Quando se fala em comércio exterior, vêm à mente os resultados alcançados nos últimos tempos. E que poderiam ser melhores para o Brasil se houvesse uma infra-estrutura adequada e não contássemos com o “Custo Brasil”.
Quando se faz uma análise do comércio exterior, nota-se que a atuação do Brasil em 2007, quando comparada ao ano de 2006, foi considerada satisfatória, apesar da valorização do Real sobre o Dólar Americano e de outras dificuldades de natureza estrutural e institucional, conhecidas no mercado como “Custo Brasil”.
Segundo aponta o professor Edmundo Pinho Ayres, presidente do Comitê de Comércio Exterior da Câmara de Comércio Americana para o Brasil – AmCham-Brasil, diretor regional da ABECE, RJ – Associação Brasileira das Empresas Comerciais Exp. & Imp – Tradings em São Paulo e membro do Conselho Superior de Comércio Externo da FECOMERCIO – Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fone: 11 5685.8530), em 2007, as exportações alcançaram US$ 160,6 milhões (+16.65%) e as importações US$ 120,6 bilhões (+ 32%) contra, respectivamente, US$ 137,8 bi e US$ 91,3 bilhões registrados em 2006. O saldo comercial foi menor em 2007: US$ 40,0 bilhões, enquanto em 2006 foi de US$ 46,4 bilhões.
“As projeções para 2008 apontam para US$ 182,0 bilhões com exportações e US$ 155,0 bilhões com compras externas, reduzindo, nesse caso, o saldo comercial para US$ 27,0 bilhões e apontando uma piora inequívoca nas contas externas do país”, diz Ayres.
Para ele, a contínua apreciação do Real e a forte disposição do setor privado em ampliar a capacidade instalada, para atender ao mercado interno com poder de compra visivelmente reconstituído por salários reajustados e alimentado por credito farto, explicam uma parte expressiva do aumento esperado para importações deste ano.
“É inegável que o Brasil, a cada década, vem aumentado sua participação no comércio exterior, sem estar devidamente preparado para suportar tal crescimento”, acrescenta Vanildo J. Benati, diretor comercial da Haidar Administradora de Comércio Exterior (Fone: 11 3346.6911).
Infra-estrutura
Sobre se a infra-estrutura logística interna é um problema para que o Brasil tenha melhores resultados no comércio exterior, o professor Ayres comenta que os gargalos logísticos observados nos portos marítimos com forte concentração de cargas exportadas e importadas – estimadas em 95% do fluxo total da balança comercial – prejudicam a dinâmica do comércio e reduzem expressivamente a produtividade e a rentabilidade dos agentes econômicos privados.
“A utilização mais eficiente em nosso país dos módulos de transporte rodoviário e ferroviário, por sua vez, é prejudicada por estradas em péssimas condições de conservação e inibida, no caso das ferrovias, por traçados de redes excessivamente regionalizados e pela existência de bitolas incompatíveis. O uso de hidrovias em escala comercial permanece contido nos limites impostos por legislação ambiental conflitiva e pouco assertiva às necessidades de um país de dimensões continentais, mas que dispõe de bacias navegáveis”, avalia o professor.
Para Benati, da Haidar, de fato, a infra-estrutura logística interna deve urgentemente se adequar, para que tenhamos melhores resultados no Comex.
“Sem dúvidas, ainda temos graves problemas de infra-estrutura logística em nosso país. Isto acaba se revertendo em ineficiências e conseqüentes custos mais elevados para levar nossa produção até os portos. No entanto, temos visto um importante avanço em soluções de armazenagem, transporte intermodal e terminais de contêineres que vêm criando para o mercado sinergias entre as diversas etapas da cadeia de escoamento da produção. Naturalmente existe ainda muito espaço para novos empreendimentos em infra-estrutura logística que serão imprescindíveis para suportar o crescimento das exportações brasileiras”, avalia, por sua vez, Alan Fuchs, diretor de gestão da Standard Logística (Fone: 41 2118.2800).
O papel do governo
Com relação ao que precisa ser feito por parte do governo para que o país melhore sua atuação no comércio exterior, o professor Ayres destaca que o aumento da participação do Brasil no comércio mundial está atrelado a estímulos concretos que conduzam a uma redução dos custos internos de transação e diretrizes claras de política comercial, em apoio à diversificação de mercados/destinos nas vendas externas.
“Novos ganhos de eficiência no agronegócio de exportação (biocombustíveis, carnes, grãos, frutas e sucos, lácteos, etc.) e incentivos à maior agregação de valor na pauta exportável de semi-elaborados e de manufaturados compõem parte expressiva da agenda das empresas – com ativos produtivos focados no mercado externo”, diz Ayres.
Ainda de acordo com ele, os atores e agentes econômicos aguardam a divulgação da nova Política Industrial do Governo Lula/Fase II, batizada de “Política de Desenvolvimento Produtivo”, sobretudo para ver se a mesma contempla medidas que tornem mais rentáveis as atividades empresariais no comércio exterior.
Já o diretor comercial da Haidar avalia que é necessário que o governo invista na melhoria dos portos, aeroportos e rodovias e, principalmente, elimine rapidamente a burocracia que ainda existe no setor, com o objetivo de minimizar o “Custo Brasil”.
“Não acredito em instrumentos cambiais que possam ser artificialmente criados para melhorar nossa balança comercial. O que o país precisa é de investimentos cada vez maiores em infra-estrutura que crie condições de reduzir custos em logística terrestre nacional. Desta forma, o governo deveria incentivar tais investimentos, criando linhas de financiamento cada vez mais longas e baratas, permitindo à iniciativa privada condições de obter retorno econômico sobre investimentos em infra-estrutura logística. Além disto, uma melhor regulamentação na legislação ambiental se faz necessária, permitindo, de forma responsável e sustentável, que projetos em infra-estrutura não levem anos para sair do papel”, completa Fuchs, da Standard Logística.
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