A escalada dos preços internacionais dos alimentos, petróleo e outras commodities fez acender em todo o mundo a luz de alerta com a inflação. No Brasil não foi diferente. No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,79%. Desde 1996, o mês de maio não tinha uma variação tão elevada. Esse não foi um privilégio brasileiro: países de toda a América Latina sofreram o mesmo mal e sentiram calafrios com a lembrança dos índices registrados na década de 1980, quando os preços eram remarcados praticamente todos os dias e as economias latinas ensaiavam apenas "vôos de galinha".
Do México à Argentina, todos tiveram um maio vermelho em relação à disparada de preços. De acordo com a revista América Economia, embora o México tenha registrado deflação de 0,11%, o país acumula aumento de 4,95% em 12 meses, muito distante da meta de 3% para o ano. Na Argentina, os índices oficiais indicaram alta de 0,6% em maio. Entretanto, analistas independentes consideram que a inflação real é mais que o dobro da anunciada pelo governo. No Peru, a variação foi de 0,37% ante 0,15% em abril. Na Venezuela, os reajustes alcançaram 3,2% ante 1,7% em abril.
Embora situem o Brasil dentro do contexto de inflação regional, os números não são nada alentadores. Segundo Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor da Faculdade de Economia e Administração da Uni-versidade de São Paulo (FEA/USP), embora o 0,79% registrado em maio não pareça causar grande impacto nos preços do mês, uma vez anualizado o número alcançaria uma variação de 8,41%, muito acima da meta de 4,5% prevista pelo Banco Central.
Sobe-e-desce – De acordo com Zeina Latif, economista-chefe do Banco Real, a dinâmica mundial é cíclica: se a economia está em expansão, os preços sobem. A expansão econômica aumenta a demanda, mas a produção não consegue evoluir na mesma velocidade, o que eleva o preço dos produtos disponíveis, especialmente os dos alimentos, petróleo e outras commodities.
"No Brasil, a elevação do preço do petróleo não causa tanto impacto no momento, mas a dos alimentos provoca um piora muito grande do cenário macro", explica Zeina. "A situação afeta especialmente a população de baixa renda, que compromete um percentual maior de seus rendimentos com alimentação e sente esse efeito na deteriorização do salário."
Embora criticada pelo setor produtivo, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar os juros para conter a inflação é apontada como correta pelos economistas. "Devido ao nosso passado inflacionário, a sociedade brasileira ficou intolerante em relação à variação dos preços. E, neste momento, a única saída para conter a escalada é ‘esfriar’ a economia por meio do aumento dos juros", afirma.
"A política do Copom surtirá efeito no médio prazo. Mas diminuirá o ritmo de expansão, desaquecendo a economia e os investimentos", complementa o professor da FEA. Embora o cenário pareça desolador, Gonçalves diz ser possível crescer sem inflação. "Precisaríamos mudar a composição da demanda, diminuindo a participação dos gastos do governo, pois eles ajudam a pressionar os preços." Ele reconhece, no entanto, que dificilmente isso ocorrerá neste ano. "O caminho seria os governos diminuírem seus gastos com funcionalismo e previdência, por exemplo. Mas historicamente, em ano eleitoral, isso não ocorre. E não acredito que neste será diferente", afirma.
Para a economista-chefe do Banco Real, é possível crescer acima de 5% ao ano sem sentir os efeitos da inflação, mas não sem antes o País realizar as reformas necessárias, como a da infra-estrutura e, principalmente, com a redução da carga tributária. "O maior gargalo hoje do Brasil é a questão fiscal. Enquanto isso não for resolvido, a economia continuará patinando", diz Zeina.
Fonte: www.dcomercio.com.br
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