Farmacêutico – Exigências promovem atritos

Entre os problemas que afetam o relacionamento embarcador/transportadora está o cumprimento de horários de agendamento de expedição e recebimento e a falta de uma especialização maior dos profissionais do setor.

A indústria farmacêutica é uma das mais exigentes, devido à destinação dos produtos fabricados. Os medicamentos atuam diretamente na preservação da vida e devem ter suas características preservadas, desde a fabricação até a utilização. O Brasil, por ter dimensões continentais, oferece um desafio para a manutenção destas características devido ao seu clima.  A temperatura externa varia consideravelmente durante um mesmo dia, e o transporte pode ser afetado se não houver o controle adequado.

Para Agnaldo José dos Santos, diretor operacional da Polar Transportes Rodoviários (Fone: 19 3765.9999), este é apenas um dos desafios que marcam a atuação das transportadoras no segmento farmacêutico.

“Além da temperatura – continua –, um problema recorrente é o envolvimento deste tipo de carga em casos de roubos e tentativa de roubos. O valor deste tipo de mercadoria é alto e, além do prejuízo financeiro, as indústrias farmacêuticas têm o inconveniente de recolher o produto no mercado, informar as agências reguladoras, etc. Muitas transportadoras ainda carregam diversas cargas misturadas com outros produtos, o que pode gerar mistura de lotes e produtos e contaminação.”

Para o diretor operacional da Polar Transportes Rodoviários, estes problemas podem ser resolvidos, sim, com a ajuda da tecnologia. “Utilizar-se de equipamentos modernos para manutenção das características dos produtos é a única solução possível para o problema referente à temperatura. O uso de registradores de temperatura é uma ferramenta eficaz para avaliar a viagem.”

Quanto ao problema de roubos – prossegue Santos –, existem diversas maneiras de se evitar: utilizar sistemas de rastreamento e escolta. E hoje existem travas que não permitem a abertura da porta do veículo. A chave não fica de posse do motorista e segue direto para o destino, impossibilitando a abertura em caso de abordagem por assaltantes.

“Já o problema de carregamento de produtos diversos, o que pode ser feito é a consolidação de cargas, ou seja, carregamentos de um mesmo cliente, desde que haja compatibilidade das cargas. Além disso, deve existir a rastreabilidade dos lotes e a coleta e entrega efetuadas no mesmo local. Hoje a Polar realiza somente este tipo de operação”, completa o diretor operacional.

​Geraldo José Fernandes Corrêa​, diretor comercial da ​Transportes Mira (Fone: 11 2142.9000), também aponta os maiores problemas no transporte enfrentados no segmento farmacêutico. “Quando uma organização, como é o nosso caso, torna-se especialista nesse tipo de transporte, os cuidados com a integridade do produto, bem como as exigências dos órgãos reguladores, são obstáculos que suplantamos estruturalmente com investimentos operacionais, equipamentos, tecnologia e desenvolvimento de colaboradores. ​Independente dessa visão otimista do segmento, os transportadores de forma geral estão extremamente constrangidos com três aspectos que consideramos preocupantes: insegurança com relação a sinistros e o descaso pelo qual esse assunto é tratado pelas autoridades; exigências ​extravagantes dos destinatários no momento da entrega, o que torna impossível melhorar os índices de performance e produtividade e, consequentemente, refletem em custos; e infraestrutura e insegurança nas rodovias e estado de conservação das estradas.”

Para Corrêa, estes problemas também podem ser resolvidos, com boa vontade. No aspecto segurança, por exemplo, estruturar os órgãos competentes de pessoal altamente preparado para desenvolver uma Inteligência de prevenção a sinistros e para o pronto atendimento a ocorrências.

“Com relação às exigências de entregas, estabelecer uma padronização de procedimentos de recepção de mercadorias desenvolvido pelo tripé embarcador/transportador/destinatário. ​No caso de infraestrutura, segurança e conservação, a solução ​sempre está atrelada ao envolvimento do Estado com a plena utilização dos recursos oriundos da própria atividade do transporte”, completa o diretor comercial da ​Transportes Mira.

Ubiraci Vicente, coordenador de marketing da Ativa Distribuição e Logística (Fone: 11 2902.5000), também aponta a infraestrutura como um dos problemas enfrentados pelas transportadoras que atuam no segmento farmacêutico.

“As dificuldades que enfrentamos são as mesmas que acompanham outros segmentos de serviços no país. No segmento farma em especial, um dos maiores problemas são as restrições a veículos de carga em determinados pontos da cidade. Mas temos problemas diversos em relação às estradas e gargalos de infraestrutura: paralisações, a questão da Lei do Motorista, as restrições aos veículos – rodízio e áreas restritas de entrega”, diz Vicente.

Ainda de acordo com ele, esse é um mercado que requer diversos cuidados na hora do transporte e na logística, é altamente regulado pelos órgãos vigentes. Além disso, requer um serviço especializado devido aos diferentes modelos de distribuição existentes no mercado brasileiro, e com profissionais qualificados que conheçam profundamente o escopo do negócio. Este setor é exigente nos critérios de qualidade, que são norteados pelas boas práticas farmacêuticas.

“Assim, os colaboradores que atuam nessa área necessitam de treinamento voltado às boas práticas de transporte e logística, coordenado pelos farmacêuticos, e para a gestão operacional, que precisa estar atenta às mudanças da rotina interna e externa nos aspectos de prazo e horário de coleta e entrega no cliente.”

Por seu lado, Luiz Mauro Alves Gomes, gerente comercial regional da Zero Grau Logística (Fone: 62 3611.4600), lembra a dificuldade de entregar no destinatário conforme agendamento. “Para solucionarmos este problema, o remetente deve informar ao destinatário que, caso a mercadoria não seja recebida conforme agendamento, as despesas com diárias, reentregas ou devolução correrão por conta dele, devido ao não recebimento conforme previsto”, enfatiza Gomes .

 

Relacionamento embarcador e transportadora

Para que aja uma perfeita sinergia no segmento farmacêutico, também é fundamental o relacionamento entre o embarcador e a transportadora.

Santos, da Polar Transportes Rodoviários, responde à pergunta sobre como é este relacionamento destacando: “o transporte é um dos elos mais importantes na cadeia de suprimentos. A Polar, que possui sua frota voltada para o transporte de medicamentos, possui um bom relacionamento junto a seus clientes. Todas as solicitações são atendidas de acordo com a necessidade e viabilidade”.

Ele também responde à outra pergunta: se as transportadoras costumam auxiliar na solução dos problemas do setor. “A Polar, enquanto transportadora, sempre procura se modernizar e a buscar as melhores soluções no mercado para atender a este segmento. Desta forma, tentamos minimizar o impacto da incidência de temperatura na carga, bem como o interesse dos assaltantes em relação à carga, por isso o índice de roubo dos veículos Polar hoje é zero”, comemora.

O diretor comercial da ​Transportes Mira revela que o relacionamento da empresa com os embarcadores é, de maneira geral, favorável, desde​ que se mantenha no campo profissional. “A relação cliente x fornecedor pode ser aperfeiçoada no sentido de ambas as forças buscarem as melhores oportunidades no campo dos negócios e na colaboração mútua para a minimização das dificuldades frequentes da atividade”, declara Corrêa.

​Com relação à questão de se as transportadoras costumam auxiliar na solução dos problemas do setor, o diretor comercial ressalta que o transportador está sempre pronto a auxiliar, mesmo porque é o elo mais frágil nesse processo, além de ser o único a arcar com todos os custos dessa ineficiência.

“Individualmente junto a embarcadores, destinatários e órgãos públicos, os transportadores oferecem alternativas que viabilizam a melhora da produtividade, aumentam a segurança com Gerenciamento de Riscos e que reduzem custo. No entanto, nossa atividade carece de uma liderança capaz de sensibilizar a sociedade sobre a nossa importância no contexto de desenvolvimento do país. Enquanto fizermos esse trabalho de forma individual, nossa importância será notada somente por aqueles que nos acompanham no dia a dia, e sem uma participação de todos os envolvidos, as mudanças são extremamente lentas e sem a profundidade necessária.”

Ainda segundo Corrêa, os embarcadores, com suas necessidades, e os transportadores, com sua dinâmica de atuação, realizam a importante missão de abastecer nosso país “e, nesse aspecto, entendemos que ​nossa atividade deveria possuir condição referencia​da no cenário nacional”.​

“As transportadoras se adequarão às exigências de cada destinatário, tanto na forma de separação, quanto na forma de paletização. Porém, as dificuldades para realizar as entregas continuam.”

A avaliação, agora, é de Gomes, da Zero Grau Logística. Porém, segundo ele, o relacionamento entre os dois envolvidos na operação de transporte é ruim, no aspecto de cumprir horários de agendamento de expedição e recebimento.  A solução viria, segundo o gerente comercial regional, pelo condicionamento do fluxo de expedição com o recebimento efetivo por parte do destinatário, não agravando o risco das transportadoras com as cargas paradas em seus depósitos, agravando o GR e causando custos extras com pessoal.

O coordenador de marketing da Ativa  Logística, por sua vez, destaca que os embarcadores precisam de transportadoras com expertise. É necessário investir cada vez mais em capacitação técnica para atendê-los. “A Ativa Logística já possui uma estrutura própria para atender a indústria farmacêutica, além da certificação, a capacitação de lugar e pessoal, gerenciamento de risco e limpeza que são fundamentais.”

Vicente também diz que, em termos de auxílio por parte das transportadoras, a sua empresa auxilia preparando uma equipe dedicada às tratativas da carga farmacêutica durante todo o processo, contando com o envolvimento dos farmacêuticos presentes em todas as suas unidades.

 

Tecnologia

Já que falamos em usar a tecnologia para enfrentar as dificuldades do segmento farmacêutico, os representantes das transportadoras também apontam as novidades tecnológicas que ajudaram na atuação entre embarcadores e transportadoras.

Na visão do diretor operacional da Polar Transportes Rodoviários, a empresa busca a melhor forma de chegar a uma solução junto aos seus clientes, se atualizando no mercado e modernizando seus equipamentos, tanto de monitoramento de temperatura como de segurança.

“​Independente de ser novidade, a tecnologia desenvolvida para agilizar o relacionamento entre transportadores e embarcadores é fator de destaque nessa relação​. Podemos mencionar a troca de informações via EDI, cobranças eletrônicas de faturas, baixas de entregas por celular, tracking das entregas em tempo real, sistema de gerenciamento de risco, roteirizador de entregas entre outros, como ferramentas indispensáveis para a manutenção de performance diferenciada no setor”, fala, agora, o diretor comercial da ​Transportes Mira.

Vicente, da Ativa Logística, revela que a empresa investiu em novos equipamentos de gerenciamento de risco para garantir o rastreamento de 100% de sua frota. A renovação e a compra de equipamentos, como rastreadores e câmeras, contribuem para que a companhia garanta a rastreabilidade de todos os produtos armazenados e transportados. “A carga de medicamentos requer cuidados especiais, o que torna a logística muito delicada. Algumas categorias, como a dos medicamentos constantes na resolução da portaria 344/98, necessitam de rastreabilidade rigorosa na armazenagem e transporte. Por isso mesmo, a Ativa Logística investe em equipamentos e na implantação de eficientes sistemas de segurança.”

Por último, Gomes, da Zero Grau Logística, aponta outras novidades em tecnologias que ajudam o segmento: a automatização no processo de pedidos de coletas, as etiquetas com código de barras, a separação das mercadorias por UF ou região ou por NF de pedidos maiores agilizam bastante o processo em relação ao carregamento somente por romaneio.

 

A importância do Prêmio Top do Transporte para o setor:

Vicente, da Ativa Distribuição e Logística: “a avaliação através do Prêmio Top do transporte é importantíssima para o acompanhamento do nível do serviço, além de ser reconhecido por nossos clientes que sinalizam que nosso trabalho alcançou seu principal objetivo: a satisfação do cliente”.

Santos, da Polar Transportes Rodoviários: “o Prêmio Top do Transporte é um indicador de como a empresa está sendo vista junto aos seus clientes. A indústria farmacêutica está em crescimento e este reconhecimento pode ajudar o relacionamento junto a seus fornecedores”.

​Corrêa​, da ​Transportes Mira: “o Prêmio Top do Transporte oferece aos indicados e vencedores a possibilidade de uma exposição nacional, pois atualmente é uma referencia de integridade em sua concepção. Muitos embarcadores robustos buscam nos transportadores participantes desse Prêmio a possibilidade de fortalecerem seus processos de distribuição, e isso facilita aos transportadores a obtenção de uma carteira de clientes consistente que possa perpetuar a organização na atividade”.

Gomes, da Zero Grau Logística: “o Prêmio é um Importante indicador para os embarcadores estarem acompanhando o nível de serviço das transportadoras”.

A voz do embarcador

Produzindo e comercializando produtos biológicos para saúde animal em mais de 100 países ao redor do mundo, a Hipra Saúde Animal (Fone: 51 3325.4500) foi um dos votantes no segmento farmacêutico e também analisa o setor.

Carlos Roses, diretor industrial da Hipra, fala que a empresa é uma multinacional espanhola com filial produtiva no Brasil e 28 filiais comerciais em todos os continentes. “O maior problema neste segmento é a falta de especialização no transporte para atender a cadeia de frio no Brasil. Este assunto está muito mais avançado nos países desenvolvidos. Este problema poderia ser resolvido com uma especialização nas necessidades do setor farmacêutico e de materiais perecíveis”, ressalta o diretor industrial.

Sobre o relacionamento embarcador e transportadora, Roses diz que a sua empresa tem um bom relacionamento, mas falta uma especialização maior dos profissionais do setor. Por outro lado, quanto ao fato de as transportadoras auxiliarem ou não na solução dos problemas do setor, o diretor industrial da Hipra fala que ainda não existe uma consciência em relação a essa necessidade das empresas. “As transportadoras também poderiam implementar várias medidas que auxiliariam no trabalho do embarcador, como tecnologias e serviços de monitoramento mais avançados, como também entender a realidade do mercado para aprimorar os serviços prestados”, completa.

Roses também avalia a importância do Prêmio Top do Transporte para a melhoria no relacionamento embarcador x transportadora: “o Prêmio é um termômetro do mercado de transporte e pode ajudar muito as empresas do setor a melhorarem os seus serviços, através do conhecimento da necessidade do cliente”.