Integração das tecnologias de RFID e IoT promove grande avanço na gestão de informações na logística

Apesar do avanço tecnológico que as etiquetas RFID proporcionaram, sua aplicação ficava restrita a nichos de mercado e comunidades fechadas. A integração das etiquetas de RFID com a infraestrutura aberta de IoT ampliará, exponencialmente, as aplicações com RFID.

 

A integração das tecnologias de RFID e IoT representa um grande avanço na gestão de informações corporativas, principalmente na área de logística. As etiquetas de RFID atribuem inteligência a objetos físicos, conectando-os a novas tecnologias, como Blockchain e Big Data, e permitindo o uso intensivo de inteligência artificial.

Ainda segundo Eduardo Fagundes, fundador e CEO da nMentors Engenharia, empresa de engenharia de dados que desenvolve soluções tecnológicas orientadas a dados para apoiar estratégias de transformação digital, projetos de melhoria contínua e sustentabilidade, as etiquetas RFID, passivas ou ativas, enviam informações de coisas físicas (embalagens, animais, produtos farmacêuticos, roupas, pessoas, etc.) através de campos eletromagnéticos para identificar e rastrear, automaticamente, as etiquetas anexadas, utilizando protocolos de comunicação padronizados internacionalmente. “Os dados coletados alimentam sistemas de gestão corporativos (ERP – Enterprise Resource Planning), sistemas de rastreamento e vigilância.”

A troca de informações entre organizações – ainda segundo Fagundes –, principalmente na cadeia de suprimentos, é realizada através de redes EDI (Electronic Data Interchange) usando protocolos de comunicação padronizados nas diferentes comunidades de negócios, como o caso da indústria automobilística no Brasil com o RND (Rede Nacional de Dados) concebido entre a ANFAVEA e o SINDIPECAS.

“Apesar do avanço tecnológico que as etiquetas RFID proporcionaram, sua aplicação ficava restrita a nichos de mercado e comunidades fechadas. A integração das etiquetas de RFID com a infraestrutura aberta de IoT ampliará, exponencialmente, as aplicações com RFID, em minha opinião. As interfaces são padronizadas e embarcadas em componentes eletrônicos disponíveis no mercado por preços muito acessíveis, como o kit RFID baseado no chip MFRC522 para ser usado em uma placa Arduíno com tecnologia IoT, compatível com a maioria dos provedores de computação em nuvem no Brasil, permitindo a leitura da etiqueta e gravação, via Internet, em um banco de dados na nuvem. Além do componente RFID é possível instalar outros sensores no Arduíno, como temperatura e geolocalização, oferecendo dados do ambiente onde foi realizada a leitura da etiqueta”, explica o fundador e CEO da nMentors Engenharia.

Com os dados no provedor de computação em nuvem é possível inseri-los em uma rede Blockchain, uma tecnologia de registro distribuído altamente segura, acessível de forma controlada com registro não alteráveis de todas as transações que envolvem um objeto. “Uma rede Blockchain com finalidade específica é mais simples que a tradicional rede Blockchain utilizada nas transações de Bitcoin. Utilizando uma rede Blockchain Ethereum é possível o uso de contratos inteligentes – smart contracts – para automatizar processos entre as partes relacionadas”, destaca Fagundes.

Ele também ressalta que, a partir do momento que as “coisas físicas” se tornam inteligentes, integrando o RFID e IoT, abrem-se inúmeras oportunidades de novas aplicações e negócios. “Um desafio que se coloca no mercado de RFID é o avanço das etiquetas NFC, que vão além do RFID, pois permitem leitura e gravação, diferente das etiquetas de RFID que permitem uma gravação e várias leituras.”

Neste contexto, o fundador e CEO da nMentors lembra que o projeto Brasil-ID – Sistema Nacional de Identificação, Rastreamento e Autenticação de Mercadorias, utilizando tecnologia RFID, tem como objetivo implantar uma infraestrutura para identificar, rastrear e autenticar a circulação de mercadorias no Brasil. “O projeto é ambicioso e de complexa implementação, pois envolve, além da tecnologia, a parceria e o comprometimento de órgãos estaduais e da indústria. Teoricamente, um grande salto de tecnologia que poderia ter o projeto Brasil-ID é o uso de Blockchain Ethereum.”

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Também se referindo às interfaces da RFID com a IoT, Roberto Matsubayashi, diretor técnico da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil, organização multissetorial sem fins lucrativos que representa nacionalmente a GS1 Global e estabelece padrões de identificação de produtos na cadeia de abastecimento, lembra que o conceito de Internet das Coisas (Internet of Things) nasceu em 1999 no MIT – Massachusetts Institute of Technology dentro AutoID Labs – hoje AutoID Center, quando se desenhava o cenário da logística com a utilização de tecnologias do futuro.

“Naquela ocasião, o uso do RFID e da Internet foi uma iniciativa liderada pela GS1 e por empresas visionárias. Baseado neste conceito, todas as ‘coisas’ existentes no mundo, como produtos de consumo, vestuários, veículos, etc., têm aplicado um dispositivo baseado na tecnologia RFID. Assim nasceu o padrão GS1/EPC para RFID, que tem como base uma identidade, o EPC – Código Eletrônico de Produto, e as leituras realizadas por intermédio de leitoras RFID  conectadas à rede pelo protocolo EPC-IS. Assim, a TAG RFID é o dispositivo IoT de menor custo existente no mercado.”

Matsubayashi também destaca que, desde a publicação dos padrões GS1 para RFID, o conceito de IoT impulsionou inúmeras aplicações comerciais, que vão desde gestão de processos de manufatura no conceito de IoT – Industrial IoT, logística para gestão das operações, rastreabilidade de produtos e cargas e nas operações de loja, melhorando o processo de checkout no atendimento ao consumidor.

 

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Como as tags com baterias, transmissores ativos e eletrônicos integrados e as sem eletrônicos ativos se integram ao universo da IoT? Ambas podem ser usadas neste conceito?

Respondendo a esta questão, Fagundes, da nMentors Engenharia, lembra que as etiquetas de RFID ativa possuem bateria e transmissor e são usadas para projetos mais robustos e personalizados. Estas etiquetas oferecem mais informações, como temperatura e rastreamento de objetos com GPS, além de melhorar significativamente o alcance entre a etiqueta e o leitor. O uso de etiquetas ativas, semipassivas e passivas em projetos de IoT dependerá de caso a caso.

“Conforme já afirmado anteriormente, a TAG RFID é o dispositivo IoT de menor custo existente no mercado, isto na versão passiva – sem a inclusão de baterias e, desta forma, energizada pela leitora. Existem aplicações que demandam autonomia ou maior alcance destes dispositivos e, neste caso, há a incorporação de baterias”, complementa Matsubayashi, da GS1 Brasil.

Quanto às limitações e benefícios da RFID e, ao mesmo tempo, os benefícios e limitações dos dispositivos de IoT, na visão de Fagundes, da nMentors, a grande vantagem das etiquetas RFID é o seu custo e a sua larga aplicação em diferentes setores. Sua limitação de oferecer dados estáticos de uma “coisa” é superada pela integração com outros sensores com informações em tempo real acoplados a um dispositivo IoT.

“O RFID é uma das implementações de IoT. Assim sendo, a opção para se adotar uma solução tecnológica dentre as várias opções existentes para aplicação em um processo dependerá exatamente da análise dos custos e benefícios, além das restrições das tecnologias”, acrescenta Matsubayashi, da GS1 Brasil.

E ele também fala sobre os desafios para encontrar uma forma de conviver as duas tecnologias e minimizar os custos da infraestrutura. “Diferentes soluções de tecnologia IoT utilizam diferentes frequências de comunicação, protocolos e conjunto de dados e o IoT tem a grande função de interconectar o mundo físico. Ou seja, as coisas com o mundo virtual. O sucesso da convivência entre eles está em utilizar ao máximo definições de dados e atributos padronizados para a comunicação do que ocorre no mundo físico e no mundo digital. Desta forma, existem exemplos de dispositivos que se comunicam em rede LPWAN, tal como LORA, que utilizam o protocolo de mensagens GS1 EPC-IS para registrar os eventos, o que maximiza os investimentos nos sistemas de integração e gestão.”

Reportando-se a esta mesma questão, Fagundes, da nMentors, acredita que atualmente as duas tecnologias convivam em harmonia em vários projetos. “Como já comentado, existe uma complementariedade entre as tecnologias.”

Finalizando, o CEO da nMentors toca no ponto da expansão da rede de radiofrequência, destacando quais os custos e benefícios da tecnologia de IoT precisam ser avaliados. “Na minha opinião, os investimentos devem se concentrar na expansão da infraestrutura IoT e utilizar a tecnologia RFID localmente.”

Por sua vez, o diretor técnico da GS1 Brasil lembra que existem diversos parâmetros que devem ser avaliados para o sucesso de projetos de IoT. Além das questões que envolvem a tecnologia e o ROI projetado, abrange o ecossistema do qual a empresa participa. Afinal, IoT é uma tecnologia de comunicação. “Assim como nas redes de telefonia celular, que para a conexão em diversas redes no mundo é importante definir qual o padrão a ser adotado, o mesmo cabe nas soluções IoT. Por exemplo, na utilização do RFID em gestão da manufatura pelo fabricante do produto, ou o valor que a TAG trará para a sua aplicação na gestão logística e na venda do varejo. O varejo tem adotado o padrão GS1, o que proporciona um valor global maior para o projeto, pois existem valores adicionais que podem ser colhidos com a maior integração com os parceiros comerciais e a troca de dados que isto irá proporcionar.”