Integração: a automação de processos na cadeia logística

Um problema evidente no atual cenário da gestão logística no Brasil é o fato de existirem empresas com sistemas que fazem o tracking parcial da cadeia, que é o acompanhamento de um determinado item nas etapas de cada processo. Ou seja, para ter a visibilidade total, as empresas atualmente precisam adquirir ou consultar diversos sistemas, sendo que, em alguns casos, eles ainda fazem o papel apenas de consulta e não possuem vínculo com a operação real.
Nesse contexto, o processo fica mais demorado e, o que é pior, mais burocrático e com finalização comprometida. Por exemplo: uma empresa envia um material para o transportador rodoviário, o qual ainda vai passar pelo agente, transportar de modo marítimo ou aéreo e depois passar novamente por outro transportador rodoviário até a entrega ao destinatário. A documentação também toma um caminho para os responsáveis pelo recebedor, passando pelos transportadores, despachantes e órgãos de controle. Em uma situação como essa, o gestor é obrigado a acessar muitos sistemas e, no meio do caminho, se o material for transferido de um contêiner para outro, é necessário saber o número do contêiner, depois o número da ordem de serviço para acessar a localização do material e para onde ele foi transferido. É imprescindível fazer esse acompanhamento passo a passo nos mínimos detalhes, mas, ao mesmo tempo, é algo muito complicado e nem sempre preciso.
Somam-se a isso os possíveis imprevistos, tais como extravios, que podem gerar um custo extra para acionamento da transportadora que vai coletar um material no porto. Mesmo que aconteça a coleta, ainda há o risco de nem ser possível prosseguir com o transporte até o destino correto.
Em pleno século XXI e em época que a tecnologia domina todas as áreas da economia mundial, é contraditório demais (e lamentável) termos um cenário de falta de visibilidade do fluxo de informações.
A solução para que as empresas que lidam com cadeia logística passem a ter visibilidade total é a adoção do processo automatizado para gerenciar, de forma consolidada, as operações e informações de tudo que for relacionado a “movimento” (produção, armazenamento, transporte e distribuição de material).
Essa automação permite a identificação de um problema antes mesmo de o material ser remetido. Se for importado, a prevenção se torna ainda mais estratégica, pois gera maior redução de custos em relação a produto nacional e evita a exposição da empresa a uma auditoria rígida, que colocaria em risco sua operação.
Neste cenário, também devemos nos atentar às demandas da logística 4.0, que exigem muito mais das empresas em termos de rastreabilidade do material. Os sistemas não podem mais ser desconectados. Mais uma vez, o caminho é adotar um sistema que esteja integrado a um processo automatizado de logística. Quanto mais informações e conhecimento logístico for possível agregar por meio da visibilidade, maiores e melhores são as condições para a tomada de decisão nas empresas.
Por fim, outro ponto importante é o erro do excesso de “proteção da informação”, pois muitas empresas ainda têm receio de abrir os dados e permitir que outra companhia tenha acesso. Mas essa cultura é antiga, é preciso quebrar esse tipo de barreira. Até porque dá para “proteger a informação sem escondê-la”. Exemplo: o compartilhamento de informações entre os sistemas por meio da automação de processos internos para criar estatísticas do negócio é uma maneira de compartilhamento sem exposição, com o benefício de gerar ganhos reais de eficiência e colaboração. Esse é outro problema que pode ser resolvido com a automação.
Jefferson Castro
Gerente de Produto da Atech, empresa do Grupo Embraer. Graduado em Engenharia Mecânica Industrial pela Escola de Engenharia Industrial, mestre em Engenharia pela Unesp, com especialização em Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística pelo MIT, ocupou diversas posições na Embraer em sua trajetória profissional, como engenheiro de desenvolvimento de processos e engenheiro de vendas.