ESG é a sigla utilizada para “Environmental, Social and Governance” (Ambiental, Social e Governança) e relaciona-se às práticas das empresas nessas três áreas. Ou seja, ela pode ser empregada para dizer quanto uma empresa está empenhada em minimizar impactos no meio ambiente, construir um mundo mais justo e responsável às pessoas do seu entorno e implementar processos competentes de administração.
O ESG ganhou uma força e importância enorme por causa da amplificação da cadeia produtiva. “Aplicar o ESG no contexto da operação logística é tornar efetivo o desempenho nas áreas ambientais, sociais e de governança”, coloca Rodrigo Mezzomo, head de Projetos do Grupo Scapini(1), falando sobre o papel da ESG dentro da logística.
Afinal, como diz Priscila Saad, consultora de Supply Chain e Logística da AGR Consultores(2), os princípios da ESG são fundamentais em qualquer área de uma organização, portanto, não seria diferente na logística. “O desdobramento dos três pilares fundamentais se converte em reflexões que percorrem toda a cadeia de consumo, independentemente do segmento de atuação ou do setor, e desafia a nós, profissionais da área, a repensar a todo o momento se estamos, de fato, entregando o mais eficiente modelo logístico, que precisa ser ágil, assertivo, e com custos otimizados.”
Maria Silvia Monteiro, head de ESG da Bravo ESG(3), também coloca que, embora as pessoas não tenham ainda bem claro ou mesmo conhecimento, a logística nas empresas, se aplicadas as boas práticas ESG, é fonte de transformação e de muitos impactos positivos financeiros, no ecoambiente e social. Por ser uma área fundamental nas grandes indústrias requer, mais do que nunca, a integração com os temas ESG na sua forma de operar.
Isso pode ser feito – continua Maria Silvia – se pensarmos no relacionamento com os stakeholders (S = Social) que estão envolvidos nas operações de logística: desde os colaboradores, fornecedores, parceiros até as comunidades. Neste aspecto, o que se deve observar são os contratos comerciais, as condições de trabalho e até o impacto ambiental no local de moradia e trabalho.
As ações de logística ESG relacionadas ao E (Ecoambientais) são aquelas que promovem pontos como economia circular, economia reversa, cuidado com a natureza, uso consciente dos materiais de transporte (embalagens), neutralidade de carbono etc.
“No entanto, como em qualquer outra indústria, observar as boas práticas da Governança é um fator de sucesso em qualquer implementação de ESG. É por meio dela que a Liderança estimula seus colaboradores, com uma cultura que enaltece valores relacionados à sustentabilidade”, acrescenta a head de ESG da Bravo ESG.
De fato, falando de logística, Marcos Custódio, diretor da Marcos Custódio Consultoria(4) diz que os valores ESG promovem pontos como economia circular, cuidado com a natureza (em uma operação mais inteligente e sustentável) e apoio socioeconômico às comunidades em torno da empresa.
Hugo Bethlem, Chairman do Instituto Capitalismo Consciente(5), também lembra que no caso de empresas de logística, há um forte impacto no “E” do “Eco Ambiental” pela emissão de carbono em todo o processo de transporte, mas também tem um forte componente do “S”, pelas condições muitas vezes precárias que os motoristas vivem, onde eles param, como descansam, drogas ilícitas que muitas vezes tomam, além da prostituição, inclusive infantil, nas estradas. Ou seja, a área de logística tem um grande escopo e responsabilidade em mitigar seus impactos no Eco Ambiental e no Social, mas tudo isso precisa começar pela Governança.
Na visão de Marcos Rodrigues, sócio fundador da MRD Consulting e da BR Rating(6), o conceito ESG tem potencial para impactar todas as dimensões envolvidas na atividade logística, uma vez que se propõe a alavancar melhores práticas tanto no que se refere à forma de evitar agressões ao planeta, quanto à melhoria das condições de vida das pessoas envolvidas diretamente na operação, assim como da sustentabilidade financeira e administrativa das próprias empresas deste segmento.
O cuidado com o meio ambiente, representado pela letra “E”, na sigla ESG, por exemplo, deve trazer evolução em termos de transportar com a máxima eficiência e usar a energia mais limpa possível.
Já no caso da dimensão social, a expectativa é de que o “S” traga questões como a melhoria das condições de trabalho para os profissionais, redução de acidentes nas estradas, valorização da diversidade, o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas, a redução de impactos negativos para as comunidades à beira das estradas, entre outras.
Finalmente, o “G” afetará diretamente a saúde das empresas com o fortalecimento de princípios como a ética empresarial, construção de Códigos de Conduta formais, Transparência Tributária e outros instrumentos de controle que colocam a constituição de conselhos profissionais de administração agindo com transparência e responsabilidade para transmitir, de forma clara, a intenção da companhia em evoluir nas práticas ESG como prioridade.
Alessandra Umbelino, economista, diretora de operações e cofundadora do Grupo BMV(7), também coloca que os critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) exigem um padrão elevado de qualidade e excelência. Assim, este é um enorme desafio para o setor de logística – visto que o consumo de combustível é um dos maiores obstáculos que os prestadores de serviço de transporte enfrentam ao aderir às iniciativas e metas ESG.
“Desde meados de 2020, os volumes de carga aumentaram e gargalos criaram atrasos, os picos da alta temporada se intensificaram e a crescente demanda por remessas de comércio eletrônico geraram um estresse sem precedentes aos prestadores de serviços de logística. Tudo isso aumentou o consumo de combustível e o desperdício, aumentando a poluição e os impactos negativos nos ambientes locais, nacionais e globais.”
Logo, o Grupo BMV conseguiu trazer a esse setor, assim como outros negócios e até pessoas físicas, uma solução fácil e viável do ponto de vista financeiro. O Grupo permite a acessibilidade de empresas e instituições à qualificação ESG através do Selo Sustentabilidade Tesouro Verde. Alessandra explica que a solução BMV é de ponta a ponta assegurada por entidades de credibilidade global, como a SGS, Sitawi e a Unesp.
A Sitawi, empresa de origem brasileira, é, hoje, responsável pela certificação de mais de 80% dos papéis de captação de finanças verdes do Brasil. Obedecendo a critérios de protocolos de certificação internacional de papéis verdes, a Sitawi emitiu um parecer que classifica as UCSs como produto com performance socioambiental. O Selo Sustentabilidade Tesouro Verde, lastreado em UCSs, é um instrumento de qualificação das empresas perante o mercado que impulsiona a reputação de marcas e produtos pela prática ESG por conservarem florestas. Essa certificação já é adotada por grandes empresa, como Mina Tucano, PostALL Log, Unimed, Westshore, entre outras.
Por outro lado, ainda conforme Alessandra, a certificação Sustentabilidade Tesouro Verde é capaz de rastrear a área preservada correspondente à pegada ambiental das companhias e ainda contabilizar os benefícios para o meio ambiente. Além disso, na outra ponta, a ferramenta permite remunerar a comunidade local das áreas preservadas pela conservação, gerando uma correção das distorções econômicas em determinadas áreas do país e atendendo ao critério social. A tecnologia foi uma das 18 selecionadas pela ONU como iniciativa de solução para a mudança climática durante a COP-26.
“No setor de logística, essa já é uma realidade através do nosso mais recente parceiro, a PostALL Log, Operador Logístico de material promocional. Além de ter toda a pegada ambiental de sua sede compensada, a PostALL LOG ainda passa a oferecer aos seus clientes o ‘frete ESG’.”
A PostALL LOG começou a negociar no dia 1º de março essa nova modalidade de distribuição aos clientes corporativos, criando um conceito novo no mercado, o “ESG on demand”, que compensa a viagem para cada veículo envolvido na logística do material promocional. Ou seja, cada veículo contratado através do “frete ESG” terá a Certificação Tesouro Verde personalizada para cada cliente. Isso significa que o equivalente ao impacto ambiental promovido pelo combustível é transformado em renovação dos recursos naturais utilizados na operação e gera toneladas de impactos positivos. “Não se trata de simples reflorestamento, mas de biomas que permanecerão em pé e conservados com pagamento dos serviços ambientais prestados pelos produtores rurais”, completa a cofundadora do Grupo BMV.
Alessandra também enfatiza que ESG não diz respeito apenas a critérios sustentáveis. Então, compensar somente os danos ambientais causados pelos veículos não se enquadra em ESG. É necessário gerar ganhos sociais e de governança para que haja essa certificação. ESG é um critério sério e acompanhado minuciosamente por grandes indústrias.
Impactos na logística
Como se pode notar pelas colocações anteriores, são vários os impactos do ESG na logística, trazendo, inclusive, mudanças no modo de executá-la.
“Quando avaliamos o impacto da ESG na Logística, não podemos cometer o engano de avaliar apenas o último elo da cadeia, ou seja, apenas a forma como planejo meus embarques, a malha de distribuição, como me relaciono com meus transportadores, mas sim, ter uma atuação protagonista em todo o processo, desde o desenvolvimento de um produto, uma ‘simples’ alteração de embalagem, como a demanda é planejada e alocada dentro das capacidades, e como eu devo trabalhar de forma mais assertiva para entregar estes produtos no meu cliente. A grande mudança provocada pela ESG, na verdade, é colocar foco na agenda de todos os profissionais este tema de alta relevância para todos os stakeholders de uma organização”, enfatiza Priscila, da AGR Consultores.
Maria Silvia, da Bravo ESG, também alerta que o principal objetivo de ESG para o mercado de logística é a otimização e a transformação virtuosa (impactos positivos) da cadeia como um todo. Um exemplo é o descarte de pilhas, baterias e lixo eletrônico no local correto, evitando, assim, a contaminação do meio ambiente e, ao mesmo tempo, aumentando a vida útil dos itens.
As embalagens, a forma como os produtos são transportados, ganham destaque porque atualmente existem muitas opções de embalagens ecoeficientes.
Sendo o cuidado ambiental um dos pontos do ESG, a redução de impacto durante os processos de logística passou a fazer parte dos objetivos e norteia as estratégias de negócios de muitas empresas
“É fundamental que a empresa saiba exatamente a rota completa de transporte e logística para mitigar riscos em toda a sua constelação de fornecedores e parceiros. Não é um esforço isolado de uma empresa, mas um acordo que se estabelece com todos aqueles que estão envolvidos no processo. É o conjunto que fará a diferença”, avisa a head de ESG da Bravo ESG.
Ela continua: um dos pilares a ser explorado na estratégia de ESG em logística é referente à Economia Circular e Logística Reversa, quando o objetivo é ajudar a dar um destino apropriado a tudo aquilo que é manipulado/vendido. Neste sentido, é possível criar e implementar programas de coleta e descarte de uma variedade incrível de produtos (de eletroeletrônicos a móveis) e atingir uma quantidade expressiva de pontos de coleta nas cidades, estados e em todo o país, fomentando vários círculos virtuosos. Quem faz isto muito bem, um case de sucesso, é o Grupo Via.
“Quando a governança se une com a tecnologia para impulsionar resultados traz, ao mesmo tempo, um diferencial competitivo e um estímulo a uma gestão mais colaborativa e integrada: uso de sistemas integrados, com informações e dados de toda a cadeia para a tomada de decisões assertivas, ao mesmo tempo que mitiga riscos e mapeia oportunidades; planejamento e otimização de projetos de operação e distribuição, como também no planejamento e otimização de sua cadeia de Supply Chain; integração de tecnologias, processos e pessoas para estabelecer as rotas ideais para o produto e mercado e ter visibilidade 360o da operação, desfazendo-se dos obstáculos normais de logística para implementar as melhores soluções tecnológicas, evitando despesas e operações ineficientes.”
Maria Silvia também fala em foco estratégico para direcionar e solucionar as principais materialidades do negócio. No que diz respeito ao EcoAmbiental, redução da emissão de CO2, uso de materiais sustentáveis, reutilização de materiais, assim como a busca por uma melhor performance em toda a cadeia logística, começando pela redução de emissão de gases poluentes liberados na atmosfera com o uso eficiente da frota, passando pela manutenção e chegando, inclusive, na adoção de carros elétricos.
“Ao abordarmos o aspecto social, as empresas precisam focar esforços em ampliar a diversidade, inclusive em posições de liderança. Igualmente importante é o bem-estar dos colaboradores.”
Em Governança, é de extrema importância a criação de mecanismos que direcionam a cultura para práticas ESG. Mas para que isso se torne possível, são fundamentais as métricas de Governança, assim como o combate à corrupção e a valorização da ética em todas as atividades da companhia. São pontos que devem ser incentivados pela liderança, para que alcancem todos os colaboradores e outros stakeholders, sendo a base da cultura organizacional. Fomentar mais transparência e responsabilidade frente ao meio ambiente, colaboradores, investidores e comunidade deve ser um compromisso e precisa estar na agenda das empresas.
A head de ESG da Bravo ESG também fala que é fundamental que se estabeleça um planejamento estratégico logístico baseado em uma ambição bastante clara. Até aonde a empresa quer chegar enquanto está mitigando todos os riscos da agenda ESG?
Este é o início da jornada de transformação ESG. Segue com um diagnóstico bastante minucioso onde todas as possibilidades, inclusão dos skakeholders e processos são investigados, alinhados e endereçados. É olhar o modelo de negócios com as lentes ESG. As perguntas são fundamentais e devem levar em consideração todos os envolvidos. “A jornada ESG não é solitária, ela é inclusiva.”
A implementação de ESG em qualquer indústria é um processo que requer tempo, investimento, resiliência e apoio de profissionais especialistas, continua head de ESG da Bravo ESG. A tecnologia é uma grande aliada da Governança na medida que reúne e organiza as informações para a tomada de decisão. Controle é um requisito de um bom programa de implementação porque ele contribui para a mitigação de riscos e o aproveitamento de oportunidades.
“A gestão de ESG na logística deve utilizar uma abordagem mais integrada e sistêmica: do negócio até as dores dos distribuidores. Importante pontuar que a jornada ESG é de longo prazo. É processo. É acertos, erros e ajustes de rotas. O que norteia é o propósito de transformar o negócio em um agente de impacto positivo”, completa Maria Silvia.
Alessandra, do Grupo BMV, é outra profissional do setor a lembrar que o setor de logística enfrenta cada vez mais pressão por resultados e o volume de entregas está cada vez maior. Assim, compensar a pegada ambiental desses veículos e ainda remunerar produtores rurais pelo serviço de preservação, mantendo em pé até florestas inteiras, é deixar um legado imensurável para o mundo e se destacar em seu setor de atuação.
Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente, também coloca que a questão do impacto tenha um viés mais ecoambiental, pois é o mais visível no processo. Ou seja, a pegada de carbono, pela emissão dos gases de efeito estufa no transporte, mas também existe todo um impacto no tipo de produto que transporta e as distâncias que percorre. “O Brasil é um disparate tributário, então se roda muito mais, com nenhuma preocupação ambiental, somente para se economizar com guerra fiscal entre estados. O Brasil é um dos poucos países onde o caminho mais curto do ponto A ao ponto B não é uma linha reta.”
Outro ponto já comentado é o impacto social na vida dos caminhoneiros e suas famílias, nas pessoas dos Centros de Distribuição, nas escoltas (pelos riscos que algumas cargas trazem), nas condições insalubres de alguns percursos para ganhar um pouco mais de frete.
“E aí tem outro impacto ambiental enorme, a volta do caminhão sem carga, transportando ar, sem remunerar a empresa logística. Isso somente se falando de logística terrestre, que é 85% da logística no Brasil continental. Poderíamos abordar a logística, fluvial, marítima, ferroviária e aérea e os impactos seriam grandes, com suas nuances específicas, mas sempre impactando o E’ e o ‘S’, sem falar do ‘G’, que muitas vezes é o responsável pelos maiores impactos socioambientais para buscar economias financeiras de curto prazo”, completa o chairman do Instituto Capitalismo Consciente.
Ou, como diz Custódio, da Marcos Custódio Consultoria, o real impacto é na operação, uma vez que os recursos devem ser utilizados de forma otimizada. Como consequência isso gera economia de combustível, otimização de espaço e de rotas.
“A relação entre ESG e logística se dá pelo desejo de realizar entregas com o menor impacto ambiental possível. Pensando na melhor experiência dos consumidores, com a oferta de valores de fretes mais justos e entregas mais sustentáveis. Além disso, focar em desenvolvimento e investimento em tecnologias para otimizações de rotas e redução de emissões de papéis e combustíveis, assim como para a gestão logística de fretes.”
Em resumo – continua Stefan Rehm, CEO e Cofundador do Grupo Intelipost(8) –, as diretrizes ESG impactam a logística em muitos aspectos. A parte mais “explícita”, digamos assim, diz respeito à questão ambiental, por meio do melhor aproveitamento e utilização dos recursos, eliminação de desperdícios – a alta emissão de documentos gera muito lixo –, reciclagem de materiais, etc.
No caso da logística de e-commerce, pode-se destacar os impactos na redução de custos com combustível e diminuição de quilometragem a partir de rotas mais inteligentes com o auxílio de IA e também soluções de redes de pontos de retirada, agregando agilidade e flexibilidade. Isso viabiliza a oferta de melhores prazos e condições de entrega.
Outro ponto importante – prossegue Rehm – é ajudar os pequenos varejistas a iniciar uma operação de maneira mais tecnológica e competitiva como, por exemplo, auxiliar esses empreendedores a entregar mais com o apoio de PUDOs (Pick Up & Drop Off) o que irá gerar uma revolução na logística no país.
Investimentos
Com toda a amplitude do ESG na logística, fica a pergunta: quanto de investimentos ele vai impor na logística?
A consultora de Supply Chain e Logística da AGR Consultores alerta que, como o tema ESG traz uma ampla possibilidade de atuação das empresas, os investimentos precisam passar por uma criteriosa escolha. Em primeiro lugar, selecionar os temas de maior relevância para a organização e, somente então, priorizar os investimentos. Certamente, a decisão final sobre quanto e onde investir levará em consideração o estágio de maturidade e de rentabilidade das empresas.
“Não podemos apontar valores, mas sim tipos de investimento que temos visto com maior frequência. Os projetos de eficiência em planejamento ou operações, em sua grande maioria, estão amparados em otimização das operações e consequente redução de custo. Normalmente precisam de investimentos em tecnologias que melhorem o planejamento, a roteirização, o monitoramento de pegadas de carbono, compra e venda de créditos de carbono, monitoramento de riscos e cumprimento de obrigações legais. Investimentos mais significativos poderão ser destinados a veículos elétricos, veículos mais eficientes na relação consumo x km rodado, meios de transporte menos poluentes. Consideramos também investimentos nos equipamentos de movimentação de mercadorias, que também precisam ser reavaliados e repensados”, relaciona Priscila.
Pelo seu lado, Maria Silvia, da Bravo ESG, também pondera que investimentos serão necessários para monitorar e implementar indicadores para atingir objetivos concretos. Segundo a head de ESG, a tecnologia é um grande impulsionador nos processos logísticos porque une várias pontas de todo o processo. Isto envolve integração de vários sistemas. O investimento compensa não só pelos impactos, mas como nos ajustes e redução de despesas desnecessárias.
“Não sei se ‘impor’ seria a melhor opção para definir os investimentos em ESG. Acredito que está mais para uma construção sustentável entre propósito e ganhos. A pandemia evidenciou o problema de governança e falta de transparência na logística, e há o esforço para que essas empresas se adaptem ao novo cenário, principalmente no que diz respeito à digitalização e automatização das operações.”
Ainda segundo Rehm, do Grupo Intelipost, há de se valorizar o trabalho em conjunto que tem sido demonstrado pelos players logísticos no país, que estão buscando estabelecer padrões ESG cada vez mais elevados. “E nós da Intelipost também temos boa parte dessa responsabilidade, por isso a importância de trazer essas discussões e ações para o mercado no país. Creio que valores como transparência e responsabilidade ambiental ganharão cada vez maior relevância e serão grandes diferenciais para os consumidores.”
Eduardo Guerra, advogado e sócio fundador do Guerrabatista(9), também explica que os investimentos na adesão ao ESG giram em torno de uma logística mais avançada e moderna em relação à conservação do meio ambiente, sociedade e modo de governança dentro da companhia. Visto que nesse segmento há o fator preponderante da emissão de poluentes, o principal pilar que envolve o setor acaba por ser o do meio ambiente, de maneira que se torna necessário investir em questões voltadas para a sustentabilidade e lançar projetos como green bold, que ajudam a atrair investidores institucionais, como fundos de pensão, fundos de previdência, seguradoras e gestores de ativos de terceiros (asset managers). “Logo, esses títulos verdes representam instrumento importante para estimular o desenvolvimento sustentável e direcionar recursos para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas”.
Pode ainda, continua o advogado, direcionar o investimento para tendências do ramo, como Pick Up & Drop Off Points visando trazer solução para entregas rápidas, que nada mais é que armários inteligentes e pontos de retirada.
Ainda existe a importância de investir no desenvolvimento de alternativas para a produção de menos poluentes, zelar pela biodiversidade, buscar eficiência energética, gerir seus resíduos, bem como se preocupar com a escassez de água.
Não obstante, acerca da sociedade, esta envolve a satisfação de clientes, proteção de dados e privacidade, diversidade, engajamento de funcionários, relacionamento e respeito sobre os direitos humanos e trabalhistas.
Por fim, as práticas de governança, que abarcam questões como composição de conselho, estruturação de auditoria, conduta corporativa e relação com entidades públicas.
“Apontar os investimentos, sem dúvida, é possível. São inúmeras frentes possíveis, como melhorar as estradas, para reduzir os custos da operação, focar em uso de combustíveis alternativos mais limpos, como caminhões elétricos – pelo menos para logística urbana no primeiro momento, mas com certeza com potencial enorme nas estradas –, veículos autoguiados que ajudariam o descanso dos motoristas, fim da guerra fiscal entre estados, eficiência na carga e descarga para liberar os veículos para mais entregas em menos tempo, além de serem mais eficientes. Valores não tenho ideia, cada empresa deveria fazer seu cálculo de ser net zero até 2040 e criar parcerias com outras empresas, como postos de combustível e abastecimento elétrico. Mas com certeza demandaria alguns bilhões de reais”, acrescenta Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente.
Marcos, da Marcos Custódio Consultoria, também acredita que o maior investimento na área logística esteja relacionado aos veículos. “Esse é um movimento que já vem sendo realizado por grandes empresas em todo mundo, como Americanas, Einride e empresas de outros setores, como de alimentação e de segurança.”
Também para Mezzomo, do Grupo Scapini, para manter o ESG, os valores são elevados. Porém, é necessário avaliar que com o ESG é possível conquistar a confiança dos clientes e fornecedores, reduzir custos através da redução de desperdício e utilização das energias renováveis, redução de turnover, políticas de compliance, entre outros fatores.
No caminho contrário, Alessandra, do Grupo BMV, diz que não é possível mensurar o investimento de um setor como um todo, já que cada empresa possui suas particularidades, como número de entregas, rotas etc. “Porém, a solução do Grupo BMV é economicamente viável até para pessoas físicas que queiram ser certificadas como aderentes às práticas ESG. Estamos democratizando a demanda ESG através do Selo Sustentabilidade Tesouro Verde.”
Com base no estudo intitulado “Estado da Sustentabilidade da Cadeia de Abastecimento 2021”, elaborado pelo Centro do MIT para Transporte e Logística, em parceria com o Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Abastecimento (CSCMP), Rodrigues, da MRD Consulting e da BR Rating, lembra que a constatação é de que o ritmo dos investimentos da chamada agenda ESG para o setor de logística não está sendo compatível com a velocidade com a qual o tema tem ganhado relevância em termos de exposição nos fóruns mundiais e na mídia.
Segundo o relatório, feito a partir de entrevistas com 2400 profissionais da área, a porcentagem de empresas que investiram em Sustentabilidade da Cadeia de Suprimentos durante o ano de 2021 atingiu 58,7%, o que representou um crescimento de apenas 1,4% em relação ao ano anterior.
Neste cenário, os maiores volumes de recursos foram destinados a questões como a proteção dos direitos humanos (10%), diversidade de fornecedores (9,8%), bem-estar e segurança (7,1%) e economia de energia (6%).
Quais as dificuldades para implementar o ESG no segmento logístico? Rodrigues responde: Uma das principais, no Brasil, é questão da insegurança jurídica para os negócios. Isto porque, apesar de oferecerem toda a jornada de atividades necessárias para a execução do trabalho logístico, as empresas deste setor acabam sendo enquadradas em segmentos separados desta esteira, como “Transportadora Rodoviária de Carga”, ou “Armazém” ou empresa de “Carga e Descarga” entre outras denominações. Isso acaba gerando uma diversidade de enquadramentos tributários.
Neste sentido – prossegue o sócio fundador da MRD Consulting e BR Rating –, uma das primeiras ações precisa ser um esforço concentrado de sensibilização do Congresso Nacional pela votação do Projeto de Lei 3757/20, que regulamenta a atividade de Operador Logístico no Brasil. A proposta estabelece um marco legal para o setor com regramento jurídico que elimina as diversas Classificações Nacionais de Atividade Econômica (CNAE) às quais as empresas são submetidas.
Paralelamente a este esforço deve ser feito um profundo diagnóstico da atividade para identificar tanto os gargalos quanto as alternativas para eliminá-los.
Dificuldades
Nas entrelinhas do que foi colocado até agora pelos participantes desta matéria especial do Portal Logweb, existem várias dificuldades para implementar o ESG no segmento de logística.
Mas, como diz Priscila, da AGR Consultores, estas dificuldades dependem muito do estágio atual da organização. “Mas, de forma geral, e não somente no segmento logístico, temos dificuldades que vão desde o mindset que ainda não consegue dar o devido valor ao tema até empresas que não conseguem entender benefícios que saiam do contexto de retorno sobre investimento, métricas puramente financeiras. Não estamos de forma alguma dizendo que uma empresa que mal consegue ‘sobreviver’ no final do mês tenha que fazer investimentos desproporcionais a sua rentabilidade ou condições financeiras, mas que, ao menos, traga em seu plano estratégico temas que podem inicialmente abordar questões mais qualitativas, de comportamento, de relacionamento com stateholders, de cumprimento de obrigações legais, de conduta ética.”
Esta visão também é, de certa forma, compartilhada por Maria Silvia, da Bravo ESG. Segundo ela, são as mesmas dificuldades de implementação de ESG em qualquer segmento ou setor da indústria: falta de conhecimento e consciência dos impactos negativos oriundos de uma logística sem as lentes ESG, crença de que o impacto individual não é o que vai “piorar” ou acelerar a mudança climática, não é uma prioridade da liderança. “O custo financeiro ainda fala mais alto que o custo socioambiental”, completa Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente.
Já para Rehm, do Grupo Intelipost, há um grande desafio no que se refere à governança, muito por conta do histórico informal do setor no país. O desafio está em mudar essa perspectiva, por meio da transformação do nosso ecossistema em um ambiente mais sustentável e de valor para a sociedade. Fora isso, é preciso criar mecanismos e direcionar a cultura para práticas ESG, por isso as métricas de governança são tão importantes para operar de acordo a todas as exigências governamentais e fiscais.
E Mezzomo, do Grupo Scapini, aponta como principal dificuldade atribuir valores a estes programas em face da alta constante do óleo diesel e onde as tarifas dos fretes não são reajustadas na mesma velocidade. Portanto, atualmente, empresas que já possuem o ESG impregnado são mais fluentes no seu desenvolvimento, pois já está no DNA dos colaboradores. No entanto, as companhias que querem iniciar este projeto podem ter dificuldades de implantação.
“As dificuldades envolvem a reestruturação necessária que a companhia irá ter que executar. Assim como toda mudança, é necessário um certo tempo para adaptação aos novos costumes e se valer dos benefícios a serem gerados com a adesão ao ESG. Ou seja, as dificuldades podem surgir na forma como as empresas irão investir na adesão da prática. Por isto, se faz necessário uma boa equipe de conselheiros, de modo a amenizar as dificuldades a serem encontradas durante o processo de reestruturação e organização, os quais envolvem demandas burocráticas e necessitam de análises minuciosas”, diz, agora, Guerra, do Guerrabatista.
Otimista, Custódio, da Marcos Custódio Consultoria, enfatiza que o setor de transporte e logística está se adaptando, e demonstrando otimismo nas aplicações. “Como desafio, posso elencar a troca de frota (por veículos ecológicos), redução de desperdício no manuseio e automação de armazéns.”
Outro ponto de atenção são os fornecedores e parcerias da empresa. “É importante conversar com os parceiros para garantir o trabalho com fornecedores que também estão alinhados com nossas próprias metas de sustentabilidade”, pontua o diretor da Marcos Custódio Consultoria.
Benefícios
Em que pese as dificuldades de adaptação e de obter investimentos, são inúmeros os benefícios que a ESG agrega à logística.
Priscila, da AGR Consultores, menciona alguns de maior relevância: redução de custos na cadeia – “partindo de planejamento mais assertivo, temos uma gestão mais eficiente de todos os recursos empregados na cadeia, desde a compra, a produção, a distribuição, entre outros”; melhor relação com os stakeholders, que estão cada vez mais conectados, atentos e valorizando empresas que estejam com suas ações alinhadas a princípios éticos e que considerem de forma genuína os princípios da ESG; análise mais favorável quando da necessidade de tomada de crédito no mercado; redução de riscos associados a fornecedores, transportadores, mão de obra direta e indireta, partindo de uma matriz de riscos eficientemente monitorada, entre outros.
Também para Mezzomo, do Grupo Scapini, os benefícios são enormes: “você atinge clientes, fornecedores e seus próprios colaboradores, porém quem realmente se beneficia é a sociedade como um todo, pois teremos pessoas mais felizes, meio ambiente não sendo agredido, energias renováveis e, assim, todos se beneficiam”.
Também para Guerra, do Guerrabatista, os benefícios são imensuráveis e de longo prazo. Eles giram em torno de um setor mais sustentável, avançado, moderno e transparente, trazendo o consecutivo aumento de consumidores, bem como mais rendimentos e engajamento de funcionários. Ademais, as boas práticas necessitam de uma estruturação que vem através da governança, onde deve ser aplicada a ética e ter o devido cumprimento das leis.
“Não obstante a isto, a empresa do setor que aderir ao ESG passará a ser vista com outros olhos face a possíveis investidores, e até mesmo consumidores. Esse selo/carimbo traz confiança e segurança a toda comunidade envolvida, além de a sociedade agradecer de a empresa estar se preocupando com o meio ambiente, com a segurança e saúde de seus funcionários e com o melhor que pode oferecer através de seus serviços. Afinal, sempre há uma maneira melhor de se fazer as coisas”, menciona o sócio fundador do Guerrabatista.
Ou, como afirma Custódio, da Marcos Custódio Consultoria: “as melhores práticas ESG estão associadas a negócios sólidos. A preocupação com o meio ambiente e os resíduos produzidos permeia as decisões com foco em melhorar a percepção pública da empresa”.
Rehm, do Grupo Intelipost, pensa que o principal impacto está na melhoria da experiência de compra, com mais pessoas recebendo entregas de maneira cada vez mais eficiente e personalizada. E como consequência disso, gerar empregos para os setores de logística e varejo, melhorar as condições dos transportadores e ajudar pequenos lojistas a oferecer um serviço mais competitivo com incentivo à economia local, com o fortalecimento e melhorias de entregas em áreas periféricas.
Pelo seu lado, Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente, afirma que ser ESG não é optar por gerar menos lucro, mas é pensar de forma diferente, buscar atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e bem-estar para todos, proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas. “Não é lucro versus ESG, mas sim lucro + ESG. Não são caminhos opostos, é um único caminho que busca encontrar soluções para se ter um retorno sustentável a longo prazo.”
Logística reversa
Também é interessante saber qual o papel e a relação da ESG no caso da logística reversa aplicada na devolução de produtos e, também, de materiais para reuso (reciclados).
Neste contexto, Priscila, da AGR Consultores, explana que o conceito da logística reversa, além do objetivo de cumprir o resgate e a correta destinação dos resíduos da organização, deve ainda trabalhar o melhor aproveitamento de uma rota ou viagem, através da implementação de projetos de Milk Run e backhaul, entre outros modelos. Neste aspecto, diz a Consultora de Supply Chain e Logística, o principal papel da ESG é o de reforçar e dar peso dentro das organizações a projetos e práticas que vão de encontro aos seus fundamentos. Sendo assim, em uma discussão de priorização de projetos e/ou recursos, temas que poderiam não ser priorizados, acabam ganhando força, e finalmente podem ser endereçados e implementados.
“O papel do ESG é manter estas práticas cada vez mais monitoradas, com aplicação de indicadores, para que haja investimentos, cortes de despesas desnecessárias, impactos negativos e, principalmente, o controle de riscos”, completa Maria Silvia, da Bravo ESG.
Afinal, como diz Mezzomo, do Grupo Scapini, a logística reversa sempre busca a destinação correta dos resíduos gerados pelo transporte, e isso vai além de ter uma certificação, isso reflete na índole da empresa. O descarte correto é dever de toda empresa e isso está atrelado aos princípios que o ESG impõe. Além disso, a preocupação em não gerar resíduos que agridem o meio ambiente precisa ser uma preocupação de todos.
Para Rehm, do Grupo Intelipost, no caso da logística reversa, a ESG deve ser aplicada e priorizada, da mesma forma, impactando positivamente na redução da emissão de CO₂ gerado, com os devidos encaminhamentos para reposição de estoque ou descarte adequados.
“Falando especificamente da logística de e-commerce, um bom exemplo prático é o que empresas pioneiras como a Amazon estão fazendo, com a criação de políticas de reembolso sem devolução para determinados produtos, uma ação interessante do ponto de vista ambiental, pois reduz os deslocamentos e custos operacionais, como também pode reduzir a insatisfação com a experiência de compra, já que o consumidor não precisa se preocupar em realizar a devolução.”
Custódio, da Marcos Custódio Consultoria, também informa que a melhor estratégia de logística reversa deve minimizar o desperdício e maximizar o impacto positivo. A logística reversa não envolve apenas os materiais, mas principalmente o planejamento, local e fluxo de recebimento e armazenagem. “ESG também impacta positivamente na experiencia do consumidor, já que de acordo com a plataforma Shopify, cerca de 20% das compras online são devolvidas por diversos motivos, e esse não é o momento de deixar o consumidor frustrado.”
Para Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente, esse é um tema muito relevante, mas ainda há muito a ser feito. Por exemplo, não podemos continuar com um modelo linear de economia extrativista, que retira matéria prima virgem, a transforma com um alto impacto ambiental e social, transporta com esse mesmo impacto negativo, distribui para venda, os consumidores consomem e depois descartam. Teremos que evoluir para uma economia circular onde a matéria prima vem majoritariamente do reciclado e mantenha o ciclo da reciclagem.
Porém, prossegue o chairman do Instituto Capitalismo Consciente, mesmo com a lei sobre PNRS, vigente desde 2012, muito pouco se fez, e muito é empurrado para vários players no ecossistema da distribuição.
“Algumas startups e ONGs estão tomando o lugar para dar soluções sustentáveis, mas precisamos muito mais do que a vontade do setor logístico em contribuir para essa mudança, que é cultural e habitual. Alguns pontos que dificultam são: mudanças tecnológicas com novos paradigmas, mudanças radicais de políticas públicas, nova consciência dos consumidores para estilos de vida mais saudáveis, produtos e serviços radicalmente novos e uma nova organização da sociedade para que tudo isso aconteça. É impossível? Não, pelo contrário, mas a cadeia logística precisa se unir e buscar cooperar no aspecto ESG, ao invés de competir nesse sentido.”
Rodrigues, da MRD Consulting e da BR Rating, discute que, embora tardiamente, a questão da logística reversa ganha relevância nas decisões de empresas e governos a cada dia e certamente ganhará um volume de ações práticas bastante relevante nos próximos anos.
Em janeiro, por exemplo, o Governo Federal publicou no Diário Oficial (DOU) o Decreto Presidencial que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e cria o Programa Nacional de Logística Reversa. O novo decreto tem o objetivo de modernizar e tornar mais eficiente a forma como o país lida com o lixo, exigindo dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de seus resíduos.
Entre 2019 e 2020, foram recolhidas 470 toneladas de eletroeletrônicos. São itens que deixaram de ser descartados no meio ambiente, causando a poluição do solo e das águas. A meta do Ministério do Meio Ambiente é chegar a 5 mil pontos de coleta até 2025.
Em março, a Coalizão de Economia Circular da América Latina e do Caribe lançou um documento conjunto com uma visão de como deve ser uma economia circular na região e tem a intenção de criar alinhamento e cooperação entre os países e governos, bem como orientar projetos futuros.
Na América Latina e no Caribe, 127 milhões de toneladas de alimentos (mais de um terço do que é produzido) são perdidas e desperdiçadas todos os anos, enquanto cerca de 47 milhões de pessoas sofrem de fome na região.
Além disso, a economia circular, da qual a logística reversa é uma das colunas de sustentação, levaria à criação de 4.8 milhões de oportunidades trabalho na América Latina e no Caribe até 2030.
São aspectos que estão entrelaçados com as três dimensões do conceito ESG e que precisam ser considerados com seriedade para além do marketing. Certamente, se isto ocorrer, o potencial de colaboração do ESG será absolutamente decisivo para melhorar as com dições de vida no planeta, decreta Rodrigues.
Distribuição
“Quando as pessoas pensam em logística, talvez logo pensem na distribuição por se tratar do processo mais ‘evidente’. Da mesma forma que olhamos para a logística como um todo, também pensamos na distribuição de forma mais eficiente, menos poluente e mais responsável. Muitos programas têm sido criados para incentivar as empresas a colocarem a ESG em sua agenda principal, tais como o PLVB – Programa de Logística Verde Brasil, Empresas B, Pacto Brasil, entre outros.”
Assim Priscila, da AGR Consultores, fala, agora sobre o papel da ESG na distribuição.
Por seu lado, Rehm, do Grupo Intelipost, diz que, em relação à distribuição, podemos citar a eliminação da utilização de papel nas transações, a preferência por combustíveis menos poluentes, assim como a adoção de tecnologias de otimização de rotas de transporte e melhor aproveitamento de capacidade dos veículos, gerando redução de viagens e quilometragem. Também podemos pontuar a importância de realizar as manutenções preventivas da frota com certa recorrência e a adoção de estratégias alternativas como a coleta em horários de menor circulação e distribuição noturna, por exemplo.
“Outras ações de acordo com parâmetros ESG, ainda falando em distribuição, estão relacionadas ao fluxo de pessoas em áreas de grande circulação, ou até mesmo a impossibilidade de receber uma entrega por não ter um endereço. Nesse sentido, as soluções voltadas para entrega e coleta para pequenos e médios varejistas podem criar acessos, trazendo benefícios reais para o mercado de logística e varejo omnichannel”, completa o CEO e Cofundador do Grupo Intelipost.
O ESG na distribuição também pode ser direcionado para a alocação de carros elétricos e os mesmos serem abastecidos de energias renováveis. “Isso não tem volta. Em breve, as empresas de distribuição terão seus carros todos elétricos”, acrescenta, por sua vez, Mezzomo, do Grupo Scapini.
A prática do ESG para com a distribuição também gira em torno de investimentos em novas tecnologias, que possam trazer maior segurança e viabilidade nas operações, maximizando resultados com melhores rotas e modos de consolidação, lembra Guerra, do Guerrabatista. Ele tem, ainda, o papel de buscar o desenvolvimento e a modernização de bens, visando trazer uma forma de emitir menos poluentes e garantir uma maior segurança e saúde aos operadores, de maneira que para a efetiva estabilização dos investimentos, deve-se ter um relatório ESG e gestão de riscos ESG.
De forma resumida, como lembra Custódio, da Marcos Custódio Consultoria, a automação acaba se tornando o melhor amigo do colaborador. Com uma área mapeada e organizada, o processo de distribuição é muito mais fluido, reduzindo retrabalhos e desperdício de tempo.
“Quando falamos de logística falamos de um stakeholder da distribuição, e para mudarmos a matriz energética, buscarmos net zero carbon até 2040 e melhorarmos a qualidade de vida e garantir geração de riqueza para quem trabalha na logística, temos que olhar a distribuição como um todo, do inbound ao outbound”, diz Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente.
Rodrigues, da MRD Consulting e da BR Rating, ressalta que a distribuição de produtos é uma das atividades com mais forte tendência de ser impactada nos próximos anos, não só pela disseminação do conceito ESG, mas pela própria inovação e transformação digital, que foram profundamente aceleradas durante o período mais agudo da pandemia. Prova disso é que startups especializadas em logística, ou logtechs, já usam o Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE), expedido pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), para iniciar testes de entregas de produtos com o uso de drones, por exemplo. Fato é que o país chegou rapidamente a um total de 290 startups inseridas neste contexto, segundo o mapeamento Distrito Logtech Report 2020, sendo que mais da metade delas foi fundada há menos de 5 anos e, deste total, 19% se dedicam a soluções de entregas.
“Considerando que essas novas empresas já nascem com uma forte propensão a aderir aos conceitos ESG, é razoável esperar um forte movimento de novos modelos e formas diferentes de fazer as coisas. O sucesso destas logtechs e os investimentos que elas atraem servirão de inspiração para as empresas estabelecidas copiarem alguns de seus conceitos e, desta forma, a perspectiva é de um ganho substantivo em médio prazo nas três esferas ESG relacionadas à questão da distribuição”, completa o sócio fundador da MRD Consulting e da BR Rating
Mão de obra
Finalizando esta matéria especial, vale lembrar o papel da ESG na mão de obra aplicada no setor de logística.
“Podemos falar de mão de obra num sentido mais amplo, quando pensamos em logística, mas abordaremos aqui a questão mais prática, avaliando sob o prisma de riscos solidários. As organizações precisam, realmente, estabelecer programas sérios de gestão de risco”, diz Priscila, da AGR Consultores.
Infelizmente, no mercado – continua –, ainda vemos práticas totalmente desalinhadas com relação ao ESG. Nunca é demais lembrar que toda a organização é responsável por contratar parceiros que descumprem com suas obrigações trabalhistas. “Não raramente, vemos na mídia, relatos de empresas que respondem direta ou indiretamente por descumprimento de obrigações, entre outros graves problemas. Não raramente, também nos deparamos com projetos de implementação de Gestão de Risco, onde longas discussões são realizadas, os riscos mapeados, e param por aí. O monitoramento é negligenciado, feito de forma insuficiente. Estas práticas precisam andar de mãos dadas, o investimento na construção de um mapeamento de risco completo tem que ter a garantia de um monitoramento eficiente.”
Para o head de Projetos do Grupo Scapini, o ESG aplicado aos colaboradores vem para mostrar uma gestão transparente, íntegra e honesta, bem como atentar-se às relações pessoais, ou seja, cuidar bem de seus recursos humanos. Com isso, se tem uma redução do turnover, as equipes ficam mais motivadas e, por meio disso, todos ganham e se sentem bem, dado que uma empresa alinhada com seus colaboradores caminham em conjunto.
“O ESG tem como papel, na mão obra, além de trazer mais segurança e saúde, buscar a simplificação e otimização de toda a cadeia, de modo a adotar o uso de soluções de roteirização que diminuam o tempo de locomoção, como, por exemplo, o investimento em Pick Up & Drop Off Points, o que gera menor necessidade de locomoção de veículos, e a consolidação de suas mercadorias em um lugar, otimizando a logística da primeira e última milha. Como consequência, através dos investimentos, haverá o nítido engajamento dos funcionários, gerando um maior rendimento. Afinal, todos nós somos adeptos a se motivar com mudanças promissoras”, completa Guerra, do Guerrabatista.
A ele se junta Bethlem, do Instituto Capitalismo Consciente: o negócio dos negócios são pessoas, por isso o ‘S’ tem um papel fundamental na logística e envolve toda a cadeia do abastecimento e distribuição de produtos. “Mas, os maiores impactados, na minha opinião, são os motoristas dos caminhões, mas também todas as demais pessoas envolvidas.”
São vários os efeitos positivos do ESG na operação logística, aprimorando serviço, lealdade, integridade e confiança entre as pessoas envolvidas, agora segundo o diretor da Marcos Custódio Consultoria. Tais ações precisam promover a diversidade, equidade e inclusão, equilíbrio vida-trabalho, práticas trabalhistas transparentes e justas.
E Rodrigues, da MRD Consulting e da BR Rating, finaliza esta matéria destacando que, segundo o Painel de Acidentes, elaborado pela CNT entre 2010 e 2020, o Brasil registrou 1.424.281 ocorrências apenas nas rodovias federais. Desse total, 8,3% (118.309) podem ser associadas a questões de saúde dos motoristas, como sono, mal súbito ou ingestão de álcool e outras drogas. Esses transportadores rodoviários são responsáveis pelo deslocamento de 60% das cargas no país e, consequentemente, os avanços na direção de melhores práticas para eles já teria um impacto significativamente considerável no que se refere ao impacto do ESG relacionado à mão de obra do setor.
Empresas participantes desta matéria
(1) Grupo Scapini – Formado pelas seguintes empresas: Scapini Transportes, especializada no transporte nacional e internacional; LAM, especializada na manutenção de frotas e equipamentos pesados, semipesados e leves; Scasul, locadora de veículos; Honda Scapini, de venda de seminovos; Translíquidos, voltada para o transporte de produtos químicos, petroquímicos e outros granéis líquidos; e ScapiniSul, focada nas operações digitais e no mercado de e-commerce.
(2) AGR Consultores – Atua no setor de consultoria para clientes de toda a cadeia de consumo. Desenvolve projetos nas principais áreas de gestão dos clientes, com temas organizados em cinco torres: Eficiência e Gestão, Eficiência Comercial, Transformação Digital, Pré IPO e Pós M&A e Supply Chain.
(3) Bravo GRC – Empresa de tecnologia e consultoria para GRC e ESG que integra pessoas e processos para elevar o grau de conhecimento e consciência das organizações, garantir mecanismos de controle e proteger a integridade e reputação dos clientes e dos seus colaboradores.
(4) Marcos Custódio Consultoria – Empresa de tecnologia, desenvolvedora de diversas soluções e parceira da Zoho, especialista indiana em soluções de CRM.
(5) Instituto Capitalismo Consciente – Incentiva e ajuda empreendedores e líderes a aplicarem os princípios do capitalismo consciente em suas organizações alinhados às práticas ESG. Seu propósito é ajudar a transformar o jeito de fazer investimentos e negócios no Brasil com foco na redução das desigualdades.
(6) MRD Consulting e BR Rating – A MRD Consulting acumula projetos de gestão que somam R$ 786 milhões em faturamento. Na carteira, tem R$ 347 milhões negociados em projetos de Fusões & Aquisições; mais de R$ 7,3 bilhões em receita de empresas assessoradas; e administra cerca de R$ 300 milhões em dívidas. Já a BR Rating tem o objetivo de avaliar, de forma independente, os sistemas de governança corporativa adotados pelas empresas.
(7) Grupo BMV – Grupo empresarial que trouxe ao mercado a solução que remunera quem preserva e conserva florestas — UCS — e a acessibilidade de empresas e instituições à qualificação ESG — Selo Sustentabilidade Tesouro Verde — de forma segura e transparente.
(8) Grupo Intelipost – Grupo de tecnologia logística formado por três empresas: Intelipost – plataforma especializada em gestão de transporte que tem como propósito simplificar a logística do e-commerce; AgileProcess – startup de roteirização de entregas e coletas para otimização logística; Pegaki – plataforma que conecta rede de pontos com e-commerces, transportadores e Centros de Distribuição.
(9) Guerrabatista Associados – Consultoria corporativa para a tomada de decisões estratégicas.
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