Mar Vermelho: Ataques Desencadeiam Queda no Comércio Global e Desafios Logísticos

A atividade do comércio global em dezembro e janeiro de 2024 foi marcada por uma queda significativa de 1,3%, conforme relatório divulgado pelo Instituto Kiel. O motivo dessa retração está relacionado aos ataques a embarcações no Mar Vermelho, que provocaram alterações nas rotas de navios que se dirigiam da Ásia à Europa e vice-versa.

Para Jackson Campos, especialista em Comércio Exterior e diretor da AGL Cargo, os recentes ataques no Mar Vermelho tiveram um impacto considerável nas operações logísticas e no comércio internacional. “As mudanças nas rotas marítimas têm gerado desafios significativos para as empresas envolvidas no transporte de mercadorias”, aponta.

Segundo dados do Instituto Kiel, o número de contêineres transportados pelo Mar Vermelho registrou uma queda acentuada em dezembro, com o volume diário atual em torno de 200 mil contêineres. Isso representa uma redução de 66% em comparação com a média para o mesmo período entre 2017 e 2019, quando a média diária era de 500 mil contêineres.

Uma das principais consequências dessas mudanças é o aumento no tempo médio de transporte entre a Ásia e a Europa em cerca de 20 dias. Essa extensão no tempo de trânsito explica as quedas nas exportações e importações registradas pela União Europeia (UE) e Alemanha em dezembro.

De acordo com os números divulgados, em dezembro, a UE registrou queda de 2% nas exportações e 3,1% nas importações em relação ao mês anterior, enquanto a Alemanha teve queda de 2% nas exportações e de 1,8% nas importações.

Apesar do aumento no tempo de transporte, o Instituto Kiel estima que o impacto nos custos de produtos na Europa será relativamente menor em comparação com o período da pandemia. O preço médio do frete marítimo entre a China e o norte da Europa, por exemplo, subiu de US$ 1,5 mil em novembro para US$ 4 mil em dezembro, longe do pico de US$ 14 mil atingido durante a pandemia.

Contudo, segundo Campos, as ramificações desse cenário afetam diretamente o comércio internacional envolvendo o Brasil. “No âmbito das importações, as mercadorias provenientes da Índia são as mais impactadas, devido à necessidade de contornar o Mar Vermelho. A alternativa de utilizar a rota via Ásia também enfrenta sobrecarga, resultando em um aumento de 300% nos custos de frete marítimo para cargas provenientes da Índia e região”. Na exportação brasileira, as mercadorias mais afetadas são as proteínas animais destinadas ao Oriente Médio, localizado exatamente na região do Mar Vermelho. Essa alteração nas rotas representa uma mudança significativa para o comércio global, já que aproximadamente 10% do comércio mundial passa pela estreita faixa navegável que conecta o Iêmen à África Oriental, levando ao Canal de Suez. Essa situação pode ter um impacto direto no preço do frete em escala mundial, além de congestionar portos e desencadear uma potencial crise na cadeia de suprimentos global.