologias de GRI.

Além do já citado, Ana Paula, do Grupo Emtel, lembra que a diminuição do número de viagens necessárias reduz o desgaste da infraestrutura rodoviária e melhora a mobilidade urbana. Essa prática fortalece a competitividade das empresas, ao mesmo tempo em que alinha suas operações com os princípios da sustentabilidade.

“Os ganhos podem ser utilizados para otimizar ainda mais as operações por meio de tecnologias verdes e mais eficientes, como os veículos elétricos, por exemplo”, argumenta Grandisoli, do Movimento Circular.

Armazéns compartilhados

A utilização de armazéns compartilhados também pode contribuir significativamente para a redução de custos operacionais e proporcionar maior flexibilidade na gestão de estoques.

Esses armazéns permitem que várias empresas compartilhem o mesmo espaço de armazenamento, reduzindo os custos de aluguel ou compra de instalações próprias. Além disso, os armazéns compartilhados oferecem serviços de gestão de estoque, picking and packing e expedição, o que pode reduzir os custos trabalhistas e aumentar a eficiência operacional.

Por fim, os armazéns compartilhados podem fornecer maior flexibilidade na gestão de estoques, pois permitem que as empresas ajustem o espaço de acordo com as necessidades sazonais ou flutuações de demanda, diz Sant’Ana, da Ativa Logística.

“O compartilhamento de armazéns resulta em um menor custo operacional, seja através da utilização dos recursos na exata medida em que eles se fazem necessários – espaço, equipamentos de manuseio, pessoas, etc. –, seja porque permite maior flexibilidade e gestão de estoques, reduzindo também o custo do capital empregado”, diz Marques, da DB Schenker.

De um modo geral, os armazéns podem ser comparados a empresas de transporte ou prestadores de serviço especializados. Um terceirizado especialista tende a ser mais eficiente do que uma empresa que não atua em seu ramo. “Se você fabrica pão, não faz sentido ser dono do moinho, pois o moinho tende a ser mais eficiente como uma atividade isolada. O mesmo vale para muitos outros casos. Horizontalizar os negócios geralmente os torna menos eficientes. Um armazém especializado em cargas refrigeradas, por exemplo, já possui protocolos e cuidados específicos, e o tamanho e volume da operação o tornam mais barato e eficiente. É importante lembrar que o Brasil é gigante e cada produto e região tem suas particularidades. De forma simplificada, aposto na terceirização dos processos produtivos, como o Fulfillment”, argumenta, agora, Eduardo, da Ghelere Transportes.

Também para Ana Paula, do Grupo Emtel, essa prática proporciona maior flexibilidade na gestão de estoques, permitindo ajustes rápidos conforme as demandas do mercado, sem a necessidade de investimentos significativos em infraestrutura própria. Assim, as empresas podem escalar suas operações de maneira eficiente, mantendo a agilidade necessária para responder às mudanças no ambiente de negócios. “Da mesma forma que os custos fixos caem, o uso compartilhado pode facilitar o ganho de escala e o acesso a novos mercados com menores riscos envolvidos e a necessidade de criação de uma nova infraestrutura. Isso resulta em uma cadeia de suprimentos mais ágil, resiliente e competitiva, com custos reduzidos e melhor atendimento ao cliente e expansão geográfica a novos mercados”, acrescenta Grandisoli, do Movimento Circular.

Há, ainda uma outra questão apontada por Javiera, da SimpliRoute: sem precisar arcar com toda a infraestrutura sozinha, as empresas podem escolher pontos mais estratégicos para o negócio, facilitando o acesso a diferentes mercados e reduzindo os custos com transporte.

Tecnologias

É essencial contar com sistemas de informação e tecnologias que facilitem a gestão e a troca de informações entre os diferentes atores da cadeia de suprimentos. Esses sistemas devem ser capazes de integrar dados de diferentes sistemas de gestão e fornecer informações em tempo real sobre a demanda, o estoque, o planejamento e o transporte.

“O Sistema de Gestão de Transporte, conhecido como TMS, é uma ferramenta tecnológica que pode ser extremamente útil para implementar e gerenciar uma estratégia de logística colaborativa na cadeia de suprimentos, uma vez que ele possibilita a otimização do planejamento e da gestão do transporte, resultando em uma redução de custos e em uma maior eficiência”, comenta Loyola, da Drivin Brasil, falando das tecnologias que são essenciais para a implementação eficiente da logística colaborativa, e como as empresas podem compartilhar esses investimentos.

“Para que a logística colaborativa seja implementada com sucesso é fundamental o uso de tecnologias avançadas e integradas, como sistemas de gestão de transporte (TMS), plataformas de compartilhamento de informações em tempo real e ferramentas de análise de dados. Essas soluções permitem uma coordenação precisa das operações e uma visibilidade completa da cadeia de suprimentos. Empresas podem compartilhar os investimentos em tecnologia por meio de parcerias, consórcios ou utilizando modelos de negócios já existentes, onde os custos são distribuídos de forma proporcional entre os participantes”, diz, agora, Ana Paula, do Grupo Emtel.

Na verdade, como ressalta Grandisoli, do Movimento Circular, a implementação eficiente depende de diferentes tecnologias que permitem a integração, comunicação e coordenação entre as empresas parceiras. Ele destaca que tudo tem que ser pensado e considerado de acordo com os objetivos específicos da empresa em curto, médio e longo prazo, avaliando sempre muito bem custos e benefícios dessa implantação. Essas tecnologias são essenciais para otimizar processos, melhorar a visibilidade da cadeia de suprimentos e garantir o sucesso da colaboração. Entre elas, o e coordenador pedagógico cita Sistemas de Integração de Transportes (TMS), Gerenciamento de Armazém (WMS), Internet das Coisas (IoT) e, até mesmo, tecnologias de análise de Big Data e Inteligência Artificial (IA).

Javiera, da SimpliRoute, lembra que as tecnologias envolvidas podem variar muito de acordo com o nível de compartilhamento entre as empresas. Num cenário onde empresas compartilham apenas o espaço físico de um armazém, por exemplo, um bom WMS e sistemas de controle de acesso podem ser suficientes. “Porém, para um nível de colaboração mais profundo, com compartilhamento de rotas e de estoque, é necessário investir em plataformas mais robustas como TMS, roteirizador e, como já foi dito, se preocupar com a integração entre esses sistemas.

Sant’Ana, da Ativa Logística, também lista as tecnologias: TMS e WMS, sistemas de roteirização e automação operacional (Sorter). “Para compartilhar os investimentos nessas tecnologias, as empresas podem adotar uma abordagem de compartilhamento de custos ou formar parcerias estratégicas. No compartilhamento de custos, as empresas dividem os investimentos e manutenção das tecnologias, enquanto nas parcerias estratégicas as empresas trabalham juntas para desenvolver e implementar soluções tecnológicas personalizadas.”

Eduardo, da Ghelere Transportes, avalia esta questão de forma diferenciada. Os investimentos em tecnologia normalmente já foram feitos pelas empresas, restando apenas a escolha da tecnologia adequada. “Empresas de transporte de médio e grande porte já possuem um ERP com transferência de arquivos via EDI, além de veículos com rastreamento. O maior investimento necessário é o tempo para ajustar a operação, pois sempre será preciso flexibilidade para alcançar um bom resultado para todos.”

Integração de sistemas

Ao compartilhar dados e informações em tempo real, as empresas podem ter uma visão mais clara e atualizada do fluxo de mercadorias, estoque, transporte e outros aspectos da cadeia de suprimentos. Isso permite que elas tomem decisões mais informadas e ágeis, reduzindo custos, melhorando a eficiência e aumentando a satisfação do cliente. Além disso, a integração de sistemas pode facilitar a colaboração entre parceiros logísticos, permitindo que eles otimizem conjuntamente suas operações e respondam rapidamente a mudanças na demanda ou interrupções na cadeia de suprimentos.

Ainda segundo Sant’Ana, da Ativa Logística, esta integração pode melhorar a visibilidade da cadeia de suprimentos e a tomada de decisões em função das seguintes questões: agilidade no acesso à informação; transparência e rastreabilidade em todos os processos; gestão em tempo real; e redução de custos operacionais.

“A integração de sistemas proporciona visibilidade em tempo real, o que significa monitoramento contínuo de cada etapa do processo logístico, permitindo a identificação rápida de problemas para a tomada de decisões. A integração facilita, ainda, a automatização dos processos, como o processamento de pedidos e a emissão de documentos, reduzindo o tempo e o custo das operações manuais. Quando todos os parceiros têm acesso às mesmas informações, fica mais fácil sincronizar as operações, como agendamento de entregas, gestão de inventário e alocação de recursos”, diz Marques, da DB Schenker.

Quanto mais informações forem extraídas, maiores serão os insights sobre a operação, como tempo de trânsito, descanso, pontos de parada mais seguros, entre outros. Sempre que se coloca uma lupa na operação, surgem pontos de melhoria, completa Eduardo, da Ghelere Transportes.

Apesar de complexa e, muitas vezes, depender de um substancial investimento inicial, a integração da informação é ponto fundamental para o sucesso da colaboração, também acredita Grandisoli, do Movimento Circular. Segundo o coordenador pedagógico, essa integração não apenas otimiza as operações diárias, como também fortalece a capacidade das empresas de inovar e se adaptar em um ambiente de negócios em constante mudança.

“Vale destacar, também, que com acesso aos dados sempre atualizados, os gestores podem tomar decisões mais estratégicas e certeiras, ao invés de trabalhar com hipóteses”, diz Javiera, da SimpliRoute.

ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são ferramentas importantes para orientar ações e investimentos globais em direção a um futuro mais sustentável. Focado na promoção de recursos e eficiência energética, gestão sustentável e uso eficiente dos recursos naturais, o ODS 12 conversa diretamente com a logística colaborativa, uma vez que, ao promover o compartilhamento de recursos, como veículos, armazéns e equipamentos, a prática estimula a responsabilidade socioambiental –, afinal, com menos caminhões em circulação nas estradas, a poluição atmosférica diminui.

A logística colaborativa também contribui com o ODS 17, referente a Parcerias e Meios de Implementação, ao fortalecer a colaboração entre as empresas para adoção de práticas sustentáveis, que têm como objetivo a otimização de recursos para a redução de desperdício e emissão de poluentes. “A DB Schenker Brasil, inclusive, calcula as suas emissões, todos os anos, a fim de neutralizar o impacto direto de suas operações”, explica Marques.

As metas dos ODS 12 (Consumo e produção sustentáveis) e 17 (Parcerias e meio de implementação) dialogam diretamente com os processos de colaboração logística entre setores, também pondera Grandisoli, do Movimento Circular.

Elas promovem efetivamente práticas de consumo e produção mais sustentáveis ao otimizarem o uso de recursos e reduzirem o desperdício, ao mesmo tempo que demonstram o poder das parcerias. Dessa forma, ao adotar a logística colaborativa, as empresas não apenas melhoram sua eficiência e competitividade, mas também contribuem de maneira significativa para um futuro mais sustentável e equitativo.

Vale destacar a importância dessas iniciativas também para o ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima), uma vez que mitigam as emissões de gases de efeito estufa, como já destacado diversas vezes.

Sant’Ana, da Ativa Logística, também se propõe a explicar. “Por meio da otimização de rotas e cargas, a logística colaborativa reduz emissões de gases de efeito estufa, diminui o desperdício e promove a eficiência energética, alinhando-se com o ODS 12. Além disso, ao fomentar a cooperação e o compartilhamento de infraestrutura entre empresas, a logística colaborativa fortalece as parcerias e alianças para o desenvolvimento sustentável, conforme preconizado pelo ODS 17.”

Ana Paula, do Grupo Emtel, também dá destaque ao fato que, ao promover o uso eficiente dos recursos e a redução do desperdício, a logística colaborativa não só minimiza o impacto ambiental, mas também fortalece as alianças entre empresas, gerando soluções conjuntas que beneficiam tanto o meio ambiente quanto a sociedade.

“ODS 12: compartilhar um espaço tão grande como um armazém e reduzir o número de viagens necessárias contribui para um uso mais eficiente de recursos, como combustível e energia. ODS 17: a logística colaborativa estimula a criação de parcerias entre empresas para o compartilhamento de melhores práticas, além de incentivar a criação de redes de fornecedores e clientes mais comprometidos com práticas mais sustentáveis”, observa Javiera, da SimpliRoute.

Perspectivas

O futuro da logística colaborativa no Brasil é promissor, impulsionado por avanços tecnológicos e uma crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade. À medida que as empresas buscam alternativas para enfrentar os desafios do setor, a colaboração se tornará cada vez mais essencial.

“A evolução desse modelo deverá incluir a incorporação de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, para melhorar a transparência, a eficiência e a segurança das operações. A regulamentação e o desenvolvimento de padrões específicos também serão fundamentais para que a logística colaborativa se consolide como uma prática padrão no mercado brasileiro, permitindo que as empresas naveguem com sucesso no complexo cenário logístico do país”, diz Ana Paula, do Grupo Emtel, sobre as perspectivas futuras para a logística colaborativa, e como ela pode evoluir para enfrentar os desafios.

Também para Sant’Ana, da Ativa Logística, as perspectivas são promissoras. Segundo ele, o país tem um grande potencial para se tornar um hub logístico regional, devido à sua localização estratégica e à sua infraestrutura logística relativamente desenvolvida. “A logística colaborativa pode ajudar o Brasil a enfrentar os desafios do setor logístico, como a redução dos custos, o aumento da eficiência e a melhoria da sustentabilidade. Para evoluir, ela precisa superar alguns desafios, como a falta de integração entre os diferentes players da cadeia logística, a resistência cultural à colaboração e a falta de incentivos governamentais.”

A evolução desse modelo pode transformar o setor logístico, tornando-o mais eficiente, ágil e sustentável – acredita Marques, da DB Schenker. Mas exige esforços conjuntos de empresas, governos e sociedade.

O primeiro passo é romper a barreira cultural. Se duas empresas concorrem no mesmo mercado ou área econômica, e por isso não querem compartilhar informações estratégicas, ou porque não aceitam alterar ligeiramente os seus fluxos, o melhor é optarem por Operadores Logísticos para realizar essa integração de modais. Desta forma, a logística colaborativa ocorreria afastando os receios do compartilhamento e da imposição de aspectos culturais das empresas.

“Vale ressaltar, ainda, que as associações profissionais têm palavra importante na promoção da logística colaborativa, principalmente potencializando a voz dos seus associados junto aos poderes políticos, o que pode fazer a diferença para canalizar os recursos necessários para a melhoria ou construção de infraestruturas fundamentais em logística, tais como: portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. O investimento nestas infraestruturas é facilmente multiplicado e distribuído pela sociedade, permitindo que o Brasil e as suas empresas sejam mais competitivas globalmente e possam agregar cada vez mais valor”, diz o CEO da DB Schenker.

Apontada como uma das soluções mais eficientes para otimizar os processos da cadeia de suprimentos, a logística colaborativa também é uma tendência promissora para os próximos anos na opinião de Loyola, da Drivin Brasil. “Embora esteja em estágio inicial no Brasil, a logística colaborativa tem conquistado espaço à medida que embarcadores, Operadores Logísticos e transportadores compreendem seus benefícios e encaram a cooperação como alternativa para gerenciar ativos e, principalmente, reduzir desperdícios ou custos. Hoje, a logística colaborativa brasileira ainda demanda conscientização da indústria, maturidade e integração de tecnologias, além de melhoria na infraestrutura e alinhamento às regulamentações, diz o Country Manager da Drivin Brasil.

Eduardo, da Ghelere Transportes, por sua vez, diz que a logística colaborativa já está em andamento e, segundo ele, as empresas estão atentas a essa tendência, mas ainda é necessário mais maturidade e flexibilidade nas operações. No entanto, é um caminho que já está sendo trilhado e só tende a crescer. “A logística no Brasil é muito grande, e quando os grandes players aderem, o restante do mercado os segue.”

Deve-se garantir que a logística colaborativa no Brasil e no mundo tenha um futuro promissor, graças às vantagens que ela pode trazer dos pontos de vista socioeconômico e ambiental. É preciso criar uma nova cultura de colaboração entre as empresas que, juntas, podem superar seus desafios logísticos tradicionais, como altos custos e ineficiências, ao mesmo tempo em que contribuem para um desenvolvimento mais sustentável e resiliente. “Com investimentos, políticas públicas e novas tecnologias, a logística colaborativa poderá se tornar um diferencial competitivo importante, contribuindo para o crescimento econômico e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil”, destaca Grandisoli, do Movimento Circular.

A análise de Javiera, da SimpliRoute, não é muito diferente. Para ele, a logística colaborativa tem um grande potencial de crescimento no Brasil, mas requer uma mudança de mentalidade no mercado, onde a competição muitas vezes se sobressai à cooperação. Nesse sentido, novas plataformas digitais, desenvolvidas por startups, têm sido fundamentais para essa mudança, pois trazem abordagens inovadoras que muitas vezes são baseadas em modelos colaborativos desde o início. 

Ao propor novas ideias e soluções que dependem da colaboração, essas startups podem desafiar modelos de negócio tradicionais e criar um ambiente mais colaborativo. A partir daí, o desafio para o futuro é conectar as empresas de forma mais simples, facilitando a busca pelos parceiros ideais e as negociações.

Participantes da matéria

Ativa Logística – É considerada um dos maiores Operadores Logísticos para os segmentos de saúde, beleza e bem-estar e atende integralmente a todas as normas e resoluções da ANVISA para a armazenagem e o transporte de medicamentos.

DB Schenker – É uma divisão da operadora ferroviária alemã Deutsche Bahn que se concentra em logística. A empresa foi adquirida pela Deutsche Bahn como Schenker-Stinnes em 2002. Ela compreende as divisões de frete aéreo, terrestre, marítimo e logística de contratos.

Drivin – É uma scale-up e partner tecnológico que otimiza os processos logísticos de grandes players líderes de mercado em variados segmentos, com destaque aos bens de consumo.

Ghelere Transportes – Atuante no transporte rodoviário de cargas, tem larga experiência no segmento de bebidas em todo Brasil e Mercosul.

Grupo Emtel – Surgiu com os serviços de mudança residencial e entregas rápidas para construtoras e, com o passar dos anos, desenvolveu expertise em relação aos serviços de transporte, logística e locação de frotas.

Movimento Circular – É um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. Trata-se de uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. SimpliRoute – É uma empresa de tecnologia para logística. Oferece soluções personalizadas para otimização de rotas, redução de custos operacionais e melhoria da eficiência das operações logísticas, atendendo companhias de todos os portes.