Embarcadores sinalizam os desafios na relação com os transportadores

Votantes do Prêmio Top do Transporte, entrevistados de vários segmentos contam que boa comunicação e informação em tempo real são fundamentais para garantir entregas no prazo e diminuir as intercorrências.

A tecnologia é imprescindível na atualidade, mas ela sozinha não basta. Não apenas a análise dos dados é fundamental, como também um item extremamente básico: a comunicação. No entanto, um dos maiores desafios na logística ainda é, justamente, o relacionamento entre embarcador e transportador.
A relação perde-ganha ainda perdura em um mercado tão competitivo, mas a solução – principalmente em tempos economicamente difíceis – está no ganha-ganha. Não adianta entrar em conflitos quando dependemos uns dos outros para permanecermos em atuação.
Esse assunto foi tratado na “Pesquisa Visão Gestão de Fretes Brasil 2018”, organizada pela GKO Informática em parceria com a RC Sollis, publicada em julho deste ano. Segundo ela, falta comunicação e integração entre embarcador e transportador. O estudo mostra, ainda, que os embarcadores estão cada vez mais especializados e exigentes, e que, para as transportadoras, além da diminuição da demanda, os desafios e os riscos aumentaram.
Nesta matéria especial, entrevistamos embarcadores de diversos segmentos, que são os votantes do Prêmio Top do Transporte, organizado pelas revistas Logweb e Frota&Cia. A premiação revela as melhores transportadoras de carga de acordo com os próprios clientes, como é possível conferir em outras matérias desta edição.
Para a maioria das empresas consultadas, o relacionamento com o transportador é bom, mais ainda pode melhorar. Segundo Cida Carreiro, coordenadora de operações da Agis Equipamentos e Serviços de Informática (Fone: 19 3756.4600), a relação embarcador x transportador deve ser a mais transparente possível. “Nos últimos anos, a Agis vem buscando consolidar cada vez mais os parceiros de transportes, exigindo transparência e agilidade na comunicação através de ferramentas e soluções logísticas que atendam a diversificação e as exigências do mercado de tecnologia. Isso é fundamental para alcançarmos o sucesso e a satisfação dos nossos clientes”, ressalta. Distribuidora de TI, a empresa oferece acessórios, soluções de áudio e vídeo, automação comercial, componentes, energia, impressão, networking, PCs, periféricos, segurança, servidores, sinalização digital e softwares.
Patrícia Carla da Silva Bernat, do departamento de vendas da Agro Industrial Catarinense – AIC Soluções Veterinárias (Fone: 49 3622.0090) – especializada em soluções diversificadas de higiene, beleza e tratamento veterinário – conta que a relação com as transportadoras melhorou bastante, pois as informações das cargas referentes a entregas estão mais claras e são repassadas em menor tempo. “Conseguimos atender melhor nossos clientes. Repassando prazos de entregas corretos, resolvemos problemas logísticos antes de haver reclamações. Com o sistema de rastreamento de cargas que algumas transportadoras disponibilizam, conseguimos acompanhar a carga desde o faturamento até a entrega do produto.”
Segundo Jaqueline Silvestri Buffon, assistente de logística de transportes – prospecção de transportadoras & gestão de custos de frete da Brinox Metalúrgica (Fone: 54 4009.7000), ser transparente em todas as fases do negócio é extremamente importante para que não haja surpresas no decorrer dos acontecimentos. “Clareza na negociação de uma tabela de frete, nos procedimentos que o transportador deverá ter para melhorar o atendimento do destinatário e nos processos internos da fábrica é o pontapé inicial para se ter uma boa e duradoura parceria.” O Grupo Brinox, detentor das marcas Brinox, Coza e Haus Concept, é um dos maiores fabricantes de utilidades domésticas do Brasil.
No cenário atual em que vivemos, no qual a concorrência no segmento de transporte é bastante acirrada, as transportadoras precisam apresentar um diferencial para sair na frente, assim como garantir parceria, confiabilidade, segurança, comprometimento e muita transparência. É o que acredita Fábio Souza das Neves, supervisor de logística da Daten Tecnologia (Fone: 73 3222.6200), fabricante de produtos de informática, como desktops, notebooks, all in one, tablets e mini PC.
“Parceiros de transportes que não se importam com esses simples requisitos, automaticamente ficam defasados. Acredito que a transparência ajuda os dois lados, tanto o transportador, quanto o embarcador, e o desempenho fica favorável para ambos”, complementa Fábio.
A Mahogany (Fone: 11 3686.6999) – fabricante de cosméticos de alto padrão, como fragrâncias, sabonetes, hidratantes, produtos para tratamento dos cabelos e do corpo e maquiagem – busca manter uma relação transparente com os transportadores, como conta Carlos de Souza Batista, supervisor de logística. “Explicamos nossas necessidades e particularidades e exigimos perfeição. Consideramos a integração e a comunicação extremamente importantes nessa parceria, visando sempre a melhoria de processos. O nosso objetivo, como o de todos os embarcadores, é a pontualidade nas entregas com sinistros escassos”, salienta.
Várias empresas revelam que a sua relação com as transportadoras parceiras é boa e transparente. Uma delas é a Cia Canoinhas de Papel (Fone: 47 3621.7000), que oferece as linhas de papéis higiênicos Fofinho e Fofinho Absolute, de toalha de cozinha Sorella e Sorella Absolute e de guardanapos Sorella, além da linha institucional.
Em busca da melhoria nas informações e no atendimento ao cliente, a empresa está desenvolvendo um sistema de monitoramento de entrega chamado App Shipy, para informações em tempo real e soluções de ocorrência no ato. “Com isso, buscamos melhorar o índice de eficiência no atendimento e fidelizar ainda mais nossos clientes”, expõe Luciano Gugelmin, coordenador de faturamento e logística.
Wenderson Luiz da Silva de Oliveira, gestor de logística da Doimo Brasil (Fone: 31 3626.9050), fabricante de móveis de alta decoração e design, ressalta que a empresa busca sempre estabelecer parcerias com transportadores especializados no carregamento de móveis, pois são eles os responsáveis pela continuidade de um trabalho que é feito por meses na fábrica. “A escolha correta do transportador e a boa relação que sempre estabelecemos em nossas parcerias fazem com que tenhamos um diferencial competitivo no mercado. Pontualidade na entrega e qualidade que exceda expectativas contribuem para o posicionamento da nossa marca e para o aumento das nossas vendas.”
Segundo ele, a logística passou a ser mais do que o produto certo, na hora certa e no local certo. “Em um mercado cada dia mais competitivo, precisamos sempre superar as expectativas do cliente com relação ao nosso produto/serviço”, salienta.
Os transportadores parceiros do Grupo La Rondine (Fone: 19 3245.8016), que oferece HUB – gestão de embalagens, Co-Packer – soluções em embalamento e TPP – terceirização de processos produtivos, têm conseguido atender a empresa em relação a prazo e preço com qualidade nos serviços contratados e transparência em relação aos custos. É o que contam Camilo Machado, da área comercial; Douglas Machado, engenheiro de processos; e Juliane Portella, supervisora de operação.
Na Max Gear Indústria e Comércio de Autopeças (Fone: 11 3404.9400) – fabricante de autopeças, componentes para transmissão de veículos médios e pesados, peças usinadas, forjadas e fundidas e peças brutas para o mercado industrial –, a relação também é boa e transparente. “As ocorrências são tratadas no momento em que recebemos a notificação. Temos reuniões mensais com os responsáveis, nas quais são analisadas as performances de entregas”, explica Paloma Mathias, coordenadora de logística.
Prezando pela relação transparente acima de tudo, a Ober Indústria Comércio Importação e Exportação (Fone: 19 3466.9200) – fabricante de nãotecidos que atendem a 18 segmentos, como automobilístico, moveleiro, calçadista, geossintéticos, limpeza doméstica, industrial e institucional – faz reuniões regularmente para discutir performances, atendimentos, valores de fretes, tendências de mercado, inovações e operação e conquistar maior sinergia entre todos os envolvidos, conta Vitor Manuel Abreu Silva, gerente de logística e distribuição.
Por sua vez, a Plasvale (Fone: 0800 6486363) – especialista em utilidades domésticas que oferece a tradicional linha de plásticos, a linha de inox Atualle e a linha pet It Dog – exige que a transportadora envie via EDI (processo automatizado) as informações de fatura e entrega. “Trabalhamos diariamente com relatórios de entrega, sempre nos baseando no prazo final, buscando cobrar a transportadora antes de receber a cobrança de nossos clientes. Com isso, percebemos um avanço considerável na redução de ligações em nosso 0800, devoluções indevidas e atraso em duplicatas”, revela Jerônymo Souza e Silva, coordenador de transporte.
Através de sistemas integrados, a Plasvale consegue consultar e rastrear notas sem depender da transportadora, porém, Jerônymo diz que ainda falta um sistema amplo, que permita consultar todo o detalhamento de transporte da nota fiscal, independentemente da modalidade do transportador.
Para manter o bom relacionamento com as transportadoras, a Indústria e Comércio de Autopeças Rei – Suporte Rei (Fone: 16 3667.9400) sempre age com transparência, visando manter a eficiência logística e gerar para ambos resultados positivos, como ressalta Walner Constâncio da Rocha, diretor comercial. A empresa é fabricante de autopeças para caminhões, ônibus, vans e utilitários, como suportes para eixo cardan, coxins para motores, câmbios, cabines, radiadores, polias e diafragmas. Na Beauty Color Company (Fone: 41 2103.9000), indústria e distribuidora de cosméticos, a comunicação com as transportadoras é boa, porém, falta rapidez nos retornos, reconhece Laurentino Carlos da Silva, da área de gestão de transportes. Já o Laboratório Farmacêutico Elofar (Fone: 48 3027.1344) – que fornece medicamentos diversos – tem um canal direto com cada transportadora homologada. “A relação é boa”, garante Osvaldo Rodrigues Chaveiros, diretor adjunto.
A relação da Herbalife Internacional do Brasil (Fone: 11 3879.7800) com seus transportadores também é boa, no entanto, Fábio Rogério Diniz, coordenador de transportes, diz que está cada vez mais difícil achar parceiros que atendam a todas as exigências e processos. “É fundamental termos as informações de entregas em tempo real, mas o mercado ainda está começando a se adequar a esse requisito. De nossas 12 transportadoras, somente duas usam a tecnologia mobile e apenas em capitais”, conta. Entre os produtos para nutrição da empresa estão shakes, chás e fibras.
Welington Souza Celestino, gerente de logística da Track & Field (Fone: 11 2271.2606), especializada em moda esportiva, ainda vê falta de comunicação, principalmente na tratativa das ocorrências. “O segmento de varejo de moda é muito dinâmico e é preciso velocidade na informação para reverter qualquer reflexo em loja. Estamos buscando uma ferramenta (TMS) para tornar esta comunicação ágil e eficiente”, expõe.
Na avaliação de Paulo César de Oliveira Borges, gerente de logística e suprimentos, e Lucas de Souza Andrade, coordenador de logística da Vitamedic Indústria Farmacêutica (Fone: 0800 622929) – que oferece medicamentos, produtos dermocosméticos, de saúde e nutracêuticos – quesitos como informação e tempo real do fluxo logístico apresentam uma boa evolução, entretanto, é preciso avançar na questão de custos, diminuição de avarias e sinistros, maior integração de rotas e parcerias entre transportadores, como forma de otimização do custo.

O papel dos embarcadores
Refletindo sobre o papel do embarcador para melhorar a relação com o transportador, Laurentino, da Beauty Color, diz que é preciso manter comunicação diária com os parceiros e medir as ocorrências. Patrícia, da AIC Soluções Veterinárias, acrescenta que, se as informações estiverem claras na nota fiscal e nas etiquetas de embarque, evitam-se erros logísticos e a entrega é efetuada mais rapidamente.
Realmente, para Gugelmin, o papel do embarcador é fundamental. “Ele deve apresentar clareza nas informações das negociações com seus clientes, pois, com base nelas, poderá orientar o transportador quanto à melhor forma de atendimento e, com isso, minimizar possíveis custos extras durante a operação.”
Na opinião de Jaqueline, da Brinox Metalúrgica, um dos pilares para um bom relacionamento com o transportador é a flexibilidade de ambas as partes. “Negociação, instruções e processos são fundamentais, mas saber em quais situações ser flexível tem um papel estratégico importante no relacionamento com as transportadoras. Manuais, instruções de trabalho e treinamentos in loco no ambiente do transportador também podem melhorar essa relação”, adiciona.
Segundo Cida, da Agis, o papel do embarcador é buscar soluções e atributos de sistema que gerenciem melhor os transportadores, mostrando indicadores de desempenho para que a empresa possa aplicar ações de melhorias e redução dos custos.
“Com os indicadores, podemos avaliar os níveis de serviços logísticos fornecidos, que nos darão direcionamento sobre investimentos, áreas de atuação de vendas e empreendimentos”, complementa.
O embarcador precisa, acima de tudo, confiar no transportador, expõe Fábio, da Daten, pois é para eles que a empresa entrega seu produto para que chegue aos clientes no prazo negociado e com total segurança. “Para existir essa confiança, o embarcador precisa, antes de escolher seus transportadores ou parceiros de transportes, avaliá-los minuciosamente”, acredita.
Wenderson, da Doimo, fala em estabelecer uma relação de amizade com os transportadores. “Já ouviram dizer que quem tem amigo, tem tudo? O maior fator de sucesso em nossas operações provém do bom relacionamento com os transportadores”, garante.
Ele ressalta que as amizades que construiu ao longo dos anos à frente da logística da fábrica fizeram com que a empresa colhesse bons frutos. “Hoje, nossas operações estão transcendendo barreiras geográficas, o volume de cargas que enviamos está em constante crescimento e temos espaço para todo mundo trabalhar, porém, precisamos de parceiros que não sejam totalmente engessados, que nos deem liberdade de negociação, que estejam dispostos a readequar operações, que nos ajudem a cumprir o prazo de entrega e a melhorar a qualidade de serviço”, diz Wenderson.
A Doimo acredita que parceria é uma via de mão dupla, por isso, está disposta a atender as solicitações dos transportadores e espera que eles também estejam disponíveis para atendê-la.
O embarcador sempre deve ser muito claro e objetivo com o transportador em relação ao tipo de serviço que espera que seja realizado e o custo que será praticado, declaram Camilo, Douglas e Juliane, do Grupo La Rondine.
Mas o mais importante, segundo eles, é trabalhar realmente como equipe, entendendo as possíveis dificuldades do transportador. “Sabemos que, com o lead time para entrega/atendimento ao cliente muito justo, devido à crise que enfrentamos, é preciso ter flexibilidade de ambas as partes para gerenciar o processo da melhor forma possível, para que todos saiam satisfeitos.”
Borges e Andrade, da Vitamedic, avaliam que a parceria precisa ser consolidada na otimização dos níveis de serviços bilateralmente: o embarcador deve contribuir com o mínimo tempo de espera dos veículos em suas unidades, oferecer um adequado plano de rotas e distribuição sempre que possível.
O papel fundamental do embarcador, para Batista, da Mahogany, é manter uma perfeita comunicação com o transportador, informando quaisquer alterações de processos que possam comprometer as entregas dos produtos e alguma particularidade que deverá ser atendida. “As exigências devem ser coerentes, visando a certeza de atendimento perfeito para alguma contingência”, conta.
Ações como integração entre sistemas ajudam muito na comunicação e na agilidade dos processos, acrescenta. “Hoje ainda não temos este sistema que faça a integração com os nossos transportadores de forma simultânea, buscando informações mais precisas até mesmo para a geração de relatórios e KPI de SLA de transportes.”
Paloma, da Max Gear, diz que o embarcador precisa acompanhar as entregas, interagir com as transportadoras, apontando as dificuldades e os problemas, e oferecer embalagens adequadas ao peso do produto.
“Além de um perfeito alinhamento dos processos operacionais, o investimento em ferramentas como TMS e tecnologia mobile para entrega é primordial”, opina Welington, da Track & Field.
O papel do embarcador é aproximar o transportador de suas relações internas, aprimorar as negociações de embarque de acordo com as necessidades da empresa e exigir que o transportador passe as informações segundo a negociação realizada. É o que expõe Jerônymo, da Plasvale. Para ele, cabe ao embarcador fazer toda a gestão de acompanhamento das ocorrências, para evitar a devolução.
No ponto de vista de Diniz, da Herbalife, o embarcador deve sempre dialogar com o transportador sobre os índices e processos de ambos, pois uma simples alteração feita a pedido do transportador pode trazer maior eficiência ao procedimento de entrega.

O papel das transportadoras
De acordo com a pesquisa já citada no começo da matéria, o maior problema apontado pelos embarcadores com relação às transportadoras foi confiabilidade de prazo de entrega, com 60%, bem próximo dos resultados de 2015 (56%) e 2016 (63%). Também é de se notar que o problema da alta sinistralidade (roubo e avaria) deu um salto. Em 2015, representou 18% das opiniões, e, em 2017, 32%. Para Ricardo Gorodovits, diretor comercial da GKO, esse aumento está ligado à corrupção do país e gera altos custos para o sistema.
Analisando os dados da pesquisa, Patrícia, da AIC Soluções Veterinárias, acredita que, em relação a roubo de carga, se o transportador remunerasse melhor os seus colaboradores, reduziria este tipo de ocorrência. Já em se tratando dos prazos de entregas, expõe que as transportadoras devem rever a sua logística de praças para reduzir o prazo médio de entrega. Sobre avaria de carga, diz que o remetente precisa preparar o produto de uma forma segura para o embarque e com as devidas orientações da transportadora.
Cida, da Agis, observa que cada vez mais os transportadores estão consolidando cargas para redução do custo e afetando diretamente os prazos. “O prazo de entrega é um dos maiores vilões do transportador, juntamente com o roubo de cargas. Com os altos índices de roubo e a performance de prazos cada vez menor, o transportador fica com a missão de investir em gerenciamento, ferramentas de tecnologia e inovação”.
Por outro lado, ainda de acordo com ela, a automatização de processos facilita a relação embarcador x transportador, proporcionando agilidade e confiabilidade das informações aos clientes, que estão cada vez mais exigentes nestes aspectos.
De fato, para Batista, da Mahogany, o principal papel do transportador é manter as informações atualizadas, pois o embarcador precisa ter os status das entregas sempre em mãos para ter uma relação tranquila com seus clientes. “Dessa forma, o embarcador pode também ter uma ação mais rápida e eficaz para sanar problemas de sinistralidades ou avarias de embalagens e produtos, por exemplo”, expõe.
Batista diz que com os altos índices de sinistralidades, aumentaram muito os processos de refaturamento e reenvio de produtos para atender a esse tipo de demanda e, com isso, aumentaram também as despesas com pagamentos de impostos. “Logicamente, é feito o ressarcimento dessas mercadorias extraviadas ou avariadas, mas é um processo muito moroso”, observa.
A transportadora, segundo Jerônymo, da Plasvale, precisa investir em tecnologia para a informação, pois o mercado exige que elas tenham pronta resposta. “Muitas delas trabalham ainda de forma arcaica, ampliando sua área de atuação sem estrutura própria, utilizando os chamados ‘parceiros’, ou seja, transportadoras terceirizadas para efetuar as entregas. É aí que mora o perigo, pois o embarcador não fica sabendo das ocorrências, já que, geralmente, não existe integração entre o sistema da transportadora contratada pelo embarcador e o parceiro contratado pela transportadora que efetua a entrega na ponta”, explica.
Colocar-se no papel de embarcador diante ao destinatário final é fundamental para o transportador, segundo Jaqueline, da Brinox Metalúrgica. “Sugestões e alinhamento de processos entre as partes podem surtir efeito positivo, assim como a utilização de arquivos EDI”, acrescenta.
Também para Borges e Andrade, da Vitamedic, o transportador deve, cada vez mais, procurar entender o negócio do embarcador, oferecendo não apenas o transporte de seus produtos, mas também ampliando o conceito para solução de entregas: diminuir ao máximo o tempo de entrega, o tempo de parada da carga nos depósitos do transportador e as avarias e aumentar a celeridade no processo de ressarcimento de débitos ao embarcador.
Para Gugelmin, da Cia Canoinhas de Papel, o atitude principal do transportador é a transparência, ou seja, relatar, de fato, o que está ocorrendo. “Antigamente, esperava-se o retorno do transportador para saber o andamento das entregas, mas hoje já se tem essa informação no ato e com fotos, o que gera maior segurança”, expõe. Referente ao índice de sinistralidade, ele considera que, infelizmente, é uma condição que o país vem passando e que só com muito trabalho a situação poderá ser revertida, com investimentos em segurança e, principalmente, em educação.
Fábio, da Daten, também cita a transparência. “Problemas com transporte sempre irão existir, mas se o transportador agir com veracidade e sinceridade, grande parte do estresse é minimizado. É complicado trabalhar com transportadora que esconde o problema da empresa que a contratou. Isso só faz piorar a situação, atrasando a tomada de decisão”, expõe.
Segundo ele, a confiabilidade dos prazos se resolveria com um ótimo follow-up. Informação em tempo hábil e tomada de decisão com agilidade também são de extrema importância para o cumprimento dos serviços negociados.
Wenderson, da Doimo, revela que a empresa nunca teve problema com roubo da carga, porém, as avarias eram constantes. “Ao contratar o serviço de algum transportador, conversamos previamente com o representante da empresa para que conheça nossos produtos e o setor de embalagem”, conta.
Segundo ele, o mínimo que o transportador precisa para estabelecer relação com a fábrica é ser especializado no transporte de móveis, apresentar quase 0% de avarias nos envios e ter comprometimento com a previsão de entrega estabelecida. “Não trabalhamos com estoque de produtos prontos. Nossos clientes, ao fecharem uma compra, esperam de um a dois meses para receberem os produtos. Por isso, pensar em avarias ou morosidade em entregas é algo que nós não permitimos.”
No caso da Herbalife, a empresa exige que todas as unidades da transportadora tenham o mesmo padrão de atendimento contratado. “O que ocorre é que quando avaliamos as entregas nos interiores, na maioria das vezes com terceiros, os padrões são completamente diferentes dos contratados”, observa Diniz.

Como escolher a transportadora ideal
Para ter uma logística de qualidade, é fundamental saber escolher o parceiro. A seguir, os embarcadores entrevistados dão alguns conselhos para acertar na escolha, lembrando que o Prêmio Top do Transporte também é uma importante ferramenta para ajudar nessa seleção.
Jaqueline, da Brinox Metalúrgica, conta que a escolha de uma transportadora é um grande desafio para os profissionais de compras e de logística, não apenas pela relevância do tema, mas também pelos diversos fatores envolvidos nesse processo, que engloba não somente aspectos de custos e nível de serviço, mas também questões relacionadas à segurança, respeito ao meio ambiente, saúde financeira e capacidade de investimentos, pós-venda, parcerias operacionais, acesso a novas tecnologias e soluções personalizadas.
Para Patrícia, da AIC Soluções Veterinárias, a empresa deve analisar o custo x benefício, para não encarecer o produto para o cliente. Primeiramente, deve fazer alguns testes de embarque para avaliar prazo de entrega, preço, atendimento dos entregadores aos clientes, avarias e roubos. “Assim, terá índices para avaliar se a transportadora é boa, confiável e profissional”, opina.
Para Gugelmin, da Cia Canoinhas de Papel, é bom definir um critério padrão de avaliação, levantando necessidades e requisitos mínimos. É preciso saber há quanto tempo existe a empresa, se possui sede própria ou alugada, se alugada, há quanto tempo está no local, se possui política de qualidade, quais os índices de eficiências de entrega, quantos colaboradores possuem e se eles têm registro. É importante pegar referências de clientes e fornecedores, pedindo para relatarem suas maiores dificuldades atualmente. “Tendo condições favoráveis, pode iniciar os trabalhos, sempre com acompanhamento, para conferir se o proposto está sendo cumprido”, diz.
Fábio, da Daten, aconselha não avaliar apenas por menor preço, mas pelo diferencial e compromisso. “Não busquem transportadoras, escolham parceiros de transportes que tenham o compromisso de atender bem sua empresa e seu cliente final. Eles precisam estar interessados em resolver os problemas que podem ocorrer no percurso do transporte. Aquela transportadora que visa apenas ao faturamento, descarte! Sem dúvida ela irá trazer sérios problemas e, consequentemente, deixará o cliente final insatisfeito. Avalie frequentemente a apólice de seguro, solicite comprovante de pagamento. Se possível, verifique a veracidade das referências.”
Primeiramente, a empresa contratante deve verificar se o perfil de cargas da transportadora é compatível com as cargas que se pretende transportar. “Comprove sua credibilidade. É interessante solicitar visitas de representantes das empresas para apresentar seus produtos, apontar os cuidados necessários com manuseio, alocação e transporte”, aconselha Wenderson, da Doimo Brasil.
Ele também orienta a certificar-se de que a carga estará devidamente segura para evitar prejuízos com avarias e furtos e consultar previamente a programação de embarques para evitar atrasos nas entregas. “A partir disso, acompanhe sempre o desempenho dos serviços contratados para medir o grau de satisfação com o transportador”, expõe.
Diniz, da Herbalife, lembra de sempre fazer benchmarking com outros embarcadores e visitar as dependências do transportador. Verificar o número de agregados e redespachos que o transportador utiliza e quais são estes redespachos, fazendo a mesma tratativa de pesquisa, é o conselho de Batista, da Mahogany. Paloma, da Max Gear, acha importante que o transportador tenha informações disponíveis e que possam ser extraídas do site, agilizando o processo.
A Ober tem como prática elaborar um BID para reunir todas as informações que se fazem necessárias a uma boa contratação, como tabela de preços, taxas, instalações, documentação, etc., como conta Vitor. Além de avaliar quesitos como estrutura, segurança, experiência e prazo de entrega, Welington, da Track & Field, recomenda verificar a velocidade das informações.
A Plasvale sempre trabalha com indicadores para contratação de novas transportadoras. “Utilizamos alguns critérios e buscamos, principalmente, o reconhecimento perante outros embarcadores do mesmo ramo”, expõe Jerônymo.
A empresa também consulta o Serasa e pede a certidão negativa de débitos da transportadora que pretende contratar. Através desse procedimento, é possível avaliar a situação financeira, que pode interferir no nível do serviço prestado, além de ser uma informação fundamental para a segurança do embarcador em caso de algum sinistro. “Também verificamos se a transportadora trabalha com parceiros ou possui filial própria, entre outras análises”, complementa.

Impacto da tabela de frete
Os embarcadores também comentam sobre o impacto na tabela de fretes em suas atividades. Cida, da Agis, diz que a tabela aliviou o lado dos transportadores de carga, mas muitos embarcadores têm visto a regulamentação de forma negativa.
“Não podemos deixar de notar que não houve princípio democrático na elaboração da tabela. Faltou a participação dos embarcadores junto com a sociedade. Os preços mínimos são impraticáveis, não respeitando as diversas modalidades de transportes”, salienta.
Ainda segundo Cida, a tabela impacta diretamente nos custos do embarcador, desta forma, ele passa a exigir um maior profissionalismo e melhoria na capacidade da entrega por parte do transportador. “Com os custos cada vez maiores, os transportadores são obrigados a atuar com maior qualidade.”
Com a aplicação da tabela de fretes, todas as empresas, de modo geral, são afetadas, pois existem vários tipos de produtos: leves, volumosos, com alto e baixo valor agregado… “A aplicação da tabela vai gerar um custo maior e, por fim, quem acaba sentindo isso é o consumidor”, expõe Gugelmin, da Cia Canoinhas de Papel.
Fábio, da Daten, diz que a tabela de frete é um dos custos consideráveis que a empresa absorve nas operações, comprometendo uma boa parte do faturamento. “Com isso, faz-se necessário realizar cotações controlando os preços cobrados pelas transportadoras, negociando um valor justo para não gerar prejuízos”, expõe.
Quando esse custo é muito elevado e a precificação para o consumidor final não é adequada, a lucratividade é prejudicada. Por isso, é importante negociar, buscando o ganha-ganha, com uma rotatividade lucrativa e frequência nos embarques”, continua Fábio.
Para Wenderson, da Doimo, a tabela de fretes é fundamental para que se possa ter uma noção do valor máximo que o frete irá chegar. “Entretanto, ao cotar, colocamos em dia nossas habilidades de negociadores e diariamente negociamos cada frete de forma única. Essa prática se tornou corriqueira na fábrica e contribui muitíssimo para a redução dos nossos custos em operações de distribuição e recebimento”, explica.
O impacto da tabela é enorme para o Laboratório Farmacêutico Elofar, considerando que, no setor, o frete é CIF (custo, seguro e frete) e os preços são monitorados, lembra Osvaldo. A Suporte Rei também opera sua logística com frete CIF em todo Brasil. “Nossas tabelas de frete são percentuais. O aumento médio que tivemos após a edição da tabela foi de 16,8%”, conta Walner.
Para Camilo, Douglas e Juliane, do Grupo La Rondine, o estabelecimento de um valor mínimo para o frete acaba limitando a concorrência e aumentando o custo de transportes de cargas. “Mas em contrapartida, em muitos casos, é difícil até estimar o impacto do preço mínimo de frete sobre as operações das empresas, devido à falta de uniformidade das condições das estradas, por exemplo. Ao avaliar o custo de uma frota própria, as empresas conseguem ter referência sobre o custo real do transporte”, expõem.
Já a Herbalife tem tabelas muito bem negociadas e 1% a mais de reajuste concedido ao transportador impacta significativamente em suas operações, afirma Diniz.
Batista, da Mahogany, diz que com o tabelamento de fretes implantado, o poder de negociação fica comprometido, o que pode representar uma ameaça muito grande para a economia da empresa. “A consequência será incluir o valor a mais nos produtos, o que não vem sendo adotado por nós ainda.”
A tabela representa um impacto bastante forte com relação aos valores que eram praticados na Ober, levando a empresa a tomar medidas de contenção em algumas regiões que atende, como revela Vitor.
Também para a Max Gear a tabela de fretes configura custo. “Porém, se o transportador atende com qualidade, no prazo negociado e garantindo a satisfação do cliente, este valor é absorvido pelo aumento da demanda”, reflete Paloma.
Para Borges e Andrade, da Vitamedic, com o aumento dos custos gerado pela tabela de fretes, a empresa vai reavaliar o trade-off: frota própria x terceirizada.
Essa situação é péssima para o país, na opinião de Jerônymo, da Plasvale. “Indexar preços a aumentos de custos e inflação e criar tabela de valores mínimos vão totalmente contra a máxima da economia, em que os preços são regidos por oferta e demanda e não por legislação e tabelas forçadas. Mas, infelizmente, essa é a realidade no Brasil. Teremos aumento significativo no custo do frete, principalmente por nossa mercadoria ser volumosa”, observa.
No caso da Track & Field, em que o frete é fracionado, a empresa consegue manter um poder de negociação equilibrado, como conta Welington, mas no momento que aplica os reajustes repassados, sente a diferença na gestão do orçamento.

11 - Quadro Maiores problemas enfrentados

12 - Depoimentos