Fábrica do futuro vai produzir múltiplos insumos, prevê Pöyry

Os vastos recursos florestais cultivados em solo brasileiro podem colocar o país entre os maiores produtores globais de bioprodutos. Trata-se de um negócio que começa a ganhar escala mundialmente por causa do apelo ecológico e do interesse de gigantes de bens de consumo em atrelar suas marcas a diferenciais relacionados a cuidados com o meio ambiente. Nesse cenário, as fábricas de celulose no mundo tendem a diversificar linhas de produção, fornecendo matéria-prima para uma série de bioprodutos que não somente papéis e cartões.

Um estudo da consultoria Pöyry, multinacional com sede na Finlândia que é referência mundial para a indústria de base florestal, indica que os fundamentos para a evolução desse “novo” negócio no país estão postos. O Brasil, diz o executivo sênior da Pöyry João Cordeiro, autor do estudo “O Futuro da Indústria Brasileira de Árvores – Imaginar para Conhecer!”, tem todas as ferramentas nas mãos para projetar o futuro com novos produtos.

Por aqui, os produtores de celulose e painéis de madeira são os mais competitivos do mundo e algumas tecnologias de bioprodutos, como a de bioplásticos, já são uma realidade. É o caso do polietileno verde produzido pela Braskem em Triunfo (RS), que levou a petroquímica mundial à liderança desse mercado. Na indústria de celulose, a Fibria está perto de construir uma usina de bio-óleo com escala mundial. O bio-óleo pode ser usado em substituição ao óleo de origem fóssil.

“É uma questão de no máximo alguns anos [para que mais projetos venham a mercado]”, afirma Cordeiro, que está radicado na Finlândia. Ali, um dos berços de novas tecnologias para a indústria de celulose e papel, a Stora Enso apostou na construção de uma biorrefinaria para extrair a lignina da madeira e usá-la para na fabricação de bioquímicos.

Aqui, a Suzano Papel e Celulose tem uma unidade-piloto de lignina de R$ 70 milhões em seu complexo de Limeira (SP) e a Fibria comprou em 2015 uma empresa canadense dona de patentes de produtos obtidos com lignina, hoje batizada Fibria Inovations.

Na avaliação de Cordeiro, em oito ou dez anos o uso de lignina em substituição de produtos feitos a partir de petróleo, como fibra de carbono, por exemplo, já deve ser viável. ‘Já existe projeto em laboratório e, num futuro bem próximo, devemos ter em escalas maiores”, comenta.

Os grandes impulsionadores dos produtos “verdes”, avalia o especialista, serão, além dos incentivos fiscais, grandes empresas preocupadas com sua reputação e compradoras das vantagens dos bioprodutos. “Companhias de petróleo e químicas estão firmando parcerias com grandes marcas em busca de matérias-primas sustentáveis”, afirma – a Tetra Pak, por exemplo, está em busca de uma embalagem 100% renovável.

Há, porém, desafios relevantes para ganho de musculatura da cadeia dos bioprodutos. O custo alto da tecnologia, que pode ser contornado se o consumidor aceitar pagar um maior preço por produto sustentável, é um deles. Outro é o baixo preço do petróleo, que reduz ainda mais a competitividade da cadeia “bio”. “Nesse cenário, será preciso avaliar qual produto ainda segue competitivo”, diz.

Fonte: Valor Econômico