A Gerdau vai investir R$ 550 milhões para ampliar a capacidade produção de aços especiais na usina de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, anunciou na manhã desta quinta-feira o presidente da siderúrgica, Gustavo Werneck. “É uma confirmação de que o Brasil retornará ao crescimento. É o primeiro sinal que a gente dá de confiança da economia brasileira”, disse o executivo, em encontro com analistas e investidores em São Paulo.
Com o investimento, a companhia elevará a capacidade de produção de aços especiais na usina paulista de 600 mil toneladas para 1 milhão de toneladas por ano. “Ao mesmo tempo, prepara [a Gerdau] para ser protagonista na transformação da indústria automotiva brasileira”, disse Werneck.
O projeto permitirá ainda à Gerdau iniciar a produção de aços limpos, mais leves e resistentes, com aplicação na fabricação de veículos elétricos e híbridos. O investimento, acrescentou Werneck, está alinhado à estratégica da companhia de ser um participante cada vez mais relevante na indústria automotiva, que deve passar por profundas transformações a partir de agora.
O segmento de aços especiais é de “extrema relevância” para Gerdau, disse o executivo. No Brasil, a expectativa é de crescimento de 7% no consumo em 2019, 1 milhão de toneladas, e de cerca de 4% nos Estados Unidos.
“A discussão sobre o segmento de aços especiais amadureceu mais rapidamente, o que nos permite ter uma visão mais clara de como devemos operar o que temos. Essa decisão do investimento de R$ 550 milhões na aciaria foi muito bem pensada. Outros temas, como o próprio negócio do Brasil e dos Estados Unidos, estão em processo de discussão”, disse o vice-presidente de finanças da companhia, Harley Scardoelli.
A companhia estuda, por exemplo, a reforma do alto-forno de Ouro Branco (MG), que deve ocorrer em 2022. Neste momento, a equipe de engenharia está trabalhando no orçamento do projeto.
Para 2018, a Gerdau manteve a previsão de desembolsos de R$ 1,2 bilhão, mas esse valor deve subir nos próximos anos, conforme Werneck, diante da aprovação de novos projetos. Nos últimos anos, lembrou Scardoelli, a Gerdau levantou cerca de R$ 7 bilhões com a venda de ativos, o que permitiu à companhia se concentrar nos negócios de maior rentabilidade e reduzir a dívida para níveis mais adequados.
Dividendos
A distribuição de dividendos pela Gerdau tende a ser tornar mais forte e robusta ao longo do tempo. Mas, ao menos por enquanto, a siderúrgica mantém a política de pagamento de no mínimo 30% do lucro líquido ajustado do exercício, de acordo com o vice-presidente.
“Com uma visão mais clara da política de alocação de capital, a gente pode revisar isso. Vamos evoluir e estamos no ponto de ter definições maiores. [O dividendo] se mantém em 30%, mas naturalmente vai arrancar com os resultados melhores. No ano que vem podemos repensar”, afirmou.
Cenário
A Gerdau enxerga crescimento “importante” em 2019 especialmente nas geografias que ficaram entre as prioridades da siderúrgica, disse Werneck. Para o Produto Interno Bruto (PIB) global, a previsão é de crescimento de 3,6%, com expansão entre 2,3% e 2,4% no Brasil, segundo estimativas de mercado, citou o executivo.
“A China vai continuar crescendo, mas há preocupação quanto à sustentabilidade, Nossa visão é que a China cresce 6,18% no próximo ano”, afirmou. Nos Estados Unidos, com base em estimativas da World Steel Association (Worldsteel), a previsão é de crescimento de 1,3% no consumo de aço no ano que vem.
No Brasil, comentou Werneck, o Instituto Aço Brasil (IABr), prevê hoje crescimento de 6% no consumo de aço. “Neste momento estamos discutindo qual será a estimativa de crescimento em 2019. A gente está bastante otimista”, comentou. Alguns segmentos consumidores devem mostrar reação já no início do ano e outros devem se acelerar no segundo semestre. “Enxergamos um 2019 positivo, que vai nos ajudar nesse momento em que encerramos a etapa de desinvestimentos. Acreditamos que nos segmentos e regiões em que [a Gerdau] ficou, o crescimento será importante e ajudará na evolução de resultados e rentabilidade já a partir de 2019”, acrescentou.
Especificamente na China, que tem forte influência no desempenho da indústria siderúrgica mundial, a expectativa é de continuidade do fechamento de capacidades poluentes. Sobre o crescimento da economia do país asiático, embora se especule sobre uma desaceleração, Werneck avalia que o impacto no mercado de aço não será visto no curto prazo. “O impacto de uma possível desaceleração da China não vai ocorrer de imediato”, disse.
No Brasil, com a recuperação do PIB, a expectativa é de demanda mais forte do segmento de óleo e gás já no início do ano e continuidade da recuperação na construção civil residencial. A maior expectativa da Gerdau, porém, está relacionada à retomada das obras de infraestrutura e, com o novo governo, isso deve ocorrer de maneira “mais intensa”, mas com recuperação não tão rápida quanto no segmento imobiliário. “A expectativa também é positiva quanto ao ciclo de investimento em infraestrutura no segundo semestre do ano que vem”, afirmou o executivo.
Guerra comercial
Scardoelli disse que a guerra comercial travada entre Estados Unidos e China preocupa, à medida que pode afetar o desempenho da economia global e seu crescimento. “Nosso produto é altamente dependente do PIB e qualquer efeito indireto que isso tenha sobre as economias pode reduzir o potencial de crescimento do consumo do aço”, afirmou.
Para 2019, a Gerdau trabalha com um cenário de manutenção da seção 232, por meio da qual o governo americano justificou uma sobretaxa de 25% às importações de aço, que eventualmente poderia mudar de imposto para cota de importação.
No geral, acrescentou o executivo ao ser questionado sobre efeitos da guerra comercial, a Gerdau tem trabalhado para fortalecer sua competitividade. “O nome do jogo é ser competitivo. Não dá para amenizar o fato que estamos mais protegidos com a venda de operações que eram mais suscetíveis”, observou. “E como produzimos no país, para consumo no próprio país, diria que estamos em uma posição boa.”
Preço
A Gerdau prevê que a diferença entre preço de venda do aço e o preço da sucata nos Estados Unidos deve continuar elevado em 2019. Werneck destacou que, após a venda do negócio de vergalhões naquele país, a siderúrgica passou a se concentrar em segmentos de maior rentabilidade, como perfis comerciais e estruturais e aços especiais.
Questionado sobre os preços do aço no Brasil, o presidente da Gerdau afirmou que o prêmio de importação, que vinha negativo no início do ano, chegou recentemente ao terreno positivo. “O que é extremamente sustentável num país que tem demanda muito baixa ainda”, observou. “[O prêmio] está se estabilizando agora e vamos ver como vai se comportar ao longo de 2019”, acrescentou.
Em função do prêmio positivo e do mercado doméstico de aço ainda aquém de seu potencial, a Gerdau não vê espaço para uma entrada mais forte de aço importado no país. “Não é atrativo para grandes volumes de importação”, explicou.
Competição
Werneck disse também que a siderúrgica não está em busca de ajuda do governo, mas defende o estabelecimento de condições insonômicas de competição com outros produtores de aço ao redor do mundo. “Cada vez mais a gente se convence de que, dentro dos muros da empresa, a gente pode competir de igual para igual com qualquer outro competidor, até o chinês”, disse. Fora desses muros, porém, a carga tributária tira a competitividade do aço brasileiro quando exportado.”
O novo governo brasileiro, eleito em outubro, tem criticado o tamanho dos subsídios à indústria no país e defendido a ampla abertura comercial.
“Temos defendido ao longo dos últimos tempos que a grande saída para a economia brasileira é a exportação. É preciso criar condições para as empresas brasileiras exportarem. Não deveríamos exportar impostos”, acrescentou.
Conforme Werneck, a indústria não discute o Reintegra porque quer ajuda, mas sim condições de competir de forma justa no mercado internacional. Essa busca por competitividade, seguiu o executivo, pode ser alcançada nos próximos anos se as reformas estruturais forem levadas adiante no país. “Vemos a possibilidade ao longo dos próximos anos desse fenômeno acontecer no país, com as reformas que virão, com apoio à indústria ao longo do tempo no sentido de cirar isonomia. Então, defendemos que transformações deveriam acontecer no Brasil”, disse.
Porém, o setor siderúrgico tem demonstrado ao novo governo que “virar a chave de uma hora para a outra vai matar a indústria brasileira”. “Estamos convictos que a decisão de abrir tudo vai matar a indústria brasileira. Somos defensores de medidas, desde que feitas de forma progressiva, de criar condições a empresas como a nossa, como a indústria brasileira exportadora, para que se possa competir. Nossa projeção é que isso seja feito de forma, gradual, lenta”, acrescentou.
Fonte: Valor