Em recuperação judicial, a Ecovix, dona do Estaleiro Rio Grande, no RS, obteve a autorização necessária para diversificar a atividade e ajudar o negócio a sobreviver. Com a crise da indústria naval após a deflagração da Operação Lava-Jato, o estaleiro está sem encomendas e inoperante. Na primeira sessão legislativa do ano, dia 2, a assembleia gaúcha aprovou projeto que autoriza a movimentação portuária de cargas no Polo Naval de Rio Grande.
Com isso, a Ecovix se prepara para usar a infraestrutura do estaleiro para exportar granéis sólidos de origem vegetal, notadamente cavaco de madeira. Carga que hoje o porto do Rio Grande deixa de aproveitar em toda sua potencialidade porque a infraestrutura está voltada ao escoamento de outras cadeias.
Se isso não resolve a situação da Ecovix, que pediu recuperação judicial em 2016 com mais de R$ 8 bilhões em dívidas listadas e é envolvida na Lava-Jato, ao menos deve a ajudar a empresa a gerar alguma receita enquanto não há novas encomendas de embarcação.
O estaleiro está dentro do porto, mas em área não operacional cedida pelo Estado do Rio Grande do Sul. Por isso, a Ecovix finaliza proposta de utilização da área para embarque e desembarque de carga a ser submetida à agência reguladora federal de portos (Antaq).
Caberá à agência definir, por exemplo, qual será o modelo de exploração — se um arrendamento de área pública ou um terminal de uso privado (TPU), regimes com obrigações e pagamento de tarifas diferentes. “Estamos neste momento estudando para apresentar a proposta à Antaq”, disse ao Valor o diretor de operações da Ecovix, Ricardo Ávila.
Uma vez obtida a liberação da Antaq, a Ecovix buscará parceiros dispostos a investir para transformar parte do empreendimento em terminal de cargas.
Preliminarmente, a operação demandará equipamento para carregamento de navios e esteiras transportadoras para granel sólido, um investimento entre “entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões”, diz Ávila. Isso porque o estaleiro já conta com estruturas que seriam mais caras para construir, como cais extenso e profundidade para receber navios graneleiros.
Se tudo der certo, a estimativa é que a operação comece ainda em 2019 e, no primeiro ano completo, o terminal movimente 1 milhão de toneladas, alcançando no prazo médio (de cinco a oito anos) até quatro milhões de toneladas, o equivalente a quase 10% do que o porto todo de Rio Grande movimentou em 2017.
Pelo plano de recuperação judicial, a Ecovix constituirá uma unidade produtiva isolada (UPI) que ficará com a estrutura do estaleiro e será vendida em leilão judicial previsto para ocorrer até agosto de 2020 – dois anos após a homologação do plano de recuperação judicial pela Justiça.
Segundo Ávila, a transformação de parte do estaleiro em terminal portuário de cargas permitirá agregar valor à venda.
Fonte: Valor