O economista Antonio Luiz de Queiroz Silva assumiu na sexta-feira a presidência do Conselho Regional dos Economistas de São Paulo (Corecon-SP), em um cenário nebuloso econômica e financeiramente. Otimista, ele acredita que as crises são duas, a global e a nacional, e que o Brasil poderá contornar as dificuldades desde que se concentre nos problemas que de fato afetam o País. A seguir, os principais tópicos da entrevista que ele concedeu ao Diário do Comércio.
Muito se falou sobre os erros de previsão do economistas quando a crise explodiu. Qual é a responsabilidade desse profissional?
A crise financeira ocorreu por conta da desregulamentação do mercado, e nisso o economista não tem culpa, porque é um aspecto que envolve política, política de investimento e principalmente, regulamentação, que não existia nos bancos de investimentos norte-americanos.
Como o Corecon-SP vê a crise?
Nós vemos duas crises: a mundial e a brasileira. Eu acredito que será possível contornarmos as dificuldades se fizermos o dever de casa. No interior do estado, por exemplo, as pessoas não vivenciam a crise porque o cidadão do interior não trabalha com a economia virtual. Se não tem recurso para comprar, ele não compra. Isso se chama economia doméstica. Então, no momento em que a turbulência chegar aqui mais forte, se tivermos resolvido o problema doméstico, há uma chance de o Brasil não sofrer tanto.
Mas as demissões do mês de dezembro não mostram que a crise já chegou por aqui?
Eu tenho três hipóteses para essas demissões: as empresas já estavam com problemas, contrataram sazonalmente e depois demitiram; estão realmente sofrendo na pele porque dependem do comércio exterior; ou então, são extremamente conservadoras e querem se garantir na eventualidade de chegar a crise, demitindo antecipadamente. O caminho para contornar esse problema é fazer negociação com os sindicatos, por meio de redução da jornada e de benefícios, mas sem tirar o vínculo trabalhista. Há várias medidas para manter a economia doméstica andando, e a produção é a principal.
Então, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que as pessoas continuassem consumindo, ele estava certo?
A política do Obama (Barack Obama, presidente dos Estados Unidos) é justamente para estimular o consumo. Portanto, quando o presidente Lula pediu que as pessoas continuassem consumindo de forma responsável, ele estava correto, porque queria consertar as coisas dentro de casa, estimulando a produção. Justamente para evitar demissões.
O senhor acha que nós vamos vivenciar uma nova forma de capitalismo?
Eu não diria que vamos entrar em um novo capitalismo, mas em uma nova ordem econômica. Havia tanta certeza no mundo financeiro de que não ocorreria nada com o setor, que eles extrapolaram. Bolha da internet, fraudes contábeis e agora os subprime imobiliários: tudo faz parte da mesma ganância de criar riqueza sem criar produto. Acho que a partir de agora, tudo será mais fiscalizado, as transações de crédito serão muito mais vigiadas e dentro da realidade.
Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br
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