Felício Ramuth, prefeito de São José dos Campos, destaca o potencial logístico da região

Entrevista - Felício Ramuth - Crédito Claudio Vieira

Eleito prefeito de São José dos Campos em 2016, pelo PSDB, na primeira vez que concorreu a uma eleição, Felício Ramuth é formado em Administração com pós-graduação em Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas. Antes disso, já havia atuado em outras gestões da prefeitura: como presidente da Urbanizadora Municipal, Secretário de Transportes e Assessor de Planejamento e Comunicação nos governos de Emanuel Fernandes e Eduardo Cury, no mesmo município.

Nesta entrevista exclusiva à Logweb, ele fala sobre o potencial logístico de SJC e os projetos que estão sendo desenvolvidos na área, envolvendo os principais modais de transporte.

Logweb: Qual o potencial logístico de São José dos Campos?
Ramuth: A localização de São José dos Campos é privilegiada por estar no eixo entre São Paulo e Rio de Janeiro, com uma malha de rodovias de qualidade, aeroporto com um TECA pronto para atender ao grande número de indústrias da região e o Porto Regional de São Sebastião. Polo da RMVALE (com mais de dois milhões de habitantes), a cidade tem um PIB de R$ 40 bilhões e PIB per capta de R$ 52.860,00, segundo dados do IBGE 2017. Apresenta marcante desenvolvimento econômico e tecnológico e dispõe de um dinâmico ambiente de negócios, formado por um complexo de indústrias (como GM, J&J, Embraer, Bayer e Ericson), comércio, serviços, centros de pesquisas (como INPE e CTA), incubadoras e universidades das mais competitivas do país (como ITA). Além disso, é reconhecida mundialmente como polo tecnológico avançado e indústria aéreo espacial, estando entre as três primeiras do mundo.

Logweb: Como a região favorece a integração de diversos modais?
Ramuth: Seu sistema rodoviário está entre os melhores do Brasil em qualidade e integração, formado por: BR-116 (Rodovia Presidente Dutra); SP-055 (Rodovia dos Tamoios, duplicada com anel de contorno até o porto); SP- 065 (Rodovia D. Pedro); SP-070 (Rodovia Ayrton Senna); SP-070 (Rodovia Carvalho Pinto); SP-383 (Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro), ligando ao sul de Minas Gerais. Por sua vez, o Aeroporto Internacional possui terminal de carga alfandegado, com programa de incentivo. O TECA já está privatizado e é altamente competitivo. O Porto Regional de São Sebastião se prepara para privatização ou concessão através de acordo entre o Governo do Estado de SP e a Antaq. Além disso, a ferrovia (MRS Logística), que interliga SP, RJ e MG, possui na região alguns terminais intermodais, expandindo, ano após ano, tanto a infraestrutura quanto a movimentação de cargas.

Logweb: Qual a importância que a prefeitura dá a projetos de infraestrutura para facilitar a logística de cargas na região?
Ramuth: Ao ser eleito no primeiro turno, em outubro de 2016, estabeleci as diretrizes estratégicas para o desenvolvimento na minha gestão, estando a logística entre as áreas com mais inovação e ousadia. Para facilitar a atratividade dos investimentos em Condomínios Logísticos, Terminais Intermodais e Portos Secos, foi criado um grupo de trabalho que adequou o plano diretor da cidade, historicamente direcionado para indústrias. Além disso, aprovamos lei específica para dar incentivos e dinamismo ao setor.

Logweb: Quais os projetos logísticos que estão sendo desenvolvidos pelo governo na região?
Ramuth: O projeto estratégico já desenvolvido em 2017 chama-se Plano de Desenvolvimento de Logística – PDLG, que compreende várias iniciativas. Pretendemos criar a cultura da regionalização da logística em várias cadeias de abastecimento entre indústria e varejo, acompanhando a evolução do mercado, por exemplo, os setores farmacêuticos, de supermercados e e-commerce. O PDLG também tem como objetivo estimular a criação de centros de consolidação regionais para operações logísticas setoriais, como indústria automobilística (GM, Cherry, Volkswagen e Ford) e setor aeroespacial (Embraer/Boeing e Avibrás), bem como estimular a criação de linhas regulares de cabotagem para o Porto Regional de São Sebastião. Está no projeto desenvolver estudos para a instalação de um Entreposto da Zona Franca de Manaus, a exemplo de Resende, RJ, e Uberlândia, MG, bem como estimular o desenvolvimento e a implantação de trens regionais de carga geral/contêiner ligando o Vale do Paraíba a São Paulo e Santos pela MRS, e interior de SP/Sul de Minas através da integração com a ferrovia ALL. Por fim, faz parte do PDLG atrair voos cargueiros para facilitar os processos das indústrias da região. Outro projeto inovador em fase de estudos preliminares é a criação de Centro Logístico Municipal – CLM para consolidar todos os materiais e produtos utilizados pela Prefeitura no atendimento das várias Secretarias, especialmente a Secretaria da Saúde. O CLM pretende resultar na atratividade de grandes Operadores Logísticos, tendo em vista a nossa intenção, a exemplo das empresas privadas, de terceirizar a gestão e a operação através de sistemas, tecnologias e instalações (estado da arte) para beneficiar os cidadãos e aprimorar a rede de abastecimento municipal.

Logweb: Sobre a lei que cria incentivos para atrair empresas de logística para a região, aprovada em abril de 2018, quais os resultados obtidos desde então?
Ramuth: Conhecida como Lei da Logística, trata-se de um programa inovador e diferenciado aprovado integralmente pela Câmara Municipal e já publicado no Diário Oficial do Município como Lei Complementar nº 605/2018. Alguns resultados já consolidados podem ser visto na tabela abaixo.

Tabela_Entrevista

Logweb: Quais as principais vantagens dessa lei para as empresas de logística?
Ramuth: Entre as vantagens estão os incentivos fiscais que a prefeitura oferece de forma inteligente, conforme a matriz, como desconto no IPTU, nas taxas de lixo, publicidade e de fiscalização de funcionamento. Outro fator importante de atratividade para as empresas de logística é que a Lei nº 605 beneficia tanto o investidor quanto o embarcador e o Operador Logístico. Ressaltamos também como importante o modelo de aprovação de projetos na prefeitura, que dominamos “Fast Track”, pelo qual, através de um ponto focal, permite agilizar a documentação da Prefeitura e auxiliar diante de outros órgãos inerentes (licença ambiental, bombeiro, etc.).

Logweb: Ainda sobre a lei, quais as expectativas em longo prazo?
Ramuth: Mais do que expectativas, deslumbramos muito otimismo com o Governo Federal e o Governo Estadual no momento. Esse otimismo deverá resultar em aumento de consumo, ao mesmo tempo em que as grandes empresas dos setores que mencionei estão caminhando para a regionalização das centrais de distribuição e abastecimento. Assim, temos como expectativa para os próximos dois anos a instalação de dois condomínios logísticos.

Logweb: Pode citar estruturas logísticas de sucesso na região?
Ramuth: Uma delas é o Condomínio Century Empresarial, constituído em 2017, totalmente ocupado e em expansão neste momento, totalizando 220.000 m². Outra é o Centro de Distribuição da Somos Educação, com aproximadamente 100.000 m², sendo o principal CD do setor livreiro da América Latina.

Logweb: Quais os desafios que São José dos Campos ainda enfrenta com relação à logística?
Ramuth: Pretendemos aumentar nossa visibilidade como município de vocação logística junto aos investidores, consolidando a região como de grande oportunidade e fronteira logística para novos empreendimentos de grande porte. Objetivamos criar uma cultura regional junto aos embarcadores para o abastecimento das novas estratégias do mercado logístico em transformação intensa.

Logweb: Como eles podem ser resolvidos?
Ramuth: Aproximando nossas equipes técnicas das empresas de toda a cadeia logística local e também atraindo novos Operadores Logísticos e demais players para a região. Há uma oportunidade aí, nosso município deverá receber brevemente maciços investimentos derivados do Plano de Modernização da GM, além do desembarque, ainda em 2019, da gigante Boeing, líder absoluto do mercado aeronáutico mundial. Aliado a isso, teremos todo o crescimento da cadeia de óleo e gás, por conta do Pré-Sal, que fica aqui ao lado. Certamente estes setores gigantescos da economia nacional deverão demandar estruturas logística modernas e adequadas ao padrão de suas operações e estamos no centro geográfico disso tudo.

Logweb: Como o Plano de Desenvolvimento de Logística tem trabalhado a relação entre investidor, embarcador e Operador Logístico?
Ramuth: Temos uma equipe de logística subordinada à Secretaria de Inovação e Desenvolvimento Econômico que criou um plano de divulgação visando colocar SJC e RM Vale no radar dos grandes players. Já foram efetuadas diversas reuniões com a ABOL, grupos de investidores, vários embarcadores (indústria e varejo), e no momento estamos dando início à utilização de propaganda nos canais especializados em logística. Temos sete eventos setoriais ao longo de 2019 para prover discussões entre todos estes atores, além de um ótimo network.

Logweb: Poderia citar algumas empresas parceiras que estão fazendo a diferença no desenvolvimento da logística na região?
Ramuth: Já fizemos o mapeamento em 41 empresas de grande porte e alguns fornecedores que dispuseram informações sobre armazenagem, transporte e movimentação de carga inbound e outbound. Com estas informações tivemos uma visão geral da movimentação de carga na RM Vale para traçarmos estrategicamente os planos logísticos para os próximos anos. Destacamos: Panasonic, Embraer, Volkswagen, Parker, GM, REVAP, Atuali, DTA Cargo, Infraero, PacLog, MRS, Tegma e Grupo Bueno, entre outras.

Logweb: Fale sobre o conceito de “municípios logísticos”.
Ramuth: É um conceito bem interessante e que nos interessa de pronto, até porque São José dos Campos já está dotada de alguns empreendimentos típicos. Temos interesse de atrair mais alguns, pois a cidade dispõe de áreas espetaculares, ambientalmente sem passivos, e cuida muito bem da formação de seu capital humano. Além disso, com toda infraestrutura intermodal, SJC é candidata a se consolidar como município logístico.

Logweb: Fale sobre a tendência universal dos parques logísticos e como São José dos Campos está seguindo esse rumo.
Ramuth: A cidade está seguindo este rumo firmemente nas ações que já concretizou na revisão do seu Plano Diretor e, neste momento, com as discussões técnicas que nortearão a revisão da lei de zoneamento municipal. O que se pretende configurar na nova lei, que será aprovada no início do segundo semestre de 2019, após ampla discussão com a população e as entidades representativas, é um ambiente ainda mais receptivo aos empreendimentos logísticos de médio e grande porte. Adicionalmente, aprovamos em 2018 a Lei da Logística, que dá velocidade e incentivo ao setor como um todo. Organizamos, cada vez mais, eventos e capacitações para elevar o capital humano em toda a região. Tudo isso visa a atrair novos parques logísticos.