A reabertura econômica da China, Estados Unidos e países da Europa, que elevou a demanda mundial por minério de ferro, somada ao fato de o Brasil ter assumido o posto de epicentro do novo coronavírus (Covid-19), está movimentando excessivamente as operações de mineração mundo afora.
Com isso, a tonelada do insumo siderúrgico voltou a patamares superiores a US$ 100 no mercado internacional, nível que deverá ser mantido nos próximos meses.
Tamanha elevação não era vista desde meados do ano passado, quando a cotação chegou aos três dígitos a tonelada, após o rompimento da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ocorrido em janeiro daquele exercício. Desde então, o valor tem se mantido próximo aos US$ 90 a tonelada, já que o ritmo de produção caiu e o preço se valorizou.
Conforme especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a tragédia que deixou 270 mortos, dos quais 13 corpos ainda desaparecidos, em certa medida, também tem influenciado o cenário atual, colaborando para o desequilíbrio entre oferta e demanda.
Isso, por uma série de fatores entre os quais o fato de a Vale ser uma das maiores exportadoras de minério de ferro do mundo, vender a maior parte de sua produção para a China, ter seus níveis operacionais ainda abaixo do estado anterior ao rompimento da barragem de Brumadinho, e ainda sofrer impactos e paralisações em outras unidades.
Neste sentido, o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, explicou que colapso ocorrido em janeiro de 2019 gerou um encurtamento da curva de oferta e demanda de minério de boa qualidade. E alertou que o cenário deverá ser mantido pelo menos até a Vale ampliar capacidade do Projeto S11D, localizado em Carajás. Por isso, ele acredita que o preço fique entre US$ 90 e US$ 100 a tonelada por mais alguns meses.
“O preço talvez caia no ano que vem, mas precisamos lembrar que a China está em recuperação e vai demandar ainda mais aço para os programas de infraestrutura dos pacotes do governo chinês em vistas de reaquecer a economia”, citou.
O especialista lembrou que, em meio a esse cenário, a Vale chegou a ter o Complexo de Itabira, na região Central, interditado por decisão judicial no começo de junho, após procuradores estaduais do Trabalho terem apontado riscos de contaminação entre operários, a partir de uma série de casos confirmados nas minas da Conceição, Cauê e Periquito.
No último dia 18, porém, a companhia obteve um termo permitindo a suspensão da interdição. Apenas o complexo somou 36 milhões de toneladas em 2019, ou 12% da produção da empresa.
Câmbio – Galdi ressaltou ainda o efeito da valorização do dólar frente ao real, que associado à elevação do preço do minério, favorece a balança comercial brasileira e a mineradora, cujas ações na bolsa estão em plena ascensão. “A Vale tem uma dívida líquida de 0.3 vezes e o custo da mina até os portos da China equivale a US$ 30 por tonelada. Com a cotação a US$ 100, a margem operacional da companhia é grande”, detalhou.
A analista da Terra Investimentos, Sandra Peres, também afirmou que os preços do minério de ferro deverão ser mantidos em patamares elevados pelos próximos meses. Segundo ela, entretanto, os valores dificilmente se elevarão ainda mais.
“A própria Vale já fez os ajustes necessários, a partir da pandemia, e reviu suas projeções. E, ainda assim, os volumes seguem superiores aos do ano passado. Por isso, a escalada nos preços que tinha que ocorrer, já ocorreu”, avaliou.
A Vale já informou que mantém sua projeção de produção de minério de ferro em 2020, em entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas. Em abril, a companhia reduziu seu guidance, com um provisionamento de perdas associadas à pandemia de até 15 milhões de toneladas. Antes, a projeção de produção era de entre 340 milhões e 355 milhões de toneladas.
Por outro lado, a analista sinalizou que no caso de uma segunda onda de casos de Covid-19 em países da Europa, na China ou nos Estados Unidos, poderia provocar um movimento inverso. “Isso considerando um novo cenário de demanda reprimida ou de uma frustração na retomada, e produção mantida nos mesmos níveis. Neste caso, o mercado não comportaria novas elevações”, alertou.
Aço – Por fim, Sandra Peres lembrou que como consequência deste movimento, as próprias siderúrgicas também já estão reajustando os preços do aço. A primeira a anunciar foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que aumentará em 10,5% os valores do aço a partir de 1º de julho.
Também já foi anunciado o reajuste da ArcelorMittal, que será aplicado a partir de 3 de julho, de 10% nas chapas fina quente e fina frio e 8% nos revestidos galvanizados, conforme representante do setor. Já a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) ainda não divulgou projeções.
Fonte: Diário do Comércio