Na contramão de grande parte dos setores econômicos e industriais do país, o mercado de galpões logísticos foi um dos poucos que não sentiu tanto os efeitos da pandemia no Brasil. Pelo contrário, o setor seguiu praticamente inabalável e em ascensão constante. Foi o que disse a sócia-fundadora da SDS Properties, imobiliária que atua 100% no segmento logístico industrial, Simone Santos, durante sua participação na Intermodal Digital Series – Intralogística na última semana.
Segundo ela, atualmente, o Brasil já conta com 19 milhões e 140 mil metros quadrados de galpões logísticos no país. “Desse total, 52,96% deles estão em São Paulo, 11,47% no Rio de Janeiro, 9,40% em Minas Gerais, 6,89% em Pernambuco e 5,02% no Paraná. Se avaliarmos por regiões, 75,43% deles estão no Sudeste, 10,65% no Nordeste, 10,28% no Sul, 2,06% no Norte e 1,67% no Centro-Oeste”, destacou.
Mas, de acordo com a executiva, esse crescimento não é de agora, ele ocorre gradativamente há, no mínimo, uma década. “Percebemos a expansão do mercado de galpões logísticos no Brasil desde 2011, mais expressivamente a partir de 2015, quando grandes empreendimentos começaram a surgir no setor. Mas, se formos avaliar por ciclos, podemos dividir o desenvolvimento do segmento em três deles: o primeiro foi de 2008 a 2013, quando tínhamos um mercado mais acirrado do ponto de vista de demanda, com queda das taxas de vacância e elevação dos valores de locação. Nesse mesmo período, percebemos um grande número de entrada de novos players no mercado, em função da perspectiva de médio e longo prazo que o setor apresentava – além da carência de novos empreendimentos nesse segmento, atraindo muitos investidores estrangeiros ao setor. Por isso, denominamos este primeiro ciclo como ‘a vez dos proprietários’”.
Já o segundo ciclo ocorreu de 2014 a 2019, de acordo com ela, o qual é chamado de ‘a vez dos ocupantes’. “Isso porque foi um período em que o poder de barganha nas negociações era maior, o que significa um mercado com maior vacância e um valor de locação mais baixo. Já em 2020 iniciamos um novo ciclo, com o melhor desempenho dos últimos cinco anos, quando comparado aos cinco anos anteriores, principalmente por conta da pandemia e das expressivas altas do mercado de e-commerce, que aumentaram significativamente a demanda por novos galpões logísticos no país. E a expectativa é que em 2022 este bom desempenho continue”, ressaltou.
Desafios da logística em um e-commerce de móveis – Falando em e-commerce, o setor também foi um dos destaques do exclusivo evento virtual promovido pela Intermodal (plataforma de negócios completa para os setores logístico, intralogístico, de transporte de cargas e comércio exterior), em uma palestra ministrada pelo cofundador da Mobly, e-commerce de móveis e artigos para a casa, Mario Fernandes.
O executivo evidenciou as complexidades e particularidades da logística para o segmento, que, segundo ele, são muitas. “Temos um cenário de desafios único para o nosso negócio, comparado a outros setores. Trabalhamos com produtos super pesados (que podem chegar a até 115 kg) e volumosos (como armários e guarda-roupas) que, muitas vezes, são compostos por até dez peças diferentes. Também atuamos com muitos itens frágeis, como espelhos, mesas e sofás, que exigem ainda mais cuidado no manuseio e no transporte”.
Há ainda as adversidades da armazenagem, lembrou, que não segue um modelo linear. “Em geral, temos muita dificuldade em aproveitar o metro quadrado do espaço na hora da armazenagem, devido a falta de padrão das mercadorias e das embalagens, visto que cada uma tem um tamanho e uma formatação diferente. Sem contar a exigência por estruturas e equipamentos específicos para o nosso caso, o que faz com que qualquer projeto de grandes automações se torne praticamente impossível em nossos centros de distribuição”, ressaltou.
Para superar esses desafios, foram necessárias algumas soluções. “A primeira grande solução que encontramos foi o modelo híbrido de estoque: por um lado o cross-docking/drop shipping e por outro o estoque próprio. No primeiro, conseguimos ter um sortimento enorme, que para o e-commerce é fundamental, ou seja, mostrar ao cliente uma prateleira quase infinita de produtos e permitir uma busca por todos os canais da companhia, de forma que encontre exatamente o que quer e no preço certo para ele. Já no estoque próprio, que quem o abastece somos nós mesmos, a principal vantagem é a entrega rápida, que nos permite uma taxa de conversão ainda mais elevada e uma grande redução do número de cancelamentos de pedidos por desistência. Essa combinação é crucial para termos níveis adequados de estoque e para evitarmos a alta demanda do capital de giro, o risco de obsolescência e a necessidade de mais espaço de armazenagem”.
Outra solução foi ampliar os investimentos nas lojas físicas da marca. “Isso é algo super importante em nossa estratégia: fizemos um grande investimento neste aspecto recentemente e em 2022 devemos realizar novos aportes. Sem contar que elas acabam funcionando como hubs logísticos, com uma integração importante com nossos CDs, além de trabalharem com estoque avançado quando o assunto são produtos que permitam entrega expressa. Há ainda a opção do ‘Clique e Retira’ para itens que o cliente compra online e escolhe ir buscar na própria loja”, completou.
O Potencial da Logística Reversa – Para finalizar a programação da Intermodal Digital Series – Intralogística, que propôs um debate 100% online com o objetivo de apresentar as melhores práticas de digitalização na cadeia de suprimentos, o assunto foi a logística reversa e as inúmeras oportunidades que ela traz ao mercado.
Para o diretor de operações da Privalia, o principal outlet online de moda do Brasil, Alan Barsi, a logística reversa é fundamental para o crescimento e o bom funcionamento do negócio. “Pensando que somos um player 100% do e-commerce, a logística reversa de pós-venda, por exemplo, vem como parte do nosso trabalho. Isso porque, por mais que atendamos diferentes categorias, temos como foco o mercado de moda, do qual as pessoas costumam ter receio de adquirir produtos via online, por medo de comprar algo e não servir ou de não gostar, então o índice de devolução acaba sendo maior do que a média. Por isso, investimos cada vez mais na logística reversa e a colocamos como parte estratégica do nosso negócio, pois o que queremos é que as pessoas tenham uma experiência cada vez melhor com esse processo”.
Para isso, segundo o vice-presidente de produto da Descartes Systems Group, empresa que oferece soluções de logística e supply chain management baseadas em cloud computing, Regis Melo, o investimento em tecnologia é fundamental. “Ao meu ver, essa etapa pode ser cada vez mais automatizada, de forma que se diminua o atrito da devolução (com processos burocráticos e massantes) e torne-a uma experiência que facilite a vida do cliente, lhe dando diferentes alternativas. Assim, é possível também beneficiar toda a cadeia. Claro que existe um desafio muito grande de conectividade e de como fazer todo o processo se integrar, mas, para isso, a automação é essencial. Não tem junto, o mundo inteiro tem avançado para esses conceitos de plataformas conectáveis, que podem conversar com diversos fornecedores, diversos sistemas e etc”.
Já o gerente sênior de logística da Mondelez, uma das principais empresas de alimentos do país, André Vaz Ferreira, acredita que a logística reversa não é mais uma condição ou opção, agora é uma necessidade. “Cada vez mais, os clientes entendem a logística reversa como parte da qualidade do atendimento de uma empresa. Se essa etapa não é bem executada, já cria um problema para o consumidor, então ela é sim um diferencial competitivo quando bem feita. Sendo assim, é fundamental saber qual a destinação que a empresa dá para o produto, qual a responsabilidade que a companhia tem sobre ele, entre outros aspectos que deem total propriedade do que está sendo feito. No começo, a logística reversa irá parecer um custo adicional, mas, na verdade, isso é um investimento para que possa atrair o cliente e buscar a fidelização do mesmo”, finalizou.