A tragédia que se abate sobre o Rio Grande do Sul provoca inúmeras consequências, tanto humanitárias, quanto econômicas. No que se refere à logística em si, o “destaque” fica com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
Para Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo e que atua com comércio exterior e relações governamentais há anos, a interrupção temporária das operações no Aeroporto provoca uma série de desafios econômicos e logísticos para as empresas da região e além.
“Com previsão de reabertura em setembro, a retomada das atividades no aeroporto terá impactos significativos, inclusive nas cadeias de suprimentos. As empresas que dependem do transporte aéreo para envio e recebimento de mercadorias enfrentarão desafios durante o período de fechamento, como atrasos na produção, falta de insumos e aumento nos custos logísticos”, adverte Campos.
Outro ponto de atenção que o especialista ressalta é a necessidade de agilidade nas doações, já que há uma rota a menos e tendo em mente que parte das doações ao Rio Grande do Sul chegam pelo modal aéreo.
Veja a seguir a avaliação feita pelo especialista, nesta matéria especial para o Portal Logweb.
Empresas prejudicadas
Para Campos, considerando os principais impactos econômicos e logísticos, as empresas que produzem produtos farmacêuticos e que oferecem frutas, flores e carnes devem ser as mais prejudicadas na exportação em razão da necessidade de um tempo de trânsito curto. Também neste nicho estão os eletrônicos, componentes industriais de alta tecnologia e outros produtos que, apesar de pequenos, possuem alto valor e seriam afetados pelo aumento dos custos de transporte em relação ao seu valor e pelo risco de movimentação pelas estradas.
A verdade é que, com o transporte aéreo sendo interrompido, empresas que dependem do modal para envio e recebimento de mercadorias são as mais afetas, incluindo as doações para ajudar quem precisa durante a catástrofe. Isso pode gerar atrasos na produção, falta de insumos e aumento nos custos logísticos.
“Em se tratando de exportação, os desafios a serem considerando incluem o aumento dos custos logísticos e os atrasos nas entregas, que poderiam tornar os produtos exportados pela região menos competitivos no mercado internacional. Os prazos não deverão ser cumpridos e produtos perecíveis correm o risco de estragarem ou se tornarem inviáveis por conta da velocidade que precisam ser entregues. O transporte rodoviário adicional para trazer as mercadorias de outros aeroportos até Porto Alegre aumenta os custos de importação, impactando a competitividade das empresas da região, fazendo com que muitas delas não consigam absorver os custos ou repassar aos consumidores, que também estão em momento crítico”, aponta Campos.
Ele faz outro alerta: com o fechamento do aeroporto por tempo indeterminado, as mercadorias importadas terão que ser redirecionadas para outros aeroportos, como o de Caxias do Sul (com diversas limitações) ou o de Florianópolis, SC, aumentando o tempo de trânsito e os custos logísticos, além de congestionar estes outros locais com cargas.
Retomada
A retomada de atividades do Aeroporto Salgado Filho poderá influenciar as operações das empresas a curto e longo prazo a depender de quando irá acontecer, aponta o especialista. “Apesar de a concessionária do aeroporto refutar a paralisação até setembro, a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil proibiu a venda de passagens aéreas por tempo indeterminado e a logística aérea para Porto Alegre acontece substancialmente em voos comerciais. Menos de 5% acontece com aeronave de carga.”
Abordando a questão das alternativas disponíveis para as empresas lidarem com os desafios logísticos decorrentes do fechamento temporário do aeroporto, Campos lembra que, no que se refere ao transporte aéreo, as alternativas são o aeroporto de Navegantes e Florianópolis, em Santa Catarina, e Canoas, ainda no Rio Grande do Sul, mas com diversas limitações. Ainda há a opção rodoviária, onde há acesso, e o porto de Rio Grande segue operando normalmente.
Ainda há que se considerar a questão das doações, que requerem agilidade. “O transporte aéreo é sempre o modal mais rápido para grandes distâncias, então o fechamento do aeroporto que está no centro dos locais que mais precisam receber doações certamente impacta diretamente o recebimento, que acaba tendo que tomar uma das alternativas disponíveis.”
Sobre as medidas que as empresas podem adotar para mitigar os impactos negativos do fechamento do Aeroporto Salgado Filho em suas operações, Castro destaca que, quando for possível, se planejar para uma logística mais ajustável. Qualquer alternativa que precise ser desenhada às pressas será cara. Se as empresas conseguirem ter estoques de segurança maiores na importação, elas podem importar no marítimo, e ele vale para a exportação. Outra forma é levar a carga de caminhão até os aeroportos de Santa Catarina que estão operando. No fundo, aponta, todos sabem da gravidade e da situação do Estado. “É importante que compradores e vendedores se sensibilizem e flexibilizem penalidades previstas em contratos neste momento de dificuldade.”